Análise IEDI
Poucos alicerces para um dinamismo superior
O comércio varejista, tal como os serviços, ficou no vermelho no mês de ago/23. Considerado em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, material de construção e atacarejo, o recuo foi de -1,3% frente a jul/23, já descontados os efeitos sazonais. Com isso, ainda estamos por ver uma variação positiva nesta segunda metade do ano.
No conceito restrito, as vendas reais também não conseguiram crescer, mas o resultado foi mais próximo da estabilidade: de -0,2%, com ajuste sazonal, devolvendo, assim, parte da expansão de +0,7% registrada no mês anterior.
Dos dez ramos acompanhados pelo IBGE, metade ficou no vermelho na série com ajuste, compreendendo mercados cujo funcionamento demanda, em maior ou menor grau, algum tipo de crédito e que, por isso, estão enfraquecidos pelos níveis elevados de taxas de juros atualmente praticados e pelo alto endividamento das famílias.
As variações a seguir ilustram este panorama, em que se destacam, do lado negativo, as vendas de móveis e eletrodomésticos, bem como tecidos, vestuário e calçados, além de livros, jornais, revistas e papelaria, para quem a digitalização de conteúdos vem trazendo alterações importantes na comercialização de muitos de seus itens.
• Varejo ampliado: +1,4% em jun/23; -0,4% em jul/23 e -1,3% em ago/23;
• Varejo restrito: +0,1%; +0,7% e -0,2%, respectivamente;
• Móveis e eletrodomésticos: +0,6%; -1,1% e -2,2%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +0,6%; -2,9% e -0,4%;
• Material de construção: +0,4%; +0,2% e -0,1%;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +1,4%; +0,3% e +0,9%;
• Veículos e autopeças: +8,5%; -5,8% e +3,3%, respectivamente.
Para os ramos anteriormente mencionados, o sinal negativo não é uma novidade e marcam a maioria dos meses de 2023 na série com ajuste sazonal. E isso vale também para a comparação com igual período do ano anterior na maioria dos casos.
Frente a ago/22, móveis e eletrodomésticos registraram queda de -1,5%, tecidos, vestuário e calçados, de -7,0% e livros, jornais, revistas e papelaria, de -15,7%, enquanto as vendas totais do varejo ampliado expandiram +3,6%.
Outro caso a ser mencionado é o de outros artigos de uso pessoal e doméstico, ramo que inclui as lojas de departamento, com declínio de -4,8% ante jul/23. Foi o pior resultado na série com ajuste sazonal. Frente a ago/22, caiu -7,9%, não tendo apresentado, por ora, nenhuma variação positiva em 2023.
Além deste, há também o ramo de material de construção (-0,1% ante jul/23 com ajuste), artigos farmacêuticos, ortopédicos e de perfumaria e cosméticos (+0,1%) e equipamentos de escritório, informática e comunicação (+0,2%), todos virtualmente estagnados. No caso de material de construção, a queda de -0,5% em ago/23 foi sua sétima variação negativa consecutiva na comparação interanual.
Dois ramos apenas estão funcionando como alicerces para o varejo nos últimos meses, evitando um desempenho ainda mais fraco: supermercados, alimentos, bebidas e fumo e veículos e autopeças, que juntos representam cerca de 50% do setor na pesquisa mensal do IBGE.
No caso de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujas vendas aumentaram +0,9% na passagem de jul/23 para ago/23, já corrigidos os efeitos sazonais, e +5,6% em comparação com ago/22, além de incluírem itens essenciais da cesta de consumo das famílias, também contam com redução da inflação de produtos de peso.
No acumulado dos oito primeiros meses do ano, enquanto o IPCA total acumulou aumento de +3,23%, a inflação ao consumidor da alimentação em domicílio registrou variação de -1,82%, um quadro radicalmente distinto daquele verificado em jan-ago/22: +4,39% ante +11,85%, respectivamente.
Já no caso das vendas de veículos e autopeças, cabe lembrar o programa de redução de impostos do governo federal, com objetivo de dinamizar as vendas do setor. Embora tal estímulo ainda não tenha chegado à produção da indústria automobilística, suas vendas no varejo saltaram +17,8% em jun/23, +9,8% em jul/23 e +10,8% em ago/23 na comparação interanual. Na série com ajuste sazonal, registrou expansão de +3,3% em agosto último.
Segundo os dados de agosto de 2023 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional registrou decréscimo de 0,2% frente ao mês imediatamente anterior (julho/2023) na série com ajuste sazonal. Frente ao mês de agosto de 2022, houve aumento de 2,3%. Para o acumulado nos últimos doze meses aferiu-se crescimento de 1,7%.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças, de materiais de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, registrou variação negativa de 1,3% em relação a julho de 2023, a partir de dados livres de influências sazonais. Frente ao mês de agosto de 2022 houve variação de 3,6%. Para o acumulado nos últimos 12 meses verificou-se aumento de 2,7%.
A partir de dados dessazonalizados, na comparação com o mês imediatamente anterior (julho/2023) quatro dos oito setores analisados apresentaram expansão: combustíveis e lubrificantes (0,9%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,9%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,2%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,1%). Os setores que caíram foram: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,8%), livros, jornais, revistas e papelaria (-3,2%), móveis e eletrodomésticos (-2,2 %) e tecidos, vestuário e calçados (-0,4%). Para o comércio varejista ampliado, a atividade de material de construção caiu 0,1% e a de veículos e motos, partes e peças subiu em 3,3%. O setor de atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo ainda não tem dados suficientes para o ajuste sazonal.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior (agosto de 2022), cresceram três dos oito segmentos: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (6,5%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (6,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (5,6%). Houve queda nos cinco setores restantes: livros, jornais, revistas e papelaria (-15,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-7,9%), tecidos, vestuário e calçados (-7,0%), combustíveis e lubrificantes (-3,5%) e móveis e eletrodomésticos (-1,5%). No comércio varejista ampliado, o setor de veículos e motos, partes e peças apresentou crescimento de 10,8% e o de atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo de 8,8%. A categoria de material de construção caiu 0,5%.
Na análise do acumulado no ano (janeiro-agosto), os resultados mostram que cinco dos oito setores cresceram: combustíveis e lubrificantes (9,2%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (3,5%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,0%), móveis e eletrodomésticos (1,0%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,9%). Por outro lado, os setores em queda foram: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,9%), tecidos, vestuário e calçados (-7,5%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-2,5%). No comércio varejista ampliado, o setor de atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceu 9,6% e o veículos, motos, partes e peças apresentou expansão de 6,7%, enquanto a categoria de material de construção reduziu em 2,8%.
Por fim, comparando agosto de 2023 com o mesmo mês do ano anterior (agosto/2022), todas as 27 unidades federativas apresentaram crescimento no volume de vendas do comércio varejista, sendo os maiores: Paraíba (24,5%), Tocantins (9,7%), Maranhão (8,5%), Ceará (8,0%) e Bahia (5,8%).