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                          Carta IEDI

                          Edição 1232
                          Publicado em: 10/11/2023

                          O IDE mundial em 2022 e a atratividade do Brasil

                          Sumário

                          A última edição do World Investment Report, relatório da UNCTAD sobre os investimentos diretos estrangeiros (IDE), trouxe os dados de 2022, que serão analisados nesta Carta IEDI. Com isso, também foi possível atualizar o ranking mundial dos maiores países receptores e originários destes investimentos e destacar a posição do Brasil.

                          Segundo o levantamento, os fluxos globais de IDE somaram US$ 1,3 trilhão em 2022, significando uma retração de -12,4% em relação ao ano anterior, após forte oscilação provocada pela pandemia de Covid-19 (-50% em 2020 e +53,7% em 2021). Com isso, o IDE apresentou uma performance inferior à de outras variáveis econômicas importantes: +3,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) global e +5,1% para o comércio mundial. 

                          De acordo com a UNCTAD, este desempenho desfavorável do IDE está associado ao contexto de múltiplas crises e aos desafios de escala global: guerra na Ucrânia, elevação dos preços da energia e dos alimentos, aumento das taxas de juros em economias desenvolvidas e em desenvolvimento a fim de conter a inflação, e riscos de recessão ou de crises de dívida em vários países emergentes. 

                          Este contexto tornou as perspectivas mais incertezas, afetando negativamente as decisões de investimento. Tanto é que a formação bruta de capital fixo (FBKF) no mundo todo retraiu-se -2,4% na passagem de 2021 para 2022, dando sequência a uma trajetória de oscilação entre altas e baixas. 

                          Na origem do recuo do IDE mundial está o grupo de países desenvolvidos, notadamente a Europa, onde a evolução esteve diretamente condicionada pela guerra na Ucrânia e pelos embargos à economia russa. A queda dos fluxos de IDE para os países desenvolvidos, que somaram US$ 378 bilhões, foi de -37% frente a 2021. Na Europa houve uma saída líquida de US$ 107 bilhões, também em função do desinvestimento de uma empresa de telecomunicação de Luxemburgo. 

                          Nos EUA, embora tenha havido entrada líquida de IDE (US$ 338 bilhões), o resultado ante 2021 foi igualmente negativo: -26%. Apesar disso, os EUA seguiram no 1º lugar do ranking mundial dos principais países receptores de IDE, seguidos pela China e Singapura. 

                          Já os fluxos para os países em desenvolvimento aumentaram +4% em 2022 frente ao ano anterior, atingindo o valor recorde de US$ 916 bilhões. Essa evolução favorável decorreu, principalmente, do aumento de +51% dos ingressos para América Latina e o Caribe, cujo montante de IDE chegou ao recorde de US$ 208 bilhões, impulsionado pela alta demanda por commodities. 

                          O Brasil, como principal destino de IDE na América Latina, foi o maior destaque positivo. Sua captação de investimentos estrangeiras avançou +69% em 2022 e atingiu o valor de US$ 86 bilhões. Foi o segundo maior montante já registrado e bem acima da média dos 5 anos anteriores à pandemia (US$ 59 bilhões). 

                          Com isso, subimos da 6ª posição em 2021 para a 5ª posição no ranking de maiores receptores de IDE do mundo. Ficamos atrás apenas dos EUA, China e Singapura, citados anteriormente, e também de Hong Kong. Cabe notar que fomos o único país em desenvolvimento fora a Ásia a ficar entre as 10 primeiras colocações do ranking de entrada de IDE do mundo. 

                          O México apareceu na 11ª posição, sem muito progresso em relação a 2021, já que sua captação de IDE variou apenas +9,3% e manteve-se inalterado no ranking mundial. Além disso, o valor dos investimentos externos recebidos (US$ 35 bilhões) foi equivalente a apenas 40% daquele registrado pelo Brasil. E isso, vale observar, a despeito da posição privilegiada do México frente à tendência de nearshoring/friendshoring promovida pelos EUA.

                          Já os investimentos no exterior pelas multinacionais brasileiras também aumentaram, mas a um ritmo bem menos expressivo: +8,2% frente a 2021, atingindo US$ 25 bilhões. Esta performance de nossas multinacionais fez com que o Brasil subisse da 21ª posição para a 14ª posição em 2022, sendo o único país da América Latina a figurar no ranking dos 20 países com maior saída de IDE do mundo. A liderança deste ranking é ocupada por EUA (1º), Japão (2º) e China (3º).

