Carta IEDI
Indústria estável, mas com poucos freios na entrada de 2025
Após três meses seguidos de queda, a indústria brasileira começou 2025 estável. Sua produção física registrou 0% de variação, já descontados os efeitos sazonais, mas isso devido a uma minoria de seus ramos. Regionalmente, a queda foi um pouco mais difundida, mas manteve-se minoritária.
O destaque negativo em jan/25 foi o ramo extrativo, cuja produção encolheu -2,4% na comparação com dez/24, com ajuste sazonal. A indústria de transformação, a seu turno, conseguiu se expandir, variando +1,0%, mas não o suficiente para anular a fase adversa do último trimestre do ano passado. Seu nível de produção em jan/25 seguia 1,2% abaixo daquele de set/24.
Além da atividade extrativa, outros sete ramos da indústria de transformação não cresceram em jan/25, o equivalente a uma parcela minoritária de 28% dos ramos acompanhados pelo IBGE. Já do ponto de vista regional, o número de parques industriais no vermelho chegou a 46%.
Como era de se esperar, os parques onde a indústria extrativa tem grande peso ficaram entre os que não se saíram bem neste início de ano: -3,9% no Pará e -2,6% no Espírito Santo, notadamente. Minas Gerais escapou à regra, mas cresceu pouco (+0,8%). O Rio de Janeiro também foi uma exceção, mas cabe notar que desde a segunda metade de 2024 os meses de quedas têm preponderado na série com ajuste sazonal.
Do lado positivo da indústria em jan/25, temos 72% de seus ramos, com destaque para couro e calçados (+9,3%), máquinas e equipamentos (+6,9%) e móveis (+6,8%), e 54% dos parques regionais, incluindo São Paulo, que tem a maior e mais diversificada indústria do país. A produção paulista cresceu +2,4%, com ajuste sazonal, compensando parcialmente o declínio de -5,6% de nov-dez/24.
O panorama se completa com o desempenho dos macrossetores. Em jan/25, três ampliaram produção e apenas um ficou no vermelho. Bens de capital (+4,5%) e bens de consumo duráveis (+4,4%) não só lideraram este movimento como lograram compensar as perdas de nov-dez/24, ainda que não tenham passado disso.
Já bens de consumo semi e não duráveis registraram a primeira alta (+3,1%) com alguma robustez desde jun/24 (+4,5%). A segunda metade do ano passado foi marcada por quedas e alguns meses de virtual estabilidade, devido ao aumento de preços de muitos de seus produtos, sobretudo alimentos, problemas climáticos, entre outros fatores. Tanto é que em jan/25 encontrava-se 5,1% abaixo do patamar de jun/24.
A seu turno, bens intermediários, que formam o núcleo duro do sistema industrial, recuaram -1,4% em jan/25, também com ajuste sazonal, mantendo a trajetória oscilante do final do ano passado.
Por fim, em relação ao futuro próximo, as informações já disponíveis em relação à confiança dos empresários em fev/25 continuam apontando um quadro de relativo pessimismo, inclusive no agregado da indústria de transformação, que, como vimos anteriormente, até conseguiu ampliar sua produção nesta entrada de ano.
Muito disso está atrelado à trajetória de elevação das taxas de juros no país, impactando sobretudo a indústria, que é grande produtora de bens cujos mercados se apoiam no crédito para se dinamizarem. As incertezas no cenário externo, com a desorganização crescente do comércio mundial, e aquelas no front interno, quanto à condução da política fiscal, são outros agravantes.
Resultados da Indústria
De acordo com o IBGE, em jan/25, a produção industrial nacional teve variação nula (0,0%) frente a dez/24 na série com ajuste sazonal, interrompendo três meses de taxas negativas consecutivas, período em que acumulou perda de -1,2% (-0,2% em outubro, -0,7% em novembro e -0,3% em dezembro de 2024).
No confronto com igual mês do ano anterior, o total da indústria cresceu +1,4% em jan/25, repetindo a magnitude de expansão registrada no mês anterior, mas mostrando-se bem inferior ao ritmo registrado entre junho e novembro de 2024. Vale citar que jan/25 (22 dias) teve o mesmo número de dias úteis do que igual mês do ano anterior, ou seja, não houve efeito calendário.
A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, avançou +2,9%, permanecendo positiva, porém reduziu o ritmo de crescimento frente aos resultados dos meses anteriores. Após esse resultado, a produção industrial se encontra +1,3% acima do patamar pré-pandemia (fev/20), mas ainda assim segue 15,6% abaixo do nível recorde alcançado em mai/11.
Na variação nula (0,0%) da atividade industrial na passagem de dez/24 para jan/25 na série com ajuste sazonal, observa-se perfil disseminado de taxas positivas, alcançando três dos quatro macrossetores assinalando maior produção.
