Carta IEDI
A indústria em 2021: o Brasil aquém do Mundo
Os dados recentemente divulgados pela UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) sobre a evolução da produção industrial no mundo permitem avaliar em perspectiva comparada o desempenho da indústria brasileira em 2021. Nossa retomada, como já sabemos, foi parcial porque perdemos dinamismo ao longo do ano.
Uma realidade totalmente distinta foi verificada na indústria de transformação mundial, segundo a UNIDO. Depois de sua produção recuar -4,2% em 2020, registrou forte recuperação em 2021: +9,4%, com ajuste sazonal. A alta foi expressiva em todos os grupos de países e embora tenha assinalado desaceleração, à medida que as bases de comparação foram se tornando mais robustas, em nenhum trimestre voltou ao vermelho como ocorreu no Brasil.
A indústria brasileira, considerada apenas a de transformação e com ajuste sazonal, de acordo com a UNIDO, mal chegou a cobrir a queda provocada pelos primeiros impactos da pandemia: -4,8% em 2020 e +4,9% em 2021. E vale lembrar que em 2019 o setor tinha ficado estagnado (+0,1%).
Então, embora tenhamos caído em 2020 tanto quanto a indústria global, nossa recuperação teve quase metade da intensidade do restante do mundo. Também ficamos longe dos países industrializados, cuja produção industrial avançou +7,3% em 2021 e ainda mais longe da China (+12,3%) e mesmo dos demais emergentes exceto China, que registraram +10%.
Ficamos para trás também se olharmos apenas para a América Latina, cujo resultado de 2021 foi de +9,3%. É verdade que, segundo apontou o relatório da UNIDO no ano passado, a queda do agregado da região em 2020 foi mais intensa que a do Brasil, chegando a -7,3%, mas é preciso reconhecer que ao menos o conjunto dos países latino-americanos conseguiu compensar as perdas.
Entre os emergentes, o único grupo identificado pela UNIDO que se aproxima do ritmo de crescimento da produção industrial brasileira em 2021 foi a África, que registrou +4,9%.
Como resultado, a indústria de transformação do Brasil ocupou, em 2021, a 82ª posição no ranking de 113 países que o IEDI construiu a partir da base de dados da UNIDO. Isto é, ficamos na metade inferior do ranking, entre os que menos cresceram no ano passado.
A divergência foi ainda maior no 4º trim/21. A indústria de transformação mundial cresceu +3,3%, isto é, menos do que nos trimestres anteriores, já que em muitos países o nível de produção pré-pandemia já havia sido superado, enquanto no Brasil o setor caiu -6,6%, frente ao mesmo período do ano anterior, com ajuste sazonal.
Deste modo, recuamos ainda mais no ranking de países. Aparecemos na 107ª colocação entre os 113 países identificados pela UNIDO na comparação do 4º trim/21 com o 4º trim/20. Piores do que nós, só ficaram alguns poucos países, entre os quais, Moçambique, Irlanda e Uganda.
A evolução brasileira foi fator importante para que, segundo a UNIDO, a América Latina apresentasse o resultado mais fraco entre as regiões pesquisadas no último quarto do ano passado: +1,6% ante o 4º trim/20. Amenizaram o quadro, as indústrias do México (+2,0%), Argentina (+7,9), Uruguai (+11,9) e Colômbia (+12,6%).
Cresceram acima do agregado mundial no final de 2021 os países desenvolvidos da América do Norte (+4,2% ante 4º trim/20) e da Ásia e Pacífico (+4,1%), assim como os emergentes e em desenvolvimento desta última região exceto China (+6,3%). A indústria chinesa (+3,1%), por sua vez, cresceu em linha com o total mundial.
Os dados da UNIDO também mostram que as indústrias de média-alta e alta tecnologia (+4,7% ante o 4º trim/20) lideraram o crescimento da indústria de transformação mundial no último trimestre de 2021.
Esta parcela da indústria se recuperou mais rapidamente dos efeitos iniciais da pandemia, com taxas de crescimento elevadas desde o 4° trim/2020, devido ao desempenho dos setores produtores de computadores, produtos eletrônicos e ópticos, equipamentos elétricos e produtos farmacêuticos. Muitos de seus ramos já atingiram níveis pré-pandemia.
Na média-alta, a produção de veículos motorizados seguiu sendo exceção, prejudicada pelos gargalos persistentes em sua cadeia de suprimentos. Isso tem sido um obstáculo a recuperações industriais mais robustas em economias com grande setor automobilístico, como Alemanha e Coréia do Sul.
