Carta IEDI
O aumento dos juros e o crédito no final 2024
Em 2024, as novas concessões de crédito bancário somaram R$ 7,2 trilhões em 2024, representando uma expansão de +15,3% frente a 2023, em termos reais. Com isso, o estoque total de crédito bancário no país atingiu R$ 6,43 trilhões em dez/24, o equivalente a 54,4% do PIB nacional.
A Carta IEDI de hoje analisa o desempenho creditício com ênfase na segunda metade de 2024, atualizando, assim, o acompanhamento feito na Carta n. 1283 “Redução da Selic e melhora do crédito no 1º Sem/24”.
As condições do mercado de crédito de fato não são as mesmas de um semestre para outro. No primeiro, ainda colhíamos os efeitos positivos na fase descendente dos juros no país. Já o segundo foi marcado por uma nova fase de endurecimento da política monetária, mas isso só a partir de meados de set/24.
Por este motivo e pela defasagem em que a alta da Selic é repassada, a piora do quadro do crédito ainda não é totalmente percebida, muito embora as taxas médias de juros dos empréstimos já apontem uma elevação no último trimestre de 2024.
No acumulado de jan-jun/24, as novas concessões tinham crescido +14,3% em termos reais, progredindo para +16,2% em jul-dez/24, sempre em comparação com o mesmo período do ano anterior. No último trimestre do ano, o aumento do crédito refluiu um pouco e registrou +15,3%, mantendo-se em ritmo robusto.
A aceleração de um semestre para outro foi condicionada pelas operações junto às empresas, cujas concessões passaram de uma alta de +13,8% para +20,8% de jan-jun/24 para jul-dez/24. No 4º trim/24, a expansão mostrou-se resiliente, registrando +20,1%.
Cabe lembrar, contudo, que 2023 foi marcado pela aversão a riscos dos credores após os problemas contábeis da Americanas e houve desaceleração da atividade econômica em seu segundo semestre, como discutido na Carta IEDI n. 1256, gerando bases de comparação mais modestas para o crédito no 2º sem/24.
Para as famílias, as concessões caminharam na direção oposta, perdendo ritmo: de +14,7% em jan-jun/24 para +12,7% em jul-dez/24, sendo +11,4% no 4º trim/24. É importante levar em conta que, diferentemente das empresas, desde a pandemia, o estoque de crédito às famílias não parou de se ampliar.
Em dez/24, como proporção do PIB, o estoque total de crédito a pessoas físicas estava 6,1 pontos percentuais acima do patamar de dez/19, enquanto no caso do saldo de empréstimos a empresas esta relação era de apenas +1,7 ponto percentual.
No corte por origem de recursos, o impulso às concessões no 2º sem/24 veio das operações com recursos livres, que progrediram de +14,0% em jan-jun/24 para +18,0% em jul-dez/24 ante igual período do ano anterior. Na origem desta evolução, está sobretudo a alta de +22,0% das concessões de crédito às empresas.
No caso das operações com recursos direcionados, cujas condições de contração são regulamentadas, a alta foi de apenas +4,0% em jul-dez/24, com desaceleração do crédito às empresas e contração do crédito rural às famílias (-13%), que levou a uma quase estabilidade das concessões totais a pessoas físicas na segunda metade do ano passado (+1,3%).
Embora seja uma fonte estratégica de financiamento, já que conta com linhas de prazos mais longos e custos, em geral, bem menores do que os do segmento livre do mercado, as operações de crédito direcionado responderam em 2024 por apenas 10% do crédito bancário novo total do país e 8,0% das concessões totais às empresas.
E boa parte disso está relacionada ao financiamento do investimento. A soma do financiamento imobiliário – embora inclua aquisição e não apenas construção – e da modalidade BNDES investimento para pessoas jurídicas e pessoas físicas representou 42% das concessões de crédito direcionado em 2024. Só o crédito rural ocupou 38% dos novos empréstimos oficiais.