Bens de capital (+4,5%) e bens de consumo duráveis (+4,4%) foram os resultados positivos mais acentuados do mês, interrompendo dois meses consecutivos de queda na produção, período em que acumularam perdas de -4,1% e -4,3%, respectivamente. Bens de consumo semi e não duráveis (+3,1%) também tiveram aumento de produção. Por outro lado, o macrossetor de bens intermediários recuou -1,4%, eliminando o avanço de +0,5% verificado no mês anterior.
Na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +1,4% da indústria total em jan/25 foi puxado por três dos quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+16,6%) e bens de capital (+8,2%) assinalaram os maiores avanços do mês de jan/25, seguidos por bens intermediários (+0,3%). Por outro lado, a categoria de bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%) assinalou o único resultado negativo.
O setor produtor de bens de consumo duráveis, ao avançar +16,6% em jan/25 frente a igual mês do ano anterior, marcou a oitava taxa positiva consecutiva. Nesse mês, o setor foi impulsionado pelas expansões na fabricação de automóveis (+17,7%), eletrodomésticos da “linha branca” (+17,9%) e da “linha marrom” (+1,6%), motocicletas (+16,5%), outros eletrodomésticos (+34,4%) e móveis (+11,4%).
O macrossetor de bens de capital teve expansão de +8,2% na comparação interanual, marcando o décimo mês consecutivo de crescimento na produção. A categoria foi influenciada pelo avanço de bens de capital para fins industriais (+10,2%), para equipamentos de transporte (+6,2%), bens de capital agrícolas (+16,9%), para construção (+22,8%) e de uso misto (+6,1%). Por outro lado, o subsetor de bens de capital para energia elétrica (-1,5%) mostrou a única taxa negativa no índice mensal de jan/25.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção dos bens intermediários avançou +0,3%, oitava taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação, mas a menos elevada desde jun/24 (+1,4%). O resultado deveu-se à expansão de intermediários associados às atividades de máquinas e equipamentos (+18,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+8,0%), produtos têxteis (+20,9%), metalurgia (+4,1%), produtos de metal (+7,4%), produtos químicos (+4,0%), produtos de minerais não metálicos (+4,2%), produtos de borracha e de material plástico (+4,1%) e produtos alimentícios (+2,0%), enquanto as pressões negativas foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-6,4%) e celulose, papel e produtos de papel (-2,7%).
A produção de bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, variou -0,1% em jan/25 frente a jan/24. Esse resultado foi explicado principalmente pelos decréscimos na produção no grupamento de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-1,2%), alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (-31,9%) e semiduráveis (-0,6%). Por outro lado, os grupamentos de carburantes (+3,4%) e de não duráveis (+1,9%) assinalaram os impactos positivos.
Mesmo os resultados positivos na comparação com mesmo período do ano anterior nos últimos meses, a indústria mantém perda no ritmo de produção: passou de uma expansão de +3,9% no 3º trim/24 para +3,1% no 4º trim/24 e de apenas +1,4% no primeiro mês de 2025.
O movimento de menor dinamismo na passagem do 4º trim/24 para jan/25 foi verificado obretudo em duas das quatro categorias econômicas: bens intermediários (de +2,8% para +0,3%) e bens de capital (de +14,3% para +8,2%).
Bens de consumo duráveis também registrou uma variação levemente menor, passando de +16,8% no 4º trim/24 para +16,6% em jan/25, mas a perda de ritmo foi muito marginal. O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis manteve igualmente em um ritmo muito parecido, mas neste caso houve ligeira melhora, passando de -0,2% para -0,1%, respectivamente.
Por dentro da Indústria de Transformação
Após três meses seguidos de queda, a indústria brasileira assinalou variação nula (0,0%), já descontados os efeitos sazonais, devido principalmente ao resultado da indústria de transformação, que variou +1,0% na mesma base de comparação. O ramo extrativo, por sua vez, encolheu -2,4% na passagem de dez/24 para jan/25.
Na comparação com jan/24, a expansão de +1,4% da indústria geral foi puxada pela indústria de transformação, que cresceu +2,7% no mesmo período, enquanto o ramo extrativo apontou queda de -5,2% na mesma comparação.
No acumulado dos últimos 12 meses, o resultado de +2,9% na indústria geral assinalou desaceleração frente ao mês anterior (+3,1% em dez/24), que se deveu especialmente ao desempenho do ramo extrativo (0% em dez/24 e -0,9% em jan/25), enquanto a indústria de transformação manteve a mesma variação nesses meses (+3,6%).
Em seu agregado, o setor industrial ficou estagnado (0,0%) na comparação entre jan/25 e dez/24 na série com ajuste sazonal, mas houve um perfil disseminado de taxas positivas entre seus ramos, alcançando 18 dos 25 identificados pelo IBGE.