No Brasil, segundo a Carta IEDI n. 1131 “Reação industrial em 2021: só nos grupos tecnológicos intermediários”, apesar de dados não diretamente comparáveis aos da UNIDO, não houve recuperação em nossa indústria de alta tecnologia, que acumulou perda de -2,9% em 2021, agravada no quarto trimestre: -11,9% ante 4º trim/20. Já são três anos seguidos que este grupo está no vermelho.
A indústria de transformação mundial no 4º trim/21
O relatório da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), revela que, embora a um ritmo moderado, a indústria manufatureira mundial, no 4º trim/21, continuou se recuperando dos impactos negativos provindos da pandemia de Covid-19.
Entretanto, os riscos são crescentes para 2022, com o surto da variante ômicron no início do ano, que levou a rodadas adicionais de medidas restritivas em alguns países, e, posteriormente, com a ofensiva militar russa na Ucrânia, desencadeando sanções econômicas à Rússia com consequências incertas para o cenário industrial global, devido à dependência da Europa de energia e combustíveis e outros recursos importados desse país, aos efeitos secundários sobre os preços internacionais de commodities e possíveis novos desarranjos das cadeias produtivas.
No 4° trim/21, a produção industrial mundial registrou variação de +1,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior, já corrigidos os efeitos sazonais, implicando uma melhora em relação aos períodos anteriores, de muito baixo dinamismo.
Em comparação com o mesmo período do ano anterior, houve aumento de +3,3% da produção da indústria mundial, que, em função de bases de comparação mais altas (muitos países já superaram o pré-pandemia), sinalizou um ritmo inferior de crescimento. Vale lembrar que a alta nesta comparação havia sido de +17,8% no 2º trim/21 e de +5,8% no 3° trim/21.
Embora generalizada, a recuperação industrial no mundo continua ocorrendo em velocidades bastante distintas entre as regiões e os grupos de países, devido à assincronia dos surtos de Covid-19, às formas particulares de se lidar com a pandemia e à distribuição desigual das vacinas dentro e entre países.
Na China, o setor manufatureiro retornou ao seu nível de produção pré-crise no segundo semestre de 2020 e está agora mais de 10% acima do nível relatado antes do início da pandemia. As economias industrializadas, por sua vez, superaram seus níveis pré-pandemia no início de 2021. Por outro lado, a produção nos países emergentes exceto a China registou maior volatilidade, perdurando mais tempo abaixo do pré-pandemia.
No 4° trim/21, o crescimento foi puxado pelo resultado do grupo de países emergentes exceto China. Ante o trimestre anterior, a alta foi de +2,6%, isto é, mais do que o dobro do total mundial. Na comparação interanual, o avanço foi de +4,3% e 1 ponto percentual a mais do que o mundo como um todo.
A China, por sua vez, teve um crescimento de +0,9% no 4º trim/21 frente ao trimestre anterior, isto é, praticamente o mesmo ritmo do 3º trim/21 (+0,8%) e de +3,1% em comparação com o mesmo período de 2020, o resultado mais fraco do ano passado.
A seu turno, os países avançados conseguiram compensar o declínio do 3º trim/21 (-0,3%) ao expandir sua produção industrial em +1,0% no 4º trim/21 frente ao período imediatamente anterior. Essa reação, contudo, não teve força suficiente para impedir um ritmo de crescimento menor em comparação com mesmo período de 2020. Depois de registrar +6,0% ante o 3º trim/20 variou +3,2% ante o 4º trim/20.
Continuou um empecilho para a retomada dos países avançados o fato de haver frações importantes de sua população não imunizadas contra a Covid-19, tornando-os países vulneráveis a novas ondas de contágio, como veio a ocorrer no início de 2022 com a variante ômicron.
Além disso, para a entrada de 2022, sobretudo, no caso da Europa, o desempenho industrial deve ser prejudicado pelo conflito armado entre Rússia e Ucrânia, que trouxe grandes incertezas, já no curto prazo, sobre os recursos energéticos e acesso a demais commodities.
O desempenho industrial dos países desenvolvidos
A indústria de transformação das economias industrializadas registrou alta de +3,2% no 4º trim/21 ante o mesmo período de 2020, a quarta variação positiva consecutiva, mas quase metade do resultado do 3º trim/21 na mesma comparação (+6%).
Em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, a produção desse grupo de países, que apresentou desaceleração desde o último trimestre de 2020 (+3,8%), chegando a registrar recuo de -0,3% no 3º trim/21, voltou a crescer no 4° trim/21: +1,0%.
Na América do Norte, a produção cresceu +4,2% em out-dez/21 ante o mesmo período do ano anterior, seguindo um avanço de +5,6% no trimestre anterior na mesma base de comparação. Esse resultado está ligado à atividade manufatureira dos Estados Unidos, que registrou variação de +4,4%.
