Análise IEDI
Novamente no vermelho
Segundo as estatísticas do IBGE, a recuperação da indústria foi interrompida em 2021. São quatro meses seguidos em que a produção não cresce, com uma performance ainda mais desfavorável para a indústria de transformação, cujo PIB divulgado ontem registrou recuo no 1º trim/21.
Hoje o IBGE mostra que na passagem de março para abril houve queda de -1,3% para o setor como um todo, já descontados os efeitos sazonais. Como resultado da evolução recente, a produção industrial que havia conseguido superar o nível pré-pandemia (fev/20) em mais de 3% na virada do ano voltou a ficar abaixo dele em 1% agora em abr/21.
A situação neste início de ano só não é mais desanimadora porque o ramo extrativo tem conseguido crescer, estimulado pela reativação do comércio mundial e elevação dos preços de commodities. É um quadro que está mais associado ao crescimento da China e outros países asiáticos e ao avanço da vacinação nos países desenvolvidos do que a fatores nacionais.
Marca também o desempenho de abr/21 a difusão de sinais negativos entre os ramos industriais. Dos 26 acompanhados pelo IBGE, 18 ficaram no vermelho na série livre de efeitos sazonais. Isso representa uma parcela de 70% do total. Com isso, 12 ramos ficaram abaixo do pré-pandemia (46% do total). Entre os macrossetores, como pode ser visto a seguir, metade perdeu produção.
• Indústria geral: -1,0% em fev/21; -2,2% em mar/21; -1,3% em abr/21;
• Bens de capital: -3,5%; -7,1% e +2,9%, respectivamente;
• Bens intermediários: +0,3%; +0,1% e -0,8%;
• Bens de consumo duráveis: -3,5%; -7,5% e +1,6%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; -10,7% e -0,9%, respectivamente.
A produção de bens de consumo semi e não duráveis obteve sua terceira taxa negativa consecutiva em abr/21, sob influência dos ramos de alimentos (-3,4% ante mar/21, com ajuste), vestuário (-5,2%) e couros e calçados (-8,9%). É a parcela da indústria mais diretamente afetada pelo desemprego elevado, queda da massa de rendimentos reais e redução do auxílio emergencial pago às família.
Bens intermediários, por sua vez, a despeito de gargalos no acesso a alguns insumos, também ficaram no negativo. Na verdade, este macrossetor praticamente não saiu do lugar nos últimos meses, oscilando muito próximo da estabilidade. Como se trata do núcleo do sistema industrial, esta evolução evidencia a ausência de dinamismo para o setor como um todo.
Entre os que cresceram na passagem de mar/21 para abr/21, estão os bens de consumo duráveis, que interromperam a sucessão de variações negativas dos meses anteriores, em boa medida graças à reação da produção de veículos (+1,4% com ajuste). Mesmo assim, continua sendo o macrossetor mais distante do nível pré-pandemia: 10,6% abaixo de fev/20.
Já para bens de capital, depois da inflexão em fev-mar/21, a alta de +2,9% em abril pode vir a indicar que este macrossetor está retomando a dianteira da reação industrial, como foi a tônica na segunda metade do ano passado. É preciso, contudo, que este movimento tenha continuidade. A contar pelas informações interanuais do IBGE, o dinamismo de bens de capital está sendo puxado por aqueles voltados à agricultura, construção e transporte.
Segundo os resultados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de abril de 2021 divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou retração de 1,3% frente ao mês de março de 2021 a partir de dados livres de influência sazonal. Para o acumulado em doze meses registrou-se acréscimo de 1,1% e considerando o acumulado do ano houve crescimento de 10,5%. Em comparação ao mesmo mês do ano anterior (abril de 2020), aferiu-se incremento de 34,7%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (março/2021), para dados sem influência sazonal, dois dos cinco segmentos analisados apresentaram expansões: bens de capital (2,9%) e bens duráveis (1,6%). Os três segmentos restantes apresentaram retrações: bens de consumo (-0,9%), bens semiduráveis e não duráveis (-0,9%) e bens intermediários (-0,8%).
No resultado observado na comparação com o mesmo mês do ano anterior (abril/2020), os cinco segmentos analisados apresentaram acréscimos: bens de consumo duráveis (431,7%), bens de capital (124,9%), bens de consumo (41,2%), bens intermediários (25,7%) e bens semiduráveis e não duráveis (17,0%).
Para o índice acumulado nos últimos doze meses, registaram-se acréscimos em dois dos cinco segmentos considerados: bens de capital (5,1%) e bens intermediários (3,1%). Nessa base de comparação, os três segmentos analisados restantes apresentaram decréscimos: bens duráveis (-5,7%), bens de consumo (-2,7%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,9%).
Considerando o acumulado do ano (janeiro-abril), todos os segmentos apresentaram variações positivas, na seguinte ordem: bens de capital (36,4%), bens duráveis (24,1%), bens intermediários (9,1%), bens de consumo (8,3%) e bens semiduráveis e não duráveis (4,6%).
Setores. Na comparação com abril de 2020 houve variação positiva no nível de produção em 23 dos 26 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (996,5%), outros equipamentos de transporte (376,3%), couro, artigos de viagem e calçados (129,5%), confecção de artigos de vestuário e acessórios (122,2%), móveis (113,6%), produtos têxteis (104,3%) e máquinas e equipamentos (94,3%). Por sua vez, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-15,1%), produtos alimentícios (-9,1%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-7,0%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2021 (janeiro-abril) frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou variação positiva em 20 dos 26 ramos analisados, sendo os maiores: veículos automotores, reboques e carrocerias (34,3%), máquinas e equipamentos (33,9%), produtos têxteis (30,9%), produtos de minerais não-metálicos (28,8%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (27,6%), móveis (27,3%), produtos do fumo (25,1%), produtos de metal (24,8%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (24,1%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-6,6%), produtos alimentícios (-5,2%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-3,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,0%), coque, produtos derivados do petróleo e bicombustíveis (-0,8%) e indústrias extrativas (-0,7%).