Para 2025, a expectativa é de desaceleração do crédito, ensejada pela alta das taxas de juros. A Febraban, por exemplo, estima uma expansão de +8,5% do estoque total de crédito bancário em 2025 ante um aumento nominal de +10,8% em 2024, segundo o Banco Central.
No último trimestre do ano passado, a trajetória de redução das taxas médias de empréstimos foi interrompida e ocorreu um novo aumento para o agregado das operações, mas sobretudo para o crédito corporativo, que, como vimos acima, foi quem puxou a expansão dos empréstimos em 2024.
Do final de 2023 até o 4º trim/24, a média geral das taxas de juros dos novos empréstimos bancários vinha lentamente, mas sistematicamente, recuando de 28,9% ao ano em out-dez/23 para 27,7% a.a. no 3º trim/24, em termos nominais. Na média de out-dez/24, subiram para 28,4% a.a..
Este comportamento foi mais influenciado pelo crédito livre, não só porque pesa mais nas concessões totais, como também refletem mais de perto o quadro de juros de mercado do país, já que suas condições são livremente pactuadas entre credores e tomadores.
A média dos juros do crédito livre total tinha caído de 41,4% a.a. no 4º trim/23 para 39,8% a.a. no 3º trim/24, para então subir para 40,6% a.a. no 4º trim/24, em termos nominais.
O aumento do final do ano passado se mostrou mais intenso no caso do crédito livre às empresas, que passou de 20,9% a.a. para 21,7% a.a. do 3º para o 4º trim/24. Nas operações junto às famílias, o patamar de juros já é muito elevado e mesmo assim também subiu no período, de 52,2% a.a. para 52,9% a.a..
No crédito direcionado, as taxas médias de juros ficaram mais estáveis, mas mesmo assim houve pequena elevação no último trimestre de 2024. Ademais, cabe pontuar que, em termos reais, isto é, descontada a inflação medida pelo IPCA, comportamento semelhante se verificou em ambos os recortes (por tipo de tomador e por tipo de recurso).
O aumento das taxas médias de juros no último trimestre de 2024 ocorreu a despeito da manutenção da trajetória de queda da inadimplência em todos os recortes apresentados pelo Banco Central.
Trimestralmente, para o total das operações de crédito, a inadimplência recuou de 3,27% da carteira no 1º trim/24 para 3,10% no 4º trim/24. Nas operações com recursos livres, que costumam ter níveis mais elevados de inadimplência em comparação com as operações direcionadas, a queda foi de 4,57% para 4,23% da carteira entre o 1º e o 4º trim/24.
No corte por tipo de tomador, a inadimplência das operações junto a empresas a inadimplência caiu de 2,57% para 2,20% do 1º trim/24 para o 4º trim/24, em função da evolução das empresas de grande porte, e nas operações junto às famílias de 3,67%para 3,63%.
Evolução real das concessões de crédito em 2024
De acordo com os dados divulgados pelo BCB, as novas concessões de crédito bancário do SFN somaram R$ 7,2 trilhões em 2024, uma média mensal de R$ 599 bilhões. Isso representa uma elevação real de 15,3% dos montantes em relação a 2023, quando deflacionados pelo IPCA mensal.
Com isso, o estoque total de crédito bancário no país atingiu R$ 6,43 trilhões em dez/24, o equivalente a 54,4% do PIB nacional. Consideradas apenas as operações com o setor privado, o montante foi de R$ 6,17 bilhões ou 52,2% do PIB.
No segundo semestre de 2024, as novas concessões de crédito somaram R$ 3.823,3 bilhões (média mensal de R$ 637,7 bilhões), implicando um crescimento real de 16,2% em relação a igual semestre de 2023. Isso significa uma aceleração em relação ao resultado da primeira metade de 2024, analisado na Carta IEDI n. 1283 “Redução da Selic e melhora do crédito no 1º Sem/24”.
Esse desempenho no 2º semestre de 2024 decorreu do forte ritmo de expansão tanto das novas concessões de crédito às pessoas físicas (12,7%) como, sobretudo, das novas operações de crédito às pessoas jurídicas (20,8%), que voltaram a registrar crescimento a dois dígitos nessa base de comparação.
