Carta IEDI
Especial 35 Anos do IEDI
Em 23 maio de 1989, o IEDI foi idealizado por um grupo de destacados empresários da indústria nacional que entendiam que pensar o desenvolvimento de seu país é uma importante e indelegável tarefa para cumprir com a Nação, nutrindo e fortalecendo o debate de um Projeto Nacional junto ao Estado e à sociedade brasileira.
Surgiu e se manteve ao longo dos anos como um Instituto de estudos técnicos, isento de partidarismos e de corporativismo, e com visão de longo prazo, com o propósito de analisar a evolução da economia brasileira e de sua indústria e de propor princípios e ações de uma estratégia de desenvolvimento que assegurasse crescimento econômico sustentado e melhores condições de vida à nossa população.
A Carta IEDI de hoje é uma edição especial em comemoração aos 35 anos do Instituto, em que Guilherme Gerdau Johannpeter, seu atual Presidente, e Eugênio Staub, Conselheiro Emérito, Ex-Presidente e Membro Fundador, refletem sobre as motivações e convicções que permeiam a história do IEDI e que continuam funcionando como seus pilares de sustentação.
O momento desta reflexão é oportuno também por outra razão. Assim como no período de criação do IEDI, quando a tecnologia da informação avançava e globalização produtiva e financeira ganhava velocidade, o mundo hoje também passa por profundas transformações, com a emersão da chamada “indústria 4.0”, acirramento da competição comercial e tecnológica entre EUA e China e crescentes tensões geopolíticas. Tudo isso, sob a pressão das mudanças climáticas derivadas do aquecimento global.
Mais uma vez, ao Brasil é fundamental possuir uma visão estratégica, derivada do debate democrático e da construção de consensos em torno de suas potencialidades e dos meios a serem empregados para realizá-las, sob o risco de nos distanciarmos ainda mais do “padrão mundial”. É um contexto revigorador à atuação do IEDI.
As entrevistas que compõem esta Carta Especial foram concedidas aos economistas do Instituto, Julio S. Gomes de Almeida e Rafael F. Cagnin na segunda quinzena de maio de 2024.
Guilherme G. Johannpeter: “A única forma de voltar a crescer é através do ganho de produtividade”
A seguir, entrevista concedida pelo Presidente do Conselho do IEDI, Guilherme Gerdau Johannpeter, em 20 de maio de 2024.
Mudanças no cenário global. No cenário global, nós estamos vivendo um momento no qual as duas grandes superpotências, Estados Unidos e China, não estabelecem uma relação de confiança mútua. Isso resulta numa série de consequências, tanto para as economias desenvolvidas como para as economias em desenvolvimento, como o Brasil. Ao que tudo indica, estamos transitando de um cenário de globalização para um cenário de fragmentação do comércio mundial e das cadeias de produção.
A globalização permitiu que o mundo vivenciasse uma fase de altíssimo ganho de produtividade, com inflação razoavelmente controlada, acarretando um período de prosperidade muito grande. Agora, o processo de fragmentação das cadeias produtivas globais vem sendo acompanhado de tendência inflacionária. No mundo todo, temos visto a promoção de medidas protecionistas, o que pode levar a misallocation dos fatores de produção.
O chamado Consenso de Washington, que existia no passado, acompanhando o processo de globalização, e que pregava a disciplina fiscal, já não é mais tão válido. Estamos vendo várias economias crescendo num total descontrole, com déficits fiscais, ano sim, ano não. Os Estados Unidos, por exemplo, estão com 6% de déficit. Um dos efeitos do enfraquecimento do consenso em torno da disciplina fiscal é o enfraquecimento das moedas, da falta de sua ancoragem.
Recentemente, em conversa com o economista chefe da Allianz, ele questionava porque a meta de inflação nos Estados Unidos tem que ser 2%. De onde veio essa meta? Em algum momento, chegou-se à conclusão de que era preciso ancorar em 2%. Mas no atual ambiente de fragmentação das cadeias, quando as duas superpotências não se encontram numa agenda comum, em que existe uma desconfiança grande, e estamos no meio de duas guerras; por que tem que ser 2%? Provavelmente, vamos ter que viver num ambiente de inflação mais alta.
