Carta IEDI
Reação da indústria mundial à crise da Covid-19
Como já vinha se desenhando ao longo do ano, o quadro da indústria mundial em 2020 foi fortemente contracionista. O último relatório da UNIDO, recentemente divulgado, indica queda de -4,1% da produção da indústria de transformação no mundo todo.
O 4º trim/20, entretanto, contribuiu para que a perda não fosse ainda maior, ao registrar alta de +3,9% ante o trimestre anterior, já corrigidos os efeitos sazonais, e de +2,4% frente ao 4º trim/19. Maior dinamismo veio de ramos de mais intensidade tecnológica, segundo a UNIDO.
Este resultado deu continuidade aos primeiros sinais de recuperação registrados no 3º trim/20 e foi impulsionado pela evolução das economias em desenvolvimento. Os países industrializados, ao experimentarem uma nova onda de contaminações por Covid-19 a partir de out/20, perderam dinamismo e permaneceram abaixo do nível de produção do final de 2019. Isso sugere a vulnerabilidade que a reação industrial ainda tem em relação à evolução da pandemia.
A expansão da indústria de transformação nas nações industrializadas refluiu de +12,6% no 3º trim/20 para +3,4% no 4º trim/20 na comparação com o período anterior, mantendo o resultado ante o mesmo trimestre de 2019 mais uma vez no vermelho: -1,6% no 4º trim/20.
Tal desempenho deveu-se a quase todos os grupos de países industrializados: na América do Norte houve queda de -3,1% e os países europeus recuaram -1,3%. Já os países desenvolvidos da Ásia ficaram estagnados ao registrarem variação de apenas +0,1%.
As economias emergentes e em desenvolvimento (exceto China), por sua vez, assinalaram crescimento de +5,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de +1,0% frente ao mesmo período de 2019. Nesta última comparação foi a primeira taxa positiva depois do choque da Covid-19.
Neste grupo de países, a América Latina conseguiu crescer +5,7% frente ao trimestre anterior e +2,2% frente ao 4º trim/19. Muito disso deveu-se principalmente aos resultados das indústrias da Argentina (+2,2%) e do Brasil (+5,2%), enquanto a indústria mexicana assinalou queda de -0,5%.
Já a China, que foi o país mais atingido pela Covid-19 no início de 2020, levando a uma queda de -13,9% de sua produção industrial no 1º trim/20 ante 1º trim/19, recuperou-se mais rapidamente que o restante do mundo ao mostrar maior eficácia para conter o surto de Covid-19. No 4º trim/20, sua indústria cresceu +9,4% ante o mesmo período do ano anterior, fechando 2020 com alta de +1,3%.
A partir de dados da indústria de um conjunto de 42 países, IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da produção indústria no acumulado de 2020. Neste ranking, o Brasil ocupou uma posição intermediária, ficando na 21ª colocação, com recuo de -4,7%.
Mesmo com o resultado negativo, a indústria brasileira ficou à frente de países como EUA (-6,6%), Espanha (-9,6%), Japão (-9,7%), França (-10,3%), Alemanha (-10,6%) e Itália (-11,0%). Vale lembrar, porém, que no caso do Brasil a deterioração do quadro sanitário veio a ocorrer agora em 2021, enquanto nos países industrializados, como mencionado anteriormente, tem início já em 2020. Isso pode fazer com que desçamos alguns degraus do ranking nos próximos meses.
A indústria de transformação mundial no quarto trimestre de 2020
O relatório trimestral da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) mostra que, após severa crise nos primeiros seis meses de 2020, reflexo dos efeitos da pandemia de Covid-19, a atividade econômica mundial deu continuidade aos seus sinais de recuperação: +3,9% ante o 3º trim/20 e +2,4% frente ao 4º trim/19.
Apesar disso, essa recuperação no final do ano passado se mostrou bastante desigual entre as diferentes regiões e grupos de países, visto que em muitos casos houve uma segunda onda de infecções já a partir de outubro/2020, obrigando-os a retomar medidas mais restritivas de isolamento social.
Cabe destacar que, apesar do início da vacinação, especialmente nos países avançados, o grau de incerteza em relação à recuperação ainda é muito alto, não sendo possível prever exatamente quando tais restrições adicionais poderão ser retiradas. Além disso, a exemplo do Brasil, novos países estão sendo atingidos por picos adicionais de contágio neste início de 2021.
