Carta IEDI
À espera de dias melhores
A indústria, por ora, encontra dificuldades para crescer em 2021. Ainda que a melhora da economia internacional contribua para sua dinamização, sobretudo, do ramo extrativo, o mercado interno ainda permanece muito restringido, como mostraram os dados do PIB no 1º trim/21 para o consumo das famílias. Já são três meses seguidos de queda da produção industrial.
Na passagem de mar/21 para abr/21, já descontados os efeitos sazonais, o setor registrou -1,3%, com perdas bastante disseminadas entre os ramos industriais: 70% dos 26 acompanhados pelo IBGE ficaram no vermelho, assim como metade dos macrossetores. Regionalmente, 60% dos 15 parques industriais também perderam produção nesta comparação.
A produção de bens de consumo semi e não duráveis obteve sua terceira taxa negativa consecutiva em abr/21: -0,9%. Foi quem pior se saiu. Muito disso deveu-se aos ramos de alimentos (-3,4% ante mar/21, com ajuste), vestuário (-5,2%) e couros e calçados (-8,9%). É a parcela da indústria mais diretamente afetada pelo desemprego elevado, queda da massa de rendimentos reais e redução do auxílio emergencial pago às família.
Bens intermediários também ficaram no negativo. Na verdade, este macrossetor praticamente não saiu do lugar nos últimos meses, oscilando muito próximo da estabilidade. Como se trata do núcleo do sistema industrial, esta evolução evidencia a ausência de dinamismo para o setor como um todo.
Este baixo desempenho de intermediários sugere que a superação dos gargalos de insumos que tem se verificado não deve ocorrer rapidamente. Outro dado nesta direção vem do acompanhamento dos estoques da CNI, que apresentou redução em abr/21. Pouco mais de 2/3 dos setores acompanhados apontavam estoque abaixo do planejado.
Entre os macrossetores que cresceram na passagem de mar/21 para abr/21, estão os bens de consumo duráveis, que interromperam a sucessão de variações negativas dos meses anteriores, em boa medida graças à reação da produção de veículos (+1,4% com ajuste). Mesmo assim, continua sendo o macrossetor mais distante do nível pré-pandemia: 10,6% abaixo de fev/20.
Já para bens de capital, depois da inflexão em fev-mar/21, a alta de +2,9% em abril pode vir a indicar que este macrossetor está retomando a dianteira da reação industrial, como foi a tônica na segunda metade do ano passado. É preciso, contudo, que este movimento tenha continuidade. A contar pelas informações interanuais do IBGE, o dinamismo de bens de capital está sendo puxado por aqueles voltados à agricultura, construção e transporte.
Para os próximos meses, há chances de uma performance superior na indústria, dado o retorno ao auxílio emergencial pago às famílias, embora em valor e número de beneficiários menores, a continuidade do relaxamento das medidas restritivas e a progressão da vacinação. A reativação da economia mundial, baseada na rápida imunização dos EUA e da Europa e no crescimento chinês, é outro aspecto a favor. São fatores que trarão dias melhores para a indústria.
Em mai/21, os índices de confiança da CNI e da FGV sinalizaram melhora em relação a abril, ainda que a avaliação da situação presente não tenha seguido este movimento, ao menos não na mesma intensidade. A projeção do Boletim Focus do BCB apontava para alta de +6,1% da produção industrial em 2021 neste início de jun/21, o que corresponde a uma revisão de +0,6 ponto percentual em relação ao cenário do final de mai/21.
Resultados da Indústria
Em abril de 2021, a produção industrial declinou -1,3% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Foi a terceira taxa negativa consecutiva em 2021. Desde que o choque da Covid-19 em abr/20 não se via uma sequência de meses de queda como nesta comparação. Com isso, o setor perdeu o que havia avançado em relação ao pré-pandemia e voltou a ficar 1% abaixo do nível de produção de fev/20.
Com a interrupção do auxílio emergencial pago às famílias no 1º trim/21 e com a nova aceleração do número de casos de Covi-19, a recuperação industrial, que já vinha dando sinais de desaceleração desde a virada do ano, parece ter sido interrompida. O retorno do auxílio emergencial, em valor menor do que no início do programa, em abril ainda não conseguiu reverter a trajetória recente da indústria. Em abr/21, o patamar de produção industrial era 4,2% inferior ao de dez/20.
A indústria, porém, conseguiu crescer na comparação com o mesmo período do ano anterior, devido à base muito baixa de comparação resultante dos primeiros impactos da Covid-19. Registrou +34,7% em abr/21. Deste modo, o desempenho no acumulado do primeiro quadrimestre do ano foi de +10,5%.
