Carta IEDI
A Pandemia e o emprego industrial
O mercado de trabalho brasileiro, em 2021, não conseguiu se recuperar totalmente dos efeitos da pandemia de 2020. Embora tenha havido aumento de cerca de 4,5 milhões de pessoas ocupadas no setor privado em 2021, no ano anterior o recuo havia sido de aproximadamente 7,5 milhões. Ou seja, entre 2019 e 2021, o número de pessoas ocupadas no setor privado diminuiu em cerca de 3,0 milhões de pessoas (-3,6%).
Em 2021, a indústria de transformação conseguiu recuperar 74,4% do emprego perdido em 2020, na comparação da média dos trimestres. No setor de serviços, este percentual de recuperação de postos de trabalho foi menor, de 44,1%. Ressalta-se, contudo, que a agropecuária e a construção foram os únicos dos principais setores de atividade econômica que atingiram, em 2021, patamar superior a 2019 no total de trabalhadores ocupados.
O emprego com carteira acompanhou esse movimento de recuperação parcial em 2021. Mesmo assim, o nível deste tipo de emprego em 2021 estava 4,5% menor que em 2019. Vale lembrar que o emprego com carteira foi menos impactado que as demais formas de trabalho em 2020, porque muitas destas ocupações puderam ser adaptadas ao teletrabalho, mas também graças a medidas emergenciais adotadas pelo governo, como a suspensão ou redução da jornada de trabalho.
Seja como for, a recuperação do emprego formal foi menos intensa do que o total das vagas no setor privado. A indústria de transformação foi o setor que chegou mais perto, em 2021, de conseguir recompor os empregos com carteira assinada perdidos em 2020, assinalando uma queda residual de apenas 1,2% em relação a 2019.
No quarto trimestre de 2021, a ocupação formal, tanto na indústria de transformação como nas demais atividades econômicas do setor privado, cresceu na comparação na interanual, mas em ritmo menor que no trimestre anterior, apontando portanto redução no “fôlego” da recuperação deste tipo de ocupação.
Na indústria de transformação, 20 segmentos tiveram crescimento do número de ocupados no 4º trimestre de 2021, na comparação interanual, enquanto outros três tiveram redução. O destaque positivo ficou com a fabricação de coque, produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis (+28,4%), produtos de madeira (+25,6%) e borracha e plástico (+21,7%).
Em termos dos segmentos industriais por intensidade tecnológica, o grupo de alta tecnologia teve redução intensa da ocupação com carteira assinada no 4º trimestre (-17,7%), enquanto os demais tiveram resultado positivo, com destaque para o grupo de média intensidade (+11,3%).
O rendimento médio real dos ocupados, por sua vez, diminuiu na indústria de transformação assim como no total do setor privado. Além do efeito da inflação no período, entre o 4º trimestre de 2020 e o mesmo de 2021, o aumento da ocupação também deve ter ocorrido com salários menores na comparação com a média anterior.
Desempenho da ocupação na indústria de transformação
Esta Carta IEDI tem como base os microdados da PNAD Contínua e acompanha o desempenho do emprego e da renda na indústria de transformação. Nesta edição foram analisadas informações do agregado de 2021, comparando-as com 2020, ano de maior impacto da pandemia de Covid-19. Além disso, a evolução trimestral também foi destacada, com ênfase no último trimestre do ano passado.
O baixo crescimento da atividade econômica em 2021, especialmente no segundo semestre, reduziu o ritmo de recuperação do mercado de trabalho. O PIB, que chegou a crescer 6,1% no acumulado do ano até o segundo trimestre de 2021, encerrou o ano com alta menor, de 4,5%.
Neste contexto, o setor privado, que havia adicionado no primeiro semestre 5,8 milhões de ocupações no mercado de trabalho, reduziu o ritmo de contratação nos últimos seis meses do ano passado para um acréscimo de 3,0 milhões de empregos, em relação ao mesmo período de 2020.
A indústria de transformação adicionou no mercado de trabalho 515 mil ocupações até junho de 2021, em relação ao mesmo período de 2020, o que representou alta de 8,8% neste período. Apesar do ritmo de crescimento do emprego industrial ter diminuído para um adicional de 424 mil no segundo semestre, este percentual subiu para 12,8%. Dentre os setores, o da construção civil foi o único que registrou redução na criação de emprego (-120 mil postos de trabalho), entre o primeiro e o segundo semestre de 2021.
Na média de 2021, o total de ocupados no setor privado atingiu 79,9 milhões de trabalhadores com expansão de 6,1%, em relação a 2020, e incremento de 4,5 milhões de pessoas no mercado de trabalho. Este resultado não conseguiu recuperar os empregos perdidos durante o primeiro ano da pandemia. Entre 2019 e 2021, o emprego caiu 3,6% com 2,9 milhões trabalhadores sem ocupação no ano passado, na comparação com o ano imediatamente anterior à crise sanitária.
