Análise IEDI
Superando o choque da Covid-19
Assim como a indústria, o comércio varejista voltou a crescer em junho de 2020, como mostram os dados divulgados hoje pelo IBGE. Embora no caso do varejo tenha havido importante perda de ritmo em relação ao resultado de maio, o último bimestre foi capaz de compensar quase integralmente o choque negativo da Covid-19.
Na passagem de maio para junho, já descontados os efeitos sazonais, as vendas reais do varejo registraram +8,0%, abaixo da alta de +14,4% do mês anterior. Em seu conceito ampliado, que considera também as vendas de veículos, autopeças e material de construção, o resultado de jun/20 foi de +12,6% ante +19,2% de mai/20.
Embora mais fraco, a expansão recente foi suficiente para levar o nível de vendas de volta ao patamar anterior à disseminação do coronavírus no Brasil, ao menos no conceito restrito do varejo. É o que indica a comparação de jun/20 com fev/20, que resulta em variação de +0,1%, livre de efeitos sazonais. No varejo ampliado, ainda há defasagem, mas de apenas -4,7%.
Este desempenho bastante favorável, sobretudo se comparado ao diferencial de -13,5% entre jun/20 e fev/20 no caso da indústria, deve-se à concessão do auxílio emergencial pelo governo e à flexibilização das regras de isolamento social em muitas localidades, mas também à possibilidade de se manter parte das vendas do varejo pela internet e à redução dos juros de algumas modalidades de crédito às famílias, ainda que em ritmo inferior à redução da taxa básica de juros (Selic).
Famílias não atingidas pelo desemprego nem por perda considerável de renda devido à pandemia também podem ter compensado sua redução de consumo de serviços pessoais devido ao isolamento social com a compra de bens no varejo. Este aspecto, que tende a ocorrer em famílias de maior renda, associado a juros menores, ajudam a explicar o desempenho positivo de ramos de bens duráveis e semiduráveis do comércio.
Como mostram as variações a seguir com ajuste sazonal, segmentos cujo mercado implica algum financiamento por parte do consumidor, como móveis, eletrodomésticos, informática, material de construção, veículos e, em alguma medida, também roupas e calçados, estiveram entre os ramos com maior alta em junho.
• Varejo restrito: -17,0% em abr/20; +14,4% em mai/20 e +8,0% em jun/20;
• Varejo ampliado: -17,4%; +19,2% e +12,6%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -11,6%; +7,2% e +0,7%;
• Tecidos, vestuário e calçados: -68,8%; +96,3% e +53,2%;
• Móveis e eletrodomésticos: -20,7%; +47,4% e +31,0%;
• Veículos e autopeças: -35,9%; +38,6% e +35,2%;
• Material de construção: -1,9%; +22,3% e +16,6%,respectivamente.
Em três ramos do varejo as vendas reais já superaram em jun/20 o nível de fev/20, isto é, aquele anterior ao choque de Covid-19. Um deles é o de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, para quem praticamente não houve crise, devido à natureza essencial de seus bens e ao aumento da demanda para consumo em domicílio: +8,9% nesta comparação.
Os outros dois foram: móveis e eletrodomésticos, com alta de +12,9%, e material de construção, com +15,6%, que tendem a responder ao quadro de juros e crédito e cujos planos de consumo interrompidos pelo fechamento do comércio e isolamento social podem estar sendo retomados agora.
Já os segmentos que mais cresceram em jun/20, ainda têm muito a recuperar para voltar ao patamar pré pandemia. Foram os casos de tecidos, vestuário e calçados, que ainda estão 45,8% abaixo do nível de vendas de fev/20; livros, jornais, revistas e papelaria, com uma defasagem de -42,2%; e veículos, motos e autopeças, cujas vendas estão 24,8% abaixo das de fev/20.
Outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento, e o segmento de material de escritório, informática e comunicação também tiveram taxas robustas de crescimento das vendas na passagem de maio para junho, com ajuste sazonal, mas ainda estão aquém do patamar anterior à pandemia (-5,3% e -10,8%, respectivamente).
No mês de junho, dois segmentos refrearam o desempenho do varejo, contribuindo para a desaceleração frente à alta de mai/20: supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujas vendas reais variaram apenas +0,7%, e combustíveis e lubrificantes, que registraram o segundo menor crescimento na série com ajuste (+5,6%). Em ambos os casos, houve aumento de preços neste mês.
A partir dos dados de junho de 2020 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou acréscimo de 8,0% na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do anterior houve crescimento de 0,5%. Para o acumulado dos últimos doze meses aferiu-se variação positiva de 0,1%, enquanto que o acumulado do ano registrou retração de 3,1%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou-se variação positiva de 12,6% em relação a maio de 2020, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mês de junho de 2019, houve queda de 0,9%. Para o acumulado dos últimos 12 meses houve decréscimo de 1,3% e o acumulado do ano registrou variação negativa de 7,4%
A partir de dados dessazonalizados, sete dos oito setores analisados registraram variações positivas em comparação ao mês imediatamente anterior: tecidos, vestuário e calçados (53,2%), livros, jornais, revistas e papelaria (69,1%), móveis e eletrodomésticos (31,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (26,1%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (22,7%), combustíveis e lubrificantes (5,6%) e, hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,7%). Para essa comparação, apenar o setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria apresentou variação negativa (-2,7%). Para o comércio varejista ampliado registrou-se incremento de 12,6%, de maneira que o setor de veículos, motos, partes e peças registrou variação positiva de 35,2%, enquanto material de construção obteve um acréscimo de 16,6%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (junho de 2019), registrou-se variação positiva em quatro das atividades analisadas: móveis e eletrodomésticos (25,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (7,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (6,4%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,4%). Por outro lado, houve decréscimos aferidos nos quatro setores restantes: tecidos, vestuário e calçados (-44,5%), livros, jornais, revista e papelaria (-39,5%), combustíveis e lubrificantes (-16,3%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-10,0%). No comércio varejista ampliado houve variação negativa de 0,9%, de modo que o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou retração de 13,7% e o setor de material de construção caiu 22,8%.
Na análise do acumulado do ano (janeiro-junho de 2020) aferiu-se variação negativa de 3,1% no comércio varejista, com crescimento em dois dos oito segmentos analisados: hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (5,4%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,3%). Por outro lado, os demais segmentos analisados apresentaram retrações: tecidos, vestuário e calçados (-38,9%), livros, jornais, revistas e papelaria (-28,7%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-22,9%), combustíveis e lubrificantes (-12,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-10,6%) e, móveis e eletrodomésticos (-1,3%). Para o comércio varejista ampliado houve variação negativa de 7,4% no período, sendo que para veículos e motos, partes e peças e material de construção registraram-se variações negativas de -21,8% e -1,9%, respectivamente.
Por fim, comparando junho de 2020 com o mesmo mês do ano anterior, 12 das 27 unidades federativas apresentaram acréscimos no volume de comércio varejista, sendo a maiores: Pará (17,9%), Piauí (16,5%), Tocantins (15,3%), Maranhão (14,3%), Santa Catarina (12,7%), Amazonas (12,1%) e Mato grosso do Sul (8,8%). Por outro lado, as 15 unidades federativas reastantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores quedas: Amapá (-14,8%), Bahia (-12,6%), Distrito Federal (-10,6%), Alagoas (-10,4%), Rio Grande do Norte (-10,2%), Ceará (-8,3%) e Paraíba (-8,2%).