Carta IEDI
Emprego e renda na indústria em 2021
A evolução recente do emprego no país ainda está sob influência da pandemia de Covid-19, seja porque as atividades econômicas ainda não foram totalmente normalizadas, a despeito do avanço da vacinação, seja pela existência de bases de comparação bastante baixas, quando se observa o desempenho interanual. Apesar disso, há indícios de recuperação, mesmo que parcial e com muitas fragilidades, como o IEDI vem destacando em suas análises.
Nesta Carta IEDI, o emprego no setor privado é analisado segundo os microdados da PNAD contínua do IBGE, identificando as distintas trajetórias setoriais, com destaque para o emprego industrial, e por tipo de ocupação. Os últimos dados disponíveis referem-se ao 3º trim/21.
O número total de pessoas ocupadas no setor privado cresceu +13,6%, em relação ao 3º trim/20, sendo que o setor com melhor desempenho foi a construção, cuja ocupação avançou +20,2%. Outros setores também apresentaram resultados expressivos, como serviços (+14,2%) e comércio (+13,4%).
Na indústria de transformação a alta, de +12,9%, ficou abaixo da média geral, mas em números absolutos contribuiu para o crescimento da ocupação tanto quanto a construção, setor que mais cresceu. Seu adicional de ocupados, que somou 1,2 milhão a mais de pessoas, respondeu por 13% da melhora total do emprego no setor privado do 3º trim/20 ao 3º trim/21.
Com a reação recente, o emprego na indústria de transformação também superou patamares anteriores à pandemia. Em comparação ao 3º trim/19, registra ampliação de +1%. Enquanto isso, o total de ocupados no setor privado ainda está no vermelho nesta comparação com 2019: -1,7%. Para o total exceto indústria de transformação o resultado chega a -2,2%.
O emprego industrial tem se mostrado mais dinâmico que o agregado geral do setor privado tanto no segmento formal como no informal. Nas ocupações com carteira assinada, o crescimento frente ao 3º trim/20 da indústria de transformação foi de +8,9% ante +8,6% no total do setor privado. Já no segmento sem carteira assinada o avanço foi de +26% ante 23,1%, respectivamente.
Entre os 23 diferentes ramos da indústria analisados, apenas 3 tiveram resultado negativo na ocupação total em comparação com o mesmo período do ano anterior: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-19,2%), farmoquímicos e farmacêuticos (-17,6%) e produtos alimentícios (-1,2%). Todos estes compreendem atividades menos afetadas pelo choque inicial da pandemia, em função do teletrabalho, do distanciamento social e do caráter sanitário da crise.
Nos demais casos, que somam 87% dos ramos da indústria de transformação, houve expansão das vagas na comparação interanual, com destaque positivo para celulose, papel e produtos de papel (+36,4%), produtos de madeira (+34,5%), produtos de metal (+32,2%), impressão e reprodução (+31,7%) e minerais não metálicos (+25,95).
Embora a ocupação esteja em alta, a inflação vem corroendo o rendimento médio real da população e, consequentemente, comprometendo a expansão da massa salarial, que é a base do consumo das famílias. Outro fator em jogo é o avanço mais forte do emprego informal, cujo rendimento tende a ser menor e menos regular que no emprego com carteira assinada.
No agregado do setor privado, o rendimento efetivamente recebido já descontada a inflação encolheu -4,1% entre o 3º trim/20 e o 3º trim/21. Os recuos no comércio (-7,5%) e na construção (-7,7%) foram mais intensos, enquanto na indústria de transformação a queda foi mais amena (-2,7%).
Desempenho da ocupação na indústria de transformação
Esta Carta IEDI tem como base os microdados da PNAD Contínua do IBGE e acompanha o desempenho do emprego e da renda no setor privado com ênfase na indústria de transformação. Nesta edição, a análise é sobre os dados da indústria no terceiro trimestre de 2021. Cabe destacar que o IBGE realizou importantes mudanças metodológicas (https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101882.pdf) em toda a série da PNADc, o que alterou as estimativas de diversos indicadores anteriormente divulgados.
O número de pessoas ocupadas no setor privado atingiu 81,8 milhões de pessoas no 3º trim/21, o que significou um crescimento de 13,6%, em relação ao mesmo período de 2020, o equivalente a mais 9,8 milhões de ocupados a mais neste período. Este resultado ainda não foi suficiente para que o número de ocupados do setor privado voltasse ao patamar do 3º trim/19, quando o total de pessoas empregadas foi de 84,1 milhões de trabalhadores. Vale mencionar que o 3º trim/20 registrou o menor número de pessoas ocupadas em toda a série histórica da PNADc, iniciada em 2012.
