Carta IEDI
Indústria: mais um trimestre sem progressos
Com a última divulgação da pesquisa do IBGE, obtivemos a performance da indústria no 3º trim/23. A exemplo dos meses anteriores, o quadro seguiu sendo de estagnação. Na passagem de ago/23 para set/23, a produção do setor variou tão somente +0,1%, já descontados os efeitos sazonais e no acumulado de 3º trim/23 registrou 0% em relação ao mesmo período do ano passado.
A única atenuação foi ter evitado do terreno negativo que marcou a primeira metade do ano: -0,4% no 1º trim/23 e -0,1% no 2º trim/23, sempre em relação a igual período do ano anterior. Ou seja, ao passar do tempo foi se revelando o quadro de prostração em que o setor se encontra, após episódios de crise profunda, como em 2015-2020 e durante a pandemia.
Cabe observar, contudo, as assimetrias escondidas no resultado agregado. Em primeiro lugar, se excluirmos o ramo extrativo, isto é, tomada apenas a indústria de transformação, a evolução recente é de retração da produção em todos os trimestres de 2023 e isso depois da estagnação que marcou 2022: -1,0% no 1º trim/23; -1,5% no 2º trim/23 e -1,1% no 3º trim/23.
Em segundo lugar, a parcela de ramos no vermelho aumentou, passando de 55,6% do total no 1º trim/23 para 68% no 3º trim/23. O mesmo também ocorreu com o número de ramos com quedas de dois dígitos, que era apenas 1 no 1º trim/23 (produtos de madeira) e agora no 3º trim/23 são 4 dos 25 acompanhados pelo IBGE (máquinas e aparelhos elétricos; veículos; eletrônicos e informática; produtos diversos).
Quanto aos macrossetores industriais, os destaques negativos cabem àqueles cujo mercado demanda algum tipo de financiamento, seja das famílias seja das empresas, em condições adequadas de prazo e juros para se dinamizar. As elevadas taxas de juros ainda praticadas no país constituem um importante obstáculo ao crescimento desta parcela da indústria.
É o caso da produção de bens de capital, que chama atenção pela intensidade de suas quedas. No 3º trim/23, chegou a registrar -14,1% ante o 3º trim/22. Para se der ideia da gravidade, é um patamar que se aproxima de momentos difíceis da pandemia de Covid-19 (-10% no 3º trim/20 e -38% no 2º trim/20).
Os bens de capital para energia (-29,3%), transporte (-25,4%) e construção (-19,2%), isto é, segmentos associados à infraestrutura, lideraram a queda do 3º trim/23, mas cabe notar a longa sequência de recuos dos bens de capital para a própria indústria (-6,2%), que já completa quase dois anos.
Bens de consumo duráveis, por sua vez, se destacam por terem apresentado a mais grave involução ao longo de 2023. A alta de +9,0% no 1º trim/23 se reverteu em queda de -1,1% no 3º trim/23, puxada por eletrodomésticos da linha marrom (-4,4%) e outros eletrodomésticos (-1,5%), assim como por móveis (-7,1%).
Importante observar a ineficácia do programa de redução de impostos do governo federal para dinamizar a produção industrial de veículos até o momento. Na série com ajuste sazonal, há declínio não desprezível em jul/23 (-6,8%) e set/23 (-4,1%) no ramo de veículos, reboques e carrocerias, que acumulou retração de -12,1% no 3º trim/23 ante o 3º trim/22. Tomado apenas o segmento de automóveis para passageiros o resultado é de virtual estagnação: +0,4% ante o 3º trim/22.
Entre os macrossetores no azul, bens intermediários não escaparam de uma desaceleração: +0,7% no 2º trim/23 e +0,4% no 3º trim/23. Em sua origem estão notadamente os intermediários da indústria automobilística, que saíram de uma retração de -1,4% no 2º trim/23 para outra de -16,6% no 3º trim/23, somando-se ao quadro adverso de defensivos agrícolas (-29,1%).
Por fim, a exceção foram os bens de consumo semi e não duráveis, que não só ampliaram a produção, como reganharam vigor do 2º trim/23 (+0,1%) para o 3º trim/23 (+2,1%). Contribuíram para isso o reforço do crescimento do setor de carnes (+8,2%) e de combustíveis (+10,1%), bem como a melhora no ramo de bebidas (+0,7% ante -5,1% no 2º trim/23).
