Carta IEDI
Indústria e varejo na frente
O último trimestre de 2022 teve início com um enfraquecimento do setor de serviços, que vinha se mostrando resiliente, dando contribuição importante para o dinamismo da atividade econômica até então. Saiu-se pior do que a indústria e o comércio varejista, que, embora pouco tenham variado, ao menos ficaram no azul.
Na passagem de set/22 para out/22, já descontados os efeitos sazonais, enquanto o varejo e a indústria registraram +0,5% e +0,3%, respectivamente, o faturamento real dos serviços encolheu -0,6%, sua primeira taxa negativa desde fev/22. Com isso, o índice IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, recuou -0,05% e cresceram as chances de o PIB do 4º trim/22 vir a ser mais modesto do que o esperado.
Este último resultado dos serviços já pode estar refletindo a dissipação dos efeitos positivos da retomada das atividades presenciais e da mobilidade das pessoas e, ao mesmo tempo, as influências do baixo dinamismo dos demais setores econômicos.
Tanto é que as maiores quedas em out/22 ficaram por conta dos serviços prestados às famílias, com -1,5% na série com ajuste sazonal, e transportes, armazenagem e correios, com -1,8%, sendo que para transportes terrestres, mais diretamente relacionados com o nível geral de atividade econômica, foi o segundo mês no vermelho.
A indústria, por sua vez, mesmo tendo voltado ao positivo, depois de dois meses seguidos de declínio, apresentou fragilidades importantes. Em primeiro lugar, porque a variação de apenas +0,3% sinaliza mais um quadro de estabilidade do que de crescimento. Em segundo lugar, porque as altas foram muito concentradas setorial e regionalmente.
Dos 26 ramos identificados pelo IBGE, apenas 7 registraram ampliação da produção em out/22 frente a set/22, uma parcela minoritária de 27% do total. Do ponto de vista regional, dos 15 parques industriais, 6 avançaram, o que representa uma parcela minoritária de 40% deles.
Os avanços mais intensos marcaram parques industriais menos diversificados setorialmente, como Pará (+5,2% com ajuste), que depende muito do desempenho do ramo extrativo, e Goiás (+3,0%), onde o setor alimentício é preponderante. Contribuição relevante veio da indústria de São Paulo, que variou +0,4%, dando sequência a uma trajetória oscilante entre meses de alta e meses de queda. Todos estes parques tiveram recuos no mês anterior.
Quanto às vendas reais do comércio varejista houve expansão pela terceira vez consecutiva na série livre de efeitos sazonais. A alta, porém, foi menor do que no mês anterior: +0,4% no comércio restrito e de +0,5% no comércio ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças e material de construção.
O impulso positivo se espalhou por metade dos seus dez segmentos identificados pelo IBGE. As maiores altas couberam a móveis e eletrodomésticos (+2,5% ante set/22), equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (+2,0%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (+2,0%), ramos que no geral estão com fraco desempenho no ano corrente.
Entre os recuos mais acentuados, ficaram as vendas de livros jornais e papelaria (-3,8% ante set/22), de material de construção (-3,5%) e de tecidos, vestuário e calçados (-3,4%). O ramo de veículos e autopeças também teve declínio em ritmo não desprezível (-1,7%), depois de virtual estabilidade em set/22 (+0,1%).
Mesmo com os sinais de esgotamento do processo de crescimento dos serviços, no acumulado de 2022 até o mês de outubro, é o setor com o desempenho superior. Com a maior parte do ano coberto por estatísticas oficiais, este quadro se manterá até o final do ano.
Em jan-out/22 ante o mesmo período do ano anterior, os serviços acumulam alta de +8,7%, uma situação bastante diferente da indústria e do varejo ampliado, que registram perdas de -0,8% e -0,5%, respectivamente.
O setor de serviços é também aquele que mais superou o patamar de faturamento do pré-pandemia de Covid-19: 10,5% acima de fev/20. O varejo, em seu conceito ampliado, está 0,9% abaixo deste patamar, em boa medida devido às vendas de veículos. Já a indústria é o setor mais distante de recuperar níveis pré-pandêmicos: está 2,1% aquém de fev/20, devido principalmente a bens de consumo duráveis.
Indústria
Após dois meses seguidos de retração, a indústria geral até voltou a se expandir em out/22, registrando +0,3% ante set/22, no agregado nacional, mas os dados divulgados pelo IBGE mostram que esta melhora não foi compartilhada pela maioria dos parques industriais.