Em termos setoriais, o setor da Construção civil teve o melhor desempenho relativo, com aumento de 20,2%, na comparação entre os terceiros trimestres de 2020 e 2021, e acréscimo de 1,2 milhão de empregados, ultrapassando em 180 mil ocupados o patamar observado no 3º trim/19. Os setores de Serviços e do Comércio, registraram expansões inferiores de, respectivamente, 14,2%, e 13,4%, e ainda não recuperaram o volume de emprego do 3º trim/19.
Na indústria de transformação, apesar da diminuição do ritmo de crescimento mensal da produção industrial nos meses de julho a setembro, na comparação interanual até set/21 a produção física cresceu 7,5%, impulsionando o emprego no setor. Segunda o PNADc, a ocupação na indústria de transformação no 3º tri/21 aumentou 12,9%, em relação ao 3º trim/20, o que adicionou quase 1,3 milhão de pessoas a mais neste período.
Este número de emprego industrial no 3º trim/21 ultrapassou em 113 mil ocupados o patamar registrado no mesmo período de 2019. Vale destacar, ainda, que o crescimento da ocupação na passagem do segundo para o terceiro trimestre de 2021 foi de 7,0% na indústria de transformação, superior à média do setor privado (5,0%), com 725 mil ocupados a mais na indústria entre esses dois trimestres.
Evolução do emprego por tipo de ocupação
O trabalho com carteira assinada, como visto em análises anteriores, sofreu impacto menor que as demais formas de ocupação em 2020 durante a pandemia. Com isso, por ter uma base de comparação maior, em termos interanuais, apresentou menor crescimento. O número de assalariados com carteira aumentou 8,6%, entre o 3º trim/20 e o mesmo período de 2021, e atingiu o montante de 33,5 milhões de trabalhadores.
O destaque em termos da variação percentual neste período foi a Construção civil que apresentou crescimento de 19,0% com 1,6 milhões de empregados formais. Este setor em termos de formalização da força de trabalho ainda apresenta um percentual baixo (22,3% do total do emprego são trabalhadores com carteira assinada).
Na indústria de transformação, o número de ocupados com carteira assinada alcançou 7 milhões de trabalhadores no 3º trim/21, sendo 21,0% de todo emprego formal do setor privado e 63,7% do total da ocupação na indústria de transformação. Neste período, a ocupação neste setor cresceu 8,9%, o equivalente a mais 578 mil pessoas empregadas na indústria. A expansão do emprego industrial foi um pouco superior na comparação com os demais setores da economia: agropecuária (+7,2%); serviços (+8,1%) e no comércio (+8,8%).
Nota-se que na passagem do segundo para o terceiro trimestre de 2021, mas também nas comparações trimestrais anteriores, o emprego com carteira cresceu menos do que o registrado no total da ocupação, indicando que a recuperação tem se dado principalmente nas demais formas de trabalho. De qualquer modo, na indústria de transformação, o emprego com carteira aumentou 5,2% neste período, acima da média do setor privado (4,4%), o que representou 352 mil pessoas a mais empregadas na indústria neste período.
A indústria de transformação foi o único setor no qual o emprego com carteira assinada no 3º trim/21 ultrapassou, em 51 mil postos de trabalho, o patamar observado no 3 trim/19. Nos outros dois principais setores econômicos ainda prevaleceram, nesta base de comparação, resultados negativos com menor número de empregos com carteira assinada: Serviços (-714 mi) e Comércio (-192 mil).
Por fim, observa-se que a proporção de empregados com carteira assinada, na indústria de transformação, praticamente não se alterou quando comparado ao período anterior à pandemia, ao passar de 63,8% do total dos ocupados, no 3º trim/19, para 63,7% no mesmo trimestre de 2021.
Dentre os segmentos industriais, destaca-se que na Fabricação de produtos alimentícios houve aumento de 4,8 pontos percentuais (p.p.) da proporção do emprego com carteira, passando de 69,3% para 74,1%. Já no segmento de Impressão e reprodução de gravações houve diminuição de -8,1 p.p., de 61,8% para 53,7%.
A maior proporção de empregados com carteira assinada permaneceu na Fabricação de coque; produtos derivados de petróleo e de biocombustíveis. Já a menor é na Confecção de artigos do vestuário e acessórios, ficando abaixo da Fabricação de produtos têxteis que era o segmento com menor proporção em 2019.