                          A UNCTAD também acompanha o IDE global a partir de três tipos de operação: investimentos greenfield, acordos de project finance internacionais e as fusões e aquisições (F&A). Estas operações são destacadas porque têm efeitos econômicos distintos. Enquanto greenfield e também project finance criam novos ativos, fusões e aquisições, mesmo que eventualmente portadoras de novos investimentos, consistem na mudança de propriedade de ativos já constituídos.  

                          Os dois últimos tipos de operação, project finance e F&A, ao recuarem -25% e -4%, respectivamente, é que deram o tom do agregado em 2022. A queda registrada nas duas modalidades foi maior nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos (respectivamente, -38% e -14% para project finance e -5% e -4% para F&A).

                          Já os anúncios de investimentos greenfield, que envolvem a compra de novas máquinas e instalações físicas, avançaram, somando US$ 1,2 trilhão em 2022. Foi o segundo maior valor registrado por esta modalidade desde 2008, tendo mais do que dobrado nas economias em desenvolvimento e aumentado +37% nas economias desenvolvidas.  

                          Os investimentos greenfield globais na indústria de transformação aumentaram +37% frente ao ano anterior, somando US$ 437 bilhões (36% do total). Apesar de expressivo, ficou atrás do aumento do setor de serviços, que foi de +67%, e do setor primário, cujos investimentos nesta modalidade foram multiplicados por 7,5 vezes entre 2021 e 2022.

                          Já entre as diferentes atividades desagregadas pela UNCTAD, os quatro ramos que receberam mais investimentos greenfield, respondendo por 62% do total, foram fornecimento de energia e gás (com alta de +157% ante 2021) – como reflexo da crise energética –, equipamentos eletrônicos e elétricos (+31%), seguidos pelos ramos de informação e comunicação (+13%) e indústrias extrativas (+692%). 

                          Para 2023, a UNCTAD avalia que terá continuidade a trajetória de queda do IDE global, diante do contexto internacional adverso em termos geopolítico e econômico. Indicadores antecedentes, antes mesmo da eclosão da guerra na Palestina, indicavam esse cenário. 

                          Segundo dados preliminares coletados pela UNCTAD, o número de acordos de project finance internacionais caiu significativamente no 1º trimestre de 2023. As F&A transfronteiriças também recuaram, enquanto os projetos greenfield permaneceram estáveis frente ao segundo semestre de 2022. 

                           

                          Introdução

                          Esta carta IEDI apresenta o desempenho dos fluxos globais de investimento direto estrangeiro (IDE) em 2022 com base nas informações da edição de 2023 do World Investment Report, relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) divulgado em 2023. 

                          A primeira seção apresenta as tendências globais do IDE. A segunda seção sumariza as tendências por grupo de países (desenvolvidos e em desenvolvimento) e regiões, enquanto a terceira seção resume as tendências por modalidade e setor. A quarta seção detalha o desempenho do IDE no Brasil e a quinta traça as perspectivas para 2023.

                          Tendências globais recentes

                          Os fluxos globais de IDE somaram US$ 1,3 trilhão em 2022, cifra 12,4% inferior à registrada em 2021. Este desempenho contrasta com o avanço de 53,7% em 2021, que mais do que compensou o forte recuo de 50% em 2020, provocado pela pandemia do Covid-19. Assim, na passagem de 2021 para 2022, o IDE ficou atrás de outras variáveis importantes da economia mundial: +3,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) global e +5,1% para o comércio mundial. 

                          De acordo com a UNCTAD, este desempenho desfavorável do IDE está associado ao contexto de múltiplas crises e desafios em âmbito global, quais sejam, a guerra na Ucrânia, altos preços da energia e dos alimentos, o aperto da política monetária tanto nas economias desenvolvidas como em desenvolvimento para conter a inflação, e riscos de recessão ou de crises de dívida em vários países em desenvolvimento. Este contexto tornou as perspectivas mais incertezas, afetando negativamente as decisões de investimento.

