Carta IEDI
Sem alento
Ao que tudo indica, o ano para a indústria será salvo pelas bases baixas de comparação de 2020. Tirando este fator estatístico, sobra pouco do desempenho do setor em 2021. Como mostraram os dados do PIB na semana passada, o PIB industrial ficou estagnado e o da indústria de transformação não teve um trimestre sequer de crescimento neste ano na série com ajuste sazonal. A evolução da produção física nos últimos meses também não traz nenhum alento.
Segundo o IBGE, a produção da indústria geral do país recuou novamente em out/21: -0,6%, de modo que o setor ficou no vermelho na maior parte de 2021 (em 8 dos 10 primeiros meses). Além disso, para nov/21, indicadores de confiança dos empresários industriais sofreram deterioração, com alguns deles voltando a registrar pessimismo.
Ou seja, é grande a chance de o quadro atual do setor não progredir significativamente nos próximos meses. E para complicar, o cenário econômico de 2022 vem se mostrando cada vez mais desfavorável. Segundo a última edição do Boletim Focus do BCB, a expectativa de alta do PIB total do Brasil em 2022 é de mero +0,5% e o da indústria não passaria de +0,35%. Para a produção industrial espera-se variação de +2%.
Um dos fatores a prejudicar a indústria, que são os gargalos nas cadeias de fornecimento, pode vir a se manter se novas variantes de coronavírus ensejar restrições à atividade econômica e logística em certas partes do mundo e no Brasil. Estoques, que funcionam como um meio de ampliar resiliência das cadeias, estão sendo recompostos, mas a maioria dos setores (62%) ainda avaliavam seus níveis insuficientes na última pesquisa da CNI.
Depois da crise de 2015-2016 e das perdas com a pandemia de Covid-19, que juntas distanciam o nível atual da produção industrial em -20% do pico anterior atingido em mai/11, a trajetória verificada no presente ano e o desempenho esperado para 2022 são absolutamente insuficientes para viabilizar os esforços de modernização e de inovação que o nosso sistema industrial como um todo necessita para acompanhar as tendências tecnológicas e competitivas do mundo.
Na passagem de set/21 para out/21, já descontados os efeitos sazonais, embora o declínio da produção industrial tenha sido concentrado em um número minoritário de parques regionais (30% do total), atingiu duramente a indústria paulista, a maior e mais diversificada do país, e continuou afetando um amplo conjunto de ramos.
Dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, em 19 houve recuo da produção em out/21, o equivalente 73% do total do setor. Em 17 deles ou 65% do total ficaram abaixo do pré-pandemia, sendo que para mais da metade esta defasagem chegou a dois dígitos. Entre os macrossetores, o recuo foi igualmente generalizado: três perderam produção na série com ajuste sazonal e apenas um conseguiu crescer.
A única exceção foi bens de capital, cujo avanço de +2,0% em out/21 ante set/21 não foi suficiente nem mesmo para compensar as perdas dos dois meses anteriores. Bens de consumo duráveis (-1,9%) não tiveram nenhum mês de crescimento em 2021 até outubro. Bens de consumo semi e não duráveis e bens intermediários, por sua vez, não ficaram muito atrás e registraram quedas de -1,2% e -0,9%, respectivamente, já descontados os efeitos sazonais.
Resultados da Indústria
Em outubro de 2021, a produção industrial assinalou outro resultado negativo: -0,6% na comparação com o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Este foi o quinto recuo consecutivo, período em que a indústria nacional acumulou queda de -3,7%. Frente ao nível de produção pré-pandemia, isto é, de fev/20, o setor industrial assinala defasagem de -4,1%.
Os dados de outubro mostram que apesar da melhora dos indicadores de atividade econômica mundial e dos bons índices de vacinação contra a Covid-19 no Brasil, a indústria brasileira não apresenta sinais de recuperação na série com ajuste sazonal e nem mesmo na comparação com o ano passado, já que as bases de comparação não são mais tão baixas. Fatores como escassez de componentes, inflação crescente e desemprego elevado, assim como incertezas políticas e os efeitos da crise hídrica, continuam prejudicando a retomada da indústria.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a indústria ficou igualmente no negativo, registrando -7,8% e intensificando as perdas de setembro (-4,0%) e agosto (-0,6%). Vale lembrar que out/21 (20 dias) teve um dia útil a menos do que out/20 (21 dias), contribuindo para esta deterioração adicional.
Com o reforço das bases de comparação decorrente da recuperação da segunda metade de 2020, o desempenho interanual deixou de ser tão favorável quanto vinha sendo nos meses anteriores.
Deste modo, o desempenho no acumulado em jan-out/21 foi de +5,7%, ajudado em grande medida pelo resultado doo 2º trim/21 (+22,7%), quando as bases deprimidas de comparação ainda possibilitavam avanços expressivos. No acumulado dos últimos doze meses, o setor registrou +5,7%.
