Carta IEDI
O ranking da indústria mundial sob a Covid-19
Em 2020, a indústria mundial perdeu 7,4% de sua produção até o mês de maio devido à pandemia de Covid-19, como mostraram na semana passada os dados mais recentes divulgados pelo CPB Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis, que acompanha mensalmente o desempenho do setor.
Embora as quedas tenham afetado os parques industriais de todas as regiões do globo, diretamente, devido às medidas de isolamento e distanciamento social nas áreas mais afetadas pelo coronavírus, ou indiretamente, por meio do declínio do crescimento econômico e do comércio internacional, os resultados se mostram bastante assimétricos quanto a sua intensidade.
No agregado das economias avançadas, onde a indústria recuou -9,5% em jan-mai/20 frente a igual período do ano anterior, a região mais prejudicada é a Zona do Euro, com resultado de -13,6%. Nas economias emergentes, cuja produção industrial caiu -5,5% no mesmo período, é a América Latina quem apresenta o pior desempenho: -12,5%.
A gravidade da crise sanitária e a efetividade das respostas dos governos para fortalecer os sistemas de saúde bem como para preservar empregos e o funcionamento das empresas são fatores importantes para explicar as diferenças de resultado.
No caso da América Latina, como já haviam alertado organizações internacionais como o FMI e o Banco Mundial, o desafio imposto pela pandemia tende a ser mais grave, dado o elevado nível de informalidade de suas economias, dificultando a adoção de medidas mais rígidas de isolamento social, a limitada capacidade de seus sistemas de saúde, a dependência da exportação de commodities e, em muitos países, a participação importante do financiamento externo e do turismo.
Outro aspecto a provocar situações distintas no desempenho industrial dos países é que nem todos se encontram na mesma fase da crise. Alguns já controlaram o surto mais grave de Covid-19 e estão há mais tempo em rota de normalização de sua economia, como é o caso da China. Outros conseguiram agir rapidamente e impediram o espalhamento do vírus, como a Noruega.
Há ainda aqueles que começam a flexibilizar o lockdown que até pouco vigorava, como em muitos países europeus. E há também quem ainda não tenha conseguido obter sinais de que o número de casos e de mortes por coronavírus esteja em desaceleração, como em muitos latino-americanos, a exemplo do Brasil.
A despeito dos diferentes momentos em que os países se encontram frente à pandemia, o resultado acumulado nos cinco primeiros meses de 2020 indica que a indústria de pouquíssimos países tem conseguido contornar os efeitos adversos da pandemia. Um levantamento do IEDI feito com 43 países mostra que em 86% dos casos tem ocorrido perda de produção no setor.
Os dados utilizados são da OCDE, IBGE, Eurostat e do National Bureau of Statistics of China. Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
Cabe observar também que, em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2020 em alguns poucos casos foi somente até o mês de abril.
Deste grupo de 43 países, além de a grande maioria ter ficado no vermelho, mais da metade (58%) registrou um ritmo de queda igual ou mais intenso que o total da indústria mundial de -7,4%, segundo os dados mais recentes do CPB. Um recuo de dois dígitos foi registrado por nada menos do que 40% da amostra.
No ranking construído pelo IEDI, o Brasil, com -10,7%, aparece neste grupo em pior situação, mas ao menos não estamos no final da fila. A indústria brasileira ocupa a 30ª posição e está à frente de países como Reino Unido, Portugal, Alemanha, África do Sul, Espanha, França e Itália.
A questão é que muitos destes abaixo de nós no ranking tendem a apresentar aceleração nos próximos meses em função do maior controle sobre a curva epidemiológica da Covid-19 e o fim do lockdown, desde que isso não traga novos surtos. O Brasil, por sua vez, continua vendo a interiorização do coronavírus e a manutenção de elevado número de novos casos.
Em contraste, entre as primeiras posições do ranking estão países que mais rapidamente controlaram a pandemia, como a Noruega (+4,4%) e a Coreia do Sul (+0,7%). A indústria da China ainda registra variação negativa, mas está em um movimento de rápida atenuação, como sugere a redução da queda acumulada em 2020 de -8,5% até março para apenas -1,3% até junho.