Carta IEDI
Um retorno precário ao crescimento
A segunda metade de 2022 começou com a indústria voltando ao positivo. A alta de +0,6% embora não seja expressiva, como tem sido a regra em 2022, foi suficiente para compensar o declínio registrado no mês anterior (-0,3%, com ajuste). A fragilidade do resultado não se deve tanto à sua intensidade, mas sim à sua concentração tanto setorial como regional.
Dos 26 ramos identificados pelo IBGE, apenas 10 ampliaram sua produção física na passagem de jun/22 para jul/22, já descontados os efeitos sazonais, o que equivale a uma parcela minoritária de 38% do total. Já entre seus parques regionais, das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE, somente 4 ficaram no azul, isto é, uma fração de 27% do total.
Tomados os macrossetores industriais, o desempenho positivo também foi parcial, já que metade deles ficou no vermelho. Foram os casos de bens de capital, cuja produção recuou -3,7% em jul/22, sendo que já havia caído em jun/22, e de bens de consumo duráveis, que respondeu pelo pior desempenho deste início de semestre: -7,8%.
Bens de consumo semi e não duráveis cresceram +1,6%, puxados principalmente pela produção de alimentos (+4,3%), que exerceu uma das maiores contribuições à expansão da indústria geral em jul/22, segundo o IBGE. Bens intermediários, a seu turno, foram o macrossetor que mais cresceu, embora a alta de +2,2% tenha vindo apenas compensar o retrocesso dos dois meses anteriores.
Estoques considerados insuficientes, segundo levantamento da CNI, em mai-jun/22, podem ter contribuído para a expansão industrial em jul/22, mas encerraram o mês em equilíbrio para o agregado do setor e em 55% de seus ramos foram considerados acima do planejado ou em equilíbrio. Isso retira estímulo para um crescimento mais forte no próximo mês. A utilização da capacidade instalada também pouco variou em ago/22, segundo indicador da FGV.
Entretanto, a contar pela evolução da confiança dos empresários industriais, seja segundo o levantamento da CNI, seja de acordo com o acompanhamento da FGV, as perspectivas são favoráveis.
Em ago/22, houve reforço da confiança em ambos os indicadores, graças a avaliações mais otimistas da situação atual dos negócios: 54,1 pontos no caso da CNI para a indústria geral (o maior patamar dos últimos doze meses) e 102,8 pontos no caso da FGV para a indústria de transformação. Valores acima de 50 pontos e 100 pontos, respectivamente, sinalizam otimismo dos empresários.
Meses melhores seriam muito bem vindos, já que, por ora, a indústria acumula perda de -2,0% em sua produção, com 60% dos seus parques regionais e 73% de seus ramos no vermelho em jan-jul/22. A questão é superar ventos contrários que tendem a marcar o segundo semestre, como o repasse às taxas de empréstimo dos aumentos dos juros básicos pelo BC e os sinais de desaceleração da economia global, por exemplo.
Todos os macrossetores industriais também acumulam queda no ano até jul/22, notadamente, bens de consumo duráveis (-10,5%), seguidos de longe por bens intermediários (-1,7%) e bens de capital (-1,6%), em boa medida devido a bens de capital para a própria indústria. Bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, tiveram queda de -0,8%.
Resultados da Indústria
Em julho de 2022, a produção industrial assinalou variação de +0,6% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, mais do que compensando o declínio de -0,3% registrado em jun/22. Com isso, foi retomada a sequência de variações positivas que marca a maioria dos meses do presente ano.
Entretanto, o setor continuou abaixo do patamar pré-pandemia: -0,8% ante fev/20, livre de efeitos sazonais. Após as oscilações recentes, a produção física da indústria geral está praticamente no mesmo ponto em que se encontrava em dez/21 (+0,3%).
Em comparação com os dados do mesmo mês do ano anterior, jul/22 não conseguiu trazer a indústria de volta para região positiva, ao registrar -0,5%, mesmo patamar de declínio do mês anterior nesta série. Desde abr/22, a indústria oscila em torno da estabilidade na comparação com um ano atrás. Vale observar, porém, a existência de um efeito calendário negativo no mês de jul/22, já que teve um dia útil a menos do que jul/21 (21 ante 22 dias).
No período entre jan-jul/22, isto é, no agregado dos sete primeiros meses deste ano, a indústria acumulou declínio de -2,0% e nos últimos 12 meses, intensificou a queda para -3,0%, sendo a quarta variação negativa consecutiva nesta base de comparação.
