Carta IEDI
Indústria: mais um trimestre sem crescer
Ainda que em mar/23 a produção industrial tenha progredido, rompendo a série de resultados que colocou o setor em um quadro de virtual estagnação, o movimento não foi forte o suficiente para salvar o primeiro trimestre de ano. Para além dos espasmos que eventualmente ocorrem, ainda não há sinal de uma nova fase de expansão para a indústria.
Na série livre de efeitos sazonais, o setor como um todo ficou estagnada (0%) na passagem do 4º trim/22 para o 1º trim/23, mesmo com a contribuição da alta de +1,1% de mar/23 ante fev/23. Apenas para a indústria de transformação, isto é, excluído o ramo extrativo, houve declínio de -0,3% no período.
Tal como temos visto mês após mês desde a virada do ano, esta morosidade no desempenho da indústria geral esteve sob a influência de poucos de seus ramos. Dos 25 acompanhados pelo IBGE, uma parcela minoritária de 44% ficou no negativo e os casos de perdas mais intensas ficaram restritos sobretudo a veículos (-6,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,7%) e metalurgia (-3,7%).
Ainda que não seja garantia de melhora, esta concentração de resultados ruins é um atenuante do quadro geral e torna mais fácil um retorno ao crescimento. Um complicador é que, em mar/23, 52% dos ramos industriais apresentavam estoques acima do planejado, segundo os dados da CNI, inclusive alguns dos que melhor se saíram neste início de ano, como móveis, madeira, têxteis, couros e bebidas. Isso porque ser compensado pela redução no ritmo de produção nos próximos meses.
Outra informação que aponta nesta mesma direção vem dos indicadores de confiança, tanto da CNI como da FGV, que no mês de abr/23 ficaram na região de pessimismo. Em comparação com mar/23, houve piora nas avaliações da situação corrente, segundo a CNI, e deterioração na evolução dos negócios, de acordo com o Markit Purchasing Managers’ Index para a indústria de transformação brasileira.
Já em relação ao início de 2022, o desempenho industrial também se manteve perto de zero, mas não evitou a região negativa. A indústria geral registrou -0,4% em jan-mar/23, depois de, ajudada por bases favoráveis de comparação, ter apresentado variações positivas no 3º trim/22 (+0,1%) e no 4º trim/22 (+0,6%).
Entre os ramos acompanhados pelo IBGE, os resultados adversos foram mais difundidos em relação a um ano atrás: atingiram 64% deles, sendo que metade disso teve perdas bem mais intensas do que o setor como um todo, a exemplo de madeira (-18%), minerais não metálicos (-9,6%), vestuário (-8,9%) e eletrônicos e informática (-7,4%), entre outros. Em sentido oposto, os melhores resultados no 1º trim/23 ante o 1º trim/22 ficaram a cargo de farmacêuticos e farmoquímicos (+17,2%) e outros equipamentos de transporte (+14,8%).
Em relação aos macrossetores, o retorno ao negativo no 1º trim/23 deveu-se a metade deles, com destaque para bens de capital, que já vinham em uma trajetória de intensificação das perdas. Sua produção recuou -6,3% ante o 1º trim/22. Bens de capital para energia (-14,9%) e para transporte (-4,0%) foram segmentos que tiveram uma reviravolta na entrada de 2023.
Já bens de capital para a indústria seguiram no vermelho: -9,9%. Foi o sexto trimestre seguido de recuo. Ou seja, sua produção encolhe desde o final de 2021, em um mau indicativo para o investimento no setor, muito embora o IBGE tenha apontado expansão deste tipo de bens de capital na passagem de fev/23 para mar/23 na série com ajuste sazonal. A se verificar se este é o início de uma reação.
Outro macrossetor em queda foi o de bens intermediários (-1,8%), devido a um retorno ao negativo em defensivos agrícolas (-18,3%), intermediários de veículos automotores (-6,4%) e de alimentos (-0,1%) e ao agravamento das perdas na siderurgia (-10%).
Na direção oposta, quem se destacou foi a produção de bens de consumo duráveis, que cresceu +8,9%, sob influência de eletrodomésticos (+15,6%), outros equipamentos de transporte (+23,6%) e também de automóveis (+9,1%). Cabe lembrar que este macrossetor está em um patamar 17% abaixo do pré-pandemia (fev/20), havendo ainda muito espaço para recuperação.
Bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, cresceram +3,2%, seu melhor resultado desde que voltaram ao positivo no 2º trim/22. Muito disso deveu-se à aceleração do crescimento da produção de combustíveis (+14,5%), mas outros segmentos também progrediram, como carnes de suínos e aves, laticínios, bebidas e calçados. Farmacêuticos e farmoquímicos repetiram alta de dois dígitos.
Resultados da Indústria
Em mar/23, a produção industrial voltou a se expandir, após quatro meses oscilando muito perto da estabilidade. Registrou +1,1% frente a fev/23, já descontados os efeitos sazonais. Este desempenho foi o melhor desde out/22 (+1,3%) e, tal como naquele mês, foi ajudado por bases baixas de comparação.