Em relação aos macrossetores, na comparação de abr/21 com mar/21, descontados os efeitos sazonais, houve declínio em metade dos macrossetores acompanhados pelo IBGE. Bens intermediários recuaram -0,8%, ficando ainda muito próximo da estabilidade. A retração de bens de consumo semi e não duráveis foi de -0,9%, sendo o terceiro mês consecutivo em que o macrossetor ficou no negativo. Bens de capital registraram +2,9%, depois de dois meses seguidos no vermelho, e bens de consumo duráveis, +1,6%, pouco compensando as perdas acumuladas nos três meses anteriores.
Na comparação de abr/21 com abr/20, houve variação positiva em todos os quatro macrossetores industriais. Enquanto o total da indústria cresceu +34,7% nesta comparação, bens de capital e bens de consumo duráveis apresentaram dinamismo muito superior: +124,9% e +431,7%, respectivamente, devido às bases extremamente deprimidas de abr/20, pior mês da crise da Covid-19. Bens intermediários registraram +25,7% e bens de consumo semi e não duráveis, +17,0%.
O macrossetor de bens de consumo duráveis foi quem melhor se saiu na comparação com abr/20, registrando alta de +431,7%, sendo particularmente impulsionado pela maior fabricação de automóveis (+69.956,5%) e de motocicletas (+11.214,0%), que praticamente pararam em abr/20, e também de eletrodomésticos da “linha branca” (+364,8%) e da “linha marrom” (+62,3%), de outros eletrodomésticos (+138,5%) e de móveis (+145,0%).
O aumento interanual de +124,9% na produção de bens de capital derivou do crescimento associado a todos os seus grupamentos, especialmente, de equipamentos de transporte (+499,4%), mas também de bens de capital para fins industriais (+63,7%), agrícolas (+152,0%), para construção (+100,5%), uso misto (+30,1%) e energia elétrica (+8,0%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, o segmento de bens intermediários, que cresceu +25,7% em abr/21, teve seu resultado influenciado principalmente por avanços nas atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+418,7%), de metalurgia (54,5%), de produtos de minerais não-metálicos (+81,0%), de produtos de borracha e de material plástico (+62,4%), de produtos de metal (+67,1%) e de máquinas e equipamentos (+95,3%), entre outros. A única pressão negativa veio de produtos alimentícios (-19,2%).
Já bens de consumo semi e não duráveis, cujo resultado foi de +17% ante abr/20, receberam contribuição positiva sobretudo do grupamento de semiduráveis (+115,2%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+14,3%).
Por dentro da Indústria de Transformação
O declínio de -1,3% da produção industrial geral em abr/21 ante mar/21, já realizado o ajuste sazonal, foi acompanhado de variação de -2,2% na indústria de transformação e de +1,6% no ramo extrativo. Nesta comparação a indústria de transformação não cresce desde a entrada do ano, ou seja, já são quatro quedas consecutivas.
Em relação a abr/20, tal como a indústria geral (+34,7%), o desempenho da indústria de transformação também foi bastante positivo: +40,2% devido à baixa base de comparação. No caso do ramo extrativo, houve variação de +3,6%, interrompendo a queda dos dois meses anteriores.
Frente a mar/21, na série com ajuste sazonal, o decréscimo de -1,3% da indústria geral foi acompanhado por 18 dos 26 ramos pesquisados. As principais influências negativas foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-9,5%), produtos alimentícios (-3,4%), impressão e reprodução de gravações (-34,8%), produtos de metal (-4,0%), couro, artigos para viagem e calçados (-8,9%), celulose, papel e produtos de papel (-2,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,2%), produtos têxteis (-5,4%) e móveis (-6,5%). Em direção oposta, além do ramo extrativo, ficaram: máquinas e equipamentos (+2,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (+1,4%), entre outros.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou variação de +34,7% na produção em abr/21, variações positivas marcaram o desempenho de 23 dos 26 ramos, em 67 dos 79 grupos e 76,0% dos 805 produtos pesquisados. Abril de 2021 (20 dias) teve o mesmo número de dias úteis que igual mês de 2020.
As maiores influências positivas nesta comparação interanual vieram de: veículos automotores, reboques e carrocerias (+996,3%), máquinas e equipamentos (+94,3%), metalurgia (+54,5%), produtos de minerais não-metálicos (+81,3%), bebidas (+88,2%) e produtos de borracha e de material plástico (+64,0%), entre outros. Entre as três atividades em queda, a influência negativa mais intensa veio de produtos alimentícios (-9,1%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE conjuntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de abr/21 cresceu +44%, impulsionado pela baixa base de comparação. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +17,5% na comparação com abr/20. Foi a sexta taxa positiva consecutiva; todas de dois dígitos.
