Análise IEDI
Desempenho resiliente
Nos três últimos meses, as vendas reais do comércio varejista vêm perdendo fôlego, muito embora o terreno negativo tenha sido evitado. Tomado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças, atacarejo e material de construção, o setor ficou virtualmente estagnado em jul/24, já descontados eventuais efeitos sazonais.
O resultado mais recente, divulgado hoje pelo IBGE, foi de +0,1% para o varejo ampliado, após +0,3% em jun/24 e +0,8% em mai/24, sempre com ajuste sazonal. A trajetória no conceito restrito do setor tem apresentado maior variabilidade e agora neste início de semestre voltou a crescer: +0,9% em mai/24; -0,9% em jun/24 e +0,6% em jul/24.
Também vale notar que 40% dos ramos identificados pelo IBGE não conseguiram crescer na passagem de jun/24 para jul/24. O pior caso foi de artigos farmacêuticos e farmoquímicos, com -1,5%, com ajuste sazonal, seguido por combustíveis e lubrificantes (-1,1%). Outros dois ramos ficaram virtualmente estagnados: material de construção (-0,2%) e livros, jornais, papelaria (+0,1%).
Estes sinais incipientes de acomodação ainda não impactam o desempenho do setor em comparação com um ano atrás, que segue robusto e resiliente, apoiado na melhora do mercado de trabalho e no aumento real da renda das famílias. No acumulado jan-jul/24, o varejo ampliado registra +4,7% ante jan-jul/23, mesmo dinamismo do último trimestre móvel findo em jul/24.
• Varejo ampliado: +2,1% em jan-jul/23 e +4,7% em jan-jul/24;
• Varejo restrito: +1,5% e +5,2%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +2,7% e +5,6%;
• Tecidos, calçados e vestuário: -7,5% e +0,5%;
• Artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria: +3,0% e +14,3%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -12,5% e +8,1%;
• Veículos e autopeças: +6,0% e +13,4%;
• Material de construção: -3,0% e +3,4%, respectivamente.
O ano de 2024 tem sido melhor do que 2023 para o varejo como um todo, ainda que entre os grandes setores da economia a maior reviravolta continue sendo o da indústria. No contraste entre o resultado acumulado no ano até o mês de julho, as vendas do varejo ampliado progrediram de +2,1% em 2023 para +4,7% em 2024 (de +1,5% para +5,2% para o varejo restrito).
Este movimento tem recebido importante influência de ramos cujos mercados respondem mais diretamente ao quadro do emprego e da renda corrente. É notadamente o caso de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujas vendas passaram de um crescimento de +2,7% em jan-jul/23 para +5,6% em jan-jul/24, mas também de artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria, de +3,0% para +13,4%.
Neste grupo podem ser igualmente incluídas as vendas de tecidos, vestuário e calçados, que passaram de -7,5% em jan-jul/23 para +0,5% em jan-jul/24. Ao menos em parte, também é o caso de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que saiu de -12,5% para +8,1%.
Dizemos “em parte” para este ramo de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento, porque para suas vendas o crédito é importante e porque também estão sujeitas a outro fator de estímulo, que é o dinamismo da construção civil.
Como vimos recentemente nas Contas Nacionais, o PIB da construção cresceu +3,3% em jan-jun/24 ante +1,0% em jan-jun/23, na comparação interanual. Outro dado ilustrativo vem da Secovi-SP, que aponta uma expansão de +46,4% no lançamento de unidades residenciais na cidade de São Paulo em jan-jul/24 frente a jan-jul/23.
Outros dois ramos do varejo podem estar sendo estimulados por este fator: material de construção, que em 2024 acumula alta de +3,4% até julho ante -3,0% em jan-jul/23, e móveis, que passou de uma queda de -7,2% para uma alta de +4,8% no período em tela.
Construção, móveis, artigos de uso doméstico e eletrodomésticos, que apesar de alguma desaceleração seguem crescendo, em geral, têm mercados dinamizados pelas condições de crédito. Por isso, os efeitos diferidos sobre as taxas de empréstimo do último ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central são outro destacado fator de estímulo.
Isso também está por trás da principal alavanca do crescimento do varejo em 2024, o ramo de veículos e autopeças, que respondeu por 51% da alta das vendas do comércio ampliado em jan-jul/24. Além de ser um ramo com grande peso no varejo, sua alta também é expressiva em 2024: +13,4% no acumulado até julho, isto é, mais do que o dobro do resultado de jan-jul/23 (+6%).
Além da queda dos juros, o novo Marco das Garantias, ao simplificar a execução do veículo dado como garantia, abriu espaço para estratégias mais agressivas de financiamento por parte dos bancos das montadoras. Neste sentido, vale mencionar que as concessões a pessoas físicas para aquisição de veículos acumularam avanço de quase 40% no primeiro semestre de 2024, já descontada a inflação.
A partir dos dados de julho de 2024 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou crescimento de 0,6% frente ao mês imediatamente anterior (junho/2024), na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de julho de 2023, houve acréscimo de 4,4%. No acumulado nos últimos doze meses aferiu-se crescimento de 3,7%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças, de materiais de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, registrou-se incremento de 0,1% em relação a junho de 2024, a partir de dados livres de influências sazonais. Com relação ao desempenho comparado ao mês de julho de 2023, houve crescimento de 7,2%, enquanto que no acumulado nos últimos 12 meses verificou-se aumento de 3,8%.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (junho/2024), cinco das oito atividades pesquisadas apresentaram expansão: equipamentos e material para escritório informática e comunicação (2,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,1%), tecidos, vestuário e calçados (1,8%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,7%) e móveis e eletrodomésticos (1,4%). Livros, jornais, revistas e papelaria (0,1%) registrou variação próxima da estabilidade. As demais atividades registraram queda: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,5%) e combustíveis e lubrificantes (-1,1%).
Em relação ao mesmo mês do ano passado (julho de 2023), seis dos oito segmentos analisados apresentaram expansão: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (16,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (10,6%), móveis e eletrodomésticos (8,1%), tecidos, vestuário e calçados (5,2%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,0%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (0,3%). Já livros, jornais, revistas e papelaria (-5,0%) e combustíveis e lubrificantes (-4,3%) apresentaram queda. No varejo ampliado, veículos e motos, partes e peças (20,3%), material de construção (11,0%) e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,6%) apresentaram variação positiva.
Na análise do acumulado no ano (janeiro-julho), os resultados mostram que seis dos oito setores cresceram: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (14,3%), outros artigos de uso pessoal (8,1%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (5,6%), móveis e eletrodomésticos (3,3%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,7%) e tecidos, vestuário e calçados (0,5%). Por outro lado, os setores em queda foram: combustíveis e lubrificantes (-2,2%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-7,3%).
Por fim, comparando julho de 2024 com o mesmo mês do ano anterior (julho/2023), 25 das 27 unidades federativas apresentaram crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo os maiores: Tocantins (18,1%), Paraíba (18,0%) e Piauí (16,4%). Em contrapartida, Roraima apresentou estabilidade (0,0%) e Rio Grande do Sul queda (-4,6%).