Nos EUA, seja qual for o resultado das eleições, tendemos a ver uma inflação mais sticky, com um quadro fiscal mais deficitário. Se ganhar o Trump, o que ele vai fazer? Baixar imposto, sobretudo o imposto de renda, mas não os impostos de importação de produtos chineses. Mas isso o Biden também fez. Subiu imposto de carro elétrico, aço e semicondutor. Caso o Biden ganhe, o que ele vai fazer? Gastar. Ou seja, um vai cortar imposto, o outro vai gastar mais. O resultado é um déficit maior, mesmo que com a economia crescendo. Portanto, a inflação nos Estados Unidos acabará sendo mais “pegajosa” do que temos visto.
Política industrial e o papel do IEDI. Saímos, portanto, de um momento de liberalização das economias para um quadro em que os países precisam ter política industrial para se defender. Vemos os países se organizando, se fechando e desenvolvendo suas próprias políticas industriais.
Há três grandes forças acontecendo no mundo e que estão condicionando o desenvolvimento industrial: o avanço das energias renováveis, que vem com muita força; life science e bioengineering; e inteligência artificial.
O papel do IEDI é propor ideias e ajudar o Brasil a construir propostas que respondam aos desafios deste ambiente onde as políticas industriais vão ser cada vez mais cruciais para o sucesso ou o fracasso econômico dos países. É importante observar, contudo, que atualmente há várias forças que, no passado, quando da criação do IEDI, não existiam, e que agora estão presentes, implicando uma outra articulação política, por exemplo.
De todo modo, o IEDI tem uma vantagem. Porque ele foi e deve continuar sendo o think thank da indústria, apartidário e sem interesses específicos de um ou outro setor. É uma vantagem da nossa proposta de valor, mas precisamos rever e revisitar essa proposta. Há, por exemplo, novos atores no setor, como as empresas de energia, em óleo e gás, a Eletrobras.
O Brasil na economia global. O Brasil sempre foi uma economia muito fechada, fez pouquíssimos acordos de livre comércio. Mas o Brasil tem uma característica interessante. Estive em Nova York recentemente, e a visão internacional é que o Brasil tem um peso de “swing state”, uma analogia aos estados que acabam definindo o curso de uma eleição americana.
O que isso significa? Significa que o Brasil terá que se alinhar ora com a China, naquilo que for conveniente e importante para o país em curto, médio e longo prazo, ora com os Estados Unidos também naquilo que for importante em curto, médio e longo prazo. Seremos um swing state. Como o Brasil tem escala, na produção de commodities, em seu mercado interno, na capacidade de atrair investimentos etc., seremos especialmente relevantes neste momento.
Os países pequenos tiveram um benefício muito grande com a globalização, eram países de mais fácil gestão e de menor escala. Mas, neste momento, quando os países voltam a adotar políticas industriais e em que as cadeias produtivas globais se fragmentam, quem tem escala e tamanho de mercado pode se beneficiar. Então o Brasil tem, de novo, uma grande oportunidade para voltar a crescer, mas precisaremos ter uma capacidade de articulação internacional com os Estados Unidos de um lado e com a China do outro, o que nunca tivemos antes.
Os desafios empresariais. No lado micro, tenho visto três grandes conceitos que devem ser levados em conta por aqueles que estão querendo se perpetuar e ter sucesso nesse ambiente altamente volátil em que vivemos: resiliência, “opcionalidade” e agilidade.
Resiliência, porque as dificuldades estão se acumulando, mudanças governos, desastres ambientais, crises econômicas, e vamos precisar nos adaptar. Isso tem muito a ver com a construção de equipes adequadas.
O segundo tema é a questão de optionality. Ou seja, as empresas terão que construir balanços e posições, mas mantendo opções em aberto, assegurando flexibilidade. O cenário vai mudar e diante disso precisamos ter opções de escolher caminhos e estratégias alternativas e reavaliar tomadas de decisões.
A terceira questão é a agilidade. Não adianta ter resiliência e opcionalidade se você não tem agilidade para tomar decisão. A combinação desses três fatores será a chave do sucesso daqui em diante.
Riscos e capacidade de governança. O desastre que está acontecendo hoje no Rio Grande do Sul está sendo um teste importante, porque são muitas vidas que dependem da tomada de decisões imediatas.