Dos 26 ramos identificados pelo IBGE, apenas 7 registraram ampliação da produção em out/22, uma parcela minoritária de 27% do total. Regionalmente, dos 15 parques industriais, 6 avançaram, o que representa 40% deles.
Setorialmente, entre os destaques estão alimentos (+4,8% ante set/22, com ajuste) e metalurgia (+4,6%), sem que ambos tenham crescimento o suficiente para compensar os resultados ruins dos meses anteriores. Quanto aos macrossetores, o jogo ficou dividido: metade teve expansão (+0,7% em bens intermediários e +0,3% em bens de consumo semi e não duráveis) e metade ficou no vermelho (-4,1% em bens de capital e -2,7% em bens de consumo duráveis).
Do ponto de vista regional, os avanços mais intensos marcaram parques industriais menos diversificados setorialmente, como Pará (+5,2%), que depende muito do desempenho do ramo extrativo, e Goiás (+3,0%), onde o setor alimentício é preponderante em sua estrutura industrial. Ambos tiveram recuos na produção antes desde resultado positivo, principalmente o Pará.
Do lado negativo, um número importante de indústrias locais apresentou quedas consideráveis, a exemplo de Ceará (-13,7% ante set/22, com ajuste), Mato Grosso (-11,5%) e Amazonas (-8,2%), mas também Pernambuco (-4,8%) e Bahia (-4,6%), levando o agregado do Nordeste a registrar variação de -5,7%.
Com poucos parques no positivo e muitos com forte declínio, a expansão de out/22 do agregado nacional, mesmo que muito próximo da estabilidade, recebeu contribuição relevante do resultado da indústria de São Paulo, que variou +0,4%, dando sequência a uma trajetória oscilante entre meses de alta e meses de queda.
No acumulado do ano, as informações até out/22 apontam para um panorama regional da indústria em que a maioria de seus parques deve encerrar 2022 no vermelho. Em jan-out/22, o resultado de -0,8% do agregado nacional é acompanhado de 8 das 15 localidades em declínio, isto é, 53% dos parques industriais.
As perdas mais intensas ficam a cargo do Pará (-8,1% ante jan-out/21) e Espírito Santo (-6,7%), devido à performance adversa do ramo extrativo em 2022, que no agregado nacional acumula variação de -3,2%. Minas Gerais, onde este setor também é importante, ficou igualmente no vermelho (-1,4%).
Para a indústria de São Paulo, 2022 também traz perdas, ao menos por ora. Em jan-out/22, acumula queda de -0,6%, isto é, um pouco abaixo do resultado do agregado nacional (-0,8%). Vale lembrar, contudo, que o crescimento de 2021 (+4,8%) não compensou integralmente o recuo de 2020 (-6,0%), o que faria muito bem vinda uma nova expansão em 2022.
Em São Paulo, 61% de seus ramos industriais não registram crescimento em 2022 até o mês de outubro, sendo que em alguns deles o recuo é bastante intenso, como em borracha e plástico (-9,4%), farmacêuticos e farmoquímicos (-8,6%) e máquinas e aparelhos elétricos (-8,0%). Em sentido oposto, dois ramos têm se saído bem no ano: têxteis (+13,8%) e outros equipamentos de transporte (+20,3%).
Voltando à indústria nacional, entre os parques regionais em crescimento, os destaques vão para Mato Grosso, com +24,5% em jan-out/22, graças à fabricação de alimentos (+29,7%), Amazonas, com +4,5%, devido principalmente a bebidas (+17,1%) e outros equipamentos de transporte +9,0%, e Rio de Janeiro, com +4,2%, sob influência positiva de derivados de petróleo e biocombustíveis (+13,6%).
Comércio
Em out/22, pela terceira vez consecutiva, as vendas reais do comércio varejista se ampliaram, já descontados os eventuais efeitos sazonais. A alta, porém, foi menor do que no mês anterior. Os dados do IBGE apontam variação de +0,4% no comércio restrito e de +0,5% no comércio ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças e material de construção.
A expansão neste começo do último quarto de 2022 se espalhou por metade dos dez segmentos do varejo identificados pelo IBGE. As maiores altas na série com ajuste sazonal couberam a móveis e eletrodomésticos (+2,5% ante set/22), equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (+2,0%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (+2,0%), ramos que no geral estão com fraco desempenho neste ano.
