Carta IEDI
Indústria: fraca expansão em agosto
A indústria brasileira conseguiu crescer na passagem de jul/23 para ago/23, sem se distanciar muito da região de estabilidade, como tem sido a regra em 2023. Tanto é que não foi suficiente nem para anular a perda do mês anterior. Em resumo, por ora, seguimos em uma toada hesitante, longe de uma trajetória de expansão industrial.
O resultado na série com ajuste sazonal foi de +0,4% em ago/23 ante -0,6% em jul/23 e 0% em jun/23. Ou seja, uma base deprimida de comparação ajudou na obtenção do sinal positivo em agosto. De fato, os responsáveis pela alta foram os macrossetores que vinham acumulando perdas em meses anteriores.
Foram os casos de bens de capital, que cuja produção aumentou +4,3%, com ajuste sazonal, depois de ter caído -7,7% em jul/23 e -2,3% em jun/23, e de bens de consumo duráveis, com alta de +8,0%, também depois de dois meses de retração. Nenhum deles, entretanto, compensou as quedas acumuladas anteriormente.
Bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, seguiram no azul, mas desaceleraram, passando de +1,7% em jul/23 para +1,0% em ago/23, e bens intermediários foram o único macrossetor a perder produção em ago/23: -0,3%, sua quarta variação negativa na série com ajuste sazonal.
Dos 25 ramos industriais acompanhados pelo IBGE, uma parcela majoritária de 72% apresentou expansão. Destacaram-se pela intensidade do avanço: farmacêuticos e farmoquímicos, com alta de +18,6%, isto é, o dobro do resultado de jul/23 (+9,3%) e informática, e eletrônicos e ópticos (+16,6%), assim como veículos e autopeças (+5,2%). Nestes dois últimos casos, porém, os meses anteriores foram de queda.
Devido à fraqueza dos meses positivos de 2023, quando eles ocorrem, é provável que o terceiro trimestre de 2023 venha a ficar no vermelho, tal como nos dois primeiros trimestres do ano, ou próximo da estabilidade. O desempenho de jul-ago/23 aponta para isso: -0,3% ante jul-ago/22. Cabe lembrar que a indústria geral caiu -0,4% no 1º trim/23 e -0,2% no 2º trim/23.
Outro indicativo é o declínio da confiança dos empresários do setor em set/23, captado pelos indicadores tanto da CNI como da FGV, sendo que, em ambos os casos, seu componente da avaliação de curto prazo seguiu na região de pessimismo.
A sinalização do bimestre jul-ago/23, pelos dados do IBGE, é de menor dinamismo em três dos quatro macrossetores industriais, notadamente na produção de bens de capital, cujo ritmo de declínio é intenso: -12,5% no 2º trim/23 e -16,1% em jul-ago/23 frente ao mesmo período do ano anterior.
Bens de consumo duráveis, que vinham se expandindo, registraram -0,1% em jul-ago/23, devido à produção de automóveis (-1,1%), mesmo com o programa de redução de tributos, por meio do qual o governo federal buscava reduzir estoques e estimular a produção de novas unidades. Móveis também estão no vermelho (-6,8%) e eletrodomésticos (+6,7%) cresceram menos no referido bimestre.
Em bens intermediários, também há registro de desaceleração: +0,7% no 2º trim/23 e +0,2% em jul-ago/23. Resultados mais fracos vieram de intermediários da indústria automobilística (-10,7% ante jul-ago/22), celulose (-6,8%) e embalagens (-0,7%).
Bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, foi o único macrossetor a sinalizar para um ganho de ritmo. No 2º trim/23 sua produção variou +0,2% e em jul-ago/23 acumulou alta de +1,6%. Por trás disso está a melhora em têxteis (-4,6% e +0,5%, respectivamente), calçados (-2,3% e +0,3%) e bebidas (-4,1% e -0,1%).
Resultados da Indústria
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial nacional mostrou variação positiva de +0,4% em ago/23 frente ao mês imediatamente anterior (série livre de influências sazonais), eliminando, assim, parte da queda de -0,6% verificada no mês anterior.
No confronto com igual mês de 2022, o total da indústria avançou +0,5% em ago/23, após assinalar queda de -1,1% em jul/23. Vale citar que ago/23 teve o mesmo número de dias úteis do que igual mês do ano anterior (23 dias) não havendo, portanto, nenhum efeito calendário que pudesse ter influenciado a performance do setor.
No acumulado dos primeiros oito meses de 2023, por sua vez, a produção industrial acumulou queda de -0,3% em relação ao mesmo período de 2022. A taxa anualizada, que consiste no indicador acumulado nos últimos doze meses, mostrou variação de -0,1%, após registrar variação nula nos três meses anteriores, sinalizando o quadro de estagnação industrial em que o Brasil se encontra.
No resultado de +0,4% da atividade industrial na passagem de julho para agosto de 2023, três dos quatro macrossetores da economia contribuíram positivamente. Bens de consumo duráveis (+8,0%) e bens de capital (+4,3%) assinalaram as altas mais acentuadas, com ambos interrompendo dois meses consecutivos de queda na produção.