Trata-se de uma calamidade humanitária onde o erro não vai ser sentido ao longo de meses ou semanas, ele vai ser imediato. Se forem tomadas decisões erradas, a população vai sentir imediatamente o problema e pode acontecer um caos, porque são muitas pessoas, é uma situação difícil. Não é somente uma questão de recursos.
Dependemos agora, essencialmente, da capacidade de gestão e de execução dos planos. Definir prioridades, definir cronogramas e, claramente, quem são os responsáveis. Se não tivermos uma capacidade de articular uma governança em nível municipal, estadual ou federal, com os agentes econômicos do Estado do Rio Grande do Sul, a situação vai piorar rapidamente.
Com a chegada do inverno, Estado e agentes privados precisam ter capacidade de resposta que, na nossa avaliação, está diretamente vinculada à forma como a governança vai ser montada. Se ela não for montada com claros objetivos de priorização, cronogramas e responsáveis, teremos um problema muito maior adiante.
Transição energética: oportunidade e obstáculos. A transição energética mundial, necessária para enfrentarmos o aquecimento global e evitarmos novas tragédias como esta no Rio Grande do Sul, poderia ser uma oportunidade para o Brasil, mas não adianta só ter as condições favoráveis se continuarmos com um custo de capital tão alto.
Qualquer vantagem que tenhamos, em razão da disponibilidade de terra, ou sol, ou água, ou vento, para poder produzir energia renovável, demanda um offset do custo de capital que pode ser muito grande. Eu não acredito muito que possamos aproveitar esta oportunidade porque o Brasil é um país de custo capital elevado.
O capital estrangeiro, que em geral tem acesso a financiamentos de menor custo, poderia explorar este potencial nosso, mas e o risco cambial do Brasil? Com tamanho potencial de descasamento cambial?
Pode acontecer, mas eu acho que às vezes a gente superestima o fato de haver recursos naturais no Brasil e subestima as dificuldades de colocar isso em projetos, em alocação de recursos, alocação de capital e crescimento efetivo. O Brasil tem muito risco. Eu raramente vejo grandes investidores falarem nesse conceito um pouco vazio de que o Brasil apresenta tais potencialidades em energia limpa. Ok, mas quanto é que custa?
Então, só ter sol, chuva e vento não é suficiente. Potencialidade, a África tem até mais do que o Brasil e ainda apresenta uma regularização fundiária mais simples do que a nossa. Nós precisamos de muito mais do que potencialidade, precisamos de custo de capital competitivo no Brasil. Se tivéssemos taxas de juros de 6 ou 7%, isso aqui estaria voando. Não tem como crescer com juros de dois dígitos. Esquece. Só empresário maluco, como nós, continua alocando capital a esse custo.
Por exemplo, estamos construindo um parque solar em Arenos, no norte de Minas Gerais. São 800 campos de futebol de área com placas solares para produzir 420 MWp. E quais são as nossas vantagens? Existia uma regularização fundiária, um índice de insolação muito bom, e há capacidade de distribuição, pois tem conexão com a rede de transmissão. Mas o custo de capital é alto, há risco de execução do projeto e as placas solares são importadas. Além de um risco gigante, tendo que competir com o aço subsidiado dos chineses.
As condições de crescimento econômico brasileiro. Outro ponto sobre as condições de crescimento do Brasil que eu gostaria de salientar é que perdemos o bônus demográfico. O país está envelhecendo muito rapidamente, antes de ter ficado rico. Não existe dúvida sobre a nossa trajetória demográfica. Está dada. Seria diferente se houvesse imigração, mas o Brasil não tem e nem vai ter. Ao contrário, o Brasil tem saída de talentos.
Portanto, a única forma de voltar a crescer, já que não vamos ter um aumento da força de trabalho, é através do ganho de produtividade. Como se ganha produtividade no Brasil hoje? Através de reformas e de investimento em infraestrutura. O Brasil está investindo algo como 1,5% do PIB em infraestrutura, mas precisa investir de 4% a 5%. Sem isso não vai haver crescimento.
