Carta IEDI
Na expectativa de dias melhores
Na entrada da segunda metade de 2023, a indústria brasileira permaneceu em um quadro desfavorável, registrando mais uma vez declínio de sua produção física: -0,6% frente a jun/23, já descontados os efeitos sazonais, e -1,1% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
Deste modo, o setor acumula perda de -0,4% nos sete primeiros meses do ano já cobertos pelas estatísticas oficiais do IBGE. Se desconsiderarmos o ramo extrativo, isto é, tomada a penas a indústria de transformação, o recuo no período é ainda mais intenso, chegando a -1,5%.
Esta sequência de resultados frágeis para a indústria nada mais é do que a consequência de um conjunto muito amplo de distorções da nossa macroeconomia. Convém enfatizar as altas taxas de juros dos financiamentos para a indústria, bem como o enorme ônus que o setor carrega devido à tributação que outras atividades relevantes, como a agricultura e os serviços, não carregam. Se viermos a ter um avanço célere nestes dois campos, que não esgotam os fatores que estão travando a produção, mas que são importantes, podemos assistir a um setor industrial crescendo novamente.
Deste modo, não surpreende que os indicadores sobre a avaliação dos empresários industriais sobre os negócios correntes do setor tenham ficado na regão de pessimismo em ago/23, sinalizando para mais um mês de fraco desempenho.
Apesar disso, há esperança de dias melhores. A sondagem da CNI para os próximos seis meses apontou, em ago/23, sua melhor marca desde out/22. Muito disto está provavelmente associado à continuidade da fase de redução da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central e aos sinais de reforço do mercado interno, de acordo com os últimos dados do PIB, que cobriram o 2º trim/23.
Por ora, neste início de semestre, a maioria dos ramos industriais não se saiu bem. Na série com ajuste sazonal, 64% do total de ramos da indústria geral não conseguiram crescer e, na comparação com mesmo período do ano anterior, 68% deles perderam produção. Dos quatro macrossetores, três recuaram em ambas as comparações, notadamente bens de capital.
Regionalmente, houve retrocessos em 14 dos 15 parques industriais identificados pelo IBGE na série com ajuste sazonal. Frente a jul/22, por sua vez, o placar foi de 61% das industriais regionais no vermelho ante 39% em expansão.
Entre os destaques negativos encontra-se a indústria automobilística, que ficou no vermelho tanto em jun/23 como em jul/23, indicando que o programa de redução de impostos sobre veículos até pode ter dinamizado as vendas do varejo, mas ainda não teve o efeito desejado sobre a produção industrial deste setor. Tal desempenho tem restringido os resultados da indústria de bens de consumo duráveis como um todo.
Em relação a um ano atrás, nenhum macrossetor conseguiu se expandir, sendo que os piores resultados ficaram por conta de bens de capital (-16,9% ante jul/22), como tem sido a regra nos últimos meses, e bens de consumo duráveis (-3,5%). Na série com ajuste sazonal, que dá a tônica mais de curto prazo, somente bens de consumo semi e não duráveis ficaram no azul.
Para bens de capitais, a sinalização recente foi de aprofundamento de seu declínio. Os resultados para a produção de bens de capital de uso misto (-36,1% ante jul/22), para construção (-15,6%) e transportes (-13,8%) foram os que tiveram maior deterioração. Aqueles para o setor de energia (-29,0%) também estiveram entre os maiores recuos. Já bens de capital para a própria indústria (-7,5%), embora tenham amenizado sua queda, seguem há muito tempo no vermelho.
Bens intermediários vêm conseguindo evitar o terreno negativo desde maio último, mas em jul/23 tampouco ampliaram produção. Registraram 0% frente a jul/22, com resultados particularmente ruins em defensivos agrícolas (-24,9%), celulose (-7,4%) e intermediários da indústria automobilística (-6,9%). Quem amenizou o quadro foram os intermediários para a indústria alimentícia, que avançaram +8,4%.
Outro macrossetor que igualmente se aproximou muito da estabilidade, em jul/23, foi o de bens de consumo semi e não duráveis, com -0,3% ante jul/22. De todo modo isso aponta para uma deterioração, já que tanto no 1º trim/23 como no 2º trim/23 logrou aumentos de produção. Houve crescimento menos intenso nos segmentos de carnes e de combustíveis e quedas mais agudas em vestuário (-9,6%) e farmacêutica (-5,6%).
Por fim, bens de consumo duráveis cresceram persistentemente entre jan/23 e mai/23, mas em jun/23 (-4,0% ante jun/22) e agora em jul/23 (-3,5%) voltaram a apresentar perda. A produção de automóveis (-7,0%) foi uma das principais influências negativas, como dito anteriormente, tendo sido acompanhada pelos ramos de móveis (-11,5%), que já estava no vermelho, e eletrodomésticos de linha branca (-2,4%), que evitaram recuos nos dois primeiros trimestres do ano.
Resultados da Indústria
Segundo os últimos dados divulgados pelo IBGE, a produção física da indústria geral brasileira sofreu novo revés em jul/23, após um primeiro semestre já decepcionante. O resultado foi de -0,6% na comparação com mês anterior, já descontados os efeitos sazonais.
