Análise IEDI
A amplitude regional da crise industrial
Os dados divulgados hoje pelo IBGE permitem avaliar a composição regional do desempenho industrial no mês de maio de 2020. Dada a amplitude dos efeitos econômicos da Covid-19, praticamente todos os diferentes parques industriais tiveram resultados convergentes ao do setor no agregado do país.
Na passagem de abril para maio, já descontados os efeitos sazonais, a produção da indústria no total Brasil cresceu +7%, favorecida pela baixa base de comparação, compensando, assim, parte do declínio dos meses anteriores. Tal movimento foi verificado em 12 das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE, isto é, por 80% dos parques regionais.
A despeito desta reação, explicada em grande medida pela reativação de linhas de produção que haviam sido interrompidas à espera de protocolos de segurança sanitária e reavaliação das condições de mercado pelas empresas, em maio a indústria total permaneceu 21% abaixo do nível de produção de fev/20, enquanto 47% de seus parques regionais ficaram em níveis ainda mais baixos.
Os casos em que a pandemia se mostrou mais deletéria, segundo a comparação de mai/20 com fev/20, envolvendo portanto os meses de crise do coronavírus, foram Ceará e Amazonas, cujos níveis de produção reduziram-se quase pela metade (-48,3% e -44%, respectivamente), seguidos por Espírito Santo (-30,9%) e Rio Grande do Sul (-28,2%). São Paulo registrou -19,6% nesta comparação.
Em relação a um ano atrás, quando a indústria no total Brasil, apresentou queda de -21,9%, isto é, em linha com as perdas de abril, que provavelmente será o pior mês da crise do coronavírus, 14 das 15 localidades pesquisadas pelo IBGE ficaram no vermelho. Destas, metade caíram mais que a média nacional, como mostram as variações a seguir.
• Brasil: -3,9% em mar/20; -27,4% em abr/20 e -21,9% em mai/20;
• Amazonas: -5,1%; -54% e -47,3%, respectivamente.
• Nordeste: -1,0%; -32,9% e -23,2%;
• Minas Gerais: -4,1%; -19,7% e -15,1%;
• Rio de Janeiro: +10%; -5,8% e -9,1%;
• São Paulo: -4,6%; -32,3% e -23,4%;
• Rio Grande doo Sul: -13,9%; -36,3% e -27,3%, respectivamente.
Na maioria das localidades, houve alguma amenização das quedas em maio em comparação com aquelas de abril, tal como no total Brasil, mas ainda assim a magnitude das perdas continuou das mais severas da série histórica. Resultados particularmente ruins foram registrados no Sul do país, em estados do Sudeste e na região Norte.
A indústria do Amazonas, que havia liderado o declínio em abril, voltou a ocupar esta inglória posição de destaque. Caiu nada menos do que -47,3% frente a mai/19, em boa medida devido a outros equipamentos de transporte (-87,9%), mas também a bebidas (-53,3%) e derivados de petróleo (-67%).
Na região Sul, os piores resultados ficaram a cargo de Santa Catarina (-28,6% ante mai/19) e Rio Grande do Sul (-27,3%). No primeiro caso, exerceram importante influência negativa os ramos de confecção e de máquinas e aparelhos elétricos que, juntos, respondem por cerca de ¼ da indústria do estado. No segundo caso, devido a veículos, produtos químicos e couros e calçados, além de outros ramos.
No Sudeste, o resultado que se destaca é o da indústria paulista, uma das maiores e mais diversificadas do país. A queda em maio último chegou a -23,4% frente ao mesmo período do ano anterior, implicando amenização razoável frente ao declínio de -32,3% em abril. Isso, contudo, deveu-se muito ao ramo automobilístico, cuja produção de veículos havia praticamente parado, caindo -91,5% em abr/20, e agora registrando -56,8% em mai/20.
A realidade foi diferente para o restante da indústria de São Paulo. Metade de seus ramos industriais caíram mais em maio do que em abril ou mantiveram o mesmo nível de queda. Setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis são os mais prejudicados, como máquinas e equipamentos elétricos (-35,5%) e mecânicos (-41,2%) e eletrônicos e informática (-32,3%), além de veículos. As perdas dos ramos de têxteis (-65,3%) e confecções (-70,1%) também estão entre as mais agudas na indústria paulista.
