Análise IEDI
Crise sanitária, crise do emprego
Os dados divulgados hoje pelo IBGE revelam que o nível de desemprego do país continua batendo recordes. A taxa de 14,4% no trimestre móvel findo em fev/21 é o mais elevado para este período desde o início da Pnad contínua em 2012. Ao todo, são 14,4 milhões de pessoas sem emprego.
Com isso, já são seis anos em que a taxa de desemprego está em patamares de dois dígitos, sem sinais de arrefecimento. De 10,2% no trimestre findo em fev/16, atingiu 13,2% em fev/17, retrocedendo muito lentamente até fev/19, quando ficou em 11,6%, antes do novo salto provocado pela pandemia.
Esse quadro gera inúmeros problemas ao país, como o empobrecimento da população, pressão sobre o gasto público com a maior demanda por serviços sociais e a desatualização das competências de nossa mão de obra, tornando mais difícil o retorno ao mercado de trabalho destas pessoas que ficaram muito tempo desempregadas. São aspectos que estreitam o mercado consumidor do país e restringem a obtenção de um crescimento econômico mais robusto.
Mas não é apenas o desemprego elevado que preocupa. O número de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas chega a quase 7 milhões, apresentando uma alta de +6,3% em relação ao trimestre findo em fev/20. São pessoas que poderiam e gostariam de trabalhar mais e não conseguem. É uma situação em que ter uma ocupação não basta, pois não assegura um nível de renda adequado.
Há também os desalentados, isto é, aqueles que pararam de buscar emprego depois de insucessos reincidentes. Somam quase 6 milhões de pessoas, compreendendo um avanço de +26,8% ante o mesmo período do ano passado.
Além destes, a pandemia fez aumentar muito o contingente daqueles que buscaram, mas se viram impedidos de assumir uma ocupação, devido a problemas de saúde, obrigações domésticas etc. São mais 5,4 milhões de pessoas, com alta de +65% em relação ao trimestre findo em fev/20.
Assim, entre desocupados, subocupados, desalentados, impedidos etc., o IBGE contabiliza 32,6 milhões de pessoas no trimestre findo em fev/21, representando um avanço de 21,9% frente a igual período do ano anterior e correspondendo a uma taxa de subutilização de quase 1/3 de da força de trabalho do país.
Em relação à evolução da ocupação, a comparação com o mesmo período do ano anterior aponta para declínio de -8,3%, para 85,9 milhões de pessoas. Embora grave, a intensidade da queda vem se reduzindo, como mostram as variações a seguir.
• Ocupação total: -12,8% jun-ago/20; -9,4% em set-nov/20 e -8,3% em dez/20-fev/21
• Ocupação na indústria: -13,4%; -9,4% e -10,8%, respectivamente;
• Ocupação no comércio: -13,6%; --10,4% e -11,1%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: -31,4%; -26,7% e -27,4%;
• Ocupação em transportes: -16,6%; -12,8% e -12,2%;
• Ocupação na construção: -19,0%; -14,5% e -9,2%, respectivamente.
Os setores de construção (-9,2%), de informação e comunicação (-1,6%) e de outros serviços (-18,1%) acompanharam a tendência de amenização das perdas da ocupação geral. O mesmo ocorreu em serviços domésticos, mas neste caso, permaneceu intenso o ritmo de queda: de -27,5% em jun-ago/20 para -20,6% em dez/20-fev/21.
Outros poucos, como a agricultura (+2,7%), menos afetada pela pandemia, e os serviços de administração pública, saúde e educação (+2,3%), com atividades beneficiadas pela pandemia, conseguiram aumentar o número de ocupados neste início de 2021.
A evolução foi adversa, contudo, para outros importantes setores, como em transportes (-12,2%) e alojamento e alimentação (-27,4%), que não apenas tiveram patamares intensos de queda, como não mostraram nenhuma amenização. Já a indústria (-10,8%) e o comércio (-11,1%), que vinham cortando menos postos, voltaram a registrar deterioração no trimestre findo em fev/21.
Conforme dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação no trimestre compreendido entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021 registrou 14,4%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, setembro de 2020 a novembro de 2020, houve retração de 0,3 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior houve variação positiva de 2,7 p.p., quando registrou 11,6%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$2.520,00, apresentando variação negativa de 2,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov), já frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior houve um incremento de 1,3%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 211,2 bilhões no trimestre que se encerrou em fevereiro, registrando retração de 2,1% frente ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov) e variação negativa de 7,4% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (R$ 227,9 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada registrou 85,9 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 0,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov), e aferiu-se retração de 8,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (93,7 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu expansão de 2,9%, com 14,4 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se expansão de 16,9%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 100,3 milhões de pessoas, representando crescimento de 0,7% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação negativa de 5,4% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (106,1 milhões de pessoas).
Com análise referente ao mesmo trimestre do ano anterior, dois agrupamentos apresentaram variações positivas: Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,3%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (2,7%). Na mesma base de comparação, os demais agrupamentos apresentaram decréscimos: Alojamento e alimentação (-27,4%), Serviços domésticos (-20,6%), Outros serviços (-18,1%), Transporte, armazenagem e correios (-12,2%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-11,1%), Indústria geral (-10,8%), Construção (-9,2%), e Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-1,6%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação comparados frente ao mesmo trimestre do ano anterior, registrou-se acréscimo nas categorias setor público (5,9%) e trabalho familiar auxiliar (2,9%). De outro lado, as categorias restantes apresentaram retrações: trabalho doméstico (-21,0%), trabalho privado sem carteira (-15,9%), empregador (-12,5%), trabalho privado com carteira (-11,7%) e trabalhador por conta própria (-3,4%).