No triênio 2019-2021, na média dos trimestres, a indústria de transformação registrou as seguintes variações, na comparação interanual:
•a segunda menor queda em 2020 (-6,6%), dentre os setores, só atrás da agropecuária (-2,6%);
•um crescimento menos intenso em 2021 (+5,3%), devido, em parte, ao melhor resultado do ano anterior e,
•uma perda de emprego, na comparação com o período pré-pandemia (-1,7%), abaixo da média do setor privado como um todo (-3,6%).
Em 2021, a indústria de transformação recuperou 537 mil postos de trabalhos dos 722 mil eliminados no ano da eclosão da pandemia, o que representou 74,4% do emprego perdido em 2020, na comparação da média dos trimestres.
No setor de serviços, o mais empregador dentre os segmentos, este percentual de recuperação de postos de trabalho foi muito menor, de apenas 44,1%, sendo que a perda de emprego neste período alcançou 4 milhões de postos de trabalho e a recuperação, em 2021, foi de 1,7 milhões de postos de trabalho.
O setor da agropecuária e da construção civil foram os únicos que conseguiram, em 2021, ultrapassar o patamar pré-pandemia de emprego em, respectivamente, 375 mil e 68 mil ocupações.
Tomando como referência o emprego formal com carteira assinada nenhum setor conseguiu retomar o nível de 2019, porém a indústria de transformação se destacou na evolução da ocupação. No período 2019 a 2021, as variações do emprego industrial, que apresenta maior qualidade, registraram, na média dos trimestres, os seguintes resultados nas variações interanuais:
•queda de 4,5%, entre 2019 e 2020, abaixo do setor privado (-6,9%) e menos intensa do que o registrado nos setores de serviços (-8,0%), do comércio (-7,4%) e da construção civil (-11,4%);
•em 2021, o emprego industrial cresceu 3,5% acima do setor privado (+2,6%) e dos principais setores econômicos;
•apesar de todos os setores não terem conseguido recuperar os empregos com carteia assinada em 2021, a indústria de transformação foi o que chegou mais perto de conseguir com queda de apenas 1,2%, em relação a 2019, frente a uma retração de 4,5% no setor privado como um todo.
Resultados do quarto trimestre de 2021
No quarto trimestre de 2021, a ocupação no setor privado cresceu 3,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior, com elevações nos serviços (4,7%), no comércio (3,4%) e na construção civil (3,3%). A indústria cresceu em ritmo menor (0,9%), enquanto houve diminuição da ocupação na agropecuária (-1,8%). Como já observado em análises anteriores, a indústria apresentou recuos menos intensos que os demais setores no início da pandemia, em 2020, seguido de crescimento menor ao longo de 2021.
Este contexto conviveu, também, com a queda da atividade industrial no final do ano passado, o que impactou o ritmo de contratação das empresas industriais. O PIB da indústria de transformação recuou 2,5% no quarto trimestre de 2021, excluída a sazonalidade, em relação ao terceiro trimestre, e -6,9% na comparação com o mesmo trimestre de 2020.
Já, no setor de serviços, o emprego cresceu 13,2% no quarto trimestre do ano passado, em relação ao mesmo período de 2020, ajudado pela recuperação do valor adicionado neste período (+3,3%, na mesma base de comparação).
Em termos de números absolutos, a indústria de transformação encerrou o quarto trimestre com o acréscimo de 939 mil postos de trabalho na comparação interanual e o setor de serviços agregou 4,4 milhões no mercado de trabalho, na mesma base de comparação.
Evolução do emprego por posição na ocupação
No quarto trimestre de 2021, a ocupação com carteira assinada cresceu 9,2%, abaixo portanto da variação do emprego total (11,2%), na comparação interanual, sinalizando uma reação mais forte das ocupações informais. Esta diferença foi maior, de +2,5% (com carteira assinada) contra +6,1% (emprego privado total), tomando como referência a média dos trimestres em cada período.
Em termos setoriais, no quarto trimestre de 2021, o emprego formal na indústria transformação, cresceu 8,4%, o equivalente a 562 mil pessoas a mais de trabalhadores, em relação ao mesmo período de 2020. As maiores altas do emprego com carteira assinada se concentraram nos setores da construção civil (+19,0%) e nos serviços (+9,9%), sendo que no comércio e na agropecuária as variações foram de, respectivamente, +7,6% e +4,4%, inferiores à registrada na indústria de transformação.
