Carta IEDI
Mês de declínio disseminado
Os dados mais recentes do IBGE mostraram que, em mai/24, a indústria registrou declínio de sua produção pela segunda vez consecutiva. As variações foram de -0,9% ante abr/24, com ajuste sazonal, e de -1,0% frente a mai/23. Desta vez, foram sentidos os impactos do desastre climático no Rio Grande do Sul e, diferentemente do mês anterior, todos os macrossetores e a maioria dos ramos industriais ficaram no vermelho.
Os sinais promissores de um desempenho mais robusto, na entrada do ano, vai dando lugar a um cenário mais nebuloso, não apenas pelo bloqueio de atividades produtivas devido às chuvas no sul do país, mas também pela interrupção da fase de redução da taxa básica de juros (Selic) e mais recentemente pela maior aversão a risco dos mercados financeiros, que tem provocado movimentos bruscos de desvalorização da taxa de câmbio, renovando incertezas em relação à trajetória da inflação e elevando custos de produção de muitos setores.
Episódios de distensão política, sobretudo, entre Executivo e Legislativo também prejudicam o horizonte para uma adequada regulamentação da reforma tributária, de modo a assegurar a menor alíquota padrão possível com incidência ampla sobre as atividades econômicas. Corre-se o risco de a indústria continuar arcando com uma parcela desproporcional da carga tributária.
Diante disso, as expectativas dos empresários do setor para os próximos meses recuaram em jun/24, o que no caso do indicador da CNI também afetou as avaliações das condições correntes dos negócios, sinalizando para um final de semestre fraco.
Em mai/24 (-0,9%), embora o resultado tenha sido muito próximo daquele registrado em abr/24 (-0,8%), na série com ajuste sazonal, há diferenças importantes que serão destacadas a seguir.
Em primeiro lugar, desta vez foi a indústria de transformação que ficou no vermelho (-2,2% ante 0% em abr/24), enquanto o ramo extrativo recuperou parte da perda anterior (+2,6% ante -3,2% em abr/24). Na indústria de transformação, como se sabe, há atividades mais complexas e cadeias produtivas mais longas, estando melhor capacitada para difundir dinamismo econômico.
Em segundo lugar, todos os macrossetores perderam produção, como mencionado anteriormente. As quedas foras mais intensas justamente para aqueles que vinham puxando o crescimento no início do ano: -5,7% em bens de consumo duráveis e -2,7% em bens de capital, já descontados os efeitos sazonais. Ambos os setores são mais sensíveis às taxas de juros e condições de crédito.
Em terceiro lugar, 16 dos 25 ramos industriais acompanhados pelo IBGE apontaram recuo na produção na passagem de abr/24 para mai/24, representando 64% do total. No mês anterior esta parcela tinha sido de 32%. O pior caso ficou a cargo do setor de fumo (-28,2%), bastante concentrado na região sul, mas outros ramos de peso na indústria, como veículos (-15%) e máquinas e aparelhos elétricos (-8,5%) também recuaram.
Apesar destas indicações de curto prazo, 2024 ainda se mostra mais positivo do que o ano passado. Os resultados interanuais do acumulado destes cinco primeiros meses já cobertos pelas pesquisas do IBGE ilustram a diferença de quadro: +2,5% ante -0,3% em jan-mai/23.
Bens de capital (+4,1%) lideram o dinamismo industrial no acumulado jan-mai/24, com ajuda de bases baixas de comparação. O segmento de bens de capital para a própria indústria está de volta ao positivo (+3,4%), ainda que sejam os bens de capital para transporte (+12,1%) e de uso misto (+11,3%) que mais tenham crescido.
Bens de consumo semi e não duráveis também não apenas se mantiveram no azul em mai/24 (+2,6%), como ganharam velocidade no último bimestre coberto por dados oficiais. Sua produção registrou alta de +3,8% no acumulado jan-mai/24, tendo sido o segundo melhor resultado, e avançou +6,8% se tomado apenas o período mais recente de abr-mai/24, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Dentre seus segmentos, têxteis e vestuário deixaram o terreno negativo no último bimestre (+8% e +8,8%, respectivamente), assim como a indústria farmacêutica (+0,3%). Laticínios, carnes e combustíveis também ganharam vigor.
Bens de consumo duráveis, com alta de +2,8% no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024 e de +5,7% no último bimestre em tela, só não se saiu melhor devido ao declínio da produção de veículos, que foi de -6,5% em abr-mai/24, o que se soma às perdas de -5,9% do 1º trim/24 e de -6,8% no 4º trim/23.
Bens intermediários, a seu turno, cresceram +2,0% em jan-mai/24, mas desaceleraram no último bimestre, registrando +1%, em função de derivados de petróleo, que reverteram alta de +7,3% no 1º trim/24 para -3,7% em abr-mai/24, e da siderurgia, que passou de +2,9% para 6,0%, respectivamente.