Para a UNIDO, as análises e perspectivas para curto prazo estão sujeitas a divergências, pois o cenário dependerá das possíveis novas mutações do vírus e da distribuição da vacina pelo mundo. Ademais, o relatório enfatiza que os próximos meses também irão indicar se haverá uma redistribuição de caráter permanente da produção manufatureira mundial, em resposta às iniciativas nacionais para reduzir sua dependência por bens essenciais importados. Ou seja, as incertezas não serão dissipadas rapidamente.
O avanço de 3,9% da indústria mundial, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, veio após alta de 12,2% do trimestre anterior e quedas de -4,6% no 2º trim/20 e de -6,9% no 1º trim/20.
Já em comparação com o mesmo período de 2019, o crescimento da indústria mundial de +2,4%, no quarto trimestre de 2020 foi o primeiro resultado positivo depois de uma sequência de quedas nos trimestres anteriores: -6,0% no 1º trim/20; -11,2% no 2º trim/20 e -1,0% no 3º trim/20.
Segundo a UNIDO, esta evolução recente reflete os efeitos da pandemia de Covid-19 na atividade econômica, seguidos de uma recuperação ainda incipiente, deixando em segundo plano fatores que vinham exercendo importante influência, como as incertezas decorrentes do Brexit e das medidas comerciais protecionistas.
A melhora dos dados no trimestre entre outubro e dezembro de 2020 foi puxado pelo resultado do grupo de países emergentes, notadamente da China, cujo avanço foi de +4,0% ante o 3º trim/20 e de +9,4% ante o 4º trim/19. Nas economias em desenvolvimento e emergentes, excluindo a China, a indústria de transformação registrou resultado positivo de +5,7% ante o 3º trim/20 e de +1,0% frente ao mesmo trimestre de 2019.
As nações industrializadas, por sua vez, apresentaram importante desaceleração na passagem do 3º trim/20 (+12,6%) para o 4º trim/20 (+3,4%), já corrigidos os efeitos sazonais frente ao trimestre anterior, e seu resultado frente ao mesmo período do ano anterior continuou negativo: -1,6% no 4º trim/20 após -2,4% no 1º trim/20, -16,2% no 2º trim/20 e -5,6% no 3º trim/20.
Desempenho das Economias Industrializadas no 4º trimestre de 2020
A indústria de transformação das economias industrializadas registrou queda de -1,6% no 4º trim/20 ante o mesmo período de 2019. Foi a menos intensa do ano, mas este grupo de países ainda não conseguiu reverter a trajetória descendente.
Isso porque em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal, entretanto, sua alta de +3,4%, a segunda seguida nessa comparação, registrou importante acomodação: menos de 1/3 da taxa de crescimento do 3º trim/20 (+12,6%).
Na América do Norte, o recuo foi de -3,1% no 4° trimestre ante o mesmo período do ano anterior. Importante destacar que esse grupo de países vêm apresentando resultados negativos desde o 3° trimestre de 2019 sendo que em 2020 as variações foram: -2,2% no 1°tri, -15,9% no 2° tri e de -5,6% no 3° tri. Esse resultado está ligado à atividade manufatureira dos Estados Unidos, que registrou variação de -3,0%, após decréscimo de - 5,5% entre abr-jun/20 e de -5,6% no período jul-set/20.
As economias desenvolvidas do Leste Asiático obtiveram pequeno avanço de +0,1% no último trimestre de 2020 frente ao mesmo período de 2019, após resultado negativo de -5,8% entre julho e setembro/20. Frente ao trimestre imediatamente anterior, a indústria desse grupo de países assinalou alta de +4,4%.
A produção da indústria japonesa, maior potência industrial da região, caiu -3,5%, dando continuidade ao recuo do 2° trimestre do ano, que chegou a -20,5% quando comparado ao mesmo trimestre de 2019. Em direção oposta, Coréia do Sul, Taiwan e Singapura registraram avanços na produção industrial, de +2,1%, +8,2% e +11,4%, respectivamente, devido ao desempenho dos setores de computadores e eletrônicos e indústria farmacêutica.
Já a produção industrial das economias europeias encolheu -1,3% no 4º trim/20 frente ao mesmo período de 2019, após variação de -5,7% no trimestre anterior na comparação com mesmo período de 2019. Os dados desagregados mostram que os países da Área do Euro têm apresentado desempenho inferior em relação aos demais países do continente, especialmente aqueles com setores industriais de maior peso, a exemplo da Alemanha (-3,1% ante o 4º trim/19), França (-4,4%), Itália (-3,0%) e Espanha (-2,2%). Em direção oposta, a produção industrial da Irlanda cresceu a uma taxa expressiva de +17,3%.