Existe, no entanto, consenso sobre o esgotamento da capacidade de investimento do Estado brasileiro. Por isso, é preciso persistir nas reformas econômicas e nas privatizações de ativos, que vão viabilizar esse investimento de formação de capital fixo. Um grande sucesso foi a privatização da Eletrobras. Olha o sucesso da privatização dos campos maduros da Petrobras. Há também um potencial de investimento em gás natural através do novo Marco Regulatório do Gás.
Então, há oportunidades de reformas para aumento da produtividade e ampliação do investimento; sem isso não haverá crescimento econômico.
Reforma Tributária. O principal item da pauta da indústria e do IEDI é a reforma tributária. O Brasil tem uma capacidade inigualável de construir suas próprias crises e suas próprias complexidades, até para poder irrigar todo um sistema que está estabelecido. A gestão desse novo tributo que estão criando, com um período enorme de transição, é de uma grande complexidade, mas é a chance de termos uma isonomia tributária com os países mais desenvolvidos e evitar exportar imposto e finalmente ganhar competitividade.
Nova Indústria Brasil. Há também a NIB – Nova Indústria Brasil, que é um esforço na direção correta para começarmos a discutir política industrial. Não podemos ter a ambição de acertar tudo na primeira, mas é um movimento nessa direção. Vejo a NIB como uma política industrial viva, que precisa estar aberta a adaptações e ter claramente metas de entrega. Quais são as unidades de entrega da Nova Indústria Brasil? E como essas entregas vão ser acompanhadas? Ainda não está claro.
Quanto aos recursos, falamos de R$ 300 bilhões para quatro anos. É muito pouco, mas é um movimento na direção correta. Se tivéssemos condições de articular um valor maior, seria melhor, as não temos essa capacidade, seja por parte do governo, seja por parte dos agentes privados. O plano safra são R$ 360 bilhões por ano, com juros subsidiados, com base em uma narrativa de segurança alimentar. A indústria precisa melhorar sua narrativa.
A indústria é mais intensiva em capital e sofre mais com o quadro de baixa disponibilidade de capital em condições de custo, volume e prazo adequados. Isso faz com que algumas empresas, aquelas que podem, as grandes, acabem buscando recursos fora do Brasil, arcando com um risco cambial importante.
Eugênio Staub: “O Brasil tem tudo para chegar lá!”
A seguir, entrevista concedida pelo Conselheiro Emérito, Ex-Presidente e Fundador do IEDI, Eugênio Staub, em 10 de maio de 2024.
Antecedentes. Em 1950 o Brasil iniciou a nova década com o setor industrial brasileiro muito atrasado.
Havia apenas alguns setores, como têxteis, já quase centenários, material de construção (Roberto Simonsen, fundador da Fiesp, era dono da Cerâmica são Caetano), incipientes montadoras de caminhões, que muito pouco produziam e com insumos importados, além de pouquíssimas outras atividades de relevância. A boa notícia é que estava se iniciando o funcionamento da CSN, criada pela ditadura de Getúlio Vargas, em meados dos anos 40.
A partir de 1950, no governo Getúlio Vargas, providências importantes foram tomadas, como a criação da Petrobras, a criação do BNDES, do CTA, e muitas outras iniciativas, inspiradas nos “Boêmios Cívicos”, que trabalhavam diretamente no gabinete do Presidente. Estes eram jovens economistas, principalmente nordestinos, que formulavam ideias eram apoiadas e implantadas pelo governo.
Juscelino Kubitscheck, que sucedeu a Getúlio Vargas, terminou de mudar completamente a história da indústria brasileira, turbinando-a e dando ênfase à indústria automobilística, que desencantou, cresceu e floresceu.
Nos sucessivos governos militares se desenvolveram celeremente as atividades industriais, até o fim do governo Geisel.
Chegamos a 1980, apenas 30 anos após aquele limiar inicial, com uma indústria bastante atualizada com o que existia de melhor no mundo, dinâmica e em setores diversificados: veículos, siderurgia, petroquímica, papel e celulose, máquinas e equipamentos, farmacêutica e todos os setores da eletrônica (telecomunicações e eletrônica de consumo) etc.
No caso desta última sou testemunha pessoal de que estávamos atualizados com o que havia no mundo, em 1980, através de centenas de empresas, em diversas regiões do país.
