Carta IEDI
Marasmo industrial em nov/22
Desde a virada do primeiro para o segundo semestre de 2022, a indústria não consegue sustentar seu crescimento por dois meses consecutivos e as variações positivas têm sido minoritárias. É uma dinâmica em espasmos, positivos apenas em jul/22 e out/22. Agora em nov/22, o setor ficou virtualmente estagnado ao registrar -0,1%, livre de efeitos sazonais.
Não foi um bom resultado, mas ao menos uma parcela maioritária de seus ramos conseguiu evitar o terreno negativo na passagem de out/22 para nov/22, na série com ajuste sazonal. Dos 26 ramos identificados pelo IBGE, 11 recuaram, o que representa 42% do total. Quanto aos macrossetores, três progrediram e apenas um perdeu produção.
Também foi um mês de recuo da utilização da capacidade instalada, segundo o indicador da FGV, dando continuidade à atual trajetória descendente (de 82,3% em jul/22 para 79,6% em nov/22), e de deterioração da confiança. O Índice de Confiança da FGV, com ajuste sazonal, chegou ao ponto mais baixo da série desde jul/20 e o indicador da CNI por pouco não saiu da região de otimismo em nov/22.
Embora a situação do emprego do país venha melhorando e o governo tenha transferido recursos para as famílias nos últimos meses, por meio de, entre outras ações, a elevação do valor do Auxílio Brasil, obstáculos continuam presentes, notadamente, o nível mais elevado das taxas de juros, que prejudica as condições de crédito, essenciais para os mercados de bens duráveis, que muitos setores industriais produzem. Além disso, embora menores, ainda há gargalos remanescentes em cadeias produtivas.
Com uma trajetória de crescimento tão restringida, a indústria ainda não conseguiu superar o sinal negativo no acumulado do ano, muito embora bases deprimidas de comparação venham permitindo resultados interanuais melhores nos últimos meses, como agora em nov/22 (+0,9% ante nov/21).
Em seu agregado, a produção industrial em jan-nov/22 registra contração de -0,6%, com todos os seus quatros macrossetores no vermelho, sobretudo bens de consumo duráveis, com -3,2%, pressionados pela redução na fabricação de eletrodomésticos (-13,8%), especialmente os da “linha branca” (-18,8%).
Essa parcela da indústria é particularmente prejudicada pelo aumento das taxas de juros e do endividamento pessoal e pela recomposição do consumo de serviços no orçamento das famílias (notadamente as de maior renda), adiando suas decisões de reposição de eletrodomésticos.
Entretanto, recentemente há um dinamismo importante em alguns ramos da indústria de bens de consumo duráveis, como em automóveis (+17,5% em out-nov/22) e outros equipamentos de transporte (+20,5%), que está alavancando a produção deste macrossetor como um todo (+6,8% em out-nov/22).
Quanto aos demais macrossetores, a intensidade de declínio no acumulado do ano até nov/22 é bem mais moderada: -0,4% em bens de capital e -0,5% tanto em bens de consumo semi e não duráveis como em bens intermediários. Em todos estes casos, o bimestre out-nov/22 trouxe ventos favoráveis, ainda que muito incipientes: +0,2% para bens de capital e +0,3% para bens de consumo semi e não duráveis.
Cabe enfatizar que bens de capital para a própria indústria segue no vermelho mesmo no bimestre out-nov/22. Mesmo que o tamanho das quedas esteja se reduzindo, ainda é considerável: -6,0% ante out-nov/21. Esta evolução sugere redução do investimento no setor, o que prejudica as condições de uma futura retomada da indústria brasileira.
Por fim, bens intermediários se saíram um pouco melhor que os macrossetores acima, registrando +1,6% em out-nov/22 ante out-nov/21, mas ainda assim devido a apenas um ramo importante: intermediários da indústria alimentícia, cuja produção avançou de +2,1% em jul-set/22 para +23,8% em out-nov/22, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Resultados da Indústria
Em novembro de 2022, a produção industrial nacional mostrou-se estagnada, com variação negativa de -0,1% em comparação com out/22, já descontados os efeitos sazonais. Este resultado ocorreu após avançar +0,3% no mês anterior, quando interrompeu dois meses consecutivos de declínio, acumulando -1,3%. Dessa forma, o setor manteve-se abaixo do patamar pré-pandemia (-2,2% frente a fev/20).
