Carta IEDI
Déficit menor, mas com menos exportação
Em 2023, o déficit da balança comercial da indústria de transformação tem se reduzido em relação ao ano passado e a cada trimestre este movimento ganha mais força. O motivo por trás disso, contudo, não é a ampliação das vendas externas do setor, mas sim uma contração expressiva de suas importações.
Entre jan/23 e set/23, o déficit da indústria de transformação brasileira somou US$ 32,69 bilhões, representando uma queda de -30,2% em relação ao mesmo acumulado do ano passado. No 3º trim/23, este ritmo atingiu -47,0%, condicionado por um declínio de -18,9% das importações, que mais do que compensou a queda de -7,8% das exportações do setor.
A Carta IEDI de hoje avalia os fluxos de comércio exterior de nossa indústria a partir da metodologia difundida pela OCDE que agrupa seus diferentes ramos por intensidade tecnológica: alta, média-alta, média e média-baixa tecnologia. Não há ramos da indústria de transformação classificados como de baixa intensidade tecnológica.
Nos dados mais recentes, que indicam uma redução intensa do déficit industrial no 3º trim/23, dois fatores se destacam: declínio do saldo negativo dos ramos de maior intensidade tecnológica e ampliação do superávit da faixa de média-baixa tecnologia. Estes dois movimentos compensaram o recuo de -57,1% do saldo positivo da indústria de média intensidade tecnológica.
Dentre os quatro grupos em que a indústria de transformação se divide, a maior contribuição veio da média-alta, cujo déficit no 3º trim/23, no valor de US$ 17 bilhões, encolheu -30,9% ante o 3º trim/22. A razão disso foi a queda de -22,6% de suas importações, devido a produtos químicos (-40,5%), bem como máquinas e equipamentos elétricos e mecânicos, que se aproximaram muito da estabilidade. As exportações desta faixa registraram -5,0% frente a jul-set/22.
Em seguida, a segunda maior contribuição à redução do déficit comercial do agregado da indústria de transformação foi o grupo de média-baixa intensidade tecnológica, cujo saldo é positivo (US$ 15,2 bilhões no 3º trim/23) e ficou ainda maior: +20,7% ante o 3º trim/22. Neste caso, dado que suas exportações recuaram -7,6%, também foram as importações que deram o tom: -28,3%, devido a todos os seus componentes, com destaque para derivados de petróleo (-43,9%).
Já a indústria de alta tecnologia, reduziu seu déficit em -8% no 3º trim/23, dando sequência ao movimento dos trimestres anteriores (-1,5% em jan-mar/23 e -3,4% em abr-jun/23). Suas exportações ficaram perto da estabilidade (-0,6% ante o 3º trim/22), mas perderam muito do dinamismo recente (+22,1% no 2º trim/23), devido a todos os seus ramos. Suas importações caíram -7,1%, muito influenciadas pelo recuo das compras externas de produtos do complexo eletrônico (-14,1%).
Por fim, a única faixa que caminhou na direção oposta, isto é, de ampliar o déficit da indústria de transformação como um todo, foi a de média intensidade tecnológica. Neste caso, seu superávit encolheu -57,1% no 3º trim/23, quase o dobro do ritmo do 2º trim/23 (-26,8%). Isso ocorreu porque as exportações de seus produtos caíram -19,5% e suas importações subiram +3,1%, condicionadas sobretudo pela metalurgia, que teve queda de -20,7% em suas vendas externas e alta de +8,7% em suas compras externas.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
O acumulado dos nove primeiros meses de 2023 registrou superávit comercial de US$ 71,2 bilhões, o maior da série em dólares correntes para janeiro-setembro, superando em quase US$ 24 bilhões o saldo obtido em igual período de 2022. Mas tal resultado veio com as exportações registrando variação de -0,1%, ficando em US$ 253,0 bilhões, ligeiramente aquém do montante recorde dos três trimestres iniciais do ano passado. As importações retrocederam 11,7%, para US$ 181,7 bilhões, em relação ao mesmo acumulado de 2022.
Tal superávit foi obtido sobretudo pelo recordista resultado positivo de US$ 104,2 bilhões, dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais. Suas exportações alcançaram patamar recorde para acumulado até setembro, US$ 121,4 bilhões.
Os produtos típicos da indústria de transformação contribuíram para o melhor resultado frente a igual período de 2022, ao registrar redução em seu déficit, de US$ 47,1 bilhões para US$ 32,9 bilhões. As exportações diminuíram 3,1%, ficando em US$ 131,6 bilhões. As importações declinaram 10,0%, caindo para US$ 164,6 bilhões.
