Carta IEDI
O Impacto da Covid-19 na indústria mundial
De acordo com o acompanhamento trimestral da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization), a produção industrial mundial assinalou forte retração no segundo trimestre de 2020, aprofundando muito a trajetória declinante do setor iniciada ainda em 2018.
O recuo da produção de manufaturas no 2º trim/20 chegou a -5,6% ante o trimestre anterior e a -11,2% frente ao mesmo período do ano passado, já descontados os efeitos sazonais. Este resultado foi decorrente dos efeitos da pandemia de Covid-19, que atingiram fortemente todos os grupos de países.
Muito desse resultado deveu-se ao mau desempenho das indústrias de média-alta e alta intensidade tecnológica, que congregam muitos ramos de bens de capital e de consumo duráveis. Juntas, acusaram queda de -10,4% no 2º trim/20, liderando o declínio industrial.
Além dos efeitos diretos da pandemia, o aumento da incerteza, ao prejudicar as decisões de investimento e de consumo de bens duráveis, deprimiu a demanda por esses bens de maior intensidade tecnológica.
Segundo a UNIDO, nas nações industrializadas a queda da indústria de transformação como um todo foi de -16,4% em abril-junho/20, sucedendo um recuo -2,4% no trimestre anterior, quando comparados aos mesmos períodos de 2019.
Tal desempenho envolveu todos os países do grupo: na América do Norte, houve queda de -16,5%, nos países da Europa as perdas foram de -19,3% e os países desenvolvidos da Ásia assinalaram -12,9% na comparação interanual.
Nas economias emergentes e em desenvolvimento, por sua vez, dado seu nível de informalidade e menores condições de adotaram planos emergenciais vultosos e eficazes, a queda industrial foi ainda mais acentuada. A manufatura desses países decresceu -22% ante o 1º trim/20 e -20,3% em relação ao 2º trim/19.
Dentre os emergentes, a América Latina continuou sendo o destaque negativo: -24,2% em abr-jun/20 frente ao mesmo trimestre do ano anterior e -21,4% frente ao 1º trim/20. Esse resultado deveu-se, principalmente, aos resultados negativos das indústrias do Brasil (-22,1%), da Argentina (-22,6%) e do México (-29,8%).
A China, que foi o primeiro país atingido pela Covid-19, teve perdas mais concentradas em jan-mar/20, chegando a -13,9% frente ao mesmo período do ano anterior. No 2º trim/20, porém, já mostrou recuperação, registrando aumento na produção industrial de +2,8%.
Para 2020 como um todo, as projeções da UNIDO para a indústria de transformação chinesa continuam apontando para um crescimento de +5,5%, isto é, positivo, porém em magnitude inferior ao de anos anteriores.
A partir de dados dos próprios países, da OCDE e da Eurostat, o IEDI atualizou um ranking internacional de crescimento da produção indústria em quarenta e três países, com dados do desempenho acumulado no ano de 2020, até a entrada do segundo semestre.
Dentre estes 43 países, o Brasil ocupou a 26ª colocação, ao apresentar declínio de -9,7% no acumulado do ano até jul/20. Ainda assim, ficou à frente de países como Reino Unido (-11,4%), Alemanha (-14,5%), Espanha (-15,2%), França (-15,4%) e Itália (-18,3%).
A indústria de transformação mundial no segundo trimestre de 2020
O relatório da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) divulgado recentemente mostra os efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a atividade econômica mundial, a partir do desempenho da indústria de transformação, cuja tendência declinante, iniciada em 2018, foi profundamente agravada em 2020.
No segundo trimestre de 2020, a indústria de transformação mundial assinalou queda aguda de -11,2% frente ao mesmo período de 2019, depois de já ter declinado -6,0% no trimestre anterior. Na comparação com jan-mar/20, já descontados os efeitos sazonais, a indústria registrou queda de -5,6%, após decréscimo de -6,9% no primeiro trimestre do presente ano.
Tal recuo da atividade econômica é o primeiro de tamanha magnitude desde a crise financeira de 2008/2009. Segundo a UNIDO, ainda é necessário aguardar para que seja verificado se o padrão de recuperação desta crise seguirá o mesmo da crise anterior, quando após quatro trimestres de quedas consecutivas, a produção industrial registrou variações positivas excepcionais.
O cenário do segundo trimestre refletiu o choque global causado pela pandemia de COVID-19, deixando as incertezas que marcaram os trimestres anteriores, como aquelas derivadas dos conflitos comerciais entre EUA e China, para segundo plano.
A disseminação do coronavírus forçou os governos a intervir na economia, mas, segundo a UNIDO, o impacto positivo dessas políticas ainda é incerto. Ademais, analistas já esperam uma segunda onda de contágio e nova queda abrupta do produto industrial.