Além das exportações, o progresso no emprego, cada vez mais do ponto de vista qualitativo, como visto na Análise da Pnad/IBGE de 31/10/23, e o arrefecimento da inflação, ainda mais intensa no consumo de alimentos em domicílio, têm favorecido a produção industrial de bens de consumo semi e não duráveis.
Dada esta sequência de resultados, a confiança do empresariado industrial vem dando sinais de enfraquecimento. Em out/23, tanto os indicadores da FGV como da CNI apresentaram declínio em relação a setembro, tendo na avaliação dos negócios correntes seu ponto mais fraco. É, assim, um indicativo de que a indústria segue sem progressos.
Resultados da Indústria
Segundo dados mais recentes divulgados pelo IBGE, a produção física da indústria brasileira variou somente +0,1% na passagem de ago/23 para set/23, já descontadas as influências sazonais. No confronto com igual mês do ano anterior, em que o IBGE utilizava os dados sem ajuste sazonal, o total da indústria cresceu +0,6%, após também assinalar taxa positiva em ago/23 (+0,5%).
No acréscimo de mero +0,1% da atividade industrial na passagem de agosto para setembro de 2023 (com ajuste sazonal), somente uma das quatro categorias econômicas contribuiu positivamente. A produção de bens intermediários (+0,3%) registrou a única taxa positiva e interrompeu quatro meses consecutivos de recuo na produção, período em que acumulou uma baixa base de comparação.
Por outro lado, o macrossetor produtor de bens de consumo duráveis (-4,3%) ficou novamente no vermelho, acusando a queda mais intensa na comparação entre ago/23 e set/23 e eliminando parte do avanço de +7,9% no mês anterior. Bens de capital (-2,2%) e bens de consumo semi e não duráveis (-1,4%) também tiveram resultados negativos, com o primeiro voltando a recuar após alta de +4,5% em ago/23; e o segundo eliminando parte da expansão de +4,1% verificada no período jun-ago/23.
Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +0,6% em set/23, com resultados positivos em duas das quatro grandes categorias econômicas. Bens de consumo semi e não duráveis (+2,8%) e bens intermediários (+1,2%) tiveram aumento de produção, enquanto os setores produtores de bens de consumo duráveis (-3,0%) e de bens de capital (-12,9%) registraram taxas negativas neste mês.
O macrossetor produtor de bens de consumo semi e não duráveis mostrou avanço de +2,8% em set/23 frente a igual período do ano anterior, sua segunda taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação. Este desempenho foi explicado pelas expansões na produção dos grupamentos de carburantes (+16,9%) e alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (+3,7%). Por outro lado, o grupamento de semiduráveis (-13,0%) assinalou o único impacto negativo nessa categoria.
O setor produtor de bens intermediários assinalou variação de +1,2% em set/23, graças a avanços na produção produtos alimentícios (+12,4%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+7,4%), produtos têxteis (+7,0%) e metalurgia (+0,3%), enquanto as pressões negativas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (-27,0%), produtos químicos (-5,1%), produtos de minerais não metálicos (-6,6%), produtos de metal (-6,8%) e máquinas e equipamentos (-10,1%), dentre outros.
A produção de bens de consumo duráveis, recuou -3,0% ante set/22, após avançar +2,8% em ago/23, quando interrompeu dois meses de taxas negativas consecutivas nesse tipo de comparação. Neste último mês o setor foi pressionado pela redução na fabricação de eletrodomésticos da “linha marrom” (-18,4%), além de outros eletrodomésticos (-8,8%) e móveis (-7,7%). Por outro lado, os impactos positivos vieram de automóveis (+3,2%), eletrodomésticos da “linha branca” (+10,5%) e motocicletas (+1,2%).
Por fim, bens de capital (-12,9%) continuam em terreno negativo na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, sendo a variação de set/23 a sexta taxa negativa consecutiva. O segmento foi influenciado negativamente por: bens de capital para equipamentos de transporte (-34,4%), bens de capital para energia elétrica (-28,9%), para fins industriais (-7,6%), para construção (-27,2%) e agrícolas (-12,6%). Por outro lado, o único impacto positivo foi assinalado pelo subsetor de bens de capital de uso misto (+4,3%).