Em relação às grandes categorias industriais, na comparação de out/21 com set/21, descontados os efeitos sazonais, houve variação positiva somente em bens de capital, de +2,0%, eliminando, dessa forma, parte da perda de -2,3% acumulada nos dois meses anteriores. Todos os demais ficaram no vermelho, sendo a maior queda a de bens de consumo duráveis, de -1,9%, décimo recuo seguido e acumulando neste período perda de -28,3%. Os bens de consumo semi e não duráveis declinaram -1,2%, enquanto os bens intermediários registraram -0,9%.
Frente o mesmo mês do ano anterior (out/20), o macrossetor de bens de capital também foi a única a apresentar expansão, com variação de +8,4%. Na mesma base de comparação, os demais macrossetores apresentaram variação negativa: bens de consumo duráveis (-27,8%), bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-10,3%) e bens intermediários (-6,3%).
O macrossetor de bens de capital, que registrou alta de +8,4% ante out/20, foi positivamente influenciado pela maior parte de seus grupamentos, com destaque para equipamentos de transporte (+9,4%); bens de capital para construção (+30,9%); agrícolas (+13,7%); para energia elétrica (+7,8%) e de uso misto (+1,7%). Por outro lado, o único impacto negativo foi assinalado pelo subsetor de bens de capital para fins industriais (-4,8%).
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, entre as categorias que ficaram no vermelho, bens intermediários registraram a menor queda, de -6,3%. Contribuíram para seu declínio de produção em out/21 as atividades de produtos alimentícios (-26,6%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-20,3%), indústrias extrativas (-4,7%), produtos de metal (-11,4%), entre outros. As pressões positivas foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,3%), outros produtos químicos (+4,2%), metalurgia (+2,9%) e celulose, papel e produtos de papel (+2,6%). Ainda nessa categoria econômica, vale citar também os resultados negativos assinalados pelos grupamentos de insumos típicos para construção civil (-9,7%) e de embalagens (-12,4%).
A produção de bens de consumo semi e não duráveis, que recuou -10,3% frente a out/20, foi influenciada pelos declínios registrados nos grupamentos de semiduráveis (-21,5%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-7,9%), assim como pelos grupamentos de não-duráveis (-8,3%) e de carburantes (-5,9%).
Por fim, a queda mais intensa em out/21 em comparação com out/20 ficou por conta de bens de consumo duráveis (-27,8%), muito influenciada pela redução na fabricação de automóveis (-32,5%), de eletrodomésticos da “linha marrom” (-38,5%) e da “linha branca” (-31,7%), além do recuo na produção dos grupamentos de outros eletrodomésticos (-13,1%) e de móveis (-22,8%). Por outro lado, o principal impacto positivo veio da maior produção de motocicletas (+18,4%).
Por dentro da Indústria de Transformação
A queda de -0,6% da produção industrial geral em out/21 ante set/21, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de -0,1% na indústria de transformação e de -8,6% no ramo extrativo. Dessa forma, a indústria de transformação se encontra 8,5% abaixo do nível de produção de dez/20 e 3,2% abaixo do pré-pandemia, isto é, de fev/20.
Em relação a out/20, tal como a indústria geral (-7,8%), o desempenho da indústria de transformação também foi negativo, porém mais intenso: -8,2%. No caso do ramo extrativo houve queda de -4,7%.
Frente a set/21, na série com ajuste sazonal, o resultado de -0,6% da indústria geral teve influência negativa de 19 dos 26 ramos pesquisados. Dentre os destaques negativos, além do ramo extrativo (-8,6%), estão os seguintes ramos da indústria de transformação: produtos alimentícios (-4,2%), máquinas e equipamentos (-4,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-5,6%), produtos têxteis (-7,7%), metalurgia (-1,9%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-21,6%), produtos de madeira (-6,6%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,1%), entre outros. Em contraste, entre as sete atividades que apontaram crescimento na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,7%) exerceu o principal impacto em outubro de 2021.
Na comparação com igual mês do ano anterior, em que a indústria geral apresentou queda de -7,8% na produção em out/21, variações negativas marcaram o desempenho 19 dos 26 ramos, 56 dos 79 grupos e 60,7% dos 805 produtos pesquisados. Vale citar que outubro de 2021 (20 dias) teve um dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (21).
As maiores influências negativas nesta comparação interanual vieram das seguintes atividades: produtos alimentícios (-17,1%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-14,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-23,4%), indústrias extrativas (-4,7%), produtos de metal (-12,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-16,7%), e de bebidas (-9,2%), entre outros. Por outro lado, entre as atividades em alta, destacaram-se: outros produtos químicos (+4,2%), máquinas e equipamentos (+4,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,4%) e metalurgia (+2,9%).