                            

                          Na definição da UNCTAD, o IDE compreende investimentos que envolvem um relacionamento de longo prazo e refletem um interesse e controle duradouros por uma entidade residente em uma economia (empresa matriz) em uma empresa residente em outra economia, diferente daquela de origem do investidor direto estrangeiro (empresa afiliada ou filial estrangeira). 

                          Assim, o IDE implica que o investidor estrangeiro exerça um grau significativo de influência sobre a administração da empresa residente em outro país. Tal investimento envolve tanto a transação inicial entre a empresa matriz e a afiliada como todas as transações subsequentes entre as duas entidades.

                          Os fluxos globais de IDE incluem três componentes, nos termos da UNCTAD: capital social (equity capital), empréstimos intraempresa e lucros reinvestidos. Capital social é a compra por um investidor direto estrangeiro de ações de uma empresa em um país que não seja o seu. Os empréstimos intraempresa referem-se a empréstimos de curto ou longo prazo entre a empresa matriz e empresas afiliadas. 

                          Já os lucros reinvestidos são os lucros retidos em afiliadas estrangeiras por empresas multinacionais (MNEs na sigla em inglês), compreendendo a parte do investidor estrangeiro (na proporção da participação direta no capital social) dos ganhos não distribuídos como dividendos pelas afiliadas, ou os ganhos não remetidos à matriz no exterior. 

                          Segundo os últimos dados da UNCTAD, os lucros reinvestidos seguiram elevados em 2022, refletindo a manutenção de altos lucros pelas maiores MNEs em todos os setores, com destaque para as indústrias extrativas, impulsionados pela alta dos preços das commodities ensejada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, no final de fevereiro de 2022, e pelos embargos que as potências ocidentais impuseram à economia russa.

                           

                          A UNCTAD também acompanha a evolução de três modalidades de investimentos transfronteiriços. A primeira são os investimentos em greenfield, que criam novos ativos, como máquinas e instalações físicas. A segunda são os acordos de project finance – nos quais vários atores privados e públicos estão envolvidos. A terceira modalidade são as fusões e aquisições (F&A) transfronteiriças, que não criam novos ativos.

                          Os acordos de project finance e as F&A transfronteiriças em 2022, segundo destaca a UNCTAD, foram especialmente afetados pelas condições financeiras mais restritivas, pela trajetória de alta das taxas de juros e pelo aumento da incerteza nos mercados financeiros. 

                          O valor das operações de project finance internacionais e das F&A recuaram, respectivamente, -24,2% e -4,2%, em 2022. A queda registrada nas duas modalidades foi maior nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos (respectivamente, -5% e -4% para F&A e -38% e -14% para project finance). Já os investimentos em greenfield avançaram 109% nos países em desenvolvimento e 37% nos países desenvolvidos.

                           

                          Entrada de IDE: tendências por grupo de países e regiões

                          Os fluxos de entrada de IDE para a economias desenvolvidas somaram US$ 378 bilhões em 2022, uma queda de 37% frente a 2021 (após o crescimento de 134% em 2021 frente a 2020 – ver Carta IEDI n. 1150 ), Essa queda decorreu, segundo a UNCTAD, do aumento da incerteza nos mercados financeiros e da retirada dos pacotes de estímulo fiscal. Neste contexto, embora os anúncios de investimentos greenfield tenham aumentado 37%, os acordos de project finance internacionais e as F&A transfronteiriças recuaram, respectivamente, 14% e 4%.

                          A região mais afetada foi a Europa, onde houve uma saída líquida de US$ 107 bilhões (contra uma entrada de US$ 51 bilhões em 2021) devido ao desempenho nas principais economias receptores e à saída de uma empresa de telecomunicação de Luxemburgo. Excluindo este país, os fluxos para a União Europeia avançaram 55%, atingindo US$ 197 bilhões. 

                          Os principais destinos de IDE na Europa foram, em ordem decrescente, a Suécia, França, Espanha e Itália. Já os fluxos de IDE para a Alemanha, maior economia da região, recuaram 76%, somando US$ 11 bilhões, devido à queda do investimento em participação no capital associada à compra de uma filial finlandesa pelo estado alemão.