A UNIDO também argumenta que a redistribuição da produção manufatureira no sentido das economias mais industrializadas pode se acelerar, já que estas buscarão uma redução da dependência por produtos importados por meio de políticas industriais ativas.
O resultado negativo em abril-junho/20 deveu-se à queda da produção em todos os grupos de países. As nações industrializadas, que iniciaram as medidas de lockdown no fim do primeiro trimestre, registraram queda de -16,4% da atividade industrial em comparação com o mesmo período de 2019. No primeiro trimestre o recuo havia sido de -2,4%.
Nas economias em desenvolvimento e emergentes, excluindo a China, o resultado foi ainda pior, chegando a um recuo de -22,0% no segundo trimestre contra -2,3% em janeiro-março/20, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior.
A China, que foi o primeiro país atingido pelo coronavirus, concentrou suas perdas no primeiro trimestre de 2020, quando registrou -13,9% frente ao primeiro trimestre de 2019. No segundo trimestre, a produção industrial chinesa obteve recuperação, assinalando variação de +2,8% frente ao mesmo período do ano passado.
Resultado das economias industrializadas
No segundo trimestre de 2020, a indústria de transformação nas economias industrializadas registrou forte contração causada pela pandemia de Covid-19. As economias avançadas registraram queda de -16,4% na produção em abril-junho de 2020, após um recuo de -2,4% no trimestre anterior. Em relação ao primeiro trimestre do ano, na série com ajuste sazonal, a queda foi de -14,6%.
Cabe destacar que a produção da indústria de transformação desse grupo de países vem apresentando desaceleração desde o fim de 2018, em função das disputas comerciais e tarifárias entre EUA, China e União Europeia, além das incertezas do Brexit.
Na América do Norte, o recuo de -16,5% no segundo trimestre foi resultado da queda da indústria dos Estados Unidos, que registraram variação de -15,8%, após recuo de -2,0% no trimestre anterior.
As economias desenvolvidas do Leste Asiático registraram recuo de -12,9% no segundo trimestre de 2020, após estabilidade no primeiro quarto de 2020. A produção da indústria japonesa, maior potência industrial da região, obteve variação de -20,3% em abril-junho de 2020, após queda de -4,2% no trimestre anterior. Em direção oposta, Taiwan registrou avanço na produção industrial, de +5,3% devido ao setor de computadores e eletrônicos.
As economias europeias, a seu turno, apresentaram recuo de -19,3% na produção manufatureira, aprofundando as perdas industriais dos trimestres anteriores em que estavam sob incertezas decorrentes do Brexit e de outras restrições comerciais.
Os dados desagregados mostram que a queda da produção de manufaturas tem afetado mais os países da Área do Euro: a indústria italiana registrou variação de -27,8%; a produção da Espanha, de -26,5%; na Alemanha houve queda de -22,8% e a França, de -25,2%.
Fora da zona do Euro, o destaque negativo na Europa ficou a cargo da indústria britânica, que também assinalou decréscimo agudo de -22,0%.
Resultados nas economias em desenvolvimento e emergentes
A indústria de transformação chinesa foi a mais afetada pelo surto de Covid-19 no primeiro trimestre de 2020. Entretanto, os dados do segundo quarto do ano já registram uma rápida recuperação da produção.
Os dados com ajuste sazonal indicam um avanço na China de +2,8% frente ao mesmo período de 2019 e de +20,0% frente ao trimestre imediatamente anterior.
A maior parte dos setores da indústria chinesa registrou crescimento no segundo trimestre de 2020, com apenas algumas exceções, como artigos de vestuário (-7,4%), móveis (-7,9%) e produtos de couro (-11,1%). Computadores e eletrônicos (+11,2%), equipamentos elétricos (+6,8%) e maquinário (+6,3%) puxaram o crescimento no segundo trimestre de 2020.
Nas demais economias em desenvolvimento da Ásia, houve decréscimo de -23,7% no período de abril-junho de 2020 relativamente a igual período de 2019. A produção industrial no Vietnã assinalou variação de -5,4%, de -10,1% na Mongólia, -18,8% na Tailândia, -26,6% no Paquistão, -40,2% nas Filipinas e -41,6% na Índia.
A indústria de transformação da América Latina registrou -24,2% no segundo trimestre de 2020 frente mesmo trimestre do ano anterior. O resultado foi influenciado pelas retrações da indústria de transformação argentina (-22,6%), mexicana (-29,8%) e brasileira (-22,1%). Por outro lado, o Equador foi um dos poucos países a registrar avanço na produção industrial, com acréscimo de +1,4% no segundo trimestre do ano.
As economias emergentes da África, a seu turno, apontaram para recuo de -12,4% da produção industrial, devido principalmente ao desempenho da indústria de transformação da Nigéria (-7,8%), Senegal (-3,3%) e África do Sul, que registrou uma queda abrupta de -32,9%.