Frente ao trimestre imediatamente anterior, a indústria da América do Norte manteve trajetória positiva ao longo de todo o ano de 2021: +0,7% no 1° trim/21, +1,2% no 2º trim/21, +0,9% no 3º trim/21 e +1,2% no 4° trim/21.
As economias desenvolvidas do Leste Asiático, obtiveram avanço de +4,1% no 4° trim/21 frente ao mesmo período de 2020, excedendo o patamar de produção pré-pandemia no início de 2021. Frente ao trimestre imediatamente anterior, a indústria desse grupo de países assinalou acréscimo mais forte entre os desenvolvidos, de +1,6%. Isso, porém, não foi capaz de compensar a queda de -1,8% no trimestre anterior.
Neste grupo, a produção da indústria japonesa cresceu +1,2% na comparação interanual. Além disso, assinalaram crescimento da produção industrial a Coréia do Sul (+3,8%) e Taiwan (+11,7%), devido ao desempenho positivo do setor de computadores e eletrônicos, bem como do setor de produtos farmacêuticos.
Na Europa, a produção industrial das suas economias desenvolvidas elevou-se em +1,8% no 4º trim/21 frente ao mesmo período de 2020, após variação de +6,3% no trimestre anterior na mesma base de comparação. Foi a região que mais perdeu dinamismo entre os desenvolvidos.
Em comparação com o trimestre anterior, a região reverteu o resultado negativo do trimestre anterior, passando de -0,4% em jul-set/21 para +0,4% em out-dez/21. Mas ao final isso acabou por sinalizar apenas uma estagnação na segunda metade do ano.
Vale notar que há considerável variabilidade na evolução da produção industrial entre os europeus. A Lituânia alcançou uma taxa de crescimento igual ou superior a +20% na comparação interanual por três trimestres consecutivos, enquanto a produção da Irlanda caiu -16,2% após taxas de crescimento excepcionalmente altas, de mais de +30% nos quatro trimestres anteriores.
Na União Europeia, a produção manufatureira na Itália e na Espanha cresceu +4,1% e +1,4% no 4º trim/21 ante o 4º trim/20, enquanto a Alemanha e a França experimentaram reduções na produção de -1,9% e -0,6%, respectivamente. Fora da área do Euro, a produção industrial do Reino Unido teve uma variação positiva marginal de +0,8% no 4° trim/2021 ante mesmo trimestre de 2020.
Problemas logísticos e gargalos de abastecimento que afetam os produtos acabados e intermediários, bem como a escassez de mão de obra em alguns setores apontam para um desempenho futuro incerto do setor manufatureiro do país no pós-pandemia.
Desempenho industrial das Economias Emergentes e em Desenvolvimento
No 4° trim/2021 ante mesmo trimestre de 2020, os dados ajustados sazonalmente do setor manufatureiro chinês apontam para o menor crescimento (+3,1%) desde 2006, quando teve início a série de dados do relatório da UNIDO, excluindo os trimestres relacionados à pandemia da primeira metade de 2020. Frente ao trimestre imediatamente anterior, a China também assinalou baixo crescimento, de apenas +0,9%.
Embora a maioria dos setores chineses de média-alta e alta tecnologia, com exceção de veículos automotores, tenha apresentado altas taxas de crescimento no 4° trim/2021, a produção de têxteis, borracha e produtos metálicos registrou declínios frente ao mesmo trimestre de 2020.
Já o grupo dos emergentes exceto a China obteve expansão da produção industrial de +2,6% no 4° trim/21, após uma variação de +1,7% no 3º trim/21 ante trimestre imediatamente anterior. Foi o melhor resultado nesta comparação em 2021, em grande devido aos países asiáticos (+3,8%).
Na comparação com o mesmo período de 2020, por sua vez, esse grupo de países acusou crescimento de +4,3%, bem abaixo do resultado do 3º trim/21 (+7,0%), já que não contou mais com bases baixas de comparação, e se mostrou resultante de desempenhos muito heterogêneos entre suas regiões constituintes.
Nas economias em desenvolvimento da Ásia houve expansão da atividade industrial em +6,3% no período out-dez/21 relativamente a igual período de 2020, após alta de +8,8% no 3°trim/21.
As Filipinas se destacaram por alcançar um impressionante aumento de +35,0% depois que sua produção industrial quase dobrou no trimestre anterior. Cabe destacar que as Filipinas sofreram graves perdas na produção desde 2019 e também enfrentaram um longo período de impactos relacionados à Covid-19.