Entre os recuos mais acentuados, ficaram as vendas de livros jornais e papelaria (-3,8%), de material de construção (-3,5% ante set/22) e de tecidos, vestuário e calçados (-3,4%). O ramo de veículos e autopeças também teve declínio em ritmo não desprezível (-1,7%), depois de virtual estabilidade em set/22 (+0,1%).
Frente ao mesmo mês do ano passado, o placar setorial ficou igualmente dividido: 5 ramos no vermelho e 5 no azul. Tecidos, vestuário e calçados (-14,8%) e material de construção (-12,7%) registraram perdas de dois dígitos. A maior alta coube a combustíveis e lubrificantes (+34,2%), em que a alteração na cobrança de impostos contribuiu muito para a inflexão de preços.
Com a maior parte do ano coberta pelas estatísticas do IBGE para o comércio, já dá para saber a que veio 2022. Em seu conceito ampliado, embora pequena, o conjunto do setor registra perda no acumulado de jan-out/22: -0,5%, muito concentrada em ramos de bens de consumo duráveis.
A piora das condições de crédito com a elevação das taxas de juros, a recomposição da parcela de serviços no orçamento das famílias, notadamente, daquelas de maior renda, que conseguiram preservar mais seu poder de compra ao longo da pandemia, e a possibilidade de adiar a aquisição de bens de duráveis influenciaram os resultados negativos destes segmentos.
Foram os casos de móveis e eletrodomésticos, com -8,7% em jan-out/22 ante jan-out/21, material de construção, com -8,6%, e veículos e autopeças, com -1,3%, mas também de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,2%), que incluem lojas de departamento, e em alguma medida suas vendas dependem do crédito.
Do lado positivo, combustíveis e lubrificantes avançaram +14,9% em jan-out/22 e supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujas vendas pesam muito do total do varejo, reverteram a queda de -2,5% em jan-dez/21 e voltaram a crescer em 2022: +1,1% em jan-out/22.
Serviços
O faturamento real do setor de serviços, diferentemente da indústria e do comércio, recuou em out/22 pela primeira vez desde o fevereiro último na série com ajuste sazonal. A variação foi de -0,6% ante set/22, refletindo perdas na maioria dos segmentos do setor.
Dos 5 segmentos identificados pelo IBGE, 3 ficaram no vermelho em out/22, sendo a queda mais intensa registrada por transportes, armazenagem e correios, cujo faturamento já vinha perdendo ritmo desde a entrada do segundo semestre. Caiu -0,3% em set/22 e -1,8% agora em out/22, já descontados os efeitos sazonais.
Os serviços prestados às famílias não ficaram muito atrás, ao registrarem -1,5%. Interromperam, assim, uma sequência de sete meses seguidos de expansão, ajudada pela retomada de atividades presenciais e da mobilidade das pessoas, decorrentes do controle da pandemia.
Outro ramo no negativo foi o de serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,8% com ajuste), devido ao recuo de atividades de maior qualificação (-3,7% no componente técnico-profissional).
Os únicos em expansão foram informação e comunicação (+0,7% com ajuste sazonal) e outros serviços (+2,6%), que reúnem um conjunto diversificado de atividades, como serviços urbanos, financeiros e rurais.
A despeito da inflexão recente, o setor como um todo e a maioria de seus ramos encontram-se em níveis de faturamento bastante superiores ao pré-pandemia. Os serviços totais estão 10,5% acima de fev/20 e informação e comunicação e transportes, 17,8% e 19% acima deste patamar, respectivamente.
A exceção é o segmento de serviços prestados às famílias, que ainda está 6% aquém do patamar pré-pandemia. Neste caso, a queda de out/22 é mais preocupante, pois interrompe um processo ainda incompleto de recuperação.
Já em relação ao quadro do ano passado, todos os segmentos encontram-se no azul. Para o setor como um todo houve alta de +9,5% em out/22 ante out/21, mesmo ritmo de set/22 (+9,4%).
Bases baixas de comparação ajudaram serviços prestados às famílias (+10,7% ante out/21), sobretudo, seu componente de outros serviços prestados às famílias (+16,5%), que contempa os serviços pessoais, e transportes (+12,0%), principalmente terrestres (+18,2%), a obterem as altas mais expressivas ante out/21.
Com isso, os serviços vão se firmando como o grande setor da economia com dinamismo mais intenso em 2023, dando contribuição relevante para o desempenho total do PIB brasileiro, como vimos recentemente para o 3º trim/22. Em jan-out/22, o faturamento real do setor acumula alta de +8,7%.