Análise IEDI
Recuo do emprego na maioria dos setores
A taxa de desemprego do Brasil atualmente é metade daquela vigente durante a pandemia, segundo os dados divulgados hoje pelo IBGE: 7,7% no 3º trim/23 ante 14,9% no mesmo período de 2020. Com isso, nos aproximamos dos patamares imediatamente anteriores à crise de 2015-2016.
Embora a ocupação total continue se expandindo, há claros sinais de que este processo pode estar se esgotando. O ritmo de crescimento do número de ocupados está cada vez mais perto de zero: 2,6% no 1º trim/23; +0,7% no 2º trim/23 e +0,6% no 3º trim/23.
O contingente de pessoas sem emprego, apesar da abertura recente de novas vagas, ainda soma 8,3 milhões de pessoas no 3º trim/23, o que significa 1,5 milhão de pessoas a mais do que em igual período de 2014, isto é, antes dos choques adversos por que passou recentemente nossa economia.
Dos ramos econômicos identificados na pesquisa do IBGE, houve queda do emprego em 60% deles no 3º trim/23. Como mostram as variações interanuais a seguir, os piores resultados ficaram a cargo de outros serviços, que reúne um conjunto amplo de atividades, da agropecuária, que além de fatores conjunturais também passa por processos de mecanização e corte de vagas, e da construção, cujos negócios são afetados pelos altos níveis de taxas de juros.
• Ocupação total: 2,6% no 1º trim/23; +0,7% no 2º trim/23 e +0,6% no 3º trim/23;
• Ocupação na agropecuária: -5,2%; -5,0% e -3,8%, respectivamente;
• Ocupação na indústria: +2,1%; +0,4% e -0,4%;
• Ocupação na construção: -0,8%; -4,6% e -2,4%;
• Ocupação no comércio: +3,0%; -0,8% e -1,5%;
• Ocupação nos transportes: +7,9%; +4,3% e +4,3%;
• Ocupação em alojamento e alimentação: +1,8%; +1,0% e +3,9%, respectivamente.
Ou seja, uma nova fase de encolhimento do emprego na maioria dos setores econômicos, à exceção de certos ramos de serviços, é que tem restringido a expansão da ocupação total. Apesar disso, no agregado, percebe-se um movimento de melhora da ocupação, em direção a postos formais de trabalho. É esta a marca de 2023.
O número de ocupados com carteira assinada cresceu +3,0% no 3º trim/23, isto é, em um ritmo 5 vezes maior do que a ocupação total (+0,6%). A taxa de informalidade, calculada pelo IBGE, por sua vez, vem declinando, mesmo que gradualmente: 40,6% no 3º trim/21; 39,4% no 3º trim/22 e 39,1% no 3º trim/23.
Mas este processo poderia ser mais célere. Entre outros fatores, se a produção industrial estivesse se expandindo, a geração de vagas pelo setor não teria perdido tanto ímpeto como perdeu nos últimos meses e o emprego com carteira assinada estaria crescendo mais. Isso porque as relações empregatícias da indústria são majoritariamente formais, como o acompanhamento do IEDI tem mostrado, a exemplo da Carta IEDI n. 1216.
Agora no 3º trim/23, a indústria reduziu seu número de ocupados em -0,4%, ao dar sequência a uma trajetória descendente que já perdura desde meados de 2022. Ainda assim, cabe notar que entre os setores no vermelho, a indústria foi o que menos desempregou e manteve-se em uma situação de quase estabilidade.
Segundo os dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrou 7,7% no trimestre compreendido entre julho e setembro de 2023. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun/2023), houve retração de 0,3 p.p., e para o mesmo trimestre do ano anterior verificou-se variação negativa de 1 p.p., quando registrou 8,7%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos registrou R$ 2.982, apresentando aumento de 1,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun/2023). Já frente ao mesmo trimestre de referência do ano passado, houve expansão de 4,2%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$ 296,1 bilhões no trimestre que se encerrou em setembro, registrando crescimento de 3,1% frente ao trimestre imediatamente anterior (abr-mai-jun/2023) e variação positiva de 5,7% em comparação com o mesmo trimestre do ano passado (R$ 280,2 bilhões).
No trimestre de referência a população ocupada registrou 99,8 milhões de pessoas, apresentando variação positiva de 0,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior, e incremento de 0,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (99,3 milhões de pessoas ocupadas).
Em comparação com o trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados aferiu retração de 3,8%, com 8,3 milhões de pessoas. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, observou-se variação negativa de 12,1%. Em relação a força de trabalho, computou-se neste trimestre 108,2 milhões de pessoas, representando crescimento de 0,6% frente ao trimestre imediatamente anterior e variação positiva de 0,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado (108,7 milhões de pessoas).
Frente ao mesmo trimestre do ano passado, quatro dos dez agrupamentos analisados apresentaram crescimento: informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,2%), transporte, armazenagem e correios (4,3%), alojamento e alimentação (3,9%), administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,9%). Em sentido oposto, os seis grupamentos restantes registraram retração: indústria (-0,4%), serviços domésticos (-1,3%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,5%), construção (-2,4%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-3,8%) e outros serviços (-4,5%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação frente ao mesmo trimestre do ano anterior, três das sete categorias analisadas cresceram: trabalho privado com carteira (3,0%), setor público (0,5%), trabalho privado sem carteira (0,4%). Por outro lado, as quatro categorias restantes caíram: trabalhador por conta própria (-0,8%), trabalho doméstico (-1,3%), empregador (-3,3%) e trabalho familiar auxiliar (-12,7%).