                           

                          Nos Estados Unidos (EUA), os fluxos de entrada mantiveram-se positivos, somando US$ 338 bilhões, cifra 26% inferior à registrada no ano anterior. Este recuo decorreu, sobretudo, da queda pela metade das F&A transfronteiriças, que, em geral, respondem pela maior parte dos ingressos. Apesar desse desempenho desfavorável, os EUA seguiram no primeiro lugar do ranking dos principais países receptores de IDE e também foram líderes no quesito “números de projetos” tanto de anúncios de investimentos greenfield como de acordos de project finance internacionais.

                          Já nas demais economias desenvolvidas, os ingressos de IDE aumentaram 58%, atingindo US$ 147 bilhões. Neste grupo, o destaque foi a Austrália, que subiu da 21ª posição no ranking de principais receptores de IDE em 2021 para a 6ª posição em 2022 pois os fluxos triplicaram, atingindo US$ 62 bilhões devido ao desempenho das operações de F&A. 

                          O Canadá caiu da 5ª para a 7ª posição no mesmo período em função da queda de 37% das F&A na indústria extrativa. Já o Japão subiu da 15ª para a 13ª posição no ranking pois os ingressos de IDE aumentaram 32%, atingindo o valor recorde de US$ 33 bilhões.

                          O destaque negativo em 2022 foi a Rússia. Os fluxos de entrada de IDE recuaram 51% (de US$ 39 bilhões para US$ 19 bilhões) devido à saída de investimentos associada às sanções dos países ocidentais em decorrência da invasão da Ucrânia. Com isso, após ter ascendido da 22ª colocação em 2020 para a 9ª posição em 2021, em 2022 a Rússia não figurou no ranking dos 20 principais receptores de IDE. 

                           

                          Os fluxos de entrada de IDE para as economias em desenvolvimento avançaram 4%, atingindo o valor recorde de US$ 916 bilhões, respondendo por 2/3 dos fluxos globais de IDE e constituindo a principal fonte de financiamento externo para esse grupo de países. 

                          A crise multidimensional (climática, geopolítica e sanitária) atingiu desproporcionalmente os ingressos de IDE para os países mais pobres. Os fluxos para o grupo de economias classificadas pela ONU como “países menos desenvolvidos” (Least Developed Countries, LDCs) diminuíram 16% em 2022 frente a 2021 e continuaram respondendo por somente 2% dos fluxos globais de IDE. 

                           

                          A evolução favorável dos fluxos de entrada de IDE em 2022 decorreu, principalmente, do aumento de 51% dos ingressos para América Latina e o Caribe, que atingiram a cifra recorde de US$ 208 bilhões, impulsionados pela alta demanda por commodities. Os fluxos para a América do Sul registraram o melhor desempenho (alta de 73%, atingindo US$ 160 bilhões), puxado pelos investimentos em mineração e hidrocarbonetos. 

                          Os fluxos para o Brasil – principal destino na América do Sul – avançaram quase 70%, atingindo US$ 86 bilhões. Com isso, subimos da 6ª posição em 2021 para a 5ª posição no ranking de maiores receptores de IDE. Os fluxos para a Colômbia aumentaram ainda mais (+82%), mas atingiram um valor bem inferior ao registrado pelo Brasil (US$ 17 bilhões), puxados pela indústria extrativa e pelos setores de construção, financeiro, transporte, logística e comunicação.  Os fluxos para a Argentina e Peru dobraram para US$ 15 bilhões e US$ 12 bilhões, respectivamente. 

                          Os fluxos para a América Central aumentaram 5% para US$ 44 bilhões, puxados pelo crescimento de 12% dos fluxos para o México (o segundo principal destino na região), que somaram US$ 35 bilhões. Os fluxos para o Caribe atingiram US$ 4 bilhões, um avanço de 53% frente a 2021, devido, sobretudo, aos fluxos para a República Dominicana.

                          A Ásia em Desenvolvimento manteve a posição de principal região receptora de fluxos de IDE, mas estes permaneceram estáveis frente a 2021 no patamar de US$ 662 bilhões – cerca de metade dos fluxos globais de entrada de IDE.  O número de projetos greenfield anunciados e de acordos de project finance internacionais aumentaram 45% e 20%, respectivamente. O Leste Asiático permaneceu como o principal receptor de fluxos de entrada de IDE, mas estes recuaram 3% frente a 2021, somando US$ 324 bilhões. 