Ainda na comparação interanual, a expansão das novas concessões de crédito ganhou velocidade frente ao resultado do 1º semestre de 2024, devido à evolução das operações com pessoas jurídicas, cujo ritmo de crescimento acelerou +7,0 pontos percentuais na segunda metade do ano.
Vale observar que as bases de comparação de 2023 do crédito corporativo refletem o impacto negativo sobre o mercado de crédito dos problemas contábeis da Americanas. No mesmo período, as novas operações de crédito às famílias registraram recuo -2,0 p.p..
Com a intensificação do ritmo de concessão de crédito às empresas, a participação dessa carteira no total das novas concessões de crédito do SFN aumentou 1,4 p.p., subindo para 45,4%.
No acumulado no ano de 2024 (janeiro a dezembro), o volume das novas concessões totais de crédito cresceu 15,3% em termos reais frente ao acumulado em igual período de 2023. Este dinamismo foi puxado principalmente pelas novas contratações com pessoas jurídicas, que aumentaram 17,5%, já descontada a inflação. O aumento das novas operações de crédito com pessoas físicas foi de 13,6%.
No corte por origem dos recursos, no 2º semestre de 2024, as novas contratações de crédito com recursos livres, que respondem por 88,5% das novas concessões de crédito do SFN, registraram alta de 18,0% frente a igual semestre de 2023. Já as novas operações de crédito com recursos direcionados cresceram bem menos: 4,0% em termos reais nessa mesma base de comparação.
Frente ao 1º semestre de 2024, contudo, as novas concessões de crédito com recursos direcionados registraram forte expansão da ordem de 32,1%, o que resultou na elevação da participação dessa carteira no total das novas contratações de crédito para 11,5%.
Modalidades de crédito em destaque em 2024
As novas concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres totalizaram R$ 1.803,8 bilhões no 2º semestre de 2024, com crescimento real da ordem de 14,8% na comparação com igual período de 2023. No período de janeiro a dezembro de 2024, as novas operações livremente pactuadas com as famílias registraram elevação real de 14,6% na comparação com o acumulado em igual período de 2023.
Na comparação interanual, entre as modalidades de novas concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destaca-se o aumento real das operações de crédito para aquisição de outros bens (31,3%), para aquisição de veículo (29,1%), crédito pessoal (21,5%), com destaque para a modalidade crédito pessoal não consignado (36,4%), cartão de crédito (11,6%) e cheque especial (11,4%).
No ano de 2024 ante ao ano de 2023, as maiores taxas de variação positiva nas novas contratações de crédito às famílias foram registradas nas modalidades de crédito para aquisição de veículo (33,9%), aquisição de outros bens (28,1%), crédito pessoal (23,7%), com destaque para a modalidade crédito pessoal não consignado (32,2%) e consignado para os beneficiários do INSS (30,8%), e cartão de crédito parcelado (20,6%).
Em contraste, ressalte-se a forte queda real nas novas contratações de crédito modalidades de crédito renegociado (-27,6%) e de desconto de cheque (-9,6%) no 2º semestre de 2024 ante igual semestre de 2023. No acumulado do ano de 2024 ante o acumulado no ano de 2023, as novas concessões de crédito nessas duas modalidades retraíram, respectivamente, -19,6% e -26,4%.
As novas contratações de crédito com recursos livres no segmento de pessoas jurídicas somaram R$ 1.583,0 bilhões, em termos reais, no período de julho a dezembro de 2024, com alta de 22,0% ante ao volume acumulado no 2º semestre de 2023. No período janeiro a dezembro de 2024, as novas concessões nessa carteira cresceram 17,9% ante igual período do ano anterior.
