Análise IEDI
Recuperação bloqueada
Sem nunca ter conseguido compensar as perdas do choque da Covid-19 de mar-abr/20, o setor de serviços voltou ao vermelho no último mês do ano passado, interrompendo uma sequência de seis meses de crescimento na série com ajuste sazonal. O resultado foi de -0,2% frente a nov/20, mantendo o setor 3,8% abaixo de fev/20.
Ainda que a normalização do quadro sanitário por meio da vacinação em massa seja fundamental para a superação da crise em todos os setores da economia, é ainda mais importante no caso de serviços, dado que muitas de suas atividades exigem presença física, mobilidade das pessoas e sociabilidade. Sem isso, sua reação permanece bloqueada e programas emergenciais continuam cruciais para a preservação de empresas e manutenção de empregos.
Na passagem de nov/20 para dez/20, o retrocesso veio dos ramos de serviços prestados às famílias e transportes, com -3,6% e -0,7%, já livre de efeitos sazonais, respectivamente. Ambos foram afetados pelo aumento de casos de Covid-19 no final de 2020. Serviços de informação e comunicação (+0,3%) e os profissionais e administrativos (-0,1%) evitaram o terreno negativo mas perderam muito de seu dinamismo.
Deste modo, a despeito da fraca reação em meses anteriores, 2020 como um todo foi um ano de perdas recordes para os serviços (-7,8%), com variações negativas marcando todos os trimestres do ano, como é mostrado a seguir. Vale lembrar que, desde 2015 o faturamento real do setor só foi positivo em 2019, em um avanço modesto que foi totalmente perdido agora em 2020. Não surpreende que o emprego no país esteja há tanto tempo em um quadro dramático.
• Serviços – total: -0,2% no 1º trim/20; -16,3% no 2º trim/20; -9,7% no 3º trim/20 e -5,2% no 4º trim/20;
• Serviços prestados às famílias: -10,2%; -61,5%; -45,3% e -27,1%, respectivamente;
• Serviços de informação e comunicação: +0,5%; -5,6%; -2,4% e +0,9%;
• Serviços profissionais, adm. e complementares: -2,4%; -18,3%; -14,1% e -10,3%;
• Transportes, seus serviços e correio: +1,0%; -17,7%; -8,6% e -5,1%;
• Outros serviços: +11,0%; -0,9%; +8,3% e +8,2%, respectivamente.
No acumulado de 2020, a pior situação foi a dos serviços prestados às famílias, cujo faturamento real encolheu -35,7% em relação ao ano anterior, devido tanto a alojamento e alimentação (-36,9%), como a outros serviços pessoais (-29%). Para este segmento, o 4º trim/20 trouxe pouca redução das perdas: -27,1% ante o 4º trim/19.
O segundo pior caso foi o de serviços profissionais, administrativos e complementares, com -11,4% em 2020, marcado por forte simetria entre seus componentes. Os serviços administrativos e complementares, que geralmente reúnem mão de obra menos qualificada em funções terceirizadas, foi quem mais caiu: -13,5%. Já o faturamento do componente técnico-administrativo, de maior qualificação, variou -5,4% no ano e -3,2% no 4º trim/20.
A seu turno, refletindo a redução do nível geral de atividade econômica no ano passado, transportes, seus auxiliares e correios apresentaram a terceira maior queda: -7,7%. Contribuiu muito para isso o recuo de -11,5% dos transportes terrestres, mas o quadro da aviação foi muito mais grave, com -36,9% no ano e -34,8% no 4º trim/20. De fato, o último trimestre trouxe pouca amenização também para o segmento como um todo (-5,1%).
Os dois outros segmentos dos serviços mostraram uma resiliência maior. O faturamento real dos serviços de informação e comunicação registrou o menor declínio no agregado de 2020 (-1,6%) e no 4º trim/20 voltou a se expandir (+0,9%). Já o segmento de outros serviços, que reúne um conjunto diversificado de atividades, foi o único a ter aumento de faturamento no ano passado: +6,7%, devido, sobretudo, a serviços financeiros.
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de dezembro de 2020, o volume de serviços prestados apresentou decréscimo de 0,2% frente a novembro na série com ajuste sazonal. Com relação ao mesmo mês do ano anterior (dezembro/2019) aferiu-se retração de 3,3%. No acumulado em 12 meses e no acumulado no ano registrou-se decréscimo de 7,8%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, três dos cinco segmentos analisados apresentaram incrementos: outros serviços (3,0%), serviços de informação e comunicação (0,3%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (0,1%). Por outro lado, os demais segmentos apresentaram retrações: serviços prestados às famílias (-3,6%) e transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-0,7%). Já para o segmento das atividades turísticas, registrou-se estabilidade na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com dezembro de 2019, dois dos cinco segmentos analisados apresentaram expansões: outros serviços (8,6%) e serviços de informação e comunicação (1,5%). Os três segmentos analisados restantes registraram decréscimos: serviços prestados às famílias (-25,4%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-7,4%) e transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-2,1%). Já para o segmento de atividades turísticas houve retração de 29,9% frente a dezembro de 2019.
Na análise para o acumulado do ano (janeiro-dezembro), um dos cinco segmentos apresentou expansão: outros serviços (6,7%). Os demais segmentos analisados registraram retrações: serviços prestados às famílias (-35,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-11,4%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-7,7%) e serviços de informação e comunicação (-1,6%). Para a mesma base de comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu variação negativa de 36,7%.
Na análise por unidade federativa, no mês de dezembro de 2020 frente ao mesmo mês do ano anterior (dezembro/2019), 19 dos 27 estados apresentaram incrementos, sendo os mais expressivos: Rondônia (17,7%), Amapá (8,5%), Alagoas (6,4%), Roraima (4,9%), Piauí (4,3%), Distrito Federal (4,0%), Sergipe (3,6%), Mato Grosso do Sul (3,5%), Amazonas (3,2%) e Maranhão (2,3%). Em sentido oposto, as 8 unidades federativas restantes apresentaram variações negativas, sendo as maiores: Tocantins (-4,7%), Minas Gerais (-1,7%), Pernambuco (-1,6%), Rio Grande do Norte (-1,5%) e Bahia (-0,9%).
Por fim, na análise por unidade federativa do acumulado no ano de 2020, duas das 27 unidades federativas apresentaram expansões: Amazonas (0,5%) e Rondônia (0,3%). Por outro lado, as demais unidades federativas apresentaram retrações, sendo as maiores: Alagoas (-16,1%), Rio Grande do Norte (-15,7%), Sergipe (-15,1%), Piauí (-14,5%), Ceará (-13,6%) e Rio Grande do Sul (-12,7%).