Até o terceiro trimestre de 2021, a indústria de transformação vinha mantendo um diferencial na contratação de ocupações com carteira assinada. Isto pode ser verificado com as variações interanuais superiores, em relação às taxas registradas no setor privado. No quarto trimestre, devido a uma base de comparação menor, a expansão do emprego formal na indústria foi um pouco inferior ao total do emprego formal, excluída a indústria de transformação (+8,4% contra +9,4%).
O quadro um pouco menos favorável no quarto trimestre não mudou a principal característica do emprego na indústria de transformação, qual seja, de ter um elevado percentual de trabalhadores com carteira assinada.
Na comparação entre os quartos trimestres de 2020 e 2021, o percentual de emprego formal no total da ocupação da indústria de transformação, passou de 65,0% para 64,6%. Nos principais setores econômicos esta participação é menor e também se reduziu n: de 41,8% para 40,9%, nos serviços; de 47,9% para 46,2%, no comércio. A construção civil registra o menor peso de trabalho formal no emprego, mas mostrou leve melhora neste período, de 21,8% para 22,1%.
Por dentro do emprego industrial
Dentre os segmentos industriais analisados, em 20 deles registrou-se aumento da ocupação, na comparação interanual, com destaque para Fabricação de coque; produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis (+28,4%), Fabricação de produtos de madeira (+25,6%) e Fabricação de produtos de borracha e de material plástico (+21,7%).
Por outro lado, três segmentos tiveram redução da ocupação no 4º trimestre de 2021, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior: Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-24,6%), Metalurgia (-7,4%) e Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,1%).
Em termos dos segmentos da indústria agregados por intensidade tecnológica, o grupo de alta tecnologia apresentou redução expressiva do emprego com carteira assinada (-17,7%), com redução de 66 mil postos de trabalho, na comparação interanual do quarto trimestre. Já, os demais grupos tiveram aumento do emprego, com destaque para o grupo de média tecnologia (+11,3%), que adicionou 140 mil trabalhadores nas suas empresas neste período.
Na passagem do 3º trimestre para o 4º trimestre de 2021, nota-se redução nos grupos de alta tecnologia (-9,0%) e no de média-alta (-5,1%), contrapondo-se às elevações do emprego nos grupos de média (6,9%) e média-baixa (4,4%).
Desempenho do rendimento médio real e da massa de rendimento
O rendimento médio real da indústria de transformação registrou redução no quarto trimestre de 2021, na comparação interanual, tanto no habitual (-15,8%), quanto no efetivo (-14,1%). Essa queda se diferenciou na comparação com o observado no total do setor privado, cujo rendimento habitual diminuiu -9,6% e o efetivo -6,7%.
Vale relembrar que o rendimento habitual, apurado na PNAD Contínua, é o valor que o entrevistado afirmou receber costumeiramente, sem acréscimos extraordinários ou descontos esporádicos. Já o rendimento efetivo é valor que o entrevistado afirmou que recebeu especificamente no mês de referência da pesquisa, incluindo pagamentos que não tenham caráter contínuo e considerando descontos por ausência de trabalho.
Historicamente esses dois rendimentos se comportavam de maneira similar, mas notou-se um certo “descolamento” no segundo e terceiro trimestre de 2020, quando o habitual se tornou um maior que o efetivo. Já no trimestre seguinte o efetivo voltou a ser ligeiramente superior, e avalia-se que a tendência é novamente eles terem comportamento similar.
Estes resultados negativos refletiram alguns fatores que impactaram o rendimento real dos trabalhadores em 2021. De um lado, a combinação de aceleração da inflação com reajustes que não repuseram a variação de preços nas datas bases. Segundo o DIEESE, na indústria, por exemplo, somente 21,5% das negociações salariais em 2021 conseguiram compensar a variação do INPC do período. E, de outro, a recuperação do emprego ter ocorrido em ocupações com salários inferiores aos empregos perdidos na pandemia, o que diminuiu o rendimento médio do quarto trimestre de 2021.
Na indústria de transformação, seis segmentos apresentaram elevação do rendimento médio habitual, com destaque para Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+19,6%) e para Fabricação de coque; produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis (+17,4%). Por outro lado, 17 segmentos tiveram redução do rendimento médio, com queda expressiva na Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-49,5%).
Por fim, observou-se redução na massa de rendimento real habitual da indústria de transformação, decorrente principalmente da redução do rendimento, uma vez que houve aumento da ocupação, na comparação interanual.
A massa de rendimentos da indústria de transformação recuou -8,1% no quarto trimestre de 2021, enquanto no total do setor privado houve aumento de 1,3%, também na comparação interanual. Cabe observar que, em 2020, a massa de rendimento da indústria havia se contraído bem menos do que o observado no total do mercado de trabalho captado pela PNAD-c, o que gerou uma base de comparação elevada para 2021.