Por dentro do emprego industrial
Dentre os segmentos industriais analisados, apenas em três deles ocorreu redução da ocupação, na comparação interanual, ao passo que em vinte setores notou-se incremento do emprego. Os dois maiores recuos, na ocupação, foram na Fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-19,2% ou -36,9 mil postos de trabalho) e na Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-17,6% ou -43,6 mil empregos). Estes setores haviam crescido significativamente durante a pandemia de 2020 e agora estão ajustando o nível de emprego das suas unidades produtivas.
Com relação aos segmentos que tiveram aumento da ocupação no 3º trim/21 na comparação interanual, destacam-se Fabricação de celulose, papel e produtos de papel (+36,4% ou +64 mil ocupações), Fabricação de produtos de madeira (+34,5% ou +105,7 mil empregos), Fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (+32,2% ou +266,3 mil trabalhadores) e Impressão e reprodução de gravações (+31,7% ou +73,4 mil ocupações).
Quando se compara o terceiro trimestre de 2021 com o terceiro trimestre de 2019, portanto antes da pandemia, em 14 segmentos registrou-se alta no número de pessoas ocupadas, e em outros nove o número é menor. No campo positivo, a maior variação é na Fabricação de máquinas e equipamentos (+23,5%), e no negativo, Fabricação de bebidas (-19,6%).
Em termos dos segmentos da indústria, agregados por intensidade tecnológica, nota-se redução do emprego com carteira assinada no grupo de alta tecnologia (-23,5% com redução de 104 mil empregos), na comparação interanual. Por outro lado, houve aumento do emprego no grupo de média-alta tecnologia (+16,2%), média (+9,8%) e no de média-baixa (+10,1%) com ganhos de, respectivamente, +196 mil, +116 mil e +369 mil postos de trabalho.
Na comparação trimestral, nota-se que nos quatro grupos houve aumento do emprego com carteira, com destaque para o de média-alta tecnologia (+8,1%), derivado principalmente do desempenho da Fabricação de produtos químicos (+30,5%) e da Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+23,8%).
Desempenho da massa de rendimento e do rendimento médio real
A massa real de rendimento efetivo da indústria de transformação apresentou o primeiro resultado positivo, na comparação interanual, desde o 1º trim/20. No total do setor privado a massa real cresceu 9,2%, entre o 3º trim/20 e o mesmo período de 2021, enquanto na indústria aumentou 2,7%. No 3º trim/21, a massa de rendimento atingiu o montante de R$ 172 bilhões (setor privado), sendo que a indústria de transformação contribuiu com R$ 26 bilhões.
Na passagem do 2º trim e o 3º trim de 2021, a variação percentual da massa real de rendimento cresceu 5,7% na indústria de transformação, acima da média do setor privado (2,6%), demostrando que a indústria começou a apresentar uma tendência de recuperação da geração de renda do trabalho na economia. Todavia, vale ressaltar que, comparando-se com o terceiro trimestre de 2019, a massa de rendimento real ainda diminuiu -5,7% no total do setor privado, enquanto que na indústria a redução foi menor, de -1,4%.
O que se nota, na indústria de transformação, é que o desempenho da massa real de rendimento efetivo, nesses dois anos derivou, fundamentalmente, do resultado da renda média real efetiva. No 3º trim/21, o rendimento médio real pago pela indústria de transformação diminuiu 9,2% e a ocupação aumentou 12,9%, o que produziu um pequeno acréscimo na massa real de rendimento efetivo. Neste período, no total do setor privado, a massa de rendimento também subiu em função da queda de 4,2% no rendimento médio e da alta de 13,6% ocupação.
Entre o 2ºtrim e o 3ºtrim de 2021, o desempenho do rendimento médio real efetivo da indústria de transformação foi negativo em 1,2%, redução menos intensa na comparação com a média do setor privado (-2,3%), o que resultou, neste período, numa expansão mais robusta da massa real de rendimento efetivo na indústria de transformação vis a vis a média do setor privado. Um dos fatores que vem erodindo a renda dos trabalhadores é a inflação, segundo a FIPE, em 2021 até novembro os reajustes salarias foram insuficientes para recompor a variação de preços medida pelo INPC. O reajuste médio das obtido nas negociações coletivas foi de 6,5% e a variação do INPC alcançou 8,4% neste período.
De fato, a recuperação do mercado de trabalho está acontecendo com a expansão da ocupação, informal e formal, todavia os salários iniciais dos novos postos de trabalho abertos são inferiores aos observados antes da pandemia. Isto pode ser mensurado na comparação com o 3º trim/19, a massa real de rendimento efetivo da indústria de transformação caiu 1,3% no 3ºtrim/21, em relação ao mesmo período de 2019, devido a queda de 2,7% no rendimento médio real, enquanto que a ocupação subiu 1,0% neste período.