Análise IEDI
Anemia industrial
Para a indústria, o primeiro quarto do ano se encerrou com um desempenho, no mínimo, anêmico. Na passagem de fev/22 para mar/22, já descontados os efeitos sazonais, a produção do setor ficou virtualmente estagnada, ao variar +0,3%, em um patamar 0,9% inferior ao de dez/21. Ante ao mesmo período do ano passado, já são oito meses seguidos no vermelho, sendo que a queda acumulada no 1º trim/22 chegou a -4,5%.
Embora as causas imediatas possam ter variado ao longo do tempo, o quadro decepcionante da produção industrial já se arrasta por diversos anos. A bem da verdade, o setor nunca chegou a se recuperar integralmente do tombo levado da crise de 2015-2016, que fora agravado pela pandemia e seus desdobramentos.
Tanto é assim que o nível de produção em mar/22 está nada menos do que 15% abaixo do que era em mar/14. E, por pior que isto seja, há setores com defasagens muito maiores, como por exemplo, veículos (-27,3% ante mar/14), têxteis (-28,0%), máquinas e aparelhos elétricos (-30,8%), equipamentos de informática e eletrônicos (-35,3%), vestuário (-37,5%), móveis (-37,7%) e outros equipamentos de transporte (-47,2%).
Não é pequena a parcela da indústria presa em níveis inferiores de produção: 73% dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE tem quedas de dois dígitos frente a mar/14, isto é, antes da recente fase de declínio da indústria. E também é largamente majoritária a participação dos ramos que ficaram no vermelho no acumulado do 1º trim/22: 80% dos 26 acompanhados, sinalizando que os últimos sinais não são muito promissores.
Ao todo, temos três trimestres consecutivos de declínio industrial e a grande diferença do 1º trim/22 em relação aos demais é que não há mais exceções: todos os macrossetores ficaram no vermelho, como mostram as variações a seguir. E mais, a fração dos ramos em queda não parou de aumentar, indicando uma disseminação do sinal negativo. No 3º trim/21, 54% dos ramos perderam produção, no 4º trim/21 foram 69% e agora no 1º trim/22, como vimos, 80% deles.
• Indústria geral: -1,1% no 3º trim/21; -5,8% no 4º trim/21 e -4,5% no 1º trim/22;
• Bens de capital: +27,0%; +5,5% e -2,6%, respectivamente;
• Bens intermediários: -1,8%; -4,6% e -3,4%;
• Bens de consumo duráveis: -17,4%; -22,1% e -18,3%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -2,9%; -8,0% e -4,4%, respectivamente.
Até bens de capital, que vinham crescendo, resvalaram para terreno negativo no 1º trim/22, embora em mar/22 (+4% ante mar/21) seu quadro tenha registrado algum progresso. Neste princípio de 2022, o maior freio coube à produção de bens de capital para a própria indústria, que após cair -9,5% em out-dez/21 recuou -13,8% em jan-mar/22. É mais um indicativo que a indústria não vai bem.
Bens intermediários amenizou pouco seu ritmo de queda em comparação com o resultado do final do ano passado e muito disso se deveu aos intermediários de alimentos (+2,9%), cuja produção voltou ao azul, e de veículos (-8,0%), com um recuo menos intenso. Outros segmentos seguiram encolhendo tanto quanto antes: intermediários de têxteis (-21,6%), de metalurgia (-4,6%), embalagens (-15,7%) e insumos para construção (-9,6%).
Também pouco atenuaram seu retrocesso os bens de consumo duráveis, devido a um aprofundamento da queda na produção de móveis (-36,1% ante jan-mar/21) e manutenção do ritmo de queda de eletrodomésticos (-25,3%). Quem perdeu um pouco menos foi a produção de veículos (-16,3%), mas não o suficiente para sugerir uma mudança de rota.