Entre as principais modalidades de crédito com recursos livres nas novas concessões a pessoas jurídicas, a expansão real mais expressiva na base de comparação interanual foi registrada na modalidade de conta garantida (44,0%), seguidas pelas modalidades de desconto de duplicata (30,3%), cartão de crédito à vista (28,6%) e capital de giro (23,7%), com destaque para as novas operações com prazo inferior a um ano (66,7%). Mencione-se ainda a elevação dos volumes das novas concessões atreladas ao dólar: ACC (22,5%), financiamento de importação (48,5%) e repasses externos (19,8%).
No sentido oposto, no 2º semestre de 2024, os recuos mais acentuados nas novas contratações de crédito corporativo livremente pactuadas ocorreram nas modalidades de cartão de crédito rotativo e parcelado (-33,8%) e Compror (-27,6%).
No acumulado no ano de 2024 ante ao acumulado no ano anterior, a modalidade Compror também registrou uma das maiores quedas (-20,5%), seguida das operações de desconto de cheques (-19,3%) e de cartão de crédito rotativo e parcelado (-11,8%).
Já na carteira de crédito direcionado a pessoas jurídicas, as novas concessões totalizaram R$ 154,6 bilhões no 2º semestre de 2024, com variação real positiva da ordem de 9,6% na comparação com igual semestre de 2023 e de 43,6% ante ao volume de crédito novo acumulado no 1º semestre de 2024.
Esse desempenho resultou do forte avanço das novas concessões de crédito do BNDES, que cresceram 20,9% em termos reais, totalizando R$ 45,2 bilhões no período julho a dezembro de 2024, com destaque para as modalidades de capital de giro (57,3%) e agroindustrial (53,2%) na comparação com o 2º semestre de 2023.
Na base de comparação interanual, o volume da carteira de financiamento imobiliário cresceu 7,8% em termos reais no período julho a dezembro de 2024, puxado pela ampliação das novas concessões a taxa de mercado (16,7%). Esse aumento compensou a retração das novas operações a taxa regulada (-8,0%), em reflexo possivelmente da redução pela Caixa Econômica Federal dos percentuais máximos dos valores de imóveis que podem ser financiados.
Já na modalidade de crédito rural, as novas concessões registraram significativo decréscimo de -38,5%, puxado pela fortíssima contração das operações a taxa de mercado (-62,2%), não compensada pela ampliação a dois dígitos (18,2%) das operações de crédito a taxa regulada.
Além das especificidades do ciclo das atividades agrícolas e das adversidades climáticas, a retração das novas concessões de crédito rural a taxa de mercado reflete, em parte, a elevação da taxa Selic, que repercute no custo do funding e das novas operações ativas, com impacto tanto sobre a demanda como sobre a oferta (maior risco de crédito).
Ainda na carteira crédito direcionado às empresas, cabe ressaltar, que, as novas concessões registradas como Outros apresentaram expressivo aumento real de: 63,3% no 2º semestre de 2024 frente igual semestre de 2023. Nessa carteira estão incluídas as composições de dívidas e financiamentos com recursos de programas públicos de crédito, como Pronampe e as medidas de auxílio direcionadas aos estados que enfrentaram catástrofes climáticas em 2024.
Frente ao semestre precedente, o principal destaque é o desempenho das novas concessões acumuladas do BNDES, que registraram alta real de 40,6% no período julho a dezembro de 2024, impulsionada pela aceleração das novas contratações nas modalidades de capital de giro (62,9%) e de investimento (40,6%) – esta última representou 83,3% das novas concessões de crédito do BNDES no período.
No acumulado no ano de 2024 na comparação com o ano anterior, o volume de novas concessões de crédito corporativo com recursos direcionados cresceu 12,7% em termos reais na comparação com ano precedente. Esse resultado reflete as variações positivas verificadas nas carteiras de operações de crédito com recursos do BNDES (20,8%) e de financiamento imobiliário (11,9%). Já as novas concessões classificadas como Outros registraram expansão da ordem de 33,9% em termos reais nessa mesma base de comparação.