Resultados da Indústria
De acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados pelo IBGE, a produção da indústria nacional recuou -0,9% na passagem entre abr/24 e mai/24 na série com ajuste sazonal. Este foi o segundo mês consecutivo de queda na produção, período que acumulou perda de -1,7%, além de eliminar o ganho de +1,1% acumulado nos meses de mar/24 e fev/24.
Na comparação de mai/24 com mai/23, a produção da indústria geral brasileira decresceu -1,0%, após avanço de +8,4% em abr/24. Vale citar que maio de 2024 (21 dias) teve 1 dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (22).
Dessa forma, o setor industrial teve expansão de +2,5% no acumulado de jan-mai/24 frente ao mesmo período de 2023. A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, avançou +1,3% em mai/24, reduzindo a intensidade no ritmo de crescimento em relação ao resultado do mês anterior (+1,5%).
O recuo de -0,9% do índice de produção da atividade industrial atingiu as quatro grandes categorias econômicas na passagem de abr/24 a mai/24 na série com ajuste sazonal. Bens de consumo duráveis (-5,7%) e bens de capital (-2,7%) assinalaram as taxas negativas mais elevadas em mai/24, com ambas revertendo os avanços registrados no mês anterior: +4,5% e +2,9%, respectivamente.
Os setores produtores de bens intermediários (-0,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%) também registraram queda na produção na comparação entre mai/24 e abr/24, com o primeiro acumulando perda de -2,1% em dois meses consecutivos de recuo; e o segundo interrompendo três meses seguidos de expansão, período em que acumulou ganho de +1,8%.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o decréscimo de -1,0% em mai/24 da indústria total foi puxado por dois dos quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (-10,6%) assinalou a redução mais acentuada, seguida pelo segmento de bens intermediários (-2,2%). Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (+2,6%) e bens de capital (+3,1%) registraram as taxas positivas nesta comparação.
O macrossetor de bens de consumo duráveis recuou -10,6% em mai/24 frente a igual mês de 2023, assinalando a taxa negativa mais elevada desde abr/22 (-14,0%). Para esse resultado, o setor foi pressionado, principalmente, pela redução na fabricação de automóveis (-30,6%). Por outro lado, os principais impactos positivos vieram dos setores produtores de eletrodomésticos da “linha branca” (+16,6%), outros eletrodomésticos (+24,8%), motocicletas (+4,2%) e eletrodomésticos da “linha marrom” (+2,0%).
A produção de bens intermediários recuou -2,2% em mai/24 contra mai/23 e marcou a queda mais intensa desde abril de 2023 (-2,9%). O resultado foi explicado pelos recuos nos setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-6,5%), produtos químicos (-6,1%), metalurgia (-5,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,9%), produtos alimentícios (-2,4%), máquinas e equipamentos (-9,1%) e produtos de minerais não metálicos (-1,1%), enquanto as pressões positivas foram registradas por celulose, papel e produtos de papel (+6,8%), produtos de borracha e de material plástico (+4,6%), produtos têxteis (+1,6%) e produtos de metal (+0,4%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção dos bens de consumo semi e não duráveis avançou +2,6% em mai/24, segunda taxa positiva consecutiva nessa comparação. O desempenho positivo foi explicado pelo crescimento registrado em todos os setores, com destaque para alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+3,2%), não duráveis (+3,9%) e carburantes (+2,0%).
O setor produtor de bens de capital, por sua vez, teve expansão de +3,1% na comparação interanual, marcando o segundo mês consecutivo de crescimento na produção, mas com intensidade bem menor do que a observada no mês anterior (+24,6%). A categoria foi influenciada pelo avanço observado no grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (+15,8%) e bens de capital de uso misto (+5,9%). Por outro lado, os subsetores de bens de capital agrícolas (-30,0%), para construção (-20,3%), para fins industriais (-0,8%) e para energia elétrica (-2,3%) mostraram as taxas negativas no índice mensal.
No índice acumulado de jan-mai/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +2,5%, com resultados positivos em todos os quatro macrossetores. O perfil dos resultados para os cinco primeiros meses de 2024 mostrou maior dinamismo na produção de bens de capital (+4,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (+3,8%). Os setores produtores de bens de consumo duráveis (+2,8%) e bens intermediários (+2,0%) também apontaram resultados positivos no índice acumulado no ano, com o primeiro registrando avanço mais intenso do que o verificado na média da indústria (+2,5%).