Em bases trimestrais, a indústria geral assinalou variação nula (0,0%) no período julho-setembro/23 frente ao mesmo período de 2022. Interrompeu, assim, os resultados negativos do 1° trim/23 (-0,4%) e 2° trim/23(-0,1%), mas não chegou a apresentar uma melhora propriamente dita, já que crescimento não houve.
Além disso, entre os macrossetores da economia, somente bens de consumo semi e não duráveis apontou ganho de ritmo na passagem do período abr-jun/23 (+0,1%) para o 3° trim/23 (+2,1%). Os demais segmentos mostraram perda de dinamismo entre os dois períodos: bens de consumo duráveis (de +2,6% para -1,1%), bens de capital (de -11,0% para -14,1%) e bens intermediários (de +0,7% para +0,4%).
No acumulado do período jan-set/23, o recuo de -0,2% da indústria geral foi acompanhado por dois de seus macrossetores, notadamente, bens de capital (-10,4%), pressionados pelas reduções observadas na fabricação de bens de capital para equipamentos de transporte (-12,6%), para energia elétrica (-28,3%) e para fins industriais (-7,5%), mas também por bens intermediários (-0,3%).
Em sentido oposto, o macrossetor de bens de consumo duráveis (+3,2%) apontou avanço e foi quem melhor se saiu no período jan-set/23, impulsionado pela maior produção de eletrodomésticos (+8,9%), de automóveis (+3,2%) e de motocicletas (+13,4%). O setor produtor de bens de consumo semi e não duráveis (+1,8%) também registrou crescimento no indicador acumulado no ano até set/23.
Por dentro da Indústria de Transformação
A variação positiva (+0,1%) da produção da indústria geral em set/23 frente a ago/23, na série livre dos efeitos sazonais, foi acompanhada de declínio de -0,3% na indústria de transformação, e de uma expansão de +5,6% no ramo extrativo.
Na comparação com set/22, por sua vez, enquanto a indústria geral cresceu +0,6%, a indústria de transformação seguiu sua trajetória descendente, apresentando retração de -0,8%. Foi sua quarta taxa negativa consecutiva e, em 2023, quando conseguiu se expandir nesta comparação, isso se deu com uma intensidade muito modesta. Já a indústria extrativa manteve o desempenho positivo, com alta de +9,1%.
Deste modo, a indústria geral acumula perda de -0,2% no período de jan-set/23 frente a igual período do ano anterior, mas é o ramo extrativo, com alta de +6,0% no período, que está evitando um desempenho ainda mais adverso. Se for observada apenas a indústria de transformação, a queda acumulada nestes nove primeiros meses do ano chega a -1,2%.
A variação de +0,1% da atividade da indústria geral na passagem de ago/23 para set/23 foi acompanhada de alta em apenas 5 dos 25 ramos acompanhados pelo IBGE. Entre as influências positivas mais importantes na indústria de transformação estão: produtos químicos (+1,5%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+0,5%). Por outro lado, entre as 20 atividades que apontaram redução na produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-16,7%), máquinas e equipamentos (-7,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,1%) exerceram os principais impactos em set/23.
Na comparação com set/22, o avanço de +0,6% do setor industrial deveu-se aos resultados positivos em 10 dos 25 ramos, 28 dos 80 grupos e 38,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades da indústria de transformação, as principais influências positivas foram registradas por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+11,3%), produtos alimentícios (+6,7%) e impressão e reprodução de gravações (+17,3%). Em direção oposta, entre as 15 atividades no vermelho, veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,8%) e máquinas e equipamentos (-12,4%) exerceram as maiores influências negativas.
Já no acumulado entre jan-set/23, frente a igual período do ano anterior, quando o setor industrial assinalou redução de -0,2%, como visto anteriormente, resultados negativos marcaram 17 dos 25 ramos, 52 dos 80 grupos e 56,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências negativas vieram de produtos químicos (-7,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-5,8%), máquinas e equipamentos (-6,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,1%) e produtos de minerais não metálicos (-7,4%).
