Carta IEDI
Obstáculos à aceleração industrial
A indústria brasileira reduziu mais intensamente sua produção em nov/24, dando indícios de esgotamento da tendência de aceleração que vinha registrando no contraste com o ano passado. Em comparação com out/24, a queda se intensificou e se espalhou do ponto de vista tanto setorial como regional.
Na comparação livre de efeitos sazonais, o resultado do agregado da indústria brasileira foi de -0,6% frente ao mês anterior, isto é, três vezes mais intenso do que a retração de out/24 (-0,2%). A parcela dos ramos no vermelho saltou de 20% em out/24 para 76% em nov/24.
Além disso, todos os 4 macrossetores perderam produção, sobretudo os de bens de consumo: -2,8% no caso de semi e não duráveis e -2,1% no caso de bens de consumo duráveis. Bens de capital recuaram -1,7% e bens intermediárias, -0,7%.
Da perspectiva regional, a proporção de parques com queda na série com ajuste sazonal subiu de 33% para 60% entre out/24 e nov/24. Se considerarmos aqueles que ficaram estagnados (0%), temos uma parcela majoritária de 73% das indústrias locais sem crescimento em nov/24.
Com esta evolução mais recente, o acumulado do bimestre out-nov/24 frente ao mesmo período do ano anterior repete o ritmo de dinamismo do 3º trim/24, de +3,9%, indicando que no último trimestre do ano pode ter sido interrompido o continuado ganho de robustez verificado ao longo de 2024.
Entre os macrossetores, houve perda de dinamismo de modo mais intenso em bens de consumo semi e não duráveis, que após registrarem +5,7% no 2º trim/24 arrefeceram para +2,7% no 3º trim/24 e para apenas +0,7% em out-nov/24, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
Muito disso deve-se a eventos climáticos adversos, atingindo, por exemplo, a produção de laticínios (-3,2% ante out-nov/23), biocombustíveis (-8,5%) e o refino de açúcar (-14,0%). Devido ao peso da indústria sucroalcooleira, São Paulo é um dos parques industriais a perder fôlego.
A produção da indústria paulista recuou -4,7% na passagem de out/24 para nov/24, já descontados os efeitos sazonais, anulando toda a expansão dos dois meses anteriores, e -2,7% na comparação com nov/23. Com isso, seu dinamismo interanual passou de +3,1% no 3º trim/24 para +1,7% em out-nov/24.
Quem tem agido em direção oposta e assegurado a manutenção do crescimento industrial nacional são os macrossetores de bens de capital e de bens de consumo duráveis. No primeiro caso a produção avançou +15% em out-nov/24 ante +11,9% no 3º trim/24 e no segundo caso +20,1% ante +16,4%, respectivamente. Ou seja, não há sinal de acomodação nesta parcela da indústria.
Vem também dela muito da resiliência da produção de bens intermediários (+3,4% em out-nov/24). É o caso por exemplo dos intermediários da indústria automobilística, que tiveram aumento de +25,2% em out-nov/24 ante +18,3% no 3º trim/24.
Para os próximos meses o obstáculo é a elevação das taxas de juros no país na esteira do aumento da Selic pelo Banco Central. Isso porque tanto bens de capital como bens de consumo duráveis são a parte da indústria mais sensível aos juros e tendem desacelerar.
A acomodação recente e as incertezas em relação às finanças públicas, que têm levado a movimentos especulativos nos mercados financeiros, impactando tanto a taxa de câmbio como as taxas futuras de juros, afetaram as expectativas dos empresários industriais em dez/24.
O indicador da CNI, assim como o Purchasing Managers’ Index – PMI para a indústria brasileira, recuaram para a zona de neutralidade, enquanto o indicador da FGV manteve-se na região de pessimismo, condicionado sobretudo pelas avaliações em relação ao futuro. Deteriorações na avaliação das condições atuais dos negócios não são uma boa indicação para a virada do ano.
Resultados da Indústria
De acordo com os dados mais recentes divulgados pelo IBGE, a produção industrial brasileira decresceu -0,6% na série com ajuste sazonal na passagem entre out/24 e nov/24. Este resultado é o segundo mês de queda, período em que a indústria acumulou perda de -0,8%. Diferentemente do resultado de out/24, em nov/24 a queda foi mais intensa e ocorreu na maior parte dos ramos.
Na série sem ajuste sazonal, no confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria cresceu +1,7% em nov/24, assinalando o sexto resultado positivo consecutivo, mas com a expansão menos acentuada dessa sequência. Vale destacar que se verifica a influência do efeito-calendário, já que nov/24 teve um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior.