Por fim, bens de consumo semi e não duráveis foram o macrossetor em que o declínio se tornou menos agudo, devido ao crescimento do ramo de carnes (+14,2% ante jan-mar/21), favorecido pela retomada de exportações para o mercado chinês, e da produção de álcool e gasolina (+5,8%). Uma queda menor no ramo de bebidas (-2,1%) também contribuiu. Em oposição, no 1º trim/22 não houve melhora em calçados, têxteis, vestuário e farmacêutica e farmoquímica.
Segundo os dados para o mês de março de 2022 da Pesquisa Industrial Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou expansão de 0,3% frente a fevereiro na série livre de influências sazonais. No acumulado em doze meses registrou-se acréscimo de 1,8% e considerando o acumulado do ano, houve retração de 4,5%. Em comparação ao mesmo mês do ano anterior (março de 2021), aferiu-se retração de 2,1%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (fevereiro/2022), para dados sem influência sazonal, três das cinco categorias analisadas apresentaram variação positiva, na seguinte ordem: bens de capital (8,0%), bens duráveis (2,5%) e intermediários (0,6%). As variações negativas foram verificadas em bens de consumo (-2,5%) e bens semiduráveis e não duráveis (-3,3%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior (março/2021), quatro das cinco categorias analisadas apresentaram variação negativa, na seguinte ordem: bens duráveis (-12,8%), bens de consumo (-3,8%), bens intermediários (-2,2%) e bens semiduráveis e não duráveis (-1,2%). A categoria de bens de capital cresceu 4,4%.
Para o índice acumulado no ano de 2022, registrou-se decréscimo nas cinco categorias analisadas, na seguinte ordem: bens duráveis (-18,3%), bens de consumo (-7,4%), bens semiduráveis e não duráveis (-4,4%), bens intermediários (-3,4%) e bens de capital (-2,6%).
Na análise do acumulado em 12 meses, dois dos cinco segmentos analisados apresentaram variação positiva: bens de capitais (20,9%) e bens intermediários (1,3%). Em sentido oposto, as três categorias restantes apresentaram variação negativa: bens semiduráveis e não duráveis (-1,7%) e bens de consumo (-1,9%) e bens duráveis (-2,9%).
Setores. Na comparação de março de 2022 com o mesmo mês do ano anterior (março de 2021), houve variação positiva no nível de produção em oito dos 26 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: produtos do fumo (17,9%), bebidas (12,0%), outros produtos químicos (8,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (2,5%), produtos alimentícios (1,5%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (1,4%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (1,4%) e couros e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (1,1%). Por outro lado, as maiores variações negativas ficaram por conta dos seguintes setores: sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (-10,1%), produtos diversos (-12,9%), produtos de borracha e de material plástico (-14,5%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-15,9%), produtos têxteis (-17,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-20,8%), móveis (-22,7%) e gravações (-28,9%).
Na comparação do acumulado no ano de 2022 (janeiro-março), houve expansão da produção industrial em seis dos 26 ramos analisados, com as maiores variações observadas em: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (13,0%), produtos do fumo (11,5%), bebidas (4,5%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (3,1%), produtos alimentícios (3,0%) e outros produtos químicos (0,91%). Por outro lado, os setores que apresentaram as maiores variações negativas foram: produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-14,3%), produtos de borracha e de material plástico (-14,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-18,0%), produtos têxteis (-18,7%), gravações (-22,51%) e móveis (-25,9%).
Por fim, no acumulado em 12 meses a produção industrial apresentou variação positiva em 13 dos 26 ramos analisados, sendo as mais expressivas observadas nos seguintes segmentos: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (24,5%), máquinas e equipamentos (17,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (15,3%), metalurgia (11,6%), gravações (10,2%) e produtos de madeira (8,4%). De outra maneira, as categorias restantes apresentaram variação negativa, sendo as maiores: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-3,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos(-6,1%), produtos alimentícios (-7,0%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (-7,3%) e móveis (-13,0%).