Frente ao mesmo mês do ano anterior, o desempenho na entrada da segunda metade do ano também foi negativo: -1,1%, interrompendo, dessa forma, dois meses consecutivos de taxas positivas: +0,2% em jun/23 e +1,9% em mai/23.Vale citar que jul/23 (21 dias) teve o mesmo número de dias úteis que igual mês do ano anterior não havendo, portanto, nenhum efeito calendário que pudesse ter influenciado a performance do setor.
No acumulado dos primeiros sete meses de 2023, a produção industrial registrou queda de -0,4% em relação ao mesmo período de 2022. Por sua vez, no acumulado dos últimos doze meses encerrados em jul/23 frente ao período imediatamente anterior, o setor ficou estagnado (0,0%). Este, que é um indicador de tendência mais de longo prazo, não aponta crescimento desde mai/22.
Em relação aos macrossetores, na comparação entre jun/23 e jul/23 na série com ajuste sazonal, houve variação positiva em apenas um macrossetor: +1,5% em bens de consumo semi e não duráveis, intensificando a expansão de +0,7% verificada no mês imediatamente anterior. Até então, esta parcela da indústria vinha alternando meses de crescimento e meses desfavoráveis.
Por outro lado, bens de capital (-7,4%) e bens de consumo duráveis (-4,1%) assinalaram as taxas negativas mais acentuadas em jul/23 na mesma base de comparação. O setor produtor de bens intermediários (-0,6%) também mostrou resultado negativo e marcou o segundo mês seguido de recuo na produção.
Na comparação com igual mês do ano anterior, quando houve decréscimo de -1,1% em jul/23 para a indústria como um todo, resultados negativos marcaram três dos seus quatro macrossetores. Bens de capital (-16,9%) assinalaram a redução mais acentuada também nesta comparação, sendo sua décima primeira taxa negativa consecutiva e a mais intensa desde jun/20 (-22,3%).
O segmento foi influenciado, principalmente, pelo recuo observado no grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (-13,8%), seguidos por bens de capital de uso misto (-36,1%), para energia elétrica (-29,0%), para fins industriais (-7,5%), agrícolas (-10,7%) e para construção (-15,6%).
A produção de bens de consumo duráveis recuou -3,5% em jul/23 frente a mês do ano anterior, segunda taxa negativa consecutiva. O macrossetor foi pressionado, em grande medida, pela redução na fabricação de automóveis (-7,0%), eletrodomésticos da “linha branca” (-2,4%) e móveis (-11,5%). Por outro lado, os impactos positivos vieram da produção de eletrodomésticos da “linha marrom” (+8,7%), motocicletas (+18,9%) e outros eletrodomésticos (+4,5%).
O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis, a seu turno, apresentou variação negativa de -0,3% em jul/23, devido, principalmente, às reduções observadas nos grupamentos de semiduráveis (-8,4%) e de não duráveis (-4,9%). Em contraste, o grupamento de carburantes (+5,3%) assinalou o principal impacto positivo nessa categoria, impulsionado pala fabricação de gasolina automotiva e álcool etílico.
O setor produtor de bens intermediários, ao assinalar variação nula (0,0%) em jul/23, repetiu o patamar registrado em igual mês do ano anterior, interrompendo dois meses consecutivos de crescimento na produção nesse tipo de comparação. O resultado foi influenciado, principalmente, pelos avanços na fabricação de produtos alimentícios (+8,4%), enquanto as pressões negativas foram registradas por produtos químicos (-7,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,9%) e celulose, papel e produtos de papel (-7,8%).
No acumulado do período janeiro-julho/23, o recuo de -0,4% da indústria geral foi acompanhado por duas categorias econômicas. Bens de capital (-10,8%) mostraram o pior resultado, pressionados por reduções em bens de capital para energia elétrica (-28,0%), para fins industriais (-8,6%) e para equipamentos de transporte (-6,1%). O setor produtor de bens intermediários (-0,5%) também assinalou variação negativa, mas próxima à da média da indústria (-0,4%).
Em direção oposta, o segmento de bens de consumo duráveis (+4,3%) apontou o avanço mais acentuado nos sete primeiros meses de 2023, impulsionado, em grande medida, pela maior produção de eletrodomésticos (+11,8%), de automóveis (+3,1%) e de motocicletas (+15,6%). O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis (+1,4%) também mostrou crescimento no indicador acumulado no ano.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação negativa (-0,6%) da produção da indústria geral em jul/23 frente a jun/23, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de variação de -0,4% na indústria de transformação, sua quarta queda consecutiva, e de -1,4% no ramo extrativo.
Na comparação com jul/22, enquanto a indústria geral recuou -1,1%, a indústria de transformação apresentou retração de -2,5%. A indústria extrativa não só manteve um desempenho positivo como este foi bastante significativo: +7,0%, sendo seu sétimo avanço mensal consecutivo neste tipo de comparação.
Deste modo, a indústria geral acumula perda de -0,4% em sua produção total em jan-jul/23, mas se desconsiderarmos o ramo extrativo (+6,0%), o declínio no período se agrava para -1,5%, referente ao resultado acumulado no ano da indústria de transformação.