Fora da zona do Euro, o destaque negativo ficou a cargo do Reino Unido, com variação da produção industrial de -3,5% no último trimestre de 2020 frente ao mesmo trimestre de 2019, após recuo de -7,1% no 3º trim/20, na mesma base de comparação.
Segundo a UNIDO, os efeitos da pandemia sobre as economias industrializadas ainda são incertos, dado que esses países sofrem com uma segunda onda de infecções de Covid-19. No entanto, campanhas nacionais de vacinação em massa já foram iniciadas em muitos destes países, e há uma esperança renovada do fim das medidas de restrições.
Desempenho das Economias em Desenvolvimento e Emergentes no 4º trim/20
A indústria de transformação chinesa foi a mais afetada pelo surto de Covid-19 no primeiro trimestre de 2020. Entretanto, os dados do segundo trimestre de 2020 já mostram recuperação da produção. No período entre outubro-dezembro de 2020, os dados com ajuste sazonal indicam avanço de +9,4% frente ao mesmo período de 2019 e de 4,0% frente ao trimestre imediatamente anterior, levando a indústria a exceder o patamar de produção pré-pandemia.
A maior parte dos ramos do setor manufatureiro chinês registrou crescimento no 4° trimestre de 2020, com apenas algumas exceções como setor de artigos de vestuário (5,5%)e produtos de couro (-8,5%). Dentre os setores com melhor desempenho nesse período, destacaram-se: farmacêutica (+12,4%), computadores e eletrônicos (+11,0%), e automóveis (+14,0%).
Nas economias em desenvolvimento da Ásia houve recuo da atividade industrial em -0,7% no período entre outubro e dezembro de 2020 relativamente a igual período de 2019, implicando clara amenização dadas as quedas de -6,4% no terceiro trimestre e de -25,4% no segundo trimestre do ano.
O desempenho destes países asiáticos foi, contudo, bastante assimétrico: enquanto a produção industrial aumentou no Vietnã (+9,0%), Paquistão (+10,9%) e Índia (+1,3%), Sri Lanka (-1,0%), Tailândia (-1,9%), Indonésia (-3,1%), Filipinas (-7,5%) e Mongólia (-10,2%) continuaram apresentando forte declínio.
Quanto à América Latina, o crescimento negativo já havia sido observado em 2019 e em 2020, essa tendência foi ainda mais exacerbada. No último de trimestre de 2020, entretanto, cresceu +2,2% no ante 4º trim/19, após recuos de -24,2% no segundo trimestre de 2020 e de -3,9% no terceiro trimestre, todas as variações frente ao mesmo período do ano anterior. O resultado mais recente foi puxado pela indústria de transformação da Argentina (+2,2%) e do Brasil (+5,2%). Por outro lado, a indústria mexicana recuou no mesmo período (-0,5%).
No caso das economias emergentes da África, houve variação de -1,3% no 4º trim/20, após decréscimos de -15,7% e -3,5% no 2° e 3° trimestres de 2020, respectivamente. Os resultados individuais também foram diversos: enquanto a produção manufatureira de Senegal e Ruanda aumentou +10,4% e +5,8%, respectivamente, Nigéria, Tunísia e África do Sul registraram variações de -0,5%, -2,7% e -2,2%, respectivamente.
A indústria de transformação das demais economias em desenvolvimento assinalou acréscimo de +6,6%, seguido por uma variação de -17,6% no 2° tri e de +3,6% no 3°/tri de 2020. A indústria da Turquia, maior produtor industrial do grupo, assinalou crescimento de +10,9%. Os demais países apresentaram perfil variado: enquanto a produção industrial na Grécia cresceu +1,5 %, na Croácia a variação foi de +0,2%, na Romênia, +0,6% e países como Bulgária, Moldávia e Ucrânia tiveram decréscimo (-3,2%, -4,4% e -8,1%, respectivamente).
Análise setorial
Segundo a UNIDO, além da crise sanitária devido a pandemia de Covid-19 em 2020, incertezas relacionadas ao aumento das restrições ao comércio tiveram grande influência sobre os produtores e levaram a uma desaceleração gradual desde 2018, embora com impactos variados em diferentes setores industriais. Os três grupos de produtos por intensidade tecnológica, entraram no vermelho no início de 2020, com quedas na produção de pelo menos 5,0% 1° trim/2020 e de pelo menos 10% no 2° tri/2020.
