Análise IEDI
Rápida deterioração
A piora do quadro sanitário do país e a ausência de medidas emergenciais no primeiro trimestre de 2021 fez com que a indústria pisasse no freio. Os dados divulgados hoje pelo IBGE deixam claro o retrocesso dos últimos meses: a virtual estabilidade de janeiro converteu-se em novas perdas de produção em março, passando de +0,3% para -2,4% na série com ajuste sazonal.
Com isso, ficou comprometido tudo aquilo que vinha sendo conquistado em termos de retomada da produção. O nível de atividade industrial em mar/21 foi 3,1% inferior ao de dez/20 e ficou exatamente no mesmo nível pré-pandemia, isto é, de fev/20, depois de tê-lo superado em mais de 3% na virada do ano. Isto mostra a velocidade da deterioração recente.
Além de bastante desfavorável, já que a queda de mar/21 foi a mais intensa da série com ajuste sazonal desde o choque da Covid-19 em abr/20, foi acompanhada de resultados negativos na maioria dos ramos industriais, atingindo 15 dos 26 ramos identificados pelo IBGE (58% do total). O mesmo ocorreu com os macrossetores da indústria, como mostram as variações a seguir com ajuste sazonal.
• Indústria geral: +0,3% em jan/21; -1,0% em fev/21 e -2,4% em mar/21;
• Bens de capital: +4,8%; -3,7% e -6,9%, respectivamente;
• Bens intermediários: -0,9%; +0,4% e +0,2%;
• Bens de consumo duráveis: -1,6%; -3,4% e -7,8%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +1,7%; -0,2% e -10,2%, respectivamente.
O único macrossetor a escapar na região negativa praticamente não cresceu, ficando muito próximo da estabilidade. Foi o caso de bens intermediários (+0,2% ante fev/21 com ajuste), que a despeito dos sinais de escassez de alguns insumos ao longo de todo o sistema industrial, vem se mantendo em um quadro de relativa estagnação desde a entrada de 2021. Sua produção encontra-se 0,2% abaixo no nível de dez/20.
Bens de consumo duráveis, por sua vez, em queda desde jan/21, é quem apresenta a pior sequência de resultados. Agora em mar/21 registraram -7,8% ante fev/21, já descontados os efeitos sazonais, o que fez com que seu nível de produção ficasse 12,4% abaixo de dez/20 e 12,1% abaixo do pré-pandemia. Também foi o único macrossetor a acumular perdas (-0,3%) na comparação com 1º trim/20.
Fica por conta de bens de consumo semi e não duráveis, entretanto, a queda mais intensa na passagem de fev/21 para mar/21: -10,2%, com ajuste. Sob o peso da redução do auxílio emergencial pago às famílias no final do ano passado e sua interrupção no 1º trim/21, em um quadro de desemprego recorde, a produção de alimentos ficou quase parada nos últimos dois meses, a de bebidas cai desde ago/20, a de vestuário registrou -14,1% em mar/21 e a de couros e calçados -11,2%.
Como resultado, o patamar de produção de bens de consumo semi e não duráveis de mar/21 ficou 8,9% abaixo daquele de dez/21 e, ainda mais grave, assim como nos bens de consumo duráveis, voltou a ficar aquém do nível pré pandemia: -8,6% frente a fev/20.
Por fim, os bens de capital também estão em rota descendente. Começaram 2021 crescendo +4,8% na série com ajuste sazonal, mas voltaram a cair nos meses seguintes. Registraram -6,9% em mar/21. Por ora, sua produção permanece 9% acima do patamar de fev/20, isto é, anterior ao choque da Covid-19, mas a diferença está se reduzindo rapidamente, já que em jan/21 encontrava-se 21% acima do pré-crise.
Segundo os resultados da Pesquisa Industrial Mensal para o mês de março de 2021 divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou retração de 2,4% frente ao mês de fevereiro a partir de dados livres de influência sazonal. Para o acumulado em doze meses registrou-se decréscimo de 3,1% e no acumulado no ano houve crescimento de 4,4%. Em comparação ao mesmo mês do ano anterior (março de 2020), aferiu-se incremento de 10,5%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, segundo dados sem influência sazonal, um dos cinco segmentos analisados apresentou expansão: bens intermediários (0,2%). De outro lado, apresentaram retrações os quatro segmentos considerados restantes: bens de bens de consumo (11,0%), bens semiduráveis e não duráveis (-10,2%), consumo duráveis (-7,8%) e bens de capital (-6,9%).
No resultado observado na comparação com o mês de março de 2020, os cinco segmentos analisados apresentaram acréscimos: bens de capital (29,6%), bens de consumo duráveis (12,0%), bens intermediários (9,9%), bens de consumo (7,5%) e bens semiduráveis e não duráveis (6,2%).
Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registaram-se decréscimos em quatro dos cinco segmentos analisados: bens duráveis (-18,6%), bens de consumo (-7,9%), bens semiduráveis e não duráveis (-5,0%) e bens de capital (-4,8%). A categoria de bens intermediários apresentou estabilidade.
Considerando o acumulado do ano (janeiro-março) frente a igual período do ano anterior, quatro dos cinco segmentos apresentaram variações positivas: bens de capital (20,4%), bens intermediários (4,5%), bens semiduráveis e não duráveis (1,2%) e bens de consumo (0,9%). O segmento de bens duráveis apresentou decréscimo de -0,3% nesta base de comparação.
Setores. Na comparação frente a março de 2020, houve variação positiva no nível de produção de 20 dos 26 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: impressão e reprodução de gravações (42,3%), confecção de artigos de vestuário e acessórios (36,0%), produtos do fumo (35,9%), móveis (35,8%), produtos de madeira (32,4%) e produtos de madeira (32,4%). Por sua vez, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-2,8%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-2,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-1,7%), coque, produtos derivados do petróleo e bicombustíveis (-1,1%), indústrias extrativas (-0,2%) e produtos alimentícios (-0,1%).
Por fim, na comparação do acumulado no ano de 2021 (janeiro-março) frente igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou variação positiva em 20 dos 26 ramos analisados, sendo os maiores: máquinas e equipamentos (21,3%), produtos do fumo (18,7%), produtos têxteis (18,3%), impressão e reprodução de gravações (17,4%), produtos de minerais não-metálicos (17,2%) e produtos de metal (16,7%). Em sentido oposto, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: outros equipamentos de transporte (-15,5%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-9,1%), produtos alimentícios (-3,6%), coque, produtos derivados do petróleo e bicombustíveis (-2,9%), indústrias extrativas (-2,1%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-1,8%).