                          Contudo, os fluxos para a China avançaram 5%, atingindo o valor recorde de US$ 189 bilhões, em função de investimentos de MNEs europeias em indústrias de alta tecnologia. Com isso, a economia chinesa manteve-se na 2ª posição do ranking de principais receptores de IDE. Os fluxos de IDE para a China estão sendo particularmente afetados pela reestruturação das cadeias globais de valor no contexto pós-pandemia do Covid-19, segundo a UNCTAD. 

                          Os fluxos para o sudeste da Ásia, por sua vez, aumentaram 5% para US$ 223 bilhões, também o maior valor já registrado. Os fluxos para Singapura, o principal destino desta sub-região, também atingiram uma cifra recorde (de US$141 bilhões, 8% superior ao resultado de 2021). Os fluxos para o sul da Ásia avançaram 9%, atingindo US$ 57 bilhões, graças ao aumento em 10% dos fluxos para a Índia, que se tornou em 2022 o terceiro principal país de destino dos projetos greenfield anunciados e o segundo maior de acordos de project finance internacionais.

                          Os fluxos para a África, por sua vez, recuaram 44% após o pico em 2021 associado a uma grande reconfiguração corporativa na África do Sul – que resultou numa retração de 84% dos fluxos para o sul do continente. Excluindo essa operação, os fluxos aumentaram 7%. Os fluxos para o norte da África registraram o melhor desempenho – somando US$ 15 bilhões, 58% superior ao resultado de 2021 – devido ao forte crescimento da entrada de IDE no Egito, que mais do que dobrou frente ao ano anterior. Com isso, essa sub-região tornou-se a principal receptora de IDE no continente. Já os fluxos para o oeste da África recuaram 35% para US$ 8 bilhões sob a influência dos fluxos para a Nigéria, que foram negativos em US$ 187 milhões.

                          Saídas de IDE: tendências por grupo de países e regiões

                          Em termos de saída de IDE, em 2022, as MNEs das economias desenvolvidas reduziram seus investimentos no exterior em 17%, para US$ 1 trilhão – após terem duplicado esses investimentos em 2021 (ver Carta IEDI 1150 ). A participação das economias desenvolvidas nos fluxos globais permaneceu estável, respondendo por 2/3 do total. Contudo, esse resultado está associado à saída de uma empresa de telecomunicação de Luxemburgo, mencionada acima. Excluindo essa operação, os fluxos de saída aumentaram 9%.

                          A saída de investimentos pelas MNEs europeias recuou 61% frente a 2021, totalizando US$ 224 bilhões. Embora os investimentos provenientes da Alemanha tenham caído 13%, somando US$ 143 bilhões, esse país sustentou sua posição de principal investidor na Europa, mas perdeu uma posição em âmbito mundial (de 3ª em 2021 para 4ª em 2022). 

                          O segundo principal país investidor na Europa foi o Reino Unido, cujo investimento no exterior aumento 52% frente a 2021, atingindo US$ 130 milhões. Com isso, a economia britânica subiu duas posições no ranking global, da 7ª em 2021 para a 5ª em 2022. A Suécia foi a terceira maior investidora europeia, com saídas totais de US$ 62 bilhões (o triplo que em 2021), passando da 17ª posição no ranking global em 2021 para a 10ª em 2022. 

                          O quarto e quinto principais países investidores europeus foram França e Espanha, com fluxos de saída de IDE de US$ 48 bilhões e US$ 39 bilhões. Com isso, a França passou da 13ª para a 12ª posição no ranking global e a Espanha da 52ª para a 13ª no mesmo período. 

                          Os fluxos de saída dos Estados Unidos aumentaram 7%, atingindo US$ 373 bilhões. Com isso, a economia norte-americana manteve-se na 1ª posição no ranking global. As F&A transfronteiriças aumentaram 21%, atingindo o recorde de US$ 273 bilhões, incluindo 15 das 40 transações globais com valor superior a US$ 5 bilhões. Já o Canadá caiu da 5ª para a 8ª posição nesse ranking devido à queda de 18,5% dos investimentos no exterior para US$79 bilhões.  

                          Após subir da 5ª posição em 2020 para a 3ª em 2021, o Japão galgou mais uma posição, se tornando o segundo maior investidor no exterior em 2022, com fluxos de saída de US$ 161 bilhões. Ao contrário dos EUA, os investimentos em greenfield predominaram, somando US$ 44 bilhões, 47% superior à cifra de 2021, enquanto as F&A transfronteiriças recuaram de US$ 60 bilhões para somente US$ 6,2 bilhões. 