Apesar do avanço de +2,5% no total da indústria nos cinco primeiros meses de 2024, esse resultado mostra redução na intensidade de crescimento frente ao fechamento do primeiro quadrimestre do ano (+3,5%), ambas as comparações contra igual período do ano anterior. Esse movimento de perda dinamismo também foi verificado nos quatro macrossetores: bens de consumo duráveis (de +6,7% para +2,8%), bens intermediários (de +3,2% para +2,0%), bens de consumo semi e não duráveis (de +4,2% para +3,8%) e bens de capital (de +4,4% para +4,1%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção da indústria geral assinalou variação negativa (-0,9%) em mai/24 frente a abr/24, na série livre dos efeitos sazonais. Embora o resultado de mai/24 tenha sido muito próximo do registrado em abr/24 (-0,8%), pode-se destacar que em mai/24, quem ficou no vermelho foi a indústria de transformação (-2,2% ante 0,0% em abr/24), enquanto o ramo extrativo recuperou parte da perda do mês anterior (+2,6% ante -3,2% em abr/24). Na comparação com maio/23, a redução de -1,0% da indústria geral foi puxada principalmente pela indústria de transformação, que decresceu -1,2% no mesmo período, enquanto o ramo extrativo recuou -0,2% na mesma comparação.
Na variação negativa de -0,9% do setor industrial na comparação entre mai/24 e abr/24, 16 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na produção. Entre as atividades, as influências negativas mais importantes vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,7%), produtos alimentícios (-4,0%), produtos químicos (-2,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,3%), produtos do fumo (-28,2%), entre outros.
Por outro lado, entre as atividades que apontaram expansão na produção da indústria de transformação, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,9%) exerceu o principal impacto, interrompendo cinco meses consecutivos de queda na produção, período em que acumulou perda de -4,2%.
Na comparação com mai/23, o setor industrial assinalou recuo de -1,0% em mai/24, com resultados negativos em duas das quatro grandes categorias econômicas, 14 dos 25 ramos, 43 dos 80 grupos e 50,4% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências negativas foram: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,0%), máquinas e equipamentos (-8,9%), metalurgia (-5,6%) e produtos químicos (-3,6%).
Por outro lado, ainda na comparação com mai/23, entre as atividades que apontaram aumento de produção, produtos alimentícios (+1,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+9,4%) e celulose, papel e produtos de papel (+5,5%) exerceram as maiores influências na formação da média da indústria.
No índice acumulado para jan-mai/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +2,5%, com resultados positivos em 19 dos 25 ramos, 50 dos 80 grupos e 55,3% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas no total da indústria foram registradas por produtos alimentícios (+5,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,1%), indústrias extrativas (+2,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,8%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan-mai/23, entre as atividades que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,9%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pela menor produção de medicamentos. Outras contribuições negativas importantes foram registradas pelas atividades de máquinas e equipamentos (-2,8%) e de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-4,7%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, recuou -0,6 ponto percentual na passagem de abr/24 (82,4%) para mai/24, quando registrou valor de 81,8%. Dessa forma, em mai/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 5,6 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20:76,2%) e 2,2 pontos acima da média histórica (79,6%). Em jun/24, a utilização da capacidade instalada voltou a crescer, atingindo 82,5%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação também decresceu, indo de 79,1% para 78,7% na passagem entre abr/24 e mai/24 na série com ajuste sazonal. Na comparação com mai/23, por sua vez, esse indicador registrou estabilidade (-0,1 p.p.).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 48,9 pontos em mai/24, recuando 1,1 pontos frente a abr/24.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI recuou de 49,9 pontos em abr/24 para 48,9 pontos em mai/24. A indústria extrativa também assinalou queda nos níveis dos estoques, visto que foi de 51,3 pontos em abr/24 para 47,3 pontos em mai/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 49,2 pontos em mai/24, sinalizando que os estoques estão abaixo do esperado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 47,7 pontos e 49,2 pontos, respectivamente.
Em mai/24, 32% dos ramos industriais apresentarem estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), em comparação aos 24% do mês passado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em mai/24 destacaram-se: outros equipamentos de transporte (57,7 pontos), celulose e papel (52,6 pontos), móveis (52,3 pontos) e químicos (52,2 pontos) e, entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: impressão e reprodução (38,3 pontos), limpeza e perfumaria (41,7 pontos), madeira (42,3 pontos) e derivados de petróleo (42,9 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 51,1 pontos em jun/24, recuando 0,6 pontos frente a mai/24. Na passagem de mai/24 para jun/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 54,4 para 53,8 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios caiu -0,8 p.p., se mantendo na região pessimista (45,7 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, avançou por mais um mês, crescendo 0,4 p.p na passagem de mai/24 para jun/24, registrando 98,4 pontos, ainda ficando na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de jun/24 foi influenciado pelo avanço do seu componente referente às avaliações da situação atual, que passou de 98,2 pontos em mai/24 para 99,3 pontos em jun/24, visto que o índice de expectativas caiu, indo de 98,0 pontos em mai/24 para 97,6 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em mai/24 ficou em 52,1 pontos, avançando para 52,5 pontos em jun/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)