O ‘milagre brasileiro’ despertou interesse de outros países. Recebíamos delegações de outros países, mormente da Coreia do Sul, que aqui vinham aprender “como estavam fazendo os brasileiros”!
Orgulhávamos da nossa indústria, e mais ainda, tínhamos a certeza de um futuro pujante para a indústria e para o país.
Houve, porém, a partir de 1980, uma mudança de cenário, por diversas razões, que não precisam ser enumeradas, uma quase estagnação ou um crescimento pífio, que infelizmente persiste até hoje.
Nesses últimos 40 anos deixamos de nos inspirar nos 30 anos anteriores.
Planejando o IEDI. No início de 1989, inconformados com essa situação, os industriais estavam irrequietos. Vivíamos o problema de crescimento pífio, ou até recessão, inflação acelerada e pessimismo generalizado.
Quatro desses industriais, que se encontravam regularmente, para debater problemas nacionais, passaram a discutir que contribuição poderiam fazer para mudar esse cenário, e voltar aos “anos de ouro da indústria”. Eram todos ligados ao departamento de econômica da Fiesp: Claudio Bardella, que foi, durante um bom período, diretor de economia da Fiesp, onde foi sucedido por Paulo Francini, que trouxe para essa atividade Paulo Guilherme Cunha, do Grupo Ultra, e eu próprio.
Nós quatro passamos a nos reunir semanalmente para discutir, com entusiasmo, a ideia de que algo de relevante pudesse ser feito para retomar o desenvolvimento industrial.
A partir de uma ideia de Paulo Cunha, imaginamos criar um instituto técnico, baseado no ISEB (Instituto Superior de Estados Brasileiros), criado no governo Juscelino (que infelizmente foi extinto logo no início do governo militar).
Só que o “nosso” instituto estaria voltado apenas para a indústria, e não teria a amplitude do ISEB.
Claudio Bardella era impressionado com o modelo do Keidanren, entidade empresarial japonesa, que tinha sido responsável pelo grande surto industrial do Japão, no pós-guerra. Inspirávamos nele.
Definimos que o novo instituto deveria ser nacional, e não regional, deveria ser constituído apenas por empresas industriais brasileiras, por serem eles os principais responsáveis por sugerir políticas públicas e privadas para o nosso país. Nada contra as multinacionais, mas entendíamos que era uma responsabilidade do empresário brasileiro.
Outra ideia que Claudio enfatizou, foi a necessidade de a participação no instituto ser restrita obrigatoriamente ao principal executivo (muitas vezes o dono), de importantes empresas industriais brasileiras, diversificadas nos seus ramos e na sua localização geográfica.
O IEDI deveria produzir conteúdo essencialmente técnico, de alto nível, e se articular com entidades públicas e privadas que pudessem trazer contribuições para esse planejamento.
Tratava-se de um projeto para incentivar a retomada da industrialização no país, abrangendo todas as áreas importantes, que impactam essa atividade.
Desenhado o projeto, após muitos meses e muita consulta a economistas, políticos e empresários, o IEDI foi fundado em maio de 1989, com 20 empresários industriais brasileiros, que foram convidados. Todos aceitaram o convite com entusiasmo. Todos eram dirigentes de importantes indústrias no Brasil.
O IEDI nasce! A primeira reunião de trabalho do IEDI ocorreu num hotel no Guarujá, num fim de semana de maio, onde durante dois dias os empresários / fundadores se reuniram e discutiram com entusiasmo e seriedade, os passos que seriam dados.
Essa reunião terminou com uma “Visão do Brasil para 2010”, ou seja, 20 anos na frente.
Na oportunidade, José Ermírio de Moraes Filho, da Votorantim, foi escolhido, por unanimidade, como primeiro presidente do Conselho e Paulo Cunha, presidente do Grupo Ultra, como primeiro presidente da diretoria executiva.
Como quadros técnicos para o instituto contratamos um experiente gestor público, que por vários anos havia sido presidente do INPI, auxiliado por economistas, que passaram a fazer parte do quadro fixo da instituição.
O IEDI começou a trabalhar e gerou muitas ideias e projetos, sempre pertinentes a indústria ou ao cenário econômico.