Com isso, o setor industrial apontou crescimento de +3,2% no período jan-nov/24 em relação ao mesmo período de 2023. A taxa anualizada, isto é no acumulado nos últimos doze meses, o desempenho foi de +3,0% em nov/24, dando o tom de 2024.
Depois de meses de crescimento, atualmente a produção industrial se encontra +1,8% acima do patamar pré-pandemia (fev/20), mas ainda assim segue 15,1% abaixo do nível recorde alcançado em mai/11.
O recuo de -0,6% da atividade industrial na passagem de out/24 para nov/24 na série com ajuste sazonal teve perfil generalizado, com os quatro macrossetores assinalando menor produção. A categoria de bens de consumo semi e não duráveis, ao recuar -2,8%, foi o resultado negativo mais intenso, aprofundando a queda registrada no mês anterior (-1,1%).
Os setores produtores de bens de consumo duráveis (-2,1%), de bens de capital (-1,7%) e de bens intermediários (-0,7%) também mostraram queda na produção em nov/24 frente a out/24, com o primeiro eliminando parte do avanço de +5,1% assinalado no mês anterior; o segundo voltando a recuar após apontar taxas positivas e o último interrompendo três meses consecutivos de crescimento.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +1,7% da indústria total em nov/24 foi puxado por três dos quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+19,5%) e bens de capital (+14,0%) assinalaram expansão de dois dígitos e as taxas positivas mais acentuadas.
O setor produtor de bens intermediários (+1,6%) também mostrou crescimento na produção nesse mês, mas apontou avanço menos elevado do que o verificado na média da indústria (+1,7%). Por outro lado, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis (-2,7%) assinalou o único resultado negativo em nov/24.
O setor produtor de bens de consumo duráveis, ao avançar +19,5% em nov/24 frente a igual período do ano anterior, marcou a sexta taxa positiva consecutiva. Nesse mês, o setor foi impulsionado pelas expansões na fabricação de eletrodomésticos da “linha marrom” (+147,8%), automóveis (+12,5%), eletrodomésticos da “linha branca” (+19,2%), motocicletas (+11,2%), outros eletrodomésticos (+52,5%) e móveis (+5,9%).
O macrossetor de bens de capital teve expansão de +14,0% na comparação interanual, marcando o oitavo mês consecutivo de crescimento na produção. A categoria foi influenciada pelo avanço bens de capital para fins industriais (+16,4%), para equipamentos de transporte (+13,7%), bens de capital de uso misto (+23,4%), para energia elétrica (+4,1%), para construção (+5,6%) e agrícolas (+0,9%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção dos bens intermediários avançou +1,6%, sexta taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação, mas a menos elevada desde jun/24. O resultado deveu-se à expansão de intermediários de veículos automotores, reboques e carrocerias (+15,9%), metalurgia (+7,8%), produtos químicos (+5,2%), produtos de metal (+8,3%), produtos de minerais não metálicos (+6,0%) e produtos de borracha e de material plástico (+5,1%), entre outros. Pressões negativas foram registradas por indústrias extrativas (-4,4%), produtos alimentícios (-7,7%) e celulose, papel e produtos de papel (-1,0%).
A produção de bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, recuou -2,7% em nov/24 frente a nov/23. Esse resultado foi explicado principalmente pelos decréscimos na produção dos grupamentos de carburantes (-11,6%), alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-2,9%) e alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (-19,6%). Por outro lado, os grupamentos de semiduráveis (+5,6%) e de não duráveis (+0,4%) foram os impactos positivos.
No índice acumulado de jan-nov/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,2%, com resultados positivos em todos os quatro macrossetores. O perfil dos resultados para os primeiros onze meses de 2024 mostrou maior dinamismo na produção de bens de consumo duráveis (+10,7%) e bens de capital (+8,8%). Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (+2,8%) e de bens intermediários (+2,6%) registraram avanços menos acentuados do que o do agregado da indústria (+3,2%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção do total da indústria brasileira assinalou variação negativa (-0,6%) em nov/24 frente a out/24, na série livre dos efeitos sazonais. Pode-se destacar que em out/24 a indústria de transformação foi a responsável por esse resultado, recuando -1,0% nesta comparação, enquanto a indústria extrativa registrou +0,1%.
Na comparação com nov/23, a expansão de +1,7% da indústria geral foi puxada pela indústria de transformação, que cresceu +2,9% no mesmo período, enquanto o ramo extrativo apontou queda de -4,4% na mesma comparação.
