Análise IEDI
Emprego e recuperação econômica
O nível de atividade econômica do país vem dando sinais de reação nos últimos meses, ensejando projeções para PIB de 2020 menos adversas do que as do início da crise da Covid-19. Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram, contudo, que o emprego permanece em suas piores marcas. Este é um fator que pode vir a refrear a atual recuperação econômica.
A massa de rendimentos reais do trabalho, que funciona como a base do consumo das famílias, encontrava-se no trimestre móvel findo em jul/20 em um de seus níveis mais baixos. Tomados os rendimentos efetivamente recebidos, que refletem melhor o choque provocado pela pandemia, a massa R$ 185,6 bilhões é a menor da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. Frente a mai-jun/19, a queda chega a -13,3%.
Este desempenho, ao se referir apenas às rendas do trabalho, sugere a importância dos mecanismos de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial, para a reativação do consumo e do PIB que estamos vendo nos últimos meses. Ao mesmo tempo, também traz dúvidas sobre a sustentação deste dinamismo com a redução do auxílio de R$600 para R$ 300 e as indefinições de sua continuidade em 2021.
Assim, para mantermos a trajetória de recuperação econômica, os ajustes do programa de auxílio emergencial devem ser acompanhados de uma melhora consistente do quadro do emprego, que por ora ainda não ocorre. O número total de ocupados, de 82 milhões de pessoas em mai-jul/20, é o menor da série, representando queda de -12,3% ante o mesmo período do ano passado.
O recuo da ocupação é a principal causa do encolhimento da massa de rendimentos, mas, como mostram as variações internauais a seguir, os rendimentos efetivamente recebidos também estão em contração.
• Massa de rendimentos: +2,3% em nov/19-jan/20; -1,9% em fev-abr/20 e -13,3% em mai-jul/20;
• Ocupação total: +2,0%; -3,4% e -12,3%, respectivamente;
• Rendimentos reais efetivamente recebidos: +0,5%; +1,4% e -1,2%, respectivamente.
A queda do emprego, como se sabe, é muito concentrada nas ocupações informais e nos setores de serviços, chegando a -25,4% no emprego sem carteira e -30% no setor de alojamento e alimentação, frente a mai-jul/19.
Isso, porém, não quer dizer que outros segmentos do mercado de trabalho tenham sido poupados. O emprego com carteira assinada caiu -11,3% ante mai-jul/19, para 29,4 milhões de pessoas, o pior resultado da série. A indústria, cujo emprego é majoritariamente formal, também recuou a uma taxa de dois dígitos: -12,7%.
Ou seja, as perdas atingem os segmentos formal e informal e os setores cujas atividades foram interrompidas ou não pelo isolamento social. Como resultado, a taxa de desemprego, que ficou em 13,8%, foi recorde na pesquisa do IBGE, representando 13,1 milhões de pessoas sem ocupação.
Ainda assim, este nível da taxa de desemprego subestima o efeito total da crise da Covid-19. É o que indica, por exemplo, o desalento também recorde, que chegou a 5,8 milhões de pessoas, com alta de +20% ante mai-jul/19, que pararam e buscar uma ocupação depois de repetidos insucessos. Este contingente, mais cedo ou mais tarde, tomará a busca e se não encontrar oportunidades de trabalho ampliará a taxa de desemprego do país.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação no trimestre compreendido entre maio e julho de 2020 registrou 13,8%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, fevereiro de 2020 a abril de 2020, houve expansão de 1,2 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 2,0 p.p., quando registrou 11,8%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.535,00, apresentando acréscimo de 4,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve expansão de 8,6%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 203,0 bilhões no trimestre que se encerrou em junho, registrando retração de 3,8% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 4,7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 208,6 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 82,0 milhões de pessoas, apresentando variação negativa de 8,1% frente ao trimestre imediatamente anterior (fev-mar-abr), e aferiu-se retração de 12,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (93,6 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu decrescimento de 2,5%, com 13,1 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se expansão de 4,5%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 95,2 milhões de pessoas, representando decrescimento de 6,8% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 10,4% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (106,2 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, o único setor que apresentou estabilidade foi o de Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais. Por outro lado, todos demais agrupamentos apresentaram decréscimos: Alojamento e alimentação (-30,0%), Serviços domésticos (-26,9%), Outros serviços (-22,5%), Construção (-19,7%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-14,0%), Transporte, armazenagem e correios (-13,8%), Indústria geral (-12,7%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-6,9%) e Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-5,0%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo apenas na categoria setor público (3,5%). De outro lado, as demais categorias apresentaram retrações: trabalho doméstico (-26,9%), trabalho privado sem carteira (-25,4%), trabalho familiar auxiliar (-15,0%), trabalhador por conta própria (-11,6%), trabalho privado com carteira (-11,3%) e empregador (-9,1%).