Apesar da reação recente, a indústria brasileira segue abaixo de patamares pré-pandemia (1,3% aquém de fev/20) e com uma defasagem muito maior, de 14,8%, em relação ao nível de produção em que se encontrava em fev/14, isto é, antes da trajetória de desaceleração que se tornou em profunda crise em 2015-2016.
Frente ao mesmo período do ano anterior, na série sem ajuste sazonal, o desempenho industrial também evitou a região negativa, mas foi mais modesto: +0,9% em mar/23, depois de um recuo de -2,4% em fev/23. Cabe mencionar que em 2023 o mês de março contou um dia útil a mais do que em igual mês de 2022 (23 ante 22 dias), o que contribuiu para este resultado positivo.
Assim, no acumulado do primeiro trimestre de 2023 a produção industrial não escapou de voltar a registrar retração, interrompendo a sequência de resultados da segunda metade do ano passado, quando bases de comparação favoráveis ajudaram a evolução do setor. Vale enfatizar, contudo, que as variações trimestrais, tanto positivas como negativas, estão muito próximas de zero delineando um quadro de estagnação que já dura o equivalente a um ano.
No 1º trim/23 frente ao 1º trim/22, o resultado foi de -0,4% ante +0,6% no 4º trim/22, +0,1% no 3º trim/22 e -0,3% no 2º trim/22, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Deste modo, o indicador do acumulado nos últimos 12 meses acusa variação de 0% em mar/23, deixando a região negativa em que se encontrava desde abr/22.
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação entre fev/23 e mar/23, na série com ajuste sazonal, houve variação negativa em apenas um macrossetor industrial: -0,5% em bens de consumo semi e não duráveis. Bens de capital (+6,3%) foram os que mais cresceram, mas após três meses adversos, de queda ou estabilidade.
Em seguida, bens de consumo duráveis (+2,5%) ocuparam o posto de segundo melhor resultado, lembrando que este macrossetor ainda tem muito a recuperar para voltar a níveis pré-pandêmicos (-16,8% ante fev/20). Por fim, bens intermediários variaram +0,9%, dando continuidade à expansão iniciada no mês anterior (+0,6% em fev/23).
Na comparação com mar/22, o resultado de +0,9% da indústria geral foi puxado por metade dos quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+11,1%) e bens de consumo semi e não duráveis (+4,7%) assinalaram os resultados positivos entre os macrossetores, enquanto bens intermediários (-1,1%) e de bens de capital (-0,5%) registraram recuo no mês de mar/23.
O macrossetor de bens de consumo duráveis, que cresceu +11,1% entre mar/22 e mar/23, recebeu contribuições positivas de automóveis (+10,6%), eletrodomésticos da “linha branca” (+24,7%) e da “linha marrom” (+23,4%). Também registraram avanços motocicletas (+12,5%) e os grupamentos de outros eletrodomésticos (+43,3%) e de móveis (+4,4%).
Já a produção de bens de consumo semi e não duráveis, que aumentou +4,7% em mar/23 ante mar/22 – a alta mais intensa desde maio de 2021 (+14,4%) –, recebeu influências favoráveis dos grupamentos de carburantes (+30,6%) e de não duráveis (+9,6%). Os grupamentos de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+0,1%) e de alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+0,4%) ficaram virtualmente estagnados, enquanto semiduráveis (-1,8%) foram responsáveis pelo o único impacto negativo nessa categoria.
Bens intermediários, que ao registrar -1,1% teve o pior resultado entre os macrossetores na comparação com mar/22, receberam influências negativas, principalmente, de produtos químicos (-13,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-9,4%), metalurgia (-5,4%), produtos de minerais não metálicos (-7,3%), produtos de metal (-1,6%), celulose, papel e produtos de papel (-1,7%) e máquinas e equipamentos (-1,3%). Em sentido oposto, apresentaram ampliação da produção os ramos de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+5,8%), indústrias extrativas (+3,3%), produtos alimentícios (+2,1%), borracha e de material plástico (+3,7%) e têxteis (+1,2%).
O setor produtor de bens de capital, que após recuar -12,4% em fev/23, registrou -0,5% em mar/23 – sua sétima variação negativa consecutiva –, devido a recuos registrados, sobretudo, em: bens de capital para energia elétrica (-19,7%) e agrícolas (-6,8%), mas também em bens de capital para construção (-2,9%) e para equipamentos de transporte (-0,1%). Em sentido oposto, contribuições positivas foram assinaladas por bens de capital de uso misto (+10,8%) e para fins industriais (+1,1%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação negativa (+1,1%) da produção da indústria geral em mar/23 frente a fev/23, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de +1,4% na indústria de transformação e de -0,1% no ramo extrativo. Com o resultado de mar/23, a indústria de transformação passou a se encontrar 1,7% abaixo de fev/20, isto é, em relação ao pré-pandemia. Já o ramo extrativo ficou 3,1% acima deste patamar.