O setor produtor de bens de consumo semi e não duráveis (+1,0%) também mostrou crescimento e registrou o terceiro avanço seguido, acumulando nesse período expansão de +3,4%. Por outro lado, o segmento de bens intermediários (-0,3%) assinalou a única taxa negativa em ago/23, marcando, dessa forma, quatro meses consecutivos de queda na produção.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral assinalou acréscimo de +0,5% em ago/23, resultados positivos marcaram três dos seus quatro macrossetores. Bens de consumo semi e não duráveis (+3,5%) e bens de consumo duráveis (+2,8%) assinalaram as expansões mais acentuadas nesta comparação.
O segmento produtor de bens intermediários (+0,4%) também mostrou resultado positivo frente a ago/22, porém com avanço menos intenso do que o observado no agregado da indústria (+0,5%). Por outro lado, o setor produtor de bens de capital (-15,4%), em queda sistemática desde set/22, registrou a única taxa negativa na comparação com igual mês do ano anterior.
O macrossetor produtor de bens de consumo semi e não duráveis, que mostrou variação positiva de +3,5% em ago/23, interrompeu dois meses consecutivos de queda na produção na comparação frente a igual mês do ano anterior. Muito disso deveu-se às expansões observadas nos grupamentos de carburantes (+9,2%), alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+4,3%) e de não duráveis (+5,4%). Por outro lado, o grupamento de semiduráveis (-8,7%) assinalou o único impacto negativo nessa categoria.
A produção de bens de consumo duráveis, com alta de +2,8% ante ago/22, foi impulsionado pela expansão na fabricação de eletrodomésticos da “linha branca” (+12,7%), automóveis (+4,1%), eletrodomésticos da “linha marrom” (+2,0%), entre outros. Em sentido oposto, o principal impacto negativo foi assinalado pelo grupamento de móveis (-2,5%).
O setor produtor de bens intermediários, por sua vez, assinalou variação de +0,4% em ago/23 frente ago/22, graças a avanços na produção de alimentos (+12,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,5%), produtos de metal (+0,9%) e produtos têxteis (+1,7%). Pressões negativas vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (-14,1%), produtos químicos (-6,9%), metalurgia (-4,5%), produtos de minerais não metálicos (-6,1%), celulose, papel e produtos de papel (-4,5%), máquinas e equipamentos (-5,6%) e produtos de borracha e de material plástico (-0,3%).
Por fim, bens de capital (-15,4%) assinalaram a única contração, sendo a décima-segunda taxa negativa consecutiva na comparação interanual. O segmento foi influenciado negativamente por: bens de capital para equipamentos de transporte (-25,0%), bens de capital para energia elétrica (-27,1%), para fins industriais (-5,6%), de uso misto (-9,9%), agrícolas (-9,7%) e para construção (-14,2%).
No acumulado do período jan-ago/23, o recuo de -0,3% da indústria geral foi acompanhado por dois de seus macrossetores: sobretudo de bens de capital (-11,4%), pressionados pelas reduções observadas na fabricação de bens de capital para equipamentos de transporte (-9,0%), para energia elétrica (-27,9%) e para fins industriais (-8,2%); mas também de bens intermediários (-0,4%), com intensidade de queda mais próxima da média da indústria.
Por outro lado, o macrossetor de bens de consumo duráveis (+4,1%) apontou o avanço mais acentuado no período jan-ago/23, impulsionado pela maior produção de eletrodomésticos (+11,1%), automóveis (+3,2%) e de motocicletas (+15,3%). O setor produtor de bens de consumo semi e não duráveis (+1,7%) também mostrou crescimento no indicador acumulado no ano.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação positiva (+0,4%) da produção da indústria geral em ago/23 frente a jul/23, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de +1,0% na indústria de transformação, após três meses seguidos sem crescimento, e de -2,7% no ramo extrativo, que agravou sua perda do mês anterior (-1,6%).
Na comparação com ago/22, enquanto a indústria geral cresceu +0,5%, a indústria de transformação seguiu sua trajetória descendente, apresentando retração de -0,1%. Foi sua terceira taxa negativa consecutiva e, em 2023, quando conseguiu se expandir nesta comparação, isso se deu com uma intensidade muito modesta. Já a indústria extrativa manteve o desempenho positivo, com alta de +3,8%, sendo seu oitavo avanço mensal consecutivo na comparação interanual.
Deste modo, a indústria geral acumula perda de -0,3% em sua produção em jan-ago/23 frente a igual período do ano anterior, mas é o ramo extrativo, com alta de +5,7% no período, que está evitando um desempenho ainda mais adverso. Tomada apenas a indústria de transformação, a queda acumulada nestes oito primeiros meses do ano chega a -1,3%.
