Carta IEDI
Indústria: sinais positivos no final do ano
A indústria brasileira voltou a ampliar sua produção em nov/23, após uma sequência de meses praticamente estagnada. No entanto, o resultado não foi robusto, somente ocorrendo devido ao avanço do ramo extrativo. A indústria de transformação, a seu turno, seguiu oscilando em torno de zero.
Já descontados os efeitos sazonais, na passagem de out/23 para nov/23 o agregado da indústria registrou +0,5%, apoiado no crescimento das atividades extrativas de +3,4%, que amorteceu o declínio de -0,2% da indústria de transformação. Embora estes sejam dados pontuais, isto é, de apenas um mês e numa comparação de curto prazo, representam bem o comportamento da indústria ao longo destes onze meses de 2023 já cobertos pelas estatísticas o IBGE.
No acumulado de jan-nov/23, a indústria geral registrou +0,1% frente a igual período do ano anterior, decorrente de uma alta de +6,1% no ramo extrativo. A indústria de transformação encolheu -0,9% neste período. Os últimos meses do ano, porém, apontam para alguma amenização do quadro nesta parcela da indústria.
Tomado o apenas o bimestre out-nov/23, a indústria de transformação conseguiu evitar o sinal negativo, registrando +0,3% frente ao mesmo período do ano anterior. Esta evolução e um reforço no ramo extrativo (+6,6% ante out-nov/22) asseguraram resultado de +1,2% da indústria como um todo.
No interior da indústria de transformação, 63% de seus ramos apresentaram retração em jan-nov/23, tendo entre os casos mais graves equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (-10,9% ante jan-nov/22) e máquinas e aparelhos elétricos (-10,5%), mas também máquinas e equipamentos (-7,0%) e veículos e autopeças (-6,8%).
De fato, atividades associadas ao investimento e mais sensíveis aos níveis elevados de taxas de juros lideram as perdas industriais em 2023. A produção de bens de capital acumula queda de -10,7% em jan-nov/23 e a de bens de consumo duráveis viram seu dinamismo se reduzir muito ao longo do ano.
Apesar disso, a maioria dos ramos da indústria melhorou de situação no último bimestre em tela, em geral, com apoio de bases mais baixas de comparação. Alguns deles não chegaram a deixar o terreno negativo, mas conseguiram reduzir suas perdas. O resultado de out-nov/23 foi melhor do que do 3º trim/23 para 71% dos ramos da indústria de transformação identificados pelo IBGE.
E a contar pela confiança dos empresários industriais, é possível que dez/23 não venha anular o que foi obtido em nov/23. A avaliação das condições correntes dos negócios melhorou tanto na pesquisa da CNI como no indicador da FGV, sendo que, neste último caso, atingiu o maior patamar desde out/22. Apesar disso, cabe enfatizar que esta melhora das avaliações não chegou a torná-las positivas; apenas ficaram menos adversas.
Um outro dado favorável é que os estoques estão mais ajustados do que anteriormente, o que pode abrir espaço para um ritmo superior de produção em dez/23. Segundo levantamento da CNI, em nov/23 foi a primeira vez no ano que a avaliação das empresas sobre seus estoques se aproximou mais da linha de equilíbrio (50 pontos). Em 60% dos ramos industriais, os níveis de nov/23 encontravam-se em equilíbrio ou abaixo do planejado pelas empresas.
Resultados da Indústria
Em novembro de 2023, segundo os dados divulgados pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou +0,5% frente ao mês anterior na série com ajuste sazonal, após registrar variações positivas pouco significativas em outubro (+0,1%), setembro (+0,1%) e agosto de 2023 (+0,2%).
No confronto com igual mês do ano anterior, na série sem ajuste sazonal, a indústria brasileira avançou +1,3%, o quarto resultado positivo nesta comparação. Apesar deste resultado, o setor industrial ficou 0,9% abaixo do patamar pré pandemia (fev/20) e 17,6% abaixo do nível recorde alcançado em mai/11, sendo as duas comparações utilizando a série com ajuste sazonal.
O índice acumulado entre janeiro e novembro de 2023 variou +0,1% frente ao mesmo período de 2022. A taxa anualizada (indicador acumulado nos últimos doze meses), por sua vez, assinalou variação nula (0,0%) em nov/23, repetindo, dessa forma, o comportamento observado desde mai/23.
Na passagem de outubro para novembro de 2023 (com ajuste sazonal), a indústria total brasileira cresceu +0,5%, com variação positiva em duas das quatro categorias econômicas. O destaque ficou para bens intermediários (+1,6%), refletindo a expansão das atividades extrativas. Bens de consumo semi e não duráveis (+0,2%) também ficaram na zona positiva, interrompendo dois meses consecutivos de queda na produção, período em que acumulou perda de -1,9%.
Por outro lado, os segmentos de bens de capital (-1,7%) e de bens de consumo duráveis (-3,3%) foram os resultados negativos em nov/23, com ambos apontando a terceira taxa negativa consecutiva e acumulando nesse período perdas de -4,7% e -9,7%, respectivamente.
Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +1,3% em nov/23, com resultados positivos em duas dos quatro macrossetores: bens de consumo semi e não duráveis (+3,7%) e bens intermediários (+2,6%) registraram alta, enquanto bens de consumo duráveis (-8,6%) e de bens de capital (-14,8%) foram as duas contribuições negativas.
O setor produtor de bens de consumo semi e não duráveis teve expansão de +3,7% em nov/23 frente a igual mês de 2022, sendo essa a quarta taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação. O desempenho positivo nesse mês foi explicado principalmente pelas expansões observadas nos setores produtores de carburantes (+24,9%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+3,6%). Por outro lado, os grupamentos de não duráveis (-6,7%) e de semiduráveis (-3,2%) assinalaram os impactos negativos nessa categoria.
A produção de bens intermediários cresceu +2,6% em nov/23 frente a nov/22, devido aos avanços na produção de produtos alimentícios (+7,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,8%), produtos têxteis (+11,5%) e produtos de borracha e de material plástico (+2,4%), enquanto as principais pressões negativas foram registradas pela queda de produção nos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (-20,0%), metalurgia (-6,1%), produtos químicos (-3,2%), máquinas e equipamentos (-5,5%), celulose, papel e produtos de papel (-3,3%), produtos de metal (-2,3%) e produtos de minerais não metálicos (-0,7%).
A produção de bens de consumo duráveis recuou -8,6% frente a nov/22, intensificando, dessa forma, as quedas em out/23 e set/23 (ambas de -3,0%). Nesse mês, o macrossetor foi pressionado pela redução na fabricação de eletrodomésticos da “linha marrom” (-55,6%), automóveis (-8,0%) e móveis (-0,9%). Por outro lado, os impactos positivos vieram da produção de eletrodomésticos da “linha branca” (+13,3%) e de outros eletrodomésticos (+8,9%).
Os bens de capital, por sua vez, continuam em terreno negativo na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, e em nov/23 recuaram -14,8%, a oitava taxa negativa consecutiva. O segmento foi influenciado negativamente por: bens de capital para equipamentos de transporte (-28,4%), pressionado, bens de capital para energia elétrica (-33,4%), para fins industriais (-6,1%), de uso misto (-17,1%), para construção (-25,5%) e agrícolas (-11,0%).
No índice acumulado para janeiro-novembro de 2023 frente a igual período do ano anterior, o setor industrial variou +0,1%, com resultados positivos em três das quatro grandes categorias econômicas.
Bens de consumo semi e não duráveis (+2,3%) e bens de consumo duráveis (+1,4%) mostraram maior dinamismo, impulsionados pela maior produção dos itens gasolina automotiva e álcool etílico, na primeira; e eletrodomésticos (+5,7%), motocicletas (+10,4%) e automóveis (+1,3%), na segunda. O setor produtor de bens intermediários (+0,1%) também apontou resultado positivo no índice acumulado no ano, porém próximo a estabilidade.
Por outro lado, o segmento de bens de capital (-10,7%) assinalou a única taxa negativa no indicador acumulado jan-set/23, pressionado pelas reduções observadas na fabricação de bens de capital para equipamentos de transporte (-14,3%), para energia elétrica (-29,0%) e para fins industriais (-7,1%).
O macrossetor de bens de capital também foi o único a ficar no vermelho no acumulado em doze meses até nov/23: -10,2%. Bens intermediários (+0,1%) também não conseguiram crescer nesta comparação. Ambos compreenderam travas importantes para o resultado geral da indústria nos últimos doze meses, que foi de 0%, como mencionado anteriormente.
Por dentro da Indústria de Transformação
O acréscimo de +0,5% da produção da indústria na passagem de nov/23 para out/23 (com ajuste sazonal), foi acompanhada de recuo de -0,2% na indústria de transformação, e variação positiva de +3,4% no ramo extrativo.
Na comparação com nov/22, enquanto a indústria geral cresceu +1,3%, a indústria de transformação também assinalou decréscimo, de -0,9%, após alta de +1,4% no mês anterior. Dos onze meses já cobertos por dados do IBGE, a indústria de transformação só obteve variação positiva em quatro deles.
A indústria extrativa, por sua vez, registrou novo +14,5% na comparação interanual e, a despeito de alguma volatilidade, dos onze meses de 2023 já conhecidos, obteve aumento de produção em dez deles, sendo que em três meses sua taxa de crescimento foi de dois dígitos.
Deste modo, no acumulado de jan-nov/23 frente ao mesmo período de 2022, a indústria geral (+0,1%) só não ficou no vermelho devido à evolução do ramo extrativo, que acumulou alta de +6,1% no período. Se for observada apenas a indústria de transformação, a queda acumulada nos onze primeiros meses do ano chega a -0,9%.
A variação de +0,5% da atividade da indústria geral na passagem de out/23 para nov/23 foi acompanhada de alta em 13 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE. Entre as influências positivas mais importantes na indústria de transformação estão: produtos alimentícios (+2,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,6%), bebidas (+2,8%), produtos de minerais não metálicos (+2,3%) e metalurgia (+0,8%).
Por outro lado, entre as doze atividades da indústria de transformação que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,2%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,1%) exerceram os principais impactos negativos em nov/23, com ambas eliminando os avanços registrados no mês anterior (+3,5% e +1,0%, respectivamente).