Por outro lado, as maiores economias emergentes desta região, como Índia (+1,1%), Indonésia (+4,2%) e Turquia (+12,4%), registaram aumentos de produção face ao 4° trim/2020, enquanto o Sri Lanka foi uma das poucas economias que sofreram perda de produção (-1,2%) no mesmo período.
Quanto à produção industrial da América Latina, houve crescimento de +1,6% ante 4º trim/20, após crescer +5,7% no trimestre anterior na mesma base de comparação. Ou seja, a desaceleração foi forte na comparação interanual, por bases de comparação recompostas, já que na margem, isto é, frente ao período imediatamente anterior houve certa manutenção de dinamismo (+0,9% no 3º trim/21 e +1,0% no 4º trim/21).
Todas as economias observadas registraram crescimento anual considerável no 4º trim/21, exceto Brasil, que sofreu uma redução de produção de -6,6%. Ao contrário da tendência de outras economias, o Brasil teve perdas agudas em indústrias de média-alta e alta tecnologia, como computadores, produtos farmacêuticos e máquinas e equipamentos.
Esta involução industrial brasileira foi assinalada com preocupação pelo IEDI ao longo de 2021, como mostraram as inúmeras Análises e Cartas divulgadas pelo Instituto.
O México, por sua vez, registrou um crescimento de produção de +2,0%, enquanto Argentina, Colômbia, Costa Rica, Peru e Uruguai lograram taxas mais elevadas de crescimento anual, de pelo menos +5,0% no 4° trim/2021 ante o mesmo período do ano anterior.
Cabe observar que o Chile, único país do grupo latino-americano classificado como economia industrializada, teve um aumento da produção manufatureira de +3,1%.
No caso das economias emergentes da África, houve variação de +2,6% no 4º trim/21, comparativamente ao mesmo período do ano anterior. No trimestre atual foram observada variação negativa na África do Sul (-3,5%), enquanto Senegal (+4,4%), Costa do Marfim (+6,4%), Nigéria (+2,4%) e Ruanda (+6,5%) assinalaram aumento de produção industrial.
A indústria de transformação das demais economias em desenvolvimento assinalou acréscimo de +1,6% ante o 4º trim/20. Dados desagregados também revelam que, por exemplo, a produção manufatureira na República da Moldávia, Bósnia Herzegovina, Bulgária e Grécia aumentou pelo menos +5%, enquanto a produção da Romênia e Macedônia do Norte caiu -4,2% e -5,7%, respectivamente.
Análise setorial
Segundo a UNIDO, além da crise sanitária devido à Covid-19, nos últimos 2 anos, incertezas relacionadas ao aumento das restrições ao comércio internacional tiveram grande influência sobre os produtores industriais e levaram a uma desaceleração gradual da atividade do setor, a partir 2018, embora com impactos variados em diferentes ramos industriais.
No início da pandemia, os setores industriais agrupados por intensidade tecnológica sofreram impactos semelhantes durante o 1° sem/2020, porém as trajetórias de recuperação variaram em velocidade e intensidade.
No 4° trim/2021, as indústrias de média-alta e alta tecnologia (+4,7%) e as de baixa intensidade tecnológica (+3,8%) obtiveram um desempenho superior ao das indústrias que utilizam, em sua maioria, tecnologias de média-baixa intensidade tecnológica (+1,4%), como produtos minerais ou metais básicos.
Os setores de média-alta e alta intensidade tecnológica se recuperaram mais rapidamente dos efeitos iniciais da pandemia, com taxas de crescimento elevadas desde o 4° trim/2020, devido ao desempenho dos setores produtores de computadores, produtos eletrônicos e ópticos, equipamentos elétricos e produtos farmacêuticos. A produção de veículos motorizados continuou a sofrer nos últimos trimestres devido a interrupções persistentes na cadeia de suprimentos.
As consequências da pandemia continuam sendo uma força disruptiva para a manufatura em todo o mundo, segundo a UNIDO. A maioria das indústrias de média-alta e alta tecnologia já atingiu níveis pré-pandemia, com exceção de veículos automotores e equipamento de outros meios de transporte.
Muitas economias com um forte setor automobilístico, como Alemanha, Japão, Coréia do Sul e Reino Unido, experimentaram desenvolvimentos semelhantes nos últimos trimestres devido a interrupções na cadeia de suprimentos.
Algumas indústrias de baixa tecnologia, como têxteis e vestuário ou coque e derivados de petróleo, também permanecem abaixo dos níveis pré-pandemia. Por outro lado, a fabricação de produtos alimentícios, no grupo de baixa tecnologia, segue uma trajetória de crescimento estável desde o início da pandemia com perdas limitadas, dado seu caráter de bens de consumo essenciais.
