Carta IEDI
Sinais pouco promissores
Em out/21, a economia brasileira deu sequência ao movimento adverso iniciado no mês anterior. Novamente, todos os grandes setores recuaram, dando sinais pouco promissores para o último trimestre do ano. Até mesmo os serviços, mais diretamente favorecidos pelo avanço da vacinação, agravaram suas perdas.
Segundo o IBGE, o faturamento real dos serviços encolheu -1,2% em out/21 ante o mês anterior, já descontados os efeitos sazonais. Em set/21, a queda havia sido de -0,7%. Por sua vez, as vendas reais do varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos, autopeças e material de construção, ao registrarem -0,9%, tiveram seu terceiro mês consecutivo no vermelho.
Já a indústria, que praticamente não cresceu em 2021, perdeu -0,6% de sua produção na passagem de set/21 para out/21. Inclusive na comparação com 2020, que, há até pouco tempo, era favorecida por bases baixas de comparação, o sinal negativo é verificado: -0,6% em ago/21; -4,1% em set/21 e -7,8% em out/21.
As perdas de out/21 também se mostraram difundidas em todos os setores. Atingiu 70% dos ramos do varejo frente a set/21, embora geralmente menos intensa que nos meses anteriores. Material de construção (-0,9%) , veículos e autopeças (-0,5%) e móveis e eletrodomésticos (-0,5%), estiveram entre as maiores perdas. Nos serviços, quatro dos cinco ramos (80%) ficamos no vermelho.
Na indústria, a seu turno, 73% dos ramos ficaram no negativo. Regionalmente, porém, a maioria dos parques industriais conseguiu evitar perdas, ainda que alguns parques importantes não tenham sido poupados. Foi o caso da indústria paulista, uma das mais modernas e completas do país, cuja queda ante set/21 (-3,1%) foi bem mais intensa do que a do agregado nacional do setor.
Assim, nossa economia, que já estava debilitada antes mesmo da Covid-19, devido à grave crise de 2015-2016, agora compadece das cicatrizes da pandemia: ruptura das cadeias de fornecimento, inflação e taxas de juros em elevação, desemprego alto, agentes econômicos endividados etc. Crise hídrica e incertezas políticas e na condução da agenda econômica complementam a lista de desafios e obstáculos ao crescimento econômico em 2021.
Como consequência, a maioria dos setores já voltou a uma situação pior que o pré-pandemia, isto é, logo antes do surto de coronavírus atingir o país. É o que mostram as comparações com fev/20. A indústria, em dez/20, estava 3,4% acima de fev/20; perdeu este diferencial positivo já na primeira metade de 2021, chegando a um nível 0,8% abaixo deste patamar e seguiu perdendo terreno, de modo que em out/21 estava com um produção 4,1% inferior ao pré-pandemia.
Para o varejo, em seu conceito ampliado, algo semelhante se passou, mas com a diferença de que, ao menos na primeira metade do ano, conseguiu preservar suas conquistas. Em dez/20 suas vendas reais estavam 0,8% acima do pré-pandemia e em jun/21 seguia 0,9% acima deste patamar. A inflexão veio posteriormente e em out/21 atingiu um nível 2,8% abaixo de fev/20.
Os serviços, por sua vez, parecem estar no início desta involução, já que, pela natureza de muitas de suas atividades, mais dependentes da mobilidade e da sociabilidade das pessoas, foi o último setor a superar o choque da Covid-19. Em dez/20 continuava 3,2% aquém do pré-pandemia, passando a superá-lo em 2,7% em jun/21, com a aceleração da vacinação no país. Em out/21, contudo, devido às quedas recentes, recuou para um nível 2,1% acima de fev/20.
Indústria
Em out/21, mais uma vez a indústria apresentou encolhimento de sua produção física. O declínio foi de -0,6% ante set/21, já descontados os efeitos sazonais, com um perfil disseminado entre os diferentes ramos industriais, mas relativamente concentrado em alguns de seus parques regionais.
Setorialmente, atingiu 19 dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE na passagem de set/21 para out/21, o equivalente 73% do total do setor. Com mais este sinal negativo, 65% ou 17 dos 26 ramos industriais ficaram novamente abaixo do pré-pandemia, sendo que para mais da metade deles esta defasagem chegou a dois dígitos.
