Análise IEDI
Sem alívio
A despeito da reativação econômica da segunda metade do ano passado, a taxa de desemprego do país continua em patamares recordes, segundo a Pnad Contínua do IBGE, que considera dados tanto do segmento formal como do segmento informal do mercado de trabalho. Na virada de 2020 para 2021, a edição mais recente da pesquisa mostra que não houve amenização deste quadro.
A taxa de desemprego no trimestre móvel findo em jan/21 ficou em 14,2%, isto é, no mesmo patamar do trimestre anterior e acima da taxa já bastante elevada do trimestre findo em jan/20 (11,2%). No início deste ano, antes mesmo do agravamento do surto de Covid-19, o país somava 14,3 milhões de desocupados.
Em relação a um ano atrás, o contingente de pessoas sem emprego saltou +19,8% em nov/20-jan/21, representando uma aceleração em relação aos trimestres anteriores sem sobreposição (+4,5% em mai-jul/20 e +13,7% em ago-out/20). Foram 2,4 milhões de pessoas a mais sem sucesso em encontrar uma ocupação.
Vale lembrar que a situação só não está mais grave porque muitos pararam de buscar emprego, seja por desalento (+25,6% ante nov/19-jan/20), seja por outros motivos (+70%), inclusive impedimentos decorrentes da própria pandemia, como medo de contágio e necessidade de cuidados de dependentes (filhos, pessoas de idade etc.).
Em compensação, a abertura de novas vagas continua obstruída, quando considerado o emprego formal e informal. Com isso, o número de ocupados no trimestre findo em jan/21 recuou -8,6% em relação ao mesmo período do ano passado, correspondendo a 8,1 milhões de postos a menos. Embora não tenha caído a taxas de dois dígitos, como nos trimestres anteriores, a velocidade das perdas continua expressiva, como mostram as variações a seguir.
• Ocupação total: -12,3% em mai-jul/20; -10,4% em ago-out/20 e -8,6% em nov/20-jan/21;
• Ocupação na indústria: -12,7%; -10,6% e -10,3%, respectivamente;
• Ocupação na construção: -19,7%; -13,7% e -10,2%;
• Ocupação no comércio: -14,0%; -11,2% e -11,0%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: -30,0%; -28,5% e -28,1%;
• Ocupação em serviços domésticos: -26,9%; -25,4% e -20,8%, respectivamente.
Entre as dez atividades econômicas identificadas na pesquisa do IBGE, apenas duas registraram ampliação do número de ocupados no trimestre findo em jan/21. Foram os casos da agropecuária (+3,1% ante mesmo período do ano anterior), onde os efeitos da pandemia foram menores, e dos serviços públicos, sociais, de saúde etc. (+1,3%) para quem a Covid-19 implicou demanda adicional.
Outras quatro atividades, ou seja, 40% do total, apresentaram perdas menos intensas, sobretudo, construção (-10,2%), cuja queda de ocupados em ago-out/20 havia sido de -936 mil pessoas e agora em nov/20-jan/21, de -693 mil, e os serviços de informática, comunicação, financeiros e imobiliários (-1,5%), que registrou apenas 164 mil ocupados a menos do que no mesmo período do ano anterior. As demais atividades neste grupo foram serviços domésticos e outros serviços.
Já as atividades que não apresentaram melhora relativa ou continuaram ampliando suas perdas foram quatro: comércio (-10,2%), indústria (-10,3%), transportes (-14,1%) e alojamento e alimentação (-28,1%). Juntas, suas perdas em nov/20-jan/21 ante o mesmo período do ano anterior responderam por 68% da queda das ocupações totais. É justamente sobre estes setores que o endurecimento das medidas restritivas a partir de mar/21 deve ter maior impacto.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação alcançou 14,2% no trimestre compreendido entre novembro de 2020 e janeiro de 2021. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, agosto de 2020 a outubro de 2020, houve retração de 0,1 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior verificou-se variação positiva de 3,0 p.p., quando registrou 11,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.521,00, apresentando variação negativa de 2,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior (ago-set-out). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve um incremento de 2,2%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 211,4 bilhões no trimestre que se encerrou em janeiro, registrando retração de 0,9% frente ao trimestre imediatamente anterior (ago-set-out), e variação negativa de 6,9% quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 227,1 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 860 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 2,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (ago-set-out), e retração de 8,6% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (94,2 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu expansão de 1,5% com 14,7 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se uma expansão de 19,8%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 100,3 milhões de pessoas, representando crescimento de 2,0% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 5,4% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (106,1 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, apenas dois agrupamentos apresentaram variações positivas: Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (1,3%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (3,1%). Na mesma base de comparação, os demais agrupamentos apresentaram decréscimos: Alojamento e alimentação (-28,1%), Serviços domésticos (-20,8%), Outros serviços (-18,4%), Transporte, armazenagem e correios (-14,1%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-11,0%), Indústria geral (-10,3%), Construção (-10,2%), e Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-1,5%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo nas categorias setor público (4,5%) e trabalho familiar auxiliar (5,2%). De outro lado, as categorias restantes apresentaram retrações: trabalho doméstico (-21,4%), trabalho privado sem carteira (-16,0%), empregador (-12,4%), trabalho privado com carteira (-11,6%) e trabalhador por conta própria (-4,4%).