Na passagem de abril para maio de 2020, a produção industrial brasileira registrou incremento de 7,0%, a partir de dados dessazonalizados. Entre os 15 locais pesquisados, 12 registraram variações positivas: Paraná (24,1%), Pernambuco (20,5%), Amazonas (17,3%), Rio Grande do Sul (13,3%), Região Nordeste (12,7%), São Paulo (10,6%), Bahia (7,6%), Minas Gerais (6,3%), Santa Catarina (5,4%), Rio de Janeiro (5,2%), Mato Grosso (4,4%) e Goiás (3,0%). Os três locais pesquisados restantes apresentaram decréscimos: Espírito Santo (-7,8%), Ceará (-0,8%) e Pará (-0,8%).
Analisando em relação a maio de 2019, registrou-se retração de 21,9% da indústria nacional. Entre 15 locais pesquisado apenas 1 registrou variação positiva: Goiás (1,5%). Nos quatorze outros locais pesquisados observaram-se variações negativas nessa mesma comparação: Ceará (-50,8%), Amazonas (-47,3%), Espírito Santo (-31,7%), Santa Catarina (-28,6%), Rio Grande do Sul (-27,3%), São Paulo (-23,4%), Região Nordeste (-23,2%), Bahia (-20,7%), Paraná (-18,1%), Minas Gerais (-15,1%), Pernambuco (-13,5%), Pará (-13,0%), Rio de Janeiro (-9,1%) e Mato Grosso (-3,4%).
No acumulado do ano, registrou-se decréscimo de 11,2% na produção nacional, sendo que dos 15 locais pesquisados dois apresentaram incrementos: Rio de Janeiro (2,8%) e Pará (0,9%). Por outro lado, as demais regiões apresentaram decréscimos: Ceará (-21,8%), Amazonas (-20,7%), Espírito Santo (-18,5%), Rio Grande do Sul (-16,6%), Santa Catarina (-15,4%), São Paulo (-13,6%), Minas Gerais (-12,1%), Paraná (-8,9%), Região Nordeste (-8,8%), Bahia (-5,9%), Pernambuco (-4,7%), Mato Grosso (-3,8%) e Goiás (-0,3%).
São Paulo. Na comparação do mês de maio com o mês de abril de 2020, a produção da indústria paulista registrou incremento de 10,9%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a maio de 2019, houve variação negativa de 23,4%, e analisando os dados acumulados do ano, registrou-se decréscimo de 13,6%. Os setores com maiores expansões no comparativo do acumulado do ano foram: sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene (4,8%), produtos alimentícios (4,4%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,4%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-49,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-39,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,1%), produtos têxteis (-29,8%) e produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-20,2%).
Nordeste. Na comparação de maio frente ao mês de abril de 2020, a produção da indústria nordestina registrou incremento de 12,7% a partir de dados dessazonalizados. Em relação a maio de 2019, houve recuo de 23,2%. No acumulado do ano, aferiu-se variação negativa de 8,7%. Os setores com maiores contribuições positivas no comparativo do acumulado do ano foram: coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (27,7%), produtos alimentícios (8,2%) e celulose, papel e produtos de papel (5,9%). Em sentido oposto, os seguintes segmentos apresentaram as maiores retrações: veículos automotores, reboques e carrocerias (-47,0%), preparação de couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-39,3%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-31,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-28,2%) e produtos têxteis (-25,6%).
Minas Gerais. Na comparação de maio com o mês de abril de 2020, a produção da indústria mineira apresentou variação positiva de 6,3% segundo dados dessazonalizados. Em relação a maio de 2019, houve decréscimo de -15,1%. No acumulado do ano houve retração de 12,1%. Os setores que registraram as maiores variações positivas, na comparação do acumulado do ano, foram: outros produtos químicos (19,0%), produtos alimentícios (10,0%), produtos do fumo (7,3%), produtos têxteis (5,1%) e celulose, papel e produtos de papel (0,3%). Por fim, os maiores decréscimos se deram nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (-43,3%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-26,0%), máquinas e equipamentos (-21,3%), indústrias extrativas (-20,4%) e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-19,0%).