Análise IEDI
Interações entre indústria e agropecuária no Brasil
Na Carta IEDI a ser divulgada hoje discute-se a definição de uma estratégia de desenvolvimento produtivo a partir das interrelações entre os setores agropecuário e industrial. O trabalho apoiou-se no estudo realizado pelo economista José Roberto Mendonça de Barros e faz parte de uma série de publicações que o IEDI vem fazendo sobre temas de relevância para o país, como tributação, infraestrutura, financiamento do investimento, integração internacional, competitividade e inovação. Esses trabalhos, com princípios e sugestões, subsidiaram a elaboração da estratégia industrial do IEDI, que será divulgada em breve.
Como discute o autor do estudo, a ligação desses setores é muito maior do que se imagina. Por exemplo, dos 805 produtos que compõem a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE (PIM-PF/IBGE) cerca de 30% integram o complexo agroindustrial, de acordo com uma avaliação bastante conservadora. Por essa razão, o dinamismo crescente no campo tem tudo para estimular o avanço industrial, enquanto, por outro lado, o progresso da indústria, notadamente naquilo que diz respeito à incorporação de novas tecnologias em máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, constitui uma via importante para a constituição de uma agropecuária moderna.
A seguir são sintetizados principais argumentos do estudo de José Roberto Mendonça de Barros:
• O agronegócio brasileiro tem um modelo de crescimento solidamente estabelecido em torno da elevação da produtividade e da competitividade no mercado global, sem subsídios relevantes, e isto é algo único que tem que ser preservado. Por isso, o setor cresceu durante a maior crise econômica dos últimos tempos.
• Esta rota de expansão ainda vai durar por muito tempo, especialmente se o país avançar na melhora da logística e na redução dos custos.
• No plano da produção, a agricultura de precisão é a mudança mais relevante. Este caminho implica em maior integração de agricultura, indústria e serviços. Implica também em utilização de sistemas digitais integrados, na montagem de uma infraestrutura de informação e ainda no acesso relativamente fácil à compra de certos equipamentos e acessórios a preços razoáveis.
• Como em todas as áreas, o processo de pesquisa e geração de conhecimentos, que desemboque em novos produtos e sistemas, tem que ser mais robusto ainda. Incubadoras e novas empresas (startups) deverão continuar a criar e desenvolver soluções inovadoras, especialmente em conexão a indústrias produtoras de insumos e equipamentos.
• Sustentabilidade e baixo carbono continuarão a jogar papel fundamental na pesquisa, desenvolvimento e difusão de inovações na área.
• Insumos e equipamentos devem continuar a serem aprimorados e outros tipos criados. A indústria tem um papel importante nesse processo.
• Um grande mundo está se abrindo na criação de valor, tanto no desenvolvimento de novos produtos como no redesenho e rejuvenescimento de setores maduros, como no caso do café.
• Existe espaço para crescimento na área de biocombustíveis e na bioeletricidade.
• Entretanto, o maior potencial de crescimento está na área de materiais adequados às exigências do mundo moderno, como compósitos e outros produtos da química verde.
• As condições de custo e qualidade das matérias primas permitem que, com a adequada tecnologia, sejam produzidos bens muito competitivos globalmente.
• Alavancar manufaturas a partir de nossas vantagens comparativas e de novas tecnologias é uma rota totalmente viável. Naturalmente, isso não resolve o problema industrial brasileiro, mas pode tornar mais jovem, competitivo e dinâmico parte significativa do setor manufatureiro.
• Além das políticas tecnológicas, e da possibilidade de desenvolver projetos com instituições e empresas no exterior, é preciso que a política comercial externa seja parceira desses movimentos, o que não será difícil dada a qualidade de nossa diplomacia.
• Olhado desta forma são totalmente equivocadas as proposições de taxar exportações agrícolas para proteger setores estagnados e envelhecidos.