Na carteira do BNDES, no acumulado no ano de 2024, as maiores taxas de variação real nas novas concessões de crédito direcionado às empresas ocorreram nas modalidades de capital de giro (84,6%) e agroindustrial (45,1%), enquanto as novas concessões nas linhas de crédito para investimento subiram 14,9% na mesma base de comparação.
Única modalidade a registrar variação negativa no acumulado no período janeiro a dezembro de 2024, as novas contratações de crédito rural recuaram -18,4%, impulsionadas forte retração nas operações a taxa de mercado (-32,7%), não obstante o aumento real de 8,4% nas operações crédito rural a taxa regulada.
Na carteira de crédito direcionado a pessoas físicas, as novas concessões somaram R$ 285,0 bilhões no 2º semestre de 2024 (valores deflacionados pelo IPCA mensal). No cotejo com o igual período de 2023, essa carteira registrou o alta de 1,3% em termos reais, puxado pelo incremento das novas concessões de financiamento imobiliário (+23,1%), que responde por 48% das novas contratações dessa carteira. Mencione-se ainda, o aumento nas novas concessões de crédito rural (+8,9%), com destaque para novas operações a taxas de mercado (+29,5%), de financiamento do BNDES (+49,1%) e microcrédito (16,4%).
Na comparação com 2º semestre de 2023, as novas concessões de crédito direcionado a pessoas físicas, que respondem por 64,8% do total da carteira de novas operações direcionadas, cresceram apenas 1,3% em termos reais. Esse resultado refletiu a forte retração das novas concessões de crédito rural (-13%), que representam 49,6% dessa carteira, impulsionada pelo decréscimo das novas operações a taxa de mercado (-24,3%).
Já as novas concessões de financiamento imobiliário, que respondem por 41,5% da carteira, registram crescimento real de 23,9%. Com pesos relativos, de 5% e 4% na composição da carteira, as novas operações com recursos do BNDES e microcrédito também cresceram a taxas expressas:
No período janeiro a dezembro de 2024, as novas concessões de crédito direcionado às famílias registram incremento real de 7,7% ante ao acumulado no ano de 2023. Nessa base de comparação, destacam-se as novas operações de crédito do BNDES (19,2%), financiamento imobiliário (11,4%) e crédito rural (6,8%), impulsionadas pelas novas contratações a taxas de mercado (+25,7%).
No que se refere ao prazo médio do agregado das novas contratações de crédito, observa-se que houve uma pequena ampliação de prazo no 2º semestre de 2024, que alcançou 125,2 meses (+3,6 meses comparação com igual semestre de 2023).
Esse resultado foi puxado pelos aumentos de prazo nas novas operações de crédito na carteira de pessoas físicas (+4,5 meses) e de crédito com recursos livres (+5,6 meses) na comparação com igual semestre do ano anterior. Em contraste, nessa base de comparação, houve ligeira redução nos prazos médios nas novas concessões de crédito corporativo (-0,3 meses).
Juros e inadimplência
A elevação da meta da taxa básica de juros (Selic) entre os meses de setembro e dezembro ainda não se refletiu integralmente nas taxas de juros dos empréstimos captadas pelas estatísticas do Banco Central. Mesmo assim, no último trimestre de 2024 foi interrompida a trajetória de redução verificada ao longo do ano passado.
As taxas médias de juros dos novos empréstimos bancários, em termos nominais estavam lentamente recuando, passando de 28,9% a.a. no 4º trim/23 para 28,1% a.a. no 1º trim/24 e 27,9% a.a. no 2º trim/24, para então atingir 27,7% a.a. no 3º trim/24. Na média de out-dez/24, entretanto, voltaram a subir, ficando em 28,4% a.a.
Este comportamento foi mais influenciado pelo crédito livre, não só porque pesa mais nas concessões totais, como também refletem mais de perto o quadro de juros de mercado do país, já que suas condições são livremente pactuadas entre credores e tomadores.