Frente a novembro de 2021, por sua vez, a indústria registrou +0,9%, após crescer nos três meses anteriores: +1,7% em outubro, +0,4% em setembro e +2,8% em agosto. Este desempenho tem sido ajudado por bases fracas de comparação, em decorrência do enfraquecimento do setor na segunda metade de 2021.
No ano de 2022 até novembro, a indústria seguiu no negativo, algo que vem ocorrendo em todos os meses deste ano, ainda que em intensidade cada vez menor. No acumulado entre jan-nov/22, a indústria acumulou variação de -0,6% frente ao mesmo período do ano de 2021, a despeito da sinalização positiva no bimestre out-nov/22 (+1,3% ante out-nov/21). No acumulado dos últimos 12 meses, o setor apresentou queda de -1,0%, em uma trajetória negativa que tem se estendido desde abr/22.
Em relação às grandes categorias econômicas, na comparação com o mês anterior (out/22) na série com ajuste sazonal, bens de consumo duráveis (-0,4%) assinalaram a única taxa negativa, que marcou o terceiro mês consecutivo de queda.
Por outro lado, os setores produtores de bens de capital (+0,8%), bens de consumo semi e não duráveis (+0,6%) e bens intermediários (+0,4%) tiveram avanços na série com ajuste, com o primeiro eliminando parte do recuo de -4,4% acumulado nos meses de out/22 e set/22; e os dois últimos avançando pelo segundo mês seguido.
Na comparação com nov/21, todos os quatro macrossetores ficaram no azul. Bens de consumo duráveis (+2,0%) tiveram a maior alta, impulsionado pela expansão na fabricação de automóveis (+12,8%). Os setores produtores de bens intermediários (+1,3%), de bens de capital (+0,7%) e de bens de consumo semi e não duráveis (+0,2%) também registraram resultados positivos nesse mês.
No caso dos bens de capital, a variação positiva de +0,7% ocorreu após recuo de -0,2% em out/22. O segmento foi influenciado pela expansão no grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (+20,0%), para energia elétrica (+12,2%) e para construção (-9,0%). Por outro lado, os impactos negativos vieram de bens de capital de uso misto (-15,7%), para fins industriais (-4,7%) e agrícolas (-8,9%).
No acumulado de jan-nov/22 frente ao mesmo período do ano anterior, todas as categorias econômicas acumularam perdas, sobretudo, bens de consumo duráveis, com -3,2%, pressionados pela redução na fabricação de eletrodomésticos (-13,8%), especialmente os da “linha branca” (-18,8%).
Quanto aos demais macrossetores, a intensidade de declínio no acumulado do ano até nov/22 é bem mais moderado: -0,4% em bens de capital e -0,5% tanto em bens de consumo semi e não duráveis como em bens intermediários.
O último bimestre com dados disponíveis traz ventos favoráveis, mas importante notar que em dois deles a melhora é muito tênue. Em out-nov/22, a produção de bens de capital e bens de consumo semi e não duráveis ficou praticamente estagnada: +0,2% e +0,3%, respectivamente, ante out-nov/21.
Por outro lado, bens intermediários se saíram um pouco melhor, registrando alta de +1,6% em out-nov/22, mas isso devido a apenas um ramo importante: intermediários da indústria alimentícia, cuja produção avançou de +2,1% em jul-set/22 para +23,8% em out-nov/22, sempre na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Já no acumulado dos últimos doze meses, a indústria amargou mais um resultado negativo (-1,0%), com quedas em todas as categorias analisadas: bens de consumo duráveis (-4,3%), bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-1,1%), bens intermediários (-0,8%) e bens de capital (-0,1%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação de -0,1% da produção industrial geral em nov/22 frente a out/22, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de +0,1% na indústria de transformação e queda de -1,5% no ramo extrativo. Com o resultado de nov/22, a indústria de transformação se encontra 2,2% abaixo do nível de produção pré-pandemia de fev/20 e o ramo extrativo está 3,0% aquém deste patamar.