No acumulado do ano até novembro, o resultado de +3,2% na indústria geral deveu-se especialmente pelo desempenho da indústria de transformação (+3,7%), enquanto o ramo extrativo, embora no positivo, ficou mais perto da estabilidade (+0,7%).
O setor industrial assinalou variação negativa de -0,6% na comparação entre nov/24 e out/24 na série com ajuste sazonal, eliminando parte do ganho de +1,1% acumulado no bimestre ago-set/24. Entretanto, diferentemente do que havia sido observado no mês anterior, houve predomínio de taxas negativas: 19 das 25 atividades industriais pesquisadas apontaram recuo na produção.
Entre as atividades, as influências negativas mais importantes foram assinaladas pelos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,5%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,5%).
Outras contribuições negativas relevantes sobre o total da indústria de transformação vieram de produtos alimentícios (-1,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-8,5%), produtos químicos (-2,1%), celulose, papel e produtos de papel (-3,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,4%), entre outros. Por outro lado, entre as atividades que apontaram expansão na produção, a de máquinas e equipamentos (+2,3%) exerceu o principal impacto.
Na comparação com nov/23, o setor industrial assinalou acréscimo de +1,7% em nov/24, com resultados positivos em 18 dos 25 ramos, 58 dos 80 grupos e 59,2% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+15,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+34,9%) e máquinas e equipamentos (+14,0%).
Por outro lado, ainda na comparação com nov/23, entre as atividades que apontaram redução na produção, produtos alimentícios (-4,3%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,9%) e bebidas (-8,4%) exerceram as maiores influências para a média da indústria.
No acumulado de jan-nov/24, frente a igual período do ano anterior, quando o setor industrial assinalou avanço de +3,2%, resultados positivos marcaram 21 dos 25 ramos, 61 dos 80 grupos e 63,5% dos 789 produtos pesquisados.
Entre as atividades, as principais influências positivas vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (+12,4%), produtos alimentícios (+2,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+14,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+12,4%).
Vale destacar também os impactos positivos registrados pelos setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,4%), produtos químicos (+2,8%), produtos de borracha e de material plástico (+5,5%), produtos de metal (+5,1%), entre outros.
Por outro lado, ainda na comparação com jan-nov/23, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-2,8%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pela menor produção de medicamentos.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou negativamente -1,0 ponto percentual na passagem de out/24 (82,6%) para nov/24, quando registrou valor de 81,6%.
Dessa forma, em nov/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 5,4 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 2,0 pontos acima da média histórica (79,6%). Em dez/24, a utilização da capacidade instalada recuou novamente, atingindo 81,1%.
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada ficou estável entre outubro e novembro de 2024 (79,6%), considerando os dados livres de efeitos sazonais. Na comparação entre nov/23 e nov/24, essa variável registrou alta de + 0,7 ponto percentual.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,5 pontos em nov/24, recuando 1,1 ponto frente a out/24.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 50,5 pontos em out/24 para 49,4 pontos em nov/24. A indústria extrativa assinalou queda mais expressiva nos níveis dos estoques, visto que foi de 54,3 pontos em out/24 para 52,3 pontos em nov/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 50,0 pontos em nov/24, sinalizando que os estoques estão em equilíbrio, visto que acima desse valor há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 55,4 pontos e 49,9 pontos, respectivamente.
Em nov/24, 20% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), a mesma proporção do mês passado. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em nov/24 destacaram-se: têxteis (55,3 pontos), farmacêuticos (53,8 pontos), máquinas e equipamentos e celulose e papel (ambos com 53,4 pontos), couros (52,9 pontos), manutenção e reparação e material plástico (50,0 pontos).
Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: borracha (37,5 pontos), impressão e reprodução (43,8 pontos), móveis (45,7 pontos), vestuário e calçados (ambos com 46,3 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 50,3 pontos em dez/24, recuando 2,6 p.p. frente a nov/24. Na passagem de nov/24 para dez/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 55,0 para 52,2 pontos, porém, mantendo-se na zona de otimismo. O componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios, por sua vez, caiu -2,3 p.p., mantendo-se na região pessimista (46,5 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV cresceu 1,0 p.p na passagem de nov/24 para dez/24, registrando 99,6 pontos, ficando ainda na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de dez/24 foi influenciado pela alta do seu componente referente às avaliações do futuro, que passou de 95,4 pontos em nov/24 para 98,5 pontos em dez/24, enquanto índice da situação atual teve queda de 101,7 pontos em nov/24 para 100,7 pontos.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em nov/24 ficou em 52,3 pontos, recuando para 50,4 pontos em dez/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)