Os juros médios do crédito livre total tinham caído de 41,4% a.a. no 4º trim/23 para 39,8% a.a. no 3º trim/24, em termos nominais, para então subir para 40,6% a.a. no 4º trim/24. O aumento do final do ano passado se mostrou mais intenso no caso do crédito livre às empresas, que passou de 20,9% a.a. para 21,7% a.a. do 3º para o 4º trim/24. Nas operações junto às famílias, o patamar de juros já é muito elevado e mesmo assim também subiu no período, de 52,2% a.a. para 52,9% a.a..
No crédito direcionado, as taxas médias de juros se mostraram mais estáveis, mas mesmo assim houve pequena elevação no último trimestre de 2024, passando para 10,8% a.a. ante 10,3% a.a. do trimestre anterior. Também neste caso destacaram-se as operações junto às empresas, cujos juros médios passaram de 11,2% a.a. no 3º trim/24 para 13,3% a.a. no 4º trim/24.
Em termos reais, isto é, descontada a inflação medida pelo IPCA, comportamento semelhante se verifica, embora com algumas oscilações maiores trimestre após trimestre. Neste caso, os dados de fim de período ilustram melhor a situação.
Entre set/24 e dez/24, isto é, durante a fase recente de elevação da taxa básica de juros, os juros médios reais das operações de crédito total subiram de 22,1% a.a. para 22,8% a.a., condicionadas pelas operações junto às empresas, cujas taxas médias foram de 12,7% para 14,1% neste período.
Tomado o 2º semestre como um todo, estas inflexões apontadas acima são diluídas pelo fato de até o 3º trim/24 a tendência ter sido de redução. A taxa média de juros reais dos totais de empréstimos e financiamentos no 2º semestre de 2024 caiu 1,3 p.p. na comparação com igual semestre de 2023, passando de 22,71% para 22,41% ao ano. Na comparação com o 1º semestre de 2024, o acréscimo dos juros médios reais recuou 0,49 p.p..
Ainda no contraste com o 2º semestre de 2023, em termos reais, a maior queda ocorreu onde as taxas de empréstimo são tradicionalmente mais elevadas: nas operações livre às famílias, cujas taxas médias passaram de 48,6% a.a. para 45,8% a.a. no 2º semestre de 2024.
No extremo oposto, os juros médios reais das operações direcionadas junto às empresas apresentaram aumento, passando de 6,2% a.a. no 2º semestre de 2023 para 7,3% a.a. no 2º semestre de 2024.
O aumento das taxas médias de juros no último trimestre de 2024 ocorreu a despeito da manutenção da trajetória de queda da inadimplência em todos os recortes apresentados pelo Banco Central.
Trimestralmente, para o total das operações de crédito, a inadimplência recuou de 3,27% da carteira no 1º trim/24 para 3,10% no 4º trim/24. Nas operações com recursos livres, que costumam ter níveis mais elevados de inadimplência em comparação com as operações direcionadas, a queda foi de 4,57% para 4,23% da carteira entre o 1º e o 4º trim/24. No caso do crédito direcionado, foi de 2,33% para 2,17% da carteira no período.
No corte por tipo de tomador, a trajetória também foi cadente. Nas operações junto à empresas a inadimplência caiu de 2,57% para 2,20% do 1º trim/24 para o 4º trim/24 e nas operações junto às famílias de 3,67%para 3,63%. Na passagem do 3º trim/24 para o 4º trim/24 tal movimento também foi verificado em ambos os casos, vale ressaltar.
No crédito corporativo, quem condicionou a queda da inadimplência ao longo de 2024 foram as empresas de grande porte, muito embora no último trimestre do ano a inadimplência daquelas de menor porte também tenha cedido.
Do 1º trim/24 ao 4º trim/24, a inadimplência média das grandes empresas declinou de 0,63% das operações para 0,27%, com pequena elevação em relação ao trimestre imediatamente anterior (0,23%).
Já no caso das micro, pequenas e médias empresas, a inadimplência subiu de 4,33% na média de jan-mar/24 para 4,5% no 3º trimestre do ano, mas recuou para 4,43% no último trimestre do ano.