Entre os macrossetores, o recuo foi igualmente generalizado: três perderam produção na série com ajuste sazonal e apenas um conseguiu crescer. A exceção foi bens de capital, cuja produção cresceu +2,0%. Bens de consumo duráveis, que não tiveram nenhum mês de crescimento em 2021 até outubro, caíram -1,9%. Bens de consumo semi e não duráveis e bens intermediários registraram quedas de -1,2% e -0,9%, respectivamente.
Regionalmente, a perda de out/21 foi concentrada em um número minoritário de parques regionais do setor, mas em contrapartida, atingiu mais duramente a indústria paulista, uma das mais completas e diversificadas do país.
Dos 15 parques regionais acompanhados pelo IBGE, 5 ficaram no vermelho na passagem de set/21 para out/21, já descontados os efeitos sazonais. Entre as maiores perdas está o estado de São Paulo, que registrou -3,1%, sua quinta variação negativa consecutiva nesta comparação. Em relação a out/20, a indústria paulista não só recuou como apresentou uma taxa de dois dígitos: -12,3%.
Outras localidades com perdas importantes na produção industrial foram Minas Gerais, Pará e Santa Catarina. Goiás e Rio de Janeiro ficaram estagnados. Com isso, 11 das 15 localidades, isto é, 73% do total está atualmente com uma produção menor do que estavam logo antes do choque da Covid-19.
A evolução particularmente ruim de São Paulo juntamente com a estagnação do Rio de Janeiro (+0,1%) e recuos em Minas Gerais (-3,9%) e também no Espírito Santo (-1,0%) fizeram do Sudeste o principal eixo do enfraquecimento industrial em out/21. Metade dos seus estados já voltou a níveis de produção inferiores ao pré-pandemia, notadamente São Paulo: 6,1% abaixo de fev/20.
No Sul do país, assim como no Norte, o quadro é assimétrico. Enquanto Santa Catarina (-4,7%) perdeu produção, a indústria do Rio Grande do Sul (+2,7%) se manteve em crescimento e a do Paraná (+0,6%) aproximou-se da estabilidade. No Norte, Amazonas (+0,4%) cresceu pouco e Pará caiu (-4,2%), como mencionamos anteriormente.
O Nordeste foi a grande exceção do mês de out/21. A região como um todo registrou a alta mais intensa frente a set/21, de +5,1%, o que implicou a preservação do ritmo de reação que obteve no mês anterior. Apesar disso, a indústria nordestina segue como uma das mais distantes em relação ao nível de produção pré-pandemia. Ficou 11,5% abaixo do patamar de fev/20.
Comércio
Ao que tudo indica não é apenas a indústria que não consegue sair do vermelho; o comércio varejista também passou a registrar sequência de perdas sistemáticas. Os dados divulgados este mês pelo IBGE mostram que as vendas reais do varejo recuaram, em out/21, -0,9% em seu conceito ampliado e -0,1% em seu conceito restrito, já corrigidos os efeitos sazonais.
Com isso, são três meses seguidos de encolhimento das vendas, tendo como resultado levar as vendas de volta a níveis inferiores ao pré-pandemia. O comércio ampliado está 2,8% abaixo de fev/20 e o restrito 0,1% aquém deste patamar. Ou seja, a indústria não está só ao perder tudo o que havia conquistado no segundo semestre do ano passado, quando as medidas emergenciais adotadas pelo governo estavam plenamente em atuação.
Frente a 2020, com bases de comparação menos deprimidas, as variações interanuais também não escondem mais a perda de dinamismo do comércio. Houve perdas nos últimos três meses e agora em out/21, o varejo registrou -7,1% em ambos os conceitos.
Seja qual for a comparação utilizada, a queda de out/21 mostrou-se claramente difundida entre os diversos ramos do setor. Na comparação interanual, todos os 10 ramos ficaram no negativo. Na série com ajuste sazonal, frente a set/21, 70% apresentaram queda, embora geralmente menos intensa que nos meses anteriores. Material de construção (-0,9%) , veículos e autopeças (-0,5%) e móveis e eletrodomésticos (-0,5%), estiveram entre as maiores perdas.