A variação de -0,6% da atividade da indústria geral na passagem de jun/23 para jul/23 foi acompanhada de alta em apenas 9 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE. Entre as influências positivas mais importantes na indústria de transformação estão: produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+8,2%), produtos alimentícios (+0,9%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,7%). Por outro lado, entre as atividades que registraram redução na produção, destacaram-se: veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,1%) e máquinas e equipamentos (-5,0%).
Na comparação com jul/22, o setor industrial assinalou queda de produção de -1,1% em jul/23, com resultados negativos em 17 dos 25 ramos, 52 dos 80 grupos e 57,0% dos 789 produtos pesquisados pelo IBGE. Vale lembrar que não houve efeito calendário neste mês em questão.
Na indústria de transformação, os recuos mais significativos na comparação interanual vieram de: veículos automotores, reboques e carrocerias (-9,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-25,3%), produtos químicos (-6,7%) e máquinas e equipamentos (-9,8%).
Em direção oposta, entre os ramos que contribuíram positivamente para a indústria de transformação, destacaram-se: produtos alimentícios (+4,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,6%), impressão e reprodução de gravações (+29,8%) e outros equipamentos de transporte (+9,8%).
No índice acumulado para jan-jul/23, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou redução de -0,4%, com resultados negativos em 17 dos 25 ramos, 47 dos 80 grupos e 55,5% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências negativas na indústria de transformação foram: produtos químicos (-8,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,4%), máquinas e equipamentos (-6,0%) e produtos de minerais não metálicos (-7,7%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan-jul/22, entre as atividades que apontaram expansão na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,5%) e produtos alimentícios (+2,9%) exerceram as maiores influências na formação da média da indústria de transformação.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, assinalou alta pelo segundo mês consecutivo, registrando 81,0% em jul/23. Cabe destacar que o dado de jul/23 ficou 4,8 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 1,4 p.p. acima da média histórica (79,6%). Em ago/23, esse indicador teve pequena queda, atingindo a 80,8% da capacidade instalada.
De acordo com os dados da CNI, entretanto, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, ao alcançar 78,2% em jul/23, recuou 0,3 ponto percentual em relação ao resultado de jun/23, na série com ajuste sazonal. Com isso, a capacidade utilizada na indústria ficou 1,5 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,7%), porém, 2,3 p.p. abaixo da média histórica (80,5%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 51,6 pontos em jul/23, crescendo 0,3 pontos frente ao mês anterior. Como se encontra acima da marca de 50 pontos, sinalizou novo aumento dos estoques.
No segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI apresentou os mesmos valores do que a indústria geral em jul/23 (51,6 pontos, com alta de 0,3 pontos frente a jun/23). No caso da indústria extrativa, por sua vez, houve alta entre jun/23 e jul/23, de 47,5 pontos para 49,6 pontos, sugerindo diminuição dos estoques.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 52,3 pontos em jul/23, ou seja, sinalizando estoques superiores ao planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 50,6 pontos e 52,3 pontos, respectivamente.
Em jul/23, 60% dos ramos da indústria de transformação apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos) ante 76% em jun/23. Os destaques ficaram a cargo de: calçados (59,5 pontos), couros (58,3 pontos) e têxteis (57,4 pontos), entre outros. Quatro setores ficaram em equilíbrio (50 pontos): alimentos, bebidas, máquinas e materiais elétricos e veículos automotores. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: impressão e reprodução (45,8 pontos), farmacêuticos (46,7 pontos), e metalurgia (47,7 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria Geral da CNI, que havia assinalado uma pequena alta entre os meses de jun/23 (50,4 pontos) e jul/23 (51,1 pontos), progrediu mais uma vez em ago/23, atingindo 53,2 pontos, ficando na zona de otimismo.
No caso da Indústria de transformação, o indicador que havia ficado em 51,4 pontos em jul/23, avançou para 52,8 pontos em ago/23, demonstrando melhora das expectativas do empresariado. Cabe lembrar que valores abaixo da marca dos 50 pontos indicam pessimismo e acima dela, otimismo do empresariado industrial.
Na passagem de jul/23 para ago/23, o componente referente às expectativas em relação ao futuro na indústria de transformação subiu de 54,4 pontos para 55,8 pontos. O componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios também progrediu, mas manteve-se na região de pessimismo: 45,4 pontos em jul/23 e 46,9 pontos em ago/23.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, assinalou novo recuo das expectativas dos empresários, indo de 91,9 pontos em jun/23 para 91,4 pontos em jul/23. O componente deste indicador referente à situação atual caiu de 89,5 para 88,5 pontos no período e aquele referente às expectativas futuras manteve-se em 94,4 pontos. Dessa forma, como os indicadores mantiveram-se abaixo de 100 pontos, indicaram pessimismo dos empresários.
Outro indicador frequentemente utilizado para se avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Entre jul/23 e ago/23, este indicador obteve alta, passando de 47,8 pontos para 50,1 pontos, indicando melhora no quadro dos negócios do setor industrial, visto que ficou acima dos 50 pontos pela primeira vez desde out/22 (50,8 pontos).
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)