A variação de +0,4% da atividade da indústria geral na passagem de jul/23 para ago/23 foi acompanhada de alta em 18 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE. Entre as influências positivas mais importantes na indústria de transformação estão: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+18,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+5,2%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+16,6%). Por outro lado, entre as atividades que registraram redução na produção, os principais impactos vieram de: produtos diversos (-8,0%), couro, artigos para viagem e calçados (-4,2%) e metalurgia (-1,1%).
Na comparação com ago/22, o setor industrial assinalou alta da produção de +0,5% em ago/23, com resultados positivos em 9 dos 25 ramos, 32 dos 80 grupos e 42,0% dos 789 produtos pesquisados. Vale lembrar que não houve efeito calendário neste mês em questão. Na indústria de transformação, as principais influências positivas foram registradas por produtos alimentícios (+7,6%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+6,5%).
Em direção oposta, entre os ramos que contribuíram negativamente para a indústria de transformação, destacam-se: veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,7%), produtos químicos (-4,5%) e máquinas e equipamentos (-7,0%).
No índice acumulado entre jan-ago/23, frente a igual período de 2022, o setor industrial assinalou redução de -0,3%, com resultados negativos em 17 dos 25 ramos, 49 dos 80 grupos e 55,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências negativas na indústria de transformação foram registradas por produtos químicos (-7,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,8%), máquinas e equipamentos (-6,2%) e produtos de minerais não metálicos (-7,5%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan-ago/22, entre as oito atividades que apontaram expansão na produção, produtos alimentícios (+3,6%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,9%) exerceram as maiores influências positivas.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, assinalou queda entre os meses de jul/23 (81,0%) e ago/23 (80,8%), após dois meses consecutivos de alta. Cabe destacar que o dado de ago/23 ficou 4,6 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 1,2 p.p. acima da média histórica (79,6%). Em set/23, esse indicador voltou a crescer, atingindo a 81,7% da capacidade instalada.
De acordo com os dados da CNI, entretanto, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação ficou praticamente estável, alcançando 78,5% em ago/23, isto é, +0,1 ponto percentual em relação ao resultado de jul/23, na série com ajuste sazonal. Com isso, a capacidade utilizada na indústria ficou 1,8 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,7%), mas 2,0 p.p. abaixo da média histórica (80,5%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,5 pontos em ago/23, recuando -1,1 pontos frente ao mês anterior. Como se encontra acima da marca de 50 pontos, sinalizou novo aumento dos estoques.
No segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI ficou em 50,6 pontos, com queda de -1,0 pontos frente a jul/23, mas mantendo quadro de expansão dos estoques. No caso da indústria extrativa houve queda entre jul/23 e ago/23, de 49,6 pontos para 47,6 pontos, sugerindo diminuição dos estoques.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 51,4 pontos em ago/23, ou seja, sinalizando estoques superiores ao planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 54,5 pontos e 51,3 pontos, respectivamente.
Em ago/23, 56% dos ramos da indústria de transformação apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos) ante 60% em jul/23. Os destaques ficaram a cargo de: couros (56,3 pontos), máquinas e materiais elétricos (55,6 pontos) e calçados (55,4 pontos), entre outros. O setor de produtos diversos ficou em equilíbrio (50 pontos), enquanto os destaques dos setores que ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio foram: bebidas (45,4 pontos), limpeza e perfumaria (46,2 pontos), e material plástico (46,5 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria Geral da CNI, que havia assinalado alta entre os meses de jul/23 (51,1 pontos) e ago/23 (53,2 pontos), voltou a cair em set/23, atingindo 51,9 pontos, mas ainda ficando na zona de otimismo. Cabe lembrar que valores abaixo da marca dos 50 pontos indicam pessimismo e acima dela, otimismo do empresariado industrial.
No caso da indústria de transformação, o indicador ficou em 52,8 pontos em ago/23 e caiu para 51,5 pontos em set/23, demonstrando piora das expectativas do empresariado, porém também permanecendo na zona de otimismo.
Na passagem de ago/23 para set/23, o componente referente às expectativas em relação ao futuro na indústria de transformação declinou de 55,8 pontos para 54,1 pontos. O componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios, que já estava na região de pessimismo, também regrediu, de 46,9 pontos em ago/23 e 46,3 pontos em set/23.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por sua vez, assinalou novo recuo das expectativas dos empresários, indo de 91,4 pontos em ago/23 para 91,0 pontos em set/23. O componente deste indicador referente à situação atual, porém, subiu de 88,5 para 89,7 pontos no período e aquele referente às expectativas futuras recuou de 94,4 pontos para 92,4 pontos. Dessa forma, os indicadores mantiveram-se abaixo de 100 pontos, indicando pessimismo dos empresários.
Outro indicador frequentemente utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Entre ago/23 e set/23, este indicador recuou de 50,1 pontos para 49,0 pontos, indicando piora no quadro dos negócios do setor industrial, visto que ficou abaixo dos 50 pontos de novo. Em 2023, a regra tem sido ficar abaixo desta marca, como mostra a figura a seguir.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)