Na comparação com mar/22, enquanto a indústria geral cresceu +0,9%, o desempenho da indústria de transformação foi mais modesto: +0,5%, após três variações negativas consecutiva. A indústria extrativa, por sua vez, registrou +3,3% em igual comparação.
A variação de +1,1% da atividade da indústria geral na passagem de fev/23 para mar/23 foi acompanhada de avanços em 16 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE. Entre as influências positivas mais importantes na indústria de transformação estão: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,7%), máquinas e equipamentos (+5,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+6,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+3,2%), outros equipamentos de transporte (+4,8%) e produtos químicos (+0,6%), entre outros. Em sentido oposto, entre as atividades em queda, destacaram-se confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,7%), móveis (-4,3%) e produtos de metal (-1,0%).
Já na comparação com mar/22, o setor industrial assinalou resultado de +0,9% em mar/23, com resultados positivos em 11 dos 25 ramos, 39 dos 80 grupos e 44,6% dos 789 produtos pesquisados. Vale relembrar que março de 2023 (23 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior.
As maiores contribuições favoráveis para a indústria de transformação na comparação interanual vieram de: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+11,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+15,7%), outros equipamentos de transporte (+22,3%), borracha e de material plástico (+4,4%), produtos alimentícios (+0,7%) e impressão e reprodução de gravações (+17,5%).
Em direção oposta, entre as atividades que tiveram redução de produção em mar/23, destacaram-se na indústria de transformação: produtos químicos (-9,5%), metalurgia (-5,4%), minerais não metálicos (-7,3%), produtos de madeira (-15,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,3%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,8%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, aumentou pela primeira vez, em mar/23, após sete recuos seguidos. Foi de 78,7% em fev/23 para 79,0% em mar/23. Abr/23 já sinaliza para mais um resultado positivo na indústria, já que este indicador continuou progredindo, para 80,7%, o maior patamar desde out/22. A capacidade utilizada na indústria, em mar/23, ficou 2,8 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%), porém ainda abaixo da média histórica (79,6%).
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação também melhorou na passagem de fev/23 (78,9%) para mar/23 (79,2%). A capacidade utilizada na indústria ficou 2,5 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,7%), porém ainda abaixo da média histórica (80,5%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,5 pontos em mar/23, isto é, cerca de 1 p.p. acima do patamar de mar/22 (49,4 pontos). Como se encontra acima da marca de 50 pontos, sinaliza aumento de estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI apresentou praticamente os mesmos valores do que a indústria geral, chegando a 50,5 pontos em mar/23 ante 49,3 pontos em mar/22. No caso da indústria extrativa, por sua vez, o avanço foi de 48,2 pontos em mar/22 para 50,3 pontos em mar/23, sugerindo igualmente ampliação dos estoques.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 51,9 pontos em mar/23, ou seja, sinalizando estoques superiores ao planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 55,4 pontos e 51,8 pontos, respectivamente.
Em mar/23, 32% dos ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (abaixo de 50 pontos) e 68% em equilíbrio ou acima do planejado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos destacam-se: têxteis (58,3 pontos), madeira (54,7 pontos) e papel e celulose (54,3 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: limpeza e perfumaria (44,2 pontos), farmacêuticos (45,3 pontos) e máquinas e materiais elétricos (47,2 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, que havia ficado em 50,0 pontos em mar/23, recuou para 49,0 pontos em abr/23. Esta trajetória sinaliza um esgotamento do otimismo dos empresários do setor que havia preponderado no último trimestre do ano passado. Valores abaixo da marca dos 50 pontos indicam pessimismo e acima dela, otimismo do empresariado industrial.
Na passagem de mar/23 para abr/23, o componente referente às expectativas em relação ao futuro caminhou na mesma direção, caindo de 53,1 pontos para 52,1 pontos neste período. O componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios também seguiu recuando, depois de passar de 45,6 pontos em fev/23 para 43,7 pontos em mar/23, chegou a 43,5 pontos em abr/23. Este componente está na região de pessimismo desde dez/22.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por sua vez, que está na região de pessimismo (abaixo de 100 pontos) desde set/22, não conseguiu sair dela, embora tenha registrado algum progresso na passagem de fev/23 (92,0 pontos) para mar/23 (94,4 pontos) e novamente em abr/23 (94,5 pontos).
Seu componente referente às avaliações da situação futura, depois de avançar de 91,4 pontos em fev/23 para 97,5 pontos em mar/23, apresentou acomodação, retornando para 95,7 pontos em abr/23. O componente que capta a avaliação da situação atual, diferentemente o indicador da CNI, subiu de 91,5 pontos em mar/23 para 93,5 pontos em abr/23.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Entre mar /23 e abr/23, este indicador passou de 47,0 pontos para 44,3 pontos. Como o indicador permaneceu abaixo da marca de 50 pontos, indica um quadro pouco favorável aos negócios do setor e em deterioração.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)