A indústria de transformação das demais economias em desenvolvimento registrou um decréscimo de -17,8%. Este resultado deveu-se principalmente à Turquia, maior produtor industrial do grupo, que assinalou -17,6%. Todos os outros países do grupo também perderam produção, porém com perfil variado: Grécia (-7,2%) e Ucrânia (-7,8%) registraram quedas menos acentuadas na produção, enquanto a Macedônia do Norte (-29,3%) e Romênia (-29,7%) ficaram entre os países mais afetados.
Análise setorial
Segundo a UNIDO, os três grupos de produtos por intensidade tecnológica, que já tinham apresentado decréscimo no primeiro trimestre de 2020, passaram por deterioração adicional no segundo trimestre. Queda de tamanha magnitude só havia sido relatada durante a crise financeira de 2008/2009.
O crescimento do grupo de produtos de média intensidade tem se enfraquecido desde o início de 2019. A pandemia aprofundou essa tendência, resultando em variação negativa de -12,4% no segundo trimestre de 2020 frente ao mesmo período do ano anterior. Este resultado pode ser atribuído à queda na produção de produtos minerais não metálicos (-8,2%), metais básicos (-10,4%) e produtos de borracha (-14,6 %).
No trimestre de abril a junho de 2020, relativamente a igual período do ano anterior, o grupo de média-alta e alta intensidade tecnológica apresentou variação de -10,4%.
Além dos atuais efeitos da pandemia de COVID-19, outro fator decisivo para o declínio do segmento de maior intensidade tecnológica desde 2018 têm sido o crescimento das incertezas relacionadas às restrições comerciais, com uma significativa influência sobre as decisões de demanda de seus bens.
Dessa forma, a produção de máquinas e veículos assinalaram grandes reduções na produção nos últimos trimestres, sendo a do segundo trimestre a maior entre todos os setores (-37,3%). Por outro lado, a fabricação de computadores, eletrônicos e produtos ópticos e farmacêuticos cresceram +2,9% e +1,8%, respectivamente.
De acordo com a UNIDO, a produção de bens essenciais, como alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos, foi menos afetada pela Covid-19. A produção de produtos farmacêuticos registrou alta moderada em todos os grupos de países no segundo trimestre de 2020. A produção de bens de capital e bens duráveis, como máquinas e equipamentos, veículos e móveis, por sua vez, caiu drasticamente. Da mesma forma, têxteis, vestuário e couro assinalaram variações bastante negativas no segundo trimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019.
Projeções da UNIDO para 2020
Segundo relatório UNIDO, as previsões para indústria manufatureira indicam uma queda de -8,4% em 2020, principalmente devido as estratégias de contenção da pandemia de Covid-19, como lockdowns econômicos e sociais. Essas medidas tiveram um grande impacto na demanda, dado o medo do desemprego, as proibições de viagens, as mudanças de habito com o trabalho remoto, etc., e na oferta, visto que a produção de certos bens foi interrompida em todo o mundo por vários meses.
O ano anterior já havia apontado para uma desaceleração no crescimento da manufatura, principalmente por causa das tensões comerciais e tarifárias entre os dois maiores produtores industriais do mundo, China e Estados Unidos. De acordo com as projeções do relatório, a indústria dos EUA deverá cair -15,0% em 2020 frente a 2019, enquanto a indústria chinesa deverá registrar um crescimento mais modesto, de +5,5% no mesmo período.
As economias em desenvolvimento e emergentes deverão ter uma perda de -4,0% no valor adicionado da indústria em 2020 frente a 2019, comparado com o crescimento de +1,0% em 2019. A estimativa é de que a indústria na América Latina registre uma queda de -9,7%, aprofundando o declínio já observado em 2019.
Ranking Mundial da Indústria
A partir dos dados coletados pela OCDE, IBGE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da produção da indústria geral com 43 países para o acumulado do ano de 2020.
Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
Cabe observar também que, em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2020 será até junho, porém para alguns casos considera o período de janeiro-julho.
O resultado da indústria no Brasil no período janeiro-julho/20 foi negativo, chegando a -9,7%. A indústria brasileira já assinalava tendência declinante desde 2019, mas os dados recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) refletem sobretudo os efeitos da pandemia de Covid-19.
Esse desempenho negativo colocou o Brasil na 26ª colocação entre os 43 países da amostra selecionada pelo IEDI no acumulado do ano de 2020. Os dados de julho mostram que a indústria chinesa, apesar de ainda ter registrado queda (-0,4%) frente ao mesmo mês de 2019, já apresentou melhora substancial, visto que a queda nos meses anteriores foi de magnitude muito maior: -13,5% em fevereiro, -8,4% em março, -4,9% em abril; -2,8% em maio e -1,3% em junho.