Em comparação ao mesmo mês de 2021, enquanto a indústria geral cresceu +0,9%, o desempenho da indústria de transformação foi de +1,3%. O ramo extrativo, por sua vez, após apresentar sua primeira variação positiva em out/22 (+4,5%) desde mai/22, voltou a ficar no vermelho (-2,9%).
De volta à série livre de efeitos sazonais frente a out/22, o recuo de -0,1% da indústria geral teve influência negativa de 11 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE (42% do total). Entre os destaques negativos na indústria de transformação estão: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-6,5%), têxteis (-5,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,8%), produtos de metal (-1,5%) e minerais não metálicos (-1,2%).
Em contraste, entre as atividades que apontaram avanço da produção no mês em tela, produtos alimentícios (+3,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,4%), bebidas (+10,3%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+2,8%) exerceram os principais impactos positivos, segundo o IBGE.
Na comparação com nov/21, em que a indústria geral apresentou variação de +0,9% na produção, foram observados resultados positivos em 12 dos 26 ramos, 33 dos 79 grupos e 39,8% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que novembro de 2022 (20 dias) teve o mesmo número de dias úteis do que igual mês do ano anterior.
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram das seguintes atividades da indústria de transformação: produtos alimentícios (+8,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+13,1%), bebidas (+5,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,9%), outros equipamentos de transporte (+23,6%), metalurgia (+3,5%), outros produtos químicos (+1,9%) e celulose, papel e produtos de papel (+2,8%).
Em direção oposta, entre as 14 atividades que tiveram redução de produção, estiveram: confecção de artigos do vestuário e acessórios (-15,5%), produtos de madeira (-25,1%), minerais não metálicos (-6,9%), produtos têxteis (-15,6%) e produtos de metal (-6,9%) exercendo as maiores pressões.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, recuou -0,9 ponto percentual na passagem de out/22 (80,7%) para nov/22, quando registrou valor de 79,8%, o menor patamar desde mai/22. Em dez/22, o indicador seguiu em declínio, fechando o mês em 79,6%.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total, após ter ficado abaixo do nível de equilíbrio em mai-jun/22, voltou a superar a marca dos 50 pontos em jul/22 e ago/22, sinalizando expansão dos estoques. Em nov/22, o indicador ficou em 50,3 pontos, isto é, em um quadro muito próximo à estabilidade dos estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI recuou de 51,6 pontos em out/22 para 50,3 pontos em nov/22. A indústria extrativa, por sua vez, assinalou dinâmica oposta, visto que foi de 48,3 pontos em out/22 para 49,9 pontos em nov/22.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 51,3 pontos em nov/22, sinalizando que há excesso de estoques frente ao planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 52,1 pontos e 51,4 pontos, respectivamente.
Em out/22, 24% dos ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos). Em nov/22, esse número subiu para 48% dos ramos. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em nov/22 destacam-se: madeira (62,9 pontos), móveis (56,6 pontos), manutenção e reparação (56,3 pontos), biocombustíveis (55,0 pontos) e têxteis (53,9 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: limpeza e perfumaria (44,6 pontos), bebidas (45,7 pontos), borracha (45,8 pontos), impressão e reprodução (47,2 pontos) e veículos automotores (48,0 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 50,8 pontos em dez/22, perdendo 0,9 ponto em relação a nov/22 (51,7 pontos). Embora tenha se mantido na área de otimismo, isto é, acima da marca de 50 pontos, o recuo verificado sugere uma menor intensidade das expectativas positivas.
Na passagem de nov/22 para dez/22, o componente referente às expectativas em relação ao futuro ficou estável em 51 pontos. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios recuou -2,9 p.p., mantendo-se por pouco na região otimista (50,3 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por sua vez, apresentou pequena melhora da confiança na passagem de nov/22 (92,1 pontos) para dez/22, que registrou 93,3 pontos, porém ainda ficando na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de dez/22 foi influenciado por seu componente referente às avaliações da situação atual, que passou de 91,8 pontos em nov/22 para 93,8 pontos em dez/22. As perspectivas em relação ao futuro, por sua vez, estão na região de pessimismo quase que sistematicamente desde o início de 2022 e agora em dez/22 registrou uma melhora marginal, saindo de 92,6 pontos em nov/22 para 92,8 pontos.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em dez/22 ficou em 44,2 pontos, bastante abaixo da marca de 50 pontos, indicando piora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)