No final do ano passado, os setores de média- alta e alta e média-baixa tecnologia e se recuperaram com maior velocidade, enquanto o grupo de baixa intensidade tecnológica continuou a registrar taxas negativas de variação (-1,8% ante 4º trim/19).
A taxa de crescimento do grupo de produtos de média alta intensidade foi de +4,0% no quarto trimestre de 2020, após pequena alta de 0,2% no trimestre imediatamente anterior, ambas variações em relação ao mesmo trimestre de 2019.
Os setores de máquinas e de veículos automotores assinalaram +1,5% e +3,9%, respectivamente no último trimestre de 2020, após quedas substanciais nos últimos trimestres. Por outro lado, computadores, produtos eletrônicos e ópticos (+7,5% ante 4º trim/19), equipamentos elétricos (+8,8%), bem como produtos químicos (+3,6%) e farmacêuticos (+3,2%), que já apresentavam crescimento substancial nos trimestres anteriores de 2020, mantiveram trajetória ascendente no final de 2020.
Resultado acumulado em 2020
Segundo relatório UNIDO, com a divulgação dos dados do quarto trimestre, é possível ter o quadro completo de 2020 e do impacto da pandemia de Covid – 19 ao longo do ano na economia mundial.
A UNIDO ressalta que já em 2019 a indústria de transformação mundial havia apresentado desaceleração, principalmente por causa do menor dinamismo do comércio internacional, decorrente das tensões tarifárias entre os dois maiores produtores industriais do mundo, China e Estados Unidos. Mas agora em 2020, devido às medidas de contenção da pandemia de Covid-19 nos principais centros industriais, a trajetória descendente foi aprofundada, levando a um recuo de -4,1% da produção do setor no mundo todo.
A pandemia e as medidas restritivas para contê-la tiveram um impacto tanto na demanda, em função do aumento das incertezas decorrentes das proibições de viagens, da necessidade de trabalho remoto, da perda de empregos etc., como também na oferta de bens industriais, visto que a produção em certos casos teve de ser interrompida em várias partes do mundo por diversos meses.
A indústria manufatureira das economias industrializadas retrocedeu -6,5% em 2020 frente a 2019. Nas economias industriais da Europa, a indústria teve queda de -7,6% em 2020, piorando em muito o resultado já negativo obtido em 2019 (-0,3%). O resultado para as economias industrializadas da América do Norte foi um recuo de -6,7%, após estagnação em 2019. As economias industriais asiáticas, por sua vez, assinalaram variação de -4,7%em 2020 e -1,6% em 2019.
A produção industrial chinesa, em contraste, cresceu +1,3% no ano passado como um todo. Embora tenha conseguido ficar no positivo, correspondeu a um crescimento bem inferior ao de 2019 (+6,2%). Em situação muito diferente ficou a indústria da América Latina, que aprofundou as perdas observadas em 2019, registrando -7,3% em 2020.
Ranking Indústria Mundial
A partir dos dados coletados pela OCDE, IBGE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da indústria geral com 42 países para o acumulado do ano de 2020.
Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
A indústria brasileira já assinalava tendência declinante desde 2019, entretanto os dados mais recentes divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) refletem sobretudo os efeitos da pandemia de Covid-19. Em 2020 retrocedeu -4,7% em 2020 frente ao ano anterior, após queda de -1,1% em 2019 e crescimento pouco expressivo em 2018 (+0,8%).
Apesar do resultado negativo, o Brasil ficou em posição intermediário no ranking construído pelo IEDI, superando o desempenho de importantes países industrializados, como EUA (-6,6%), Espanha (-9,6%), Japão (-9,7%), França (-10,3%), Alemanha (-10,6%) e Itália (-11,0%).
Esse desempenho colocou o Brasil na 21ª colocação entre os 42 países da amostra selecionada pelo IEDI no acumulado do ano de 2020. À nossa frente ficaram os países do Norte e do Leste da Europa, muitos deles com piora substancial do quadro epidemiológico apenas nos meses finais de 2020.
Nas primeiras colocações, entre os poucos casos de aumento da produção industrial no ano passado ficaram a China (+2,8%), cuja contenção da epidemia ocorreu antes do restante do mundo e se mostrou mais eficaz, mas também a Noruega (+4,1%) e a Irlanda (+5,2%), que se encontram entre os países com menos casos de Covid-19 por mil habitantes da Europa.