                          A Austrália, por sua vez, subiu da 37ª para a 6ª posição no ranking global em função do aumento dos fluxos de saída de IDE de US$ 3,4 bilhões para US$ 117 bilhões associado à uma transação de F&A (a aquisição da BHP britânica pela BHP da australiana). 

                          Os investimentos no exterior pelas MNEs das economias em desenvolvimento também recuaram em 2022, mas em menor intensidade do que nas economias desenvolvidas, somando US$ 459 bilhões, cifra 5% inferior à registrada em 2021. A saída de IDE da China caiu 18%, somando US$ 147 bilhões, o que resultou na sua queda da 2ª para a 3ª posição no ranking global. O valor das F&A transfronteiriças aumentou 10 vezes (US$ 1 bilhão para US$ 10 bilhões) e os investimentos greenfield anunciados atingiram US$ 24 bilhões, cifra 24% superior à registrada em 2021. 

                          Os investimentos no exterior das MNEs indianas também diminuíram em 2022, totalizando US$ 15 bilhões, valor 16% inferior ao resultado de 2021. Todavia, os investimentos greenfield anunciados mais do que triplicaram, atingindo US$ 42 bilhões. Apesar desse recuo, a Índia subiu da 25ª posição para a 20ª posição no ranking global em 2022. 

                          A saída de IDE na América Latina e no Caribe manteve sua trajetória ascendente, atingindo US$ 59 bilhões em 2022. Os investimentos no exterior pelas MNEs brasileiras aumentaram 23% frente a 2021, atingindo US$ 25 bilhões. Com isso, o Brasil subiu da 21ª posição para a 14ª posição em 2022, sendo o único país da região que figura no ranking dos 20 países com maior saída de IDE. O México foi o segundo maior investidor na região, com investimentos de US$ 13 bilhões, após um fluxo negativo de US$ 2 bilhões em 2021.

                           

                          Tendências do IDE por modalidade e setor

                          Em 2022, os acordos de project finance internacionais e as F&A transfronteiriças foram negativamente afetadas pela guerra na Ucrânia, pela deterioração nas condições financeiras globais e pela incerteza nos mercados financeiros. Em contrapartida, os projetos greenfield anunciados tiveram melhor desempenho do que no ano anterior, como detalhado a seguir. 

                          Investimentos greenfield 

                          Os investimentos greenfield anunciados somaram US$ 1,2 trilhão, o segundo maior valor registrado desde 2008, tendo mais do que dobrado nas economias em desenvolvimento (US$ 573 bilhões) e aumentado 37% nas economias desenvolvidas, atingindo US$ 639 bilhões.  Em número de transações, a alta foi de 15%.

                          Os investimentos na indústria de transformação aumentaram 37% frente ao ano anterior, somando US$ 437 bilhões (36% do total) melhor desempenho do que o registrado em 2021 na mesma base de comparação (+23%). Já o número de projetos sofreu pouca variação, somando 5970. Contudo, os demais setores registraram altas muito mais expressivas. 

                          Os investimentos anunciados no setor primário aumentaram mais de 7 vezes, atingindo US$ 97 bilhões, impulsionados pela alta dos preços das commodities agrícolas e energéticas, que também explica o aumento em quase 8 vezes dos investimentos na indústria extrativa. O setor de serviços permaneceu com a maior parcela do valor total (56%), com uma alta de 68% dos investimentos anunciados, que atingiram US$ 679 bilhões. O setor também se manteve como líder em termos de número de projetos – 11.510 ou 65% do total –, o maior já observado.

                          Entre os diferentes ramos identificados pela UNCTAD, os quatro que receberam mais investimentos greenfield, respondendo por 62% do total, foram fornecimento de energia e gás – como reflexo da crise energética –, equipamentos eletrônicos e elétricos, seguidos pelos ramos de informação e comunicação e indústrias extrativas. 

                            

                          No IDE decorrente de F&A transfronteiriças, houve uma queda de 4% no valor líquido, mas um crescimento de 8% no número das transações entre 2021 e 2022. O setor de serviço manteve sua participação no valor total (cerca de 62%), apesar do recuo em 5% do IDE nesse setor. 