Ainda na série com ajuste sazonal, não conseguiram crescer um mês sequer desde a virada do semestre os seguintes ramos do varejo: material de construção, móveis e eletrodomésticos e combustíveis e lubrificantes. Só o primeiro deles tem o atenuante de se manter acima do pré-pandemia, em grande medida, devido às compras estimuladas pelos meses de isolamento social.
Com uma sequência de quedas mais recentes estão dois dos segmentos de maior peso: veículos e autopeças e supermercados, alimentos e bebidas, que juntos respondem por cerca de 55% do varejo ampliado total. Ambos ficaram virtualmente estagnados por alguns meses antes de apresentarem recuos seguidos, de modo que, desde final da primeira metade de 2021, estes ramos não estão se saindo bem.
Por fim, os únicos que conseguiram ampliar vendas em out/21, na comparação com set/21, já descontados os efeitos sazonais, foram: equipamentos de escritório, informática e comunicação (+5,6%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (+1,4%), mas só após recuos intensos em meses anteriores; e o ramo de tecidos, vestuário e calçados (+0,6%), que compensou parte da perda de set/21 (-1%).
Serviços
Nem mesmo o setor de serviços, cujas atividades até há pouco tempo se mostravam obstruídas pelas fases de recrudescimento da pandemia, tem deixado de dar sinais de enfraquecimento nos últimos meses. Perdeu faturamento tanto em set/21 como em out/21. Indústria e comércio, como vimos, vêm de uma fase mais longa de adversidades.
Segundo os últimos dados do IBGE, o faturamento real de serviços encolheu -1,2% na passagem de set/21 para out/21, já descontados os efeitos sazonais, agravando o recuo registrado no mês anterior, que havia sido de -0,7%.
Foi uma perda reincidente, mais intensa e também bastante difundida entre os diferentes segmentos do setor. Dos 5 acompanhados pelo IBGE, 4 ficaram no vermelho na série com ajuste sazonal, o que representa uma parcela de 80% do total. Em todos estes, é possível que a etapa anterior de oscilação entre altas e quedas tenha dado lugar a uma fase de recuos sucessivos.
A única exceção foi o segmento de serviços prestados às famílias (+2,7% ante set/21 com ajuste), que é justamente aquele que mais longe está do pré-pandemia e que menos condições de recuperação apresentava antes do avanço da vacinação, devido ao receio dos consumidores e das exigências de distanciamento social.
O declínio recente dos serviços coloca em evidência a interrelação entre os diferentes setores da economia. Com varejo e indústria no vermelho há algum tempo, se reduzem muito as chances de os serviços manterem sua toada de expansão. Todos os segmentos no negativo em out/21 estão vinculados ao nível geral de atividade econômica.
São os casos, por exemplo, de serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,8% ante set/21), geralmente demandados pelas empresas naquelas funções terceirizados; de serviços de transporte, armazenagem e correios (-0,3%); e cada vez mais de serviços de informação e comunicação (-1,6%), com a progressão dos negócios digitais e do teletrabalho, além de outras novas tendências.
O IBGE pontua ainda o efeito negativo da elevação de preços dos serviços de telecomunicação sobre a demanda e, consequentemente, o faturamento real deste segmento. Também chama atenção para os impactos adversos vindo do agronegócio, que, como vimos no início do presente mês, registrou queda em seu PIB no 3º trim/21. Tais impactos se fizeram sentir em outros serviços (-6,7%), que congregam número diversificado de atividades, e no componente armazenagem, contabilizado pelo IBGE juntamente com transportes e correios.
Em decorrência destas involuções em seus segmentos, o setor de serviços como um todo, embora se mantenha em níveis de faturamento superiores ao pré-pandemia, vem perdendo bastante de seu diferencial positivo. Em ago/21 estava 4,1% acima de fev/20 e agora em out/21 ficou 2,1% acima deste patamar. Em out/21 também passou a ter três de seus cinco segmentos novamente abaixo do pré-pandemia: serviços prestados às famílias (-13,6%); serviços profissionais, administrativos e complementares (-3,7%) e outros serviços (-5,1%).