O aspecto favorável na comparação interanual é que, pelo menos, a gravidade do quadro não se intensificou, com o 2º trim/22 registrando -0,4% e jul/22 -0,5%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação de jul/22 ante jun/22, na série com ajuste sazonal, houve variação negativa em 2 dos 4 macrossetores industriais. Bens de capital recuaram -3,7%, sua segunda taxa negativa consecutiva (-1,9% em jun/22), após meses de forte oscilação. Os bens de consumo duráveis, por sua vez, foram os que mais caíram nesta comparação: -7,8%, anulando integralmente a alta de jun/22 (+6,0%).
O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis (+1,6%) retomou sua trajetória de aumento de produção, após a interrupção de jun/22 (-0,9%). Bens intermediários não ficaram muito longe desta evolução, mas foi o suficiente para colocá-los na primeira posição em jul/22, com uma alta de +2,2%, mas que mal compensou o recuo do bimestre anterior (-1,1% tanto em mai/22 como em jun/22).
Metade dos macrossetores industriais segue em patamares de produção inferiores ao pré-pandemia, isto é, abaixo de fev/20. Os casos negativos referem-se a bens de consumo, mais diretamente impactados pelo desemprego ainda elevado no país e pela corrosão do poder de compra da população pela inflação.
Bens de consumo semi e não duráveis ficaram 4,9% aquém de fev/20 e bens de consumo duráveis em patamar 22,7% inferior. Bens de capital superam o pré-pandemia em 8,6% e bens intermediário em 2,9%.
Frente ao mesmo mês do ano anterior (jul/21), apenas um dos macrossetores ficou na zona positiva: bens de consumo semi e não duráveis, com crescimento de mero +0,8%. Bens intermediários ficaram estagnados (0%), enquanto bens de capital (-5,8%) e bens de consumo duráveis (-0,8%) perderam produção.
No acumulado de jan-jul/22, frente ao mesmo período do ano anterior, enquanto a indústria geral registrou -2,0%, bens de capital e bens de consumo semi e não duráveis conseguiram cair menos, apresentando variações de -1,6% e -0,8%, respectivamente. Para bens de capital, este desempenho implica uma mudança drástica de direção, já que em jan-jul/21 acumulava alta de +43,1%. A involução deveu-se muito a bens de capital para a própria indústria. Neste mesmo período do ano passado bens de consumo semi e não duráveis também estavam no positivo (+4,5%).
Bens intermediários, a seu turno, tiveram sua produção reduzida em -1,7% no acumulado jan-jul/22, quadro também bastante distinto de jan-jul/21, quando se expandiam a um ritmo de +9,1%. O pior resultado, porém, coube a bens de consumo semi e não duráveis, com perda de -10,2%, depois de terem crescido +27,8% em igual acumulado de 2021.
Já no acumulado nos doze últimos meses, com a quarta variação negativa, algo que não ocorria desde meados de 2021 para o agregado da indústria geral, apenas bens de capital se mantiveram em crescimento, com +3,7%, ainda que este desempenho positivo venha se reduzindo rapidamente (era +20,9% em mar/22). Bens de consumo duráveis também nesta comparação tiveram a maior queda, com -15,4%, seguidos de longe por bens de consumo semi e não duráveis (-3,2%) e bens intermediários (-2,6%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de +0,6% da produção industrial geral em jul/22 frente a jun/22, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de +0,4% na indústria de transformação e de +2,1% no ramo extrativo. Dessa forma, a indústria de transformação ainda se encontra 0,4% abaixo do nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20, enquanto o ramo extrativo está 0,6% abaixo deste patamar.
Em relação a jul/21, enquanto a indústria geral recuou -0,5%, o desempenho da indústria de transformação apontou para um quadro de estabilidade, registrando 0%. O ramo extrativo, por sua vez, não escapou de um revés, apresentando variação de -3,8% frente ao mesmo mês do ano passado.
Frente a jun/22, na série com ajuste sazonal, o resultado de +0,6% da indústria geral teve influência positiva de 10 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE. Entre eles, as contribuições mais importantes foram assinaladas por produtos alimentícios (+4,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+2,0%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+10,0%), metalurgia (+2,0%), celulose, papel e produtos de papel (+2,1%) e outros equipamentos de transporte (+5,0%), além do setor extrativo (+2,1%).
Em sentido oposto, entre as atividades que tiveram retração da produção na passagem de jun/22 para jul/22, estão: máquinas e equipamentos (-10,4%), outros produtos químicos (-9,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,8%), produtos de metal (-3,9%), couro, artigos para viagem e calçados (-5,6%), produtos de madeira (-7,2%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,1%), entre outros.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou retrocesso de -0,5% na produção em jul/22, variações negativas marcaram o desempenho de 16 dos 26 ramos, 47 dos 79 grupos e 56,0% dos 805 produtos pesquisados. Vale lembrar que julho de 2022 (21 dias) teve um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (22).