                          As F&A na indústria de transformação recuaram 42% em valor (somando US$ 142 bilhões ou 20% do total) e 13% em no número das transações. No setor primário, as transações mais que quadruplicaram, atingindo US$ 122 bilhões, após uma década de trajetória descendente. Os ramos de destaque foram informação e comunicação, farmacêuticos, finanças e seguros. 

                            

                          Por sua vez, os acordos de project finance internacionais totalizaram US$ 1,04 trilhão em 2022, um recuo de 25% frente a 2021. Já o número de transações registrou um tímido avanço de 8%. Os três principais ramos contemplados foram os mesmos que em 2021: energia renovável (US$ 368 bilhões, 29% inferior à cifra de 2021), atividades imobiliárias industriais (US$ 188 bilhões, praticamente o mesmo valor de 2021) e atividades imobiliárias residenciais (US$ 30 bilhões, 14% superior à cifra de 2021). 

                            

                          IDE no Brasil em 2022

                          Como já mencionado, os fluxos de IDE para o Brasil atingiram US$ 86 bilhões, 69% superior ao resultado de 2021, segundo maior valor já registrado e bem acima da média dos 5 anos anteriores à pandemia (US$ 59 bilhões). Como percentual da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), a entrada de IDE atingiu 23,8%, o maior valor desde 2015. 

                          Os fluxos de saída – ou seja, os investimentos das MNEs brasileiras no exterior – aumentaram bem menos: 8,2% na base de comparação interanual, mas atingiram o valor recorde desde 2015 (US$ 25 bilhões). Já como percentual da FBCF, o resultado foi inferior ao registrado de 2021 (7% contra 8,3%).

                            

                          O aumento da entrada de IDE decorreu do aumento dos acordos de project finance. O Brasil tornou-se o 5º principal destinos em termos de números de transações, que atingiu 138 (30% superior à cifra de 2021). Grandes projetos incluem a construção de uma indústria de moinho de palma no valor de US$ 3 milhões pela Copec (Chile) e da autoestrada Rio-Valadares por US$ 2,3 bilhões, patrocinada pela EcoRodovias (Brasil) e Logística (Itália).

                          Já as demais modalidades de entrada IDE tiveram pior desempenho em 2022 na comparação com o ano anterior. Os projetos greenfield somaram US$ 17,9 bilhões, um recuo de 22,4% frente a 2021, mas ainda superior ao resultado de 2020. No caso das F&A transfronteiriças, a queda foi ainda maior. Estas somaram US$ 1,5 bilhões, 44,8% inferior à cifra de 2021. 

                          Também considerando essas duas modalidades, os fluxos de saída recuaram frente a 2021: os projetos greenfield caíram 23,8%, somando US$ 2,2 bilhões, e as F&A transfronteiriças foram negativas em US$ 2.040 milhões, ou seja, as MNEs brasileiras liquidaram ativos no exterior. Assim, o aumento desses fluxos em 2022 também decorreu do desempenho favorável dos acordos de project finance.

                           

                          Perspectivas para 2023

                          O contexto internacional para os fluxos de IDE continua desafiador em 2023, segundo o relatório da UNCTAD. Os preços das commodities, que aumentaram drasticamente após a eclosão da guerra na Ucrânia, cederam após meados de 2022, mas não há sinais de término da guerra e as tensões geopolíticas seguem altas. 

                          O estresse no setor bancário nos Estados Unidos no primeiro semestre do corrente ano também contribuiu para tornar as perspectivas mais incertas, afetando negativamente as expectativas dos investidores. 

                          Assim, a UNCTAD projeta que a trajetória de queda do IDE global persistirá em 2023. Indicadores antecedentes confirmam esse cenário. Segundo dados preliminares, o número de acordos de project finance internacionais caiu significativamente no 1º trimestre de 2023. As F&A transfronteiriças também recuaram, enquanto os projetos de greenfield permaneceram estáveis frente ao segundo semestre de 2022. 

                           

                           
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                          Publicado em: 12/02/2025

                          Em 2024, embora as exportações de bens industriais de alta tecnologia e de média-baixa tenham aumentado, apenas este último grupo melhorou seu saldo de balança.

                           

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