Entre as atividades, as influências positivas mais importantes foram assinaladas pelos ramos produtores de máquinas e equipamentos (+6,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (+3,0%), produtos de borracha e de material plástico (+3,7%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (+9,3%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+4,8%), produtos diversos (+10,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+4,3%), móveis (+6,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+5,0%) e produtos alimentícios (+0,4%).
Por outro lado, entre as atividades que apontaram redução na produção da indústria de transformação, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,1%), celulose, papel e produtos de papel (-3,2%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-4,7%) exerceram os principais impactos.
Na comparação com jan/24, por sua vez, o setor industrial assinalou acréscimo de +1,4% em jan/25, com resultados positivos em 17 dos 25 ramos, 56 dos 80 grupos e 58,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades da indústria de transformação, as principais influências positivas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+13,4%), máquinas e equipamentos (+14,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+14,5%).
Outras contribuições positivas importantes couberam aos seguintes ramos: farmoquímicos e farmacêuticos (+11,9%), produtos têxteis (+17,5%), metalurgia (+4,1%), produtos de metal (+6,6%), produtos químicos (+2,4%), produtos de borracha e de material plástico (+3,8%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (+7,7%), produtos de minerais não metálicos (+4,2%), produtos diversos (+10,3%) e móveis (+9,1%).
Por outro lado, ainda na comparação com jan/24, entre as atividades que apontaram redução na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,8%), bebidas (-5,1%) e celulose, papel e produtos de papel (-3,1%) exerceram as maiores influências negativas na formação da média da indústria.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, variou positivamente +0,4 ponto percentual na passagem de dez/24 (81,2%) para jan/25, quando registrou valor de 81,6%.
Dessa forma, em jan/25, a capacidade utilizada na indústria ficou +5,4 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e +1,9 ponto acima da média histórica (79,7%).
De acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada manteve-se inalterada em 78,4% na passagem entre dez/24 e jan/25, considerando a série livre de efeitos sazonais. Ressalte-se, contudo, que o indicador de jan/25 ficou -1,6 p.p menor que a registrada em jan/24.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 49,0 pontos em jan/25, avançando 1,1 ponto frente a dez/24.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI foi de 47,8 pontos em dez/24 para 49,0 pontos em jan/25. A indústria extrativa assinalou grande queda nos níveis dos estoques, visto que foi de 52,7 pontos em dez/24 para 47,4 pontos em jan/25.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou estável em 49,3 pontos na passagem de dez/24 a jan/25, sinalizando que os estoques estão menores que o desejado. Cabe lembrar que o nível de equilíbrio é de 50,0 pontos; acima deste valor há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 52,8 pontos e 49,1 pontos, respectivamente.
Em jan/25, 24% dos ramos industriais apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), enquanto no mês passado foi de 20%. Os ramos acima de 50 pontos em jan/25 foram: couros e artefatos de couro (56,3 pontos), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (54,2 pontos), produtos têxteis (52,3 pontos), metalurgia (51,9 pontos), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (51,8 pontos) e produtos de minerais não metálicos (51,7 pontos).
Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: impressão e reprodução de gravações (4,0 pontos), produtos de borracha (42,9 pontos), veículos automotores, reboques e carrocerias (43,1 pontos), produtos de madeira (44,8 pontos) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (46,3 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria Geral (ICEI) da CNI manteve-se estável em 49,1 pontos na passagem de jan/25 para fev/25. A Indústria de Transformação, por sua vez, registrou 49,0 pontos em fev/25, avançando 0,5 p.p. frente a jan/25.
Na passagem de jan/25 para fev/25, o componente referente às expectativas em relação ao futuro da Indústria de Transformação foi de 51,1 para 51,4 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. O componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios também cresceu (+0,9 p.p.), porém, ainda assim, ficou na região pessimista (44,3 pontos).
O ICEI varia de 0 a 100 pontos, e valores acima de 50 pontos indicam confiança do empresário e quanto mais acima de 50 pontos, maior e mais disseminada é a confiança. Valores abaixo de 50 pontos indicam falta de confiança do empresário e quanto mais abaixo de 50 pontos, maior e mais disseminada é a falta de confiança.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) da FGV recuou 0,1 p.p na passagem de jan/25 para fev/25, registrando 98,3 pontos, ficando ainda na região de pessimismo, ou seja, abaixo de 100 pontos.
O resultado de fev/25 foi influenciado pela queda do seu componente referente às avaliações da situação atual, que passou de 100,9 pontos em jan/25 para 100,4 pontos em fev/25, enquanto índice de expectativas teve alta de 95,9 pontos em jan/25 para 96,3 pontos no mês seguinte.
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em jan/25 ficou em 50,7 pontos, assinalando significativa alta para 53,0 pontos em fev/25. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, apontando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)