Exportação
Segundo os dados da Funcex, divulgados pelo IBGE juntamente com os resultados da produção industrial, o quantum das exportações de manufaturados no mês de out/21 cresceu +18,5% ante out/20, favorecido pela reativação da economia mundial. Por sua vez, as importações em quantum de matérias-primas para a indústria avançaram +26,4% na comparação com out/20. Foi a décima segunda taxa positiva consecutiva; todas de dois dígitos.
Assim, no acumulado de 2021, as exportações industriais, que pararam de apresentar sinal negativo a partir de abr/21, registraram crescimento de +15,5% em jan-out/21 frente a igual período do ano anterior. Quanto às importações de matérias-primas para o setor, apresentaram alta expressiva de +29,9% em jan-out/21, um quadro bem diferente de 2020 até outubro (-8,9%).
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, avançou para 81,3% em out/21 antes de voltar a recuar para 80,7% em nov/21. Ainda assim, ficou acima da média histórica anterior à Covid-19, que é de 79,5%, embora não tenha atingido o patamar imediatamente anterior à crise de 2014-2016, que era de 82,6% no 1º trim/14.
Já pesquisa da CNI, mostra que a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação de out/21 manteve-se no mesmo nível de set/21. Atingiu 81,6%, após ajuste sazonal. Em relação ao final da primeira metade do ano, entretanto, registrou declínio de -0,8 ponto percentual entre jun/21 e out/21. De todo modo, vem se mostrando em nível persistentemente superior ao observado antes da crise da Covid-19 (78% em fev/20). Em relação a out/20, o aumento foi de 2,2 pontos percentuais.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total em out/21 continuou apontando melhora e entrou na região de expansão. Registrou valor de 50,5 pontos, superando pela segunda vez a marca dos 50 pontos.
Estoques equilibrados ou em elevação sugerem uma redução da vulnerabilidade das cadeias produtivas a repiques inesperados de comandas, amenizando os gargalos em diversos elos que temos visto desde o ano passado.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI registrou 50,5 pontos (+0,2 ponto frente a set/21), apontando elevação dos estoques, e na indústria extrativa ficou em 49,8 pontos (+7,1 pontos), ainda sinalizando redução de estoques.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques, que ficou em 50,0 pontos, apontando equilíbrio em out/21. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação ficou em 49,1 pontos e 50,0 pontos, respectivamente, isto é, abaixo do nível de equilíbrio (50 pontos) no primeiro caso.
Ainda no grupo da indústria de transformação, a situação dos estoques até pode ter se tornado mais amena do que na passagem de 2020 para 2021, mas o problema continua difundido para um amplo conjunto de ramos. Depois de praticamente todos os ramos industriais apresentarem estoques menores do que o planejado (50 pontos) em dez/20 (96% do total), em out/21 a insatisfação quando ao nível dos estoques manteve-se presente em 16 dos 26 ramos acompanhados pela CNI, ou seja, em 62% do total, implicando melhora em comparação com o mês anterior (73% em set/21).
Entre os poucos ramos iguais ou acima de 50 pontos destacam-se: móveis (57,6 pontos), farmacêuticos (52,9 pontos) e celulose e papel (52,6 pontos). Estão mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: biocombustíveis (40,0 pontos), impressão e reprodução (43,8 pontos) e madeira (44,2 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI, que tinha atingido 63,1 pontos em ago/21, recuou nos meses subsequentes, atingindo 56,1 pontos em nov/21, sinalizando para um quadro menos favorável também no próximo mês a ser coberto pela pesquisa do IBGE. Apesar disso, permaneceu na região de otimismo, isto é, acima de 50 pontos.
O declínio recente do otimismo deveu-se aos dois componentes do indicador. O componente referente às expectativas em relação ao futuro, porém, recuou menos, ao passar de 61,2 pontos em out/21 para 59,4 pontos em nov/21. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios foi quem mais regrediu: de 51,0 pontos em out/21 para 49,4 pontos em nov/21, voltando a ficar abaixo da marca dos 50 pontos, ou seja, na região de pessimismo.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV caminhou na mesma direção do indicador da CNI em nov/21, dando continuidade ao movimento descendente já verificado desde ago/21. O indicador, em nov/21, chegou a 102,1 pontos, já descontados os efeitos sazonais. Como se manteve acima da linha dos 100 pontos, indica que os empresários industriais estão confiantes, mas menos do que estavam em meses anteriores.
O resultado em nov/21, foi influenciado por seus dois componentes. Aquele que capta a avaliação dos empresários em relação ao futuro passou de 101,9 pontos em out/21 para 100,3 pontos em nov/21, isto é, muito próximo de deixar a região de otimismo. Já a avaliação da situação atual recuou de 108,3 pontos em out/21 para 103,7 pontos em nov/21.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Este indicador pela primeira vez desde jun/20 ficou abaixo dos 50 pontos, apontando piora das condições de negócio neste período. Em nov/21 ficou em 49,8 pontos, valor muito inferior ao resultado de dez/20 (61,5 pontos).
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)