Análise IEDI
Fragilidade agravada
Diferentemente da indústria e do comércio varejista, que conseguiram voltar ao positivo depois do tombo de abril, o setor de serviços permaneceu no vermelho em maio de 2020, registrando -0,9% frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram ainda outra importante distinção em relação aos demais setores: o desempenho agregado dos serviços foi produzido por resultados assimétricos entre seus segmentos, com três deles reincidindo em quedas e outros dois voltando a crescer.
Embora mai/20 não tenha sido tão ruim quanto abr/20, a trajetória recente dos serviços já vinha pontuada de fragilidades, que foram intensamente agravadas pela pandemia de Covid-19. Vale lembrar que o setor foi o último a dar sinais de recuperação depois da crise de 2015/2016 e, à exceção de jan/20, apresenta uma sequência de variações negativas desde nov/19.
Ou seja, a pandemia do coronavírus levou a uma crise sem precedentes, mas não inaugurou a fase adversa do setor. Isto é ainda mais evidente em alguns segmentos, como o de informação e comunicação, cujo faturamento real, com dados dessazonalizados, não cresce desde nov/19, e o de serviços profissionais, administrativos e complementares, que está no vermelho desde out/19. Ambos caíram em mai/20 (-2,5% e -3,6%), juntamente com o ramo de outros serviços (-4,6%).
Deste modo, a perda provocada pela pandemia ao setor de serviços como um todo somava -18,8% até mai/20, levando seu faturamento a um nível ainda mais distante de seu pico anterior à crise de 2015/2016, atingido em nov/14: -27,9%. Em relação ao ano passado, os dados do IBGE também mostram que o setor permanece tão ruim quanto em abril:
• Serviços total: -2,8% em mar/20; -17,3% em abr/20 e -19,5% em mai/20;
• Serviços prestados às famílias: -33,5%; -65,3% e -61,5%, respectivamente;
• Informação e comunicação: -0,2%; -4,7% e -9,0%;
• Serviços profissionais, adm., e complementares: -3,7%; -17,5% e -21,7%;
• Transporte, seus auxiliares e correios: +0,4%; -21,2% e -20,8%;
• Outros serviços: +14%; +0,8% e -7,3%, respectivamente.
Frente a mai/19, o declínio do faturamento real do setor de serviços foi de -19,5%, condicionado por todos os seus ramos. Três deles se saíram ainda pior. Foi notadamente o caso de serviços prestados às famílias (-61,5%), diretamente impactados pelo isolamento social. Já são três meses seguidos de quedas muito pesadas, tanto no componente alimentação e alojamento, como nos demais serviços pessoais.
Transportes (-20,8%), ainda que a locomoção de mercadorias continue ocorrendo, e serviços profissionais, administrativos e complementares (-21,7%), embora muitos deles possam ser feitos remotamente, também caíram mais do que o agregado do setor, sob influência da redução geral do nível de atividade econômica.
Já o ramo de informação e comunicação (-9%), cujos serviços passaram a ser mais demandados na pandemia, perdeu menos que outros ramos, mas ainda assim não escapou do negativo e quase dobrou a intensidade de sua queda em comparação com a de abril. O ramo de outros serviços (-7,3%), por sua vez, que vinha mantendo crescimento frente ao mesmo período de 2019, dada a grande diversidade de atividades que reúne, ficou igualmente no vermelho.
Por fim, um comentário sobre o agregado especial de atividades turísticas. Na passagem de abril para maio conseguiu crescer, mas apenas +6,6% com ajuste sazonal, isto é, nada comparável à queda de -68,1% registrada em abril. Em relação a mai/19, perdeu faturamento real pela terceira vez consecutiva e de modo muito intenso: -65,6%, devido principalmente a transporte aéreo e rodoviário, restaurantes e hotéis. Ou seja, o setor continua parado.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de maio, o volume de serviços prestados apresentou retração de 0,9% frente a abril de 2020, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (maio/2019) aferiu-se redução de 19,5%. No acumulado de 12 meses registrou-se decréscimo de 2,7% e para o acumulado do ano registrou-se variação negativa de 7,6%.
Para a comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, 2 dos cinco segmentos analisados apresentaram variações positivas: serviços prestados às famílias (14,9%) e transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (4,6%). Por outro lado, os três outros segmentos considerados apresentaram retrações em relação ao mês imediatamente anterior: outros serviços (-4,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-3,6%) e serviços de informação e comunicação (-2,5%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se variação positiva de 6,6% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com maio de 2019, todos os segmentos analisados registraram decréscimos em relação ao mesmo mês do ano anterior: serviços prestados às famílias (-61,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-21,7%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-20,8%), serviços de informação e comunicação (-9,0%) e outros serviços (-7,3%). Já n o segmento de atividades turísticas houve retração de 65,6%, ainda frente a maio de 2019.
Na análise para o acumulado do ano, um dos cinco segmentos analisados registrou variação positiva: a categoria outros serviços (5,2%). Por sua vez, os demais setores apresentaram variações negativas no período: serviços prestados às famílias (-31,0%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-9,6%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-8,0%) e serviços de informação e comunicação (-2,5%). Para a mesma comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu variação negativa de 29,9%.
Na análise por unidade federativa, no mês de maio de 2020 comparado ao mesmo mês do ano anterior 2 dos 27 estados apresentaram variações positivas: Mato Grosso (6,3%) e Rondônia (9,3%). Por outro lado, entre os 25 estados que apresentaram variações negativas, as maiores foram: Alagoas (-34,8%), Ceará (-29,9%), Piauí (-29,3%), Pernambuco (-29,3%), Rio Grande do Norte (-28,9%), Bahia (27,2%), Roraima (-26,5%), Acre (-25,1%), Sergipe (-24,2%), Distrito Federal (24,2%), Amapá (-24,0%), Rio Grande do Sul (-24,0%), Paraíba (-22,5%), Santa Catarina (-20,5%) e São Paulo (-20,2%).
Por fim, na análise por unidade federativa considerando o acumulado do ano em 2020, uma das 27 unidades federativas apresentou variação positiva: Rondônia (4,1%). Em sentido oposto, as 26 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Piauí (-15,6%), Alagoas (-15,0%), Rio Grande do Sul (-13,7%), Ceará (-11,9%), Rio Grande do Norte (-12,8%), Pernambuco (-11,4%), Amapá (-11,1%), Santa Catarina (-9,0%), Paraíba (-8,8%), Goiás (-8,2%) e Acre (-8,2%).