Na comparação com nov/22, o avanço de +1,3% do setor industrial deveu-se aos resultados positivos em 10 dos 25 ramos, 32 dos 80 grupos e 46,9% dos 789 produtos pesquisados. Vale citar que novembro de 2023 (20 dias) teve o mesmo número de dias úteis do que igual mês do ano anterior (20), portanto não houve efeito calendário.
Entre as atividades, as principais influências positivas foram registradas pelos setores produtores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+11,6%) e produtos alimentícios (+4,7%), assim como bebidas (+5,4%), produtos têxteis (+9,6%) e produtos de madeira (+10,6%).
Por outro lado, ainda na comparação com nov/22, entre os ramos da indústria de transformação com redução na produção, destacaram-se: veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-19,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-22,4%) e máquinas e equipamentos (-10,2%).
Já no índice acumulado para jan-nov/23, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou variação de apenas +0,1%, com resultados positivos em 10 dos 25 ramos, 30 dos 80 grupos e 40,8% dos 789 produtos pesquisados.
Entre os ramos da indústria de transformação, as principais influências positivas ficaram a cargo de: coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+6,0%), produtos alimentícios (+3,9%), outros equipamentos de transporte (+9,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+2,7%) e impressão e reprodução de gravações (+10,4%).
Por outro lado, entre as quinze atividades que apontaram redução na produção, produtos químicos (-5,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,8%), máquinas e equipamentos (-7,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,5%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-10,9%) representaram as maiores influências negativas na formação da média da indústria de transformação.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, ficou praticamente estável entre out/23 (80,8%) e nov/23 (80,9%). Com esse resultado, o dado de nov/23 manteve-se 4,7 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 1,3 p.p. acima da média histórica (79,6%). Em dez/23 esse indicador subiu novamente, atingindo a 81,2% da capacidade instalada, sinalizando para um mês mais positivo para a produção.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,6 pontos em nov/23, recuando 0,8 ponto frente ao mês anterior. Como se encontra abaixo da marca de 50 pontos, sinalizou diminuição dos estoques. Essa é a primeira vez que os estoques da indústria diminuem desde jan/23 (49,8 pontos).
No segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI ficou em 49,3 pontos, com queda de 1,0 ponto frente a out/23, com recuo dos estoques. No caso da indústria extrativa houve avanço entre out/23 e nov/23, de 52,3 pontos para 54,5 pontos, sugerindo aumento dos estoques.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,6 pontos em nov/23, abaixo da marca de out/23 (51,2 pontos), mas ainda assim sinalizando estoques superiores ao planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado.
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou, respectivamente, valores de 55,7 pontos (-1,8 ponto ante out/23) e 50,4 pontos (-0,7 ponto).
Em nov/23, 40% dos ramos da indústria de transformação apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos) ante 72% em out/23. Os destaques ficaram a cargo de: couros (58,8 pontos), celulose e papel (56,4 pontos) e têxteis (54,8 pontos), entre outros. Os setores produtores de calçados, farmacêuticos e manutenção e reparação ficaram em equilíbrio (50 pontos), enquanto os destaques dos setores que ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio foram: borracha (34,4 pontos), limpeza e perfumaria (41,3 pontos), e bebidas (41,9 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria Geral da CNI, que havia assinalado pequena queda entre os meses de out/23 (50,5 pontos) e nov/23 (50,4 pontos), assinalou alta em dez/23, atingindo 51,0 pontos, ficando na zona de otimismo. Cabe lembrar que valores abaixo da marca dos 50 pontos indicam pessimismo e acima dela, otimismo do empresariado industrial.
No caso da indústria de transformação, o indicador ficou em 51,4 pontos em dez/23, registrando alta frente a nov/23 (51,0 pontos), também permanecendo na zona de otimismo. Isso é uma boa notícia para esta parcela da indústria, que, como foi visto anteriormente, tem tido um desempenho inferior ao agregado do setor em 2023.
Na passagem de nov/23 para dez/23, o componente referente às expectativas em relação ao futuro na indústria de transformação do índice da CNI teve acréscimo de 53,5 pontos para 53,7 pontos. O componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios, assinalou melhora mais significativa, de 45,9 pontos em nov/23 para 46,8 em dez/23, muito embora tenha se mantido na região de pessimismo.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, também apresentou melhora das expectativas dos empresários na passagem de nov/23 para dez/23, indo de 92,7 pontos para 95,3 pontos. O componente deste indicador referente à situação atual subiu de 93,3 para 94,7 pontos no período e aquele referente às expectativas futuras subiu de 92,1 pontos para 95,9 pontos. Apesar da melhora, os indicadores mantiveram-se abaixo de 100 pontos, e dessa forma, ainda estão na zona de pessimismo.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Entre nov/23 e dez/23, este indicador caminhou em direção oposta aos indicadores da FGV e da CNI e registrou recuo, passando de 49,4 pontos para 48,4 pontos. Como permaneceu abaixo da marca de 50 pontos, ainda indica um quadro pouco favorável aos negócios do setor industrial.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)