Análise IEDI
2021: ano de deterioração industrial
Depois de seis meses seguidos sem crescer, a indústria surpreendeu com uma alta de +2,9% na passagem de nov/21 para dez/21, já descontados os efeitos sazonais. Foi impulsionada pela produção de veículos e de alimentos, embora o sinal positivo tenha prevalecido na maioria de seus ramos (77% do total).
Apesar disso, o quadro permaneceu fraco em comparação com o final de 2020. A indústria registra uma sequência de cinco meses de perdas, inclusive em dezembro, quando recuou -5,0% ante dez/20. O resultado é que a variação de -1,1% no 3º trim/21 avançou para -5,8% no 4º trim/21.
Assim, nada mudou no que 2021 representou para o setor, um período em que vários obstáculos, como os gargalos nas cadeias de fornecedores, crise hídrica, picos de contágio da Covid-19, redução de medidas emergenciais, aumento da inflação e dos juros etc., restringiram a evolução de sua produção.
Para quem, em dez/20, havia superado em 3,3% o nível de produção de fev/20, isto é, pré-pandemia, voltar a ficar 0,9% abaixo dele, em dez/21, indica claro retrocesso. Tanto é que a alta acumulada em jan-dez/21, de +3,9%, produzida pelas bases deprimidas de comparação, sequer foi suficiente para cobrir o recuo de -4,5% de 2020.
Ademais, 31% dos ramos acompanhados pelo IBGE fecharam o ano passado no vermelho e 73% perderam produção no 4º trim/21 frente ao mesmo período de 2020. Quanto aos macrossetores industriais, apenas bens de consumo semi e não duráveis não cresceram no acumulado de 2021 (-0,5%), mas no último trimestre foram três macrossetores no negativo, como mostram as variações interanuais a seguir.
• Indústria geral: +4,3% no 1º trim/21; +22,7% no 2º trim/21; -1,1% no 3º trim/21 e -5,8% no 4º trim/21;
• Bens de capital: +21,1%; +77,5%; +27,2% e +6,4%, respectivamente;
• Bens intermediários: +4,5%; +17,7%; -1,8% e -4,4%;
• Bens de consumo duráveis: -0,4%; +127,6%; -17,4% e -22,3%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: +1,0%; +10,9%; -3,0% e -8,1%, respectivamente.
Bens de capital ampliaram produção em out-dez/21 sob a influência positiva principalmente de bens de capital para a agricultura (+13,4%) e para a construção (+27,6%). Já a produção destes bens para a própria indústria encolheu -8,9% frente ao mesmo período do ano anterior.
Entre os resultados negativos, bens de consumo duráveis foi quem pior se saiu. Sua perda de produção veio notadamente do setor automobilístico (-22,5% ante o 4º trim/20), mas também de eletrodomésticos (-27,9%) e de móveis (-24,9%).
Já bens de consumo semi e não duráveis apresentaram forte deterioração no 4º trim/21 em têxteis (-19,1%), vestuário (-18,5%) e calçados (-16,7%). A produção de laticínios, bebidas e farmacêuticos também recuaram bastante frente ao final de 2020.
Em bens intermediários, as perdas mais intensas estiveram relacionadas aos segmentos de alimentos (-12,8%), têxteis (-19,5%) e veículos (-17,9%). Os intermediários para embalagens também registraram recuo importante: -14,8%. São resultados que expressam os gargalos na obtenção de insumos, partes e componentes que têm marcado a evolução industrial recente.
Por fim, cabe lembrar que o cenário para a indústria em 2022 não é dos mais favoráveis, em que pese o novo surto de Covid-19 devido à variante ômicron já na entrada do ano, que deve prolongar o quadro de desorganização das cadeias produtivas em escala global. Com expectativa de virtual estagnação do PIB brasileiro no presente ano (+0,3% segundo último Boletim Focus), há pouco espaço para um dinamismo industrial mais robusto.
A partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de dezembro de 2021 divulgados hoje pelo IBGE, a produção industrial nacional registrou expansão 2,9% frente ao mês anterior na série livre de influências sazonais. No acumulado no ano houve crescimento de 3,9%. Em comparação ao mesmo mês do ano anterior (dezembro de 2020), aferiu-se retração de 5,0%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (novembro/2021), para dados sem influência sazonal, todas as categorias analisadas apresentaram variações positivas: bens duráveis (6,9%), bens de capital (4,4%), bens de consumo (3,1%), bens semiduráveis e não duráveis (1,5%) e bens intermediários (1,2%).
No resultado observado frente ao mesmo mês do ano anterior (dezembro/2020), um dos cinco segmentos analisados apresentou expansão: a categoria de bens de capital (5,8%). Na mesma base de comparação, as demais categorias analisadas apresentaram variações negativas: bens duráveis (-16,8%), bens de consumo (-9,4%), bens semiduráveis e não duráveis (-7,4%) e bens intermediários (-3,9%).
Para o índice acumulado no ano de 2021, registrou-se acréscimo em três dos cinco segmentos considerados: bens de capital (28,3%), bens intermediários (3,3%) e bens duráveis (1,9%). A categoria de bens semiduráveis e não duráveis apresentou variação negativa de 0,5% e o segmento de bens de consumo apresentou estabilidade na mesma base de comparação.
Setores. Frente a dezembro de 2020, houve variação positiva no nível de produção em seis dos 26 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: impressão e reprodução de gravações (7,0%), celulose, papel e produtos de papel (6,1%), produtos de madeira (3,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (3,4%), indústrias extrativas (2,0%) e produtos alimentícios (1,8%). Por sua vez, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: confecção de artigos do vestuário e acessórios (-29,5%), produtos têxteis (-27,9%), móveis (-25,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20,0%), produtos de borracha e material plástico (-19,9%), couro, artigos de viagem e calçados (-19,5%) e produtos de metal (-19,1%).
Por fim, na comparação do acumulado no ano de 2021 (janeiro-dezembro), a produção industrial apresentou variação positiva em 18 dos 26 ramos analisados, sendo os maiores: máquinas e equipamentos (24,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (20,3%), impressão e reprodução de gravações (18,1%), outros equipamentos de transporte (15,6%), metalurgia (15,4%), produtos de minerais não-metálicos (14,0%) e produtos de madeira (12,1%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas no período foram: produtos alimentícios (-7,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-7,7%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-5,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-3,1%), móveis (-2,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,0%), coque, produtos derivados do petróleo e bicombustíveis (-0,8%) e produtos do fumo (-0,6%).