Assim, no primeiro quadrimestre de 2021, as exportações industriais pararam de apresentar sinal negativo e registraram crescimento de +8,4% frente a igual período do ano anterior. Quanto às importações de matérias-primas para o setor, apresentaram alta expressiva de +19,4% em 2021, um quadro bem diferente de 2020 como um todo (-4,1%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, caiu seguidamente a partir de fev/21, chegando a 76,7% em abr/21, em linha com os resultados desfavoráveis da produção industrial aferida pelo IBGE. Em mai/21 voltou a mostrar alguma reação: 77,8%.
Cabe observar que o nível de utilização permaneceu abaixo da média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%, e ainda mais do patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016. No 1º trim/14, a utilização da capacidade estava em 82,6%.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria em abr/21 variou -1,3 ponto em relação a mar/21, para 49,4 pontos. Por se encontrar abaixo da marca de 50 pontos, o indicador sugere estoques em declínio, embora sem muita intensidade. No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador registrou 49,6 pontos (-1,0 ponto frente a mar/21) e na indústria extrativa ficou em 44,4 pontos (-7,3 pontos).
Este quadro dos estoques gera vulnerabilidade das cadeias produtivas a repiques inesperados de comandas, gerando gargalos em diversos elos e, consequentemente, aumento de preços em alguns insumos.
Na avaliação dos empresários, os estoques efetivos da indústria geral ficaram, mais uma vez, abaixo do nível planejado (50 pontos), com um indicador de satisfação em 49,6 pontos em abr/21, isto é, patamar melhor do que em dez/20 (+4,1 pontos) e em mar/21 (+1,3 ponto).
No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 48,9 pontos e 49,6 pontos, respectivamente, isto é, abaixo do nível de equilíbrio (50 pontos) em ambos os casos. Apesar disso, a insuficiência de estoques na indústria de transformação tem se amenizado, depois de atingir a pior avaliação no bimestre set-out/20 (43,1 pontos).
No grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena no início de 2021, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Depois de praticamente todos os ramos industriais acompanhados pela CNI apresentaram estoques menores do que o planejado (50 pontos) em dez/20 (96% do total), em abr/21 nove ramos (ou 34,6% do total) conseguiram superar ou se manter na linha de 50 pontos, mostrando recomposição de estoques para uma parte da indústria.
Entre os nove ramos acima de 50 pontos destacam-se: calçados (59 pontos), limpeza e perfumaria (55,8 pontos), bebidas (53,9 pontos) e têxteis (53,6 pontos), entre outros. Estão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: madeira (40,3 pontos), biocombustíveis (43,2 pontos), impressão e reprodução (43,3 pontos) e couros (43,8 pontos) etc.
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, que vinha evoluindo negativamente desde jan/21, avançou de 54,6 pontos em abr/21 para 58,1 pontos em mai/21. Assim, não só está região de otimismo (acima de 50 pontos), como foi reforçado em maio, trazendo perspectivas mais favoráveis para o setor nos próximos meses.
Esta melhora do estado da confiança resultou sobretudo de seu componente de expectativas em relação ao futuro, que passou de 59,1 pontos em abr/21 para 62,3 pontos em mai/21. Já percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios permanece na região de pessimismo, embora tenha se atenuado ao passar de 45,6 pontos para 49,7 pontos. Vale lembrar que este componente do indicador de confiança havia registrado 60,2 pontos em dez/20, o que dá ideia do tamanho da involução nesta entrada de 2021.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, também vem passando por um movimento descendente. Encontrava-se em 114,9 pontos em dez/20 e em mai/21 ficou em 104,2 pontos, já descontados os efeitos sazonais. Frente a abr/21, porém, houve alta de +0,7 ponto. Como manteve-se acima da linha dos 100 pontos, ainda indica que os empresários industriais estão confiantes, mas menos do que estavam no final do ano passado.
O resultado em mai/21, foi influenciado apenas pelas expectativas em relação ao futuro. A avaliação em relação ao futuro passou de 96,9 pontos em abr/21 para 99,0 pontos em mai/21, ficando mais uma vez na região pessimista. Já a avaliações da situação atual declinou pelo quinto mês consecutivo ao passar de 110,0 pontos em abr/21 para 109,5 pontos em mai/21.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador está acima dos 50 pontos desde jun/20, apontando melhora das condições de negócio neste período. Em mai/21, depois de cinco meses de deterioração, atingiu de 53,7 pontos, isto é, +1,4 ponto ante abr/21, mas -7,8 pontos ante dez/20.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)