No primeiro momento tivemos uma frustação, pois houve uma capitalização importante para encomendar estudos de especialistas, intelectuais e institutos de pesquisa econômica.
Esse primeiro obstáculo surgiu quando o Plano Collor confiscou todos os recursos arrecadados. Mas isso foi superado e o plano foi posto em marcha, e progrediu.
A Missão. Definimos também neste primeiro encontro a missão do IEDI:
Agir para que o crescimento econômico resultante propicie melhoria das condições de vida da sociedade brasileira, tornando-a mais justa e igualitária. |
IEDI – 3 décadas e meia de labuta. Ao longo dos anos importantes novos membros foram convidados, e o IEDI cresceu. Paulo Cunha se reelegeu por mais dois mandatos, e cumpriu com eficiência ímpar o papel de presidente executivo até 1997. Por insistência de nossos companheiros, principalmente de Max Feffer, acabei aceitando a incumbência de sucedê-lo, com a condição de ter Paulo Francini como vice.
Nesta oportunidade também, com a saída do antecessor Mauro Arruda, convidamos para ser Diretor Executivo o competente economista Júlio Sergio Gomes de Almeida, que até hoje está conosco.
Neste período ampliamos o quadro de associados, aumentando a musculatura do Instituto, e trazendo uma nova geração de empresários: Rubens Ometto Silveira Mello, Flavio Rocha, Josué Gomes da Silva e Marcelo Odebrecht, entre muitos outros.
Definimos que, a partir daquele momento, o presidente executivo cumpriria apenas dois mandatos de 2 anos, para que houvesse permanente renovação. E assim fazemos até hoje.
Fui sucedido pelo Ivoncy Ioschpe, e depois, a cada 4 anos outros empresários nos sucederam, como Josué Gomes da Silva, Pedro Passos, Pedro Wontschowski, Dan Ioschpe. Agora preside o IEDI Guilherme Gerdau Johannpeter, já da segunda geração de fundadores do IEDI. Todos muito competentes.
Sempre tivemos interação muito importante com Presidentes da República, presidentes das duas casas do Congresso Nacional, Governadores, Ministros e economistas de renome.
A partir de 2002, Lula, então em sua 4ª campanha presidencial, se aproximou do IEDI, tendo participado de um jantar, por iniciativa do Ivoncy, durante a campanha de 2002.
No primeiro Conselho de Desenvolvimento Industrial do governo Lula estávamos representados por Jorge Gerdau e eu, ambos do IEDI.
E os resultados? 35 anos depois entendemos que fizemos um bom trabalho, e que temos do que nos orgulhar. Mas, os resultados ficaram muito aquém do desejado. Foram pífios.
Precisamos constatar que o Brasil, que teve um impulso industrial importantíssimo até 1980, não reagiu.
A indústria, que chegou a representar quase 30% do PIB, hoje representa ao redor de 11%.
É preciso constatar também quem neste período de 35 anos houve uma evolução importantíssima, que não pode ser atribuída ao IEDI.
Muitas indústrias brasileiras, quase todas associadas do IEDI, se transformaram de forma muito intensa, em poderosas multinacionais, o que não se via até os anos 80.
Hoje nos orgulhamos de ter compondo o IEDI multinacionais brasileiras, todas elas relevantes em seus setores no mundo.
E agora IEDI? Atualmente há motivos para otimismo, com as mudanças no mundo pós pandemia, questionando a excessiva dependência de países do extremo oriente, e com a mudança no cenário nacional, onde o governo restabeleceu a reindustrialização como prioridade, chamando-a de neoindustrialização, sendo significativo que a responsabilidade tenha sido atribuída a nada menos do que o Vice-Presidente da República.
Quase que semanalmente temos notícia de providências, novas políticas e estímulos, com ênfase em ciência e tecnologia, na direção de prestigiar a indústria.
Cumpre agora ao IEDI continuar o trabalho iniciado, e procurar entender o novo ciclo industrial que se inicia agora, mundo afora, com novas realidades, e definir, como poderemos, daqui há 30/35 anos, comemorar o sucesso da reindustrialização no país.
O Brasil tem tudo para chegar lá!
Desafios não nos faltam!