Em oposição, entre as atividades com expansão na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+4,8%) e produtos alimentícios (+3,9%) foram as maiores influências positivas no índice de produção.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, assinalou alta entre os meses de ago/23 (80,8%) e set/23 (81,7%), sendo este o maior nível desde ago/22 (82,2%). Cabe destacar que o dado de set/23 ficou 5,5 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 2,1 p.p. acima da média histórica (79,6%). Em out/23 esse indicador voltou a recuar, para 80,8% da capacidade instalada.
Já de acordo com os dados da CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação recuou de 78,4% para 78,1% na passagem entre ago/23 e set/23 na série com ajuste sazonal. Com isso, a capacidade utilizada na indústria ficou 1,4 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,7%), mas 2,4 p.p. abaixo da média histórica (80,5%).
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 50,8 pontos em set/23, avançando 0,3 ponto frente ao mês anterior. Como se encontra acima da marca de 50 pontos, sinalizou novo aumento dos estoques.
No segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI também ficou em 50,8 pontos, com alta de 0,2 ponto frente a ago/23, mantendo quadro de expansão dos estoques. No caso da indústria extrativa o indicador subiu de 47,6 pontos para 52,6 pontos entre ago/23 e set/23, sugerindo igualmente aumento dos estoques.
Já o indicador de satisfação dos estoques para a indústria geral ficou em 52,2 pontos em set/23, ou seja, sinalizando estoques acima do planejado. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há excesso de estoques e abaixo dele, estoques menores do que o desejado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 53,4 pontos e 52,1 pontos, respectivamente.
Em set/23, 64% dos ramos da indústria de transformação apresentaram estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos) ante 56% em ago/23. Os destaques ficaram a cargo de: manutenção e reparação (58,3 pontos), celulose e papel (57,1 pontos) e madeira (55,8 pontos), entre outros.
Os setores produtores de farmacêuticos e de máquinas e materiais elétricos ficaram em equilíbrio (50 pontos), enquanto os destaques dos setores que ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio foram: borracha (44,0 pontos), impressão e reprodução (46,4pontos), e limpeza e perfumaria (47,2 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria Geral da CNI, que já havia assinalado queda entre os meses de ago/23 (53,2 pontos) e set/23 (51,9 pontos), caiu novamente em out/23, atingindo 50,5 pontos, mas ainda assim permaneceu na zona de otimismo. Cabe lembrar que valores abaixo da marca dos 50 pontos indicam pessimismo e acima dela, otimismo do empresariado industrial.
No caso da indústria de transformação, o indicador ficou em 51,5 pontos em set/23 e caiu para 51,0 pontos em out/23, demonstrando leve piora das expectativas do empresariado. De todo modo, também seguiu na zona de otimismo.
Na passagem de set/23 para out/23, o componente referente às expectativas em relação ao futuro na indústria de transformação do índice da CNI declinou de 54,1 pontos para 53,9 pontos. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto à evolução presente dos negócios é onde o quadro do setor se apresenta pior, muito em linha com a evolução da produção industrial em 2023, apresentada pela pesquisa do IBGE, Este componente já se encontrava na região de pessimismo e também regrediu na passagem de set/23 para out/23, de 46,3 pontos para 45,2 pontos.
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV teve movimento semelhante ao da CNI, visto que assinalou recuo das expectativas dos empresários na passagem de set/23 para out/23, indo de 91,0 pontos para 90,8 pontos. Cabe observar que os indicadores abaixo de 100 pontos indicam pessimismo e acima desta marca, otimismo dos empresários industriais.
O componente deste indicador referente à situação atual, porém, subiu de 89,7 para 90,9 pontos no período, mas manteve-se na região pessimista, e aquele referente às expectativas futuras recuou de 92,4 pontos para 90,8 pontos.
Outro indicador frequentemente utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Entre ago/23 e set/23, este indicador havia recuado de 50,1 pontos para 49,0 pontos e manteve este movimento em out/23 ao registrar 48,6 pontos.
Ou seja, está indicando piora no quadro dos negócios do setor industrial, visto que ficou abaixo dos 50 pontos de novo. Em 2023, a regra tem sido ficar abaixo desta marca, como mostra a figura a seguir. A única exceção coube ao mês de ago/23, quando acusou um contexto de estabilidade.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)