Crescimento da produção industrial mundial em 2021
Com os dados do 4° trim/2021 sistematizados, é possível ter o quadro completo do ano de 2021 e avaliar os efeitos da Covid-19 nos últimos dois anos. Os dados anuais da UNIDO confirmam a forte queda na produção manufatureira que foi registrado em 2020, bem como a impressionante recuperação em 2021.
A produção industrial global cresceu +9,4% em 2021, após uma queda de -4,2% em 2020, em muito relacionada à pandemia. Mas como lembra a UNIDO, os dados da indústria global já apontavam para uma desaceleração antes mesmo da Covid-19, principalmente devido às tensões comerciais e tarifárias em curso entre a China, os Estados Unidos e a Europa.
Os dados desagregados por grupos de países fornecem mais informações. A indústria nas economias industrializadas cresceu +7,3% em 2021. A produção manufatureira na América do Norte avançou +6,3% em 2021, após um declínio de -6,6%. Nos países industrializados europeus, a produção industrial cresceu +8,2% em 2021, enquanto a Ásia industrializada testemunhou um aumento de +7,3% em 2021.
O setor manufatureiro da China, por sua vez, registrou uma impressionante expansão de +12,3% na produção em 2021, mesmo tendo permanecido em terreno positivo em 2020, com uma taxa de crescimento de +0,9%. Em comparação, as taxas de crescimento anual da indústria da China eram de pelo menos +6,0% antes da pandemia.
O grupo dos emergentes exceto a China registrou alta de +10,0% em 2021, após recuo de -7,9% em 2020. A produção na América Latina aumentou +9,3% após declínio nos 2 anos anteriores à pandemia. Em 2021, na maioria das economias latino-americanas houve taxa de crescimento anual superior a +10,0%.
A indústria dos países asiáticos emergentes (excl. China) avançou +11,5% em 2021, principalmente devido aos resultados de Índia (+13,8%) e Turquia (+18,3%), dois dos maiores fabricantes desta região, com taxas de crescimento de dois dígitos.
Os dados por ora conhecidos para a África apontam para um aumento da produção manufatureira de +4,9% em 2021, após queda de -6,6% no ano anterior.
Ranking Indústria de Transformação Mundial
A partir da base de dados da, UNIDO, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da produção da indústria de transformação com 113 países para o acumulado de 2021.
As séries empregadas pela UNIDO possuem ajuste sazonal, embora usualmente o IBGE use dados sem ajuste nas comparações frente ao mesmo período do ano anterior. Por esta razão, pode haver pequena alteração em relação aos dados de resultado divulgados pelo IBGE.
No acumulado do ano de 2021, o desempenho divulgado pela UNIDO com ajuste sazonal para a indústria de transformação do Brasil apontam para uma variação positiva de +4,9% frente ao mesmo período de 2020. Vale lembrar que em 2020 o retrocesso havia sido de -4,8%, após relativa estabilidade em 2019 (+0,1%).
Dessa forma, a indústria de transformação no Brasil ficou na 82ª posição no ranking em 2021, isto é, na metade inferior da amostra, entre as que menos cresceram no ano passado. Em 2020, apesar da variação negativa (-4,8%), o Brasil tinha ficado na posição 57°.
Ainda assim, nosso desempenho superou o resultado de alguns países importantes, como o da Alemanha (+4,1), entre os países industrializados. Nenhum país emergente de destaque ficou abaixo do Brasil no ranking.
O último trimestre de 2021 contribuiu muito para a queda de colocação do Brasil no ranking, visto que no acumulado de janeiro a setembro de 2021, ocupávamos a 51ª posição. Esta perda de dinamismo já vinha patente, como alertou o IEDI em diversas ocasiões.
Considerado apenas o desempenho do 4º trim/21 frente ao 4º trim/20, o Brasil ficou nas últimas posições. Aparecemos na 107ª colocação entre os 113 países identificados pela UNIDO.
E a contar pela divulgação recente do desempenho do setor em jan/22 pelo IBGE, quando a indústria de transformação brasileira recuou de -7,6% ante jan/21, já descontados os efeitos sazonais, não devemos ter melhorado muito nossa posição com a virada do ano.
Voltando ao acumulado de 2021, nas primeiras colocações cabe destacar o desempenho da Lituânia (+21,0), Irlanda (+21,0%) e da Turquia (+18,3%). Ademais, destacam-se também pelo resultado positivo a Itália (+12,4%), cuja indústria recuou -11,7% em 2020, Argentina (+15,6%) e Índia (+13,8%), além da China (+12,3%), que foi mais bem-sucedida nas políticas de contenção do Covid-19.