As maiores influências negativas nesta comparação interanual vieram das seguintes atividades da indústria de transformação: outros produtos químicos (-9,9%), máquinas e equipamentos (-9,3%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,0%), produtos de metal (-9,2%), minerais não metálicos (-4,8%), produtos de madeira (-13,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,7%) e metalurgia (-2,7%), entre outros.
Já entre as contribuições positivas, destacaram-se: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+8,6%), produtos alimentícios (+4,3%), bebidas (+12,7%), celulose, papel e produtos de papel (+10,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+2,0%), couro, artigos para viagem e calçados (+6,7%) e outros equipamentos de transporte (+7,9%).
Utilização de Capacidade
Em jul/22, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, progrediu de 81,4% em jun/22 para 82,3%, ficando acima da média histórica anterior à Covid-19 (79,5%). Em ago/22 este indicador praticamente não variou, ficando em 82,2%.
O indicador da CNI, também com ajuste sazonal, vem se mantendo em patamar muito semelhante desde jan/22, apontando para a relativa estagnação do setor. De jun/22 para jul/22, variou de 80,3% para 80,1%. Assim, o indicador encontra-se pouco abaixo da média histórica anterior à pandemia de Covid-19 (isto é, até fev/20), que é de 80,7%.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total, após ter ficado abaixo do nível de equilíbrio em mai-jun/22, voltou a superar a marca dos 50 pontos em jul/22, ficando em 50,6 pontos. Por estar muito próximo deste patamar, sinaliza relativo equilíbrio dos estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI também registrou 50,6 pontos (+1,6 ponto frente a jun/22), apontando ampliação dos estoques, embora próximo da linha de estabilidade (50 pontos). A indústria extrativa também registrou aumento, ficando em 52,1 pontos (+4,6 pontos ante jun/22).
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,1 pontos, sinalizando estoques no nível do planejado, em jul/22, após um período de estoques baixos em mai-jun/22. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima da qual há excesso de estoques e abaixo dela, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 51,9 pontos e 50,1 pontos, respectivamente.
Depois de praticamente todos os ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos) em dez/20 (96% do total), em dez/21 a insatisfação quando ao nível dos estoques ocorreu em 58% dos setores e, em jul/22, em 48% do total de ramos, o que equivale a 12 dos 25 ramos acompanhados pela CNI com índices abaixo dos 50 pontos.
Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em jul/22 destacam-se: móveis (57,9 pontos), couros (53,8 pontos) e limpeza e perfumaria (52,8 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: bebidas (46,2 pontos), químicos (46,2 pontos) e papel e celulose (46,6 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 57,6 pontos em jul/22 e progrediu para 59,8 pontos em ago/22, o patamar mais elevado do ano. Por ter ficado acima de 50 pontos neste período, o indicador aponta otimismo dos empresários do setor, reaproximando-se dos níveis registrados na entrada do segundo semestre de 2021, quando superou a marca de 60 pontos por seguidos meses.
Na passagem de jul/22 para ago/22, o componente referente às expectativas em relação ao futuro subiu de 61,0 pontos para 62,7 pontos, reforçando o quadro de otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios não só permaneceu igualmente na região de otimismo, como avançou de 50,7 pontos para 54,1 pontos, a maior marca desde ago/21. Isso traz boas perspectivas para o desempenho do setor no 3º trim/22.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV também apontou para melhora da confiança em ago/22, passando de 99,5 pontos em jul/22 para 100,3 pontos. Vale lembrar que no caso deste indicador valores acima de 100 pontos indicam um quadro de otimismo e abaixo deste patamar, pessimismo dos empresários.
O resultado de ago/22 foi influenciado por seus dois componentes, mas principalmente pelas avaliações da situação corrente, cujo indicador passou de 101,4 pontos em jul/22 para 102,8 pontos. As perspectivas em relação ao futuro, por sua vez, passaram de 97,6 pontos em jul/22 para 97,9 pontos em ago/22, não atingindo a região de otimismo (acima de 100 pontos).
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em ago/22 ficou em 51,9 pontos, depois de permanecer relativamente estável no patamar de 54 pontos em mai-jul/22. Como ficou acima da marca dos 50 pontos, indica melhora do quadro de negócios do setor, embora tenha recuado -2,1 pontos em relação a jul/22.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)