Em suma, ao longo de 2023 o saldo dos bens típicos da indústria de transformação continua mostrando melhora frente a igual acumulado do ano anterior, porém sem ampliar suas exportações em dólares correntes. O superávit dos demais bens em janeiro-setembro aumentou quer devido à ampliação nas exportações, quer por conta de o país ter importado menos.
Tais resultados devem ser vistos em meio ao cenário de aumento nas taxas de juros nos países avançados para enfrentamento da inflação, enquanto a guerra na Ucrânia prossegue e a retomada chinesa tem se mostrado claudicante que o esperado. Para o restante do ano, há o agravante do conflito na Faixa de Gaza, na sequência do ato terrorista pelo grupo Hamas em Israel.
No âmbito interno, já houve redução na taxa básica de juros (Selic) ainda que continuem assaz elevadas. Tais reduções podem, contudo, continuar ou aumentar caso a reforma tributária avance no Poder Legislativo, mantendo a ideia de simplificação do sistema tributário e ampliação de sua eficiência.
Quanto ao terceiro trimestre do ano, o saldo positivo de US$ 26,7 bilhões foi o dobro do superávit obtido no mesmo período de 2022, estabelecendo, aliás, o maior patamar para julho-setembro da série. Todavia as exportações recuaram 1,6% frente ao terceiro trimestre do ano passado, ficando em US$ 87,8 bilhões. As importações retrocederam ainda mais, queda de 19,7%, parando em US$ 61,1 bilhões.
No terceiro trimestre de 2023, o superávit também se deveu aos demais produtos (bens agropecuários e minerais em destaque): saldo de US$ 37,0 bilhões. As exportações desses produtos em relação a julho-setembro de 2022 cresceram 6,1%, chegando a US$ 42,3 bilhões, enquanto as importações diminuíram 27,0%.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, suas exportações caíram 7,8% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, ficando em US$ 45,5 bilhões. Suas importações declinaram 18,9%, parando em US$ 55,8 bilhões. Desse modo, o déficit diminuiu para US$ 10,3 bilhões, abaixo do observado em igual trimestre de 2022 abril-junho do ano anterior, déficit de US$ 19,5 bilhões.
A balança por intensidade tecnológica
Conforme exposto em carta anterior, a nova classificação por intensidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não só as da indústria de transformação do esforço anterior. Ademais, no lugar de quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes se fazem presentes nas quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software. A partir da divulgação na plataforma Comexstats dos dados de exportação e importação segundo a Classificação Industrial Internacional Uniforme, pode-se averiguar que não houve transações de produtos oriundos de tais serviços na balança comercial.
No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial.
Quanto ao segmento de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõe essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Com base em tanto, a balança comercial brasileira pode ser esmiuçada a partir da versão atualizada da taxonomia por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de P&D.
Tomando o acumulado do ano, a balança comercial de bens produzidos por atividades classificadas como de alta intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, experimentou déficit de US$ 30,7 bilhões em janeiro-setembro, abaixo do recorde para acumulado dos nove meses iniciais em dólares correntes registrado em 2022. As exportações desses bens cresceram 13,8%, chegando a US$ 4,8 bilhões. Esse aumento foi decorrente da ampliação nas vendas externas de aeronaves e de bens do complexo eletrônico, mas com quedas nas exportações de produtos farmacêuticos. Seus três ramos experimentarem déficit, mesmo no caso dos produtos eletrônicos cujas importações diminuíram. Por sinal, mesmo com importações menores, o complexo eletrônico respondeu por quase 60% do déficit da faixa.
A faixa de média-alta intensidade encerrou o período com déficit de US$ 49,0 bilhões, aquém do nível recorde para janeiro-setembro observado em 2022. Apesar de tanto, ainda persiste como o maior déficit dentre as cinco faixas. Suas exportações aumentaram 1,1% no contraponto entre iguais acumulados de 2023 e de 2022, chegando a US$ 32,2 bilhões, superando, o país já havia exportado no mesmo acumulado de 2012, mas aquém do logrado em janeiro-setembro de 2008 e de 2011. A expansão das exportações foi bem disseminada entre seus ramos. As exceções ficaram por conta da indústria química e de material de transporte ferroviário e de outros equipamentos de transporte.
O maior ramo exportador, o de veículos automotores, reboques e carrocerias, ampliou suas vendas externas em 6,4%, respondendo por um terço das vendas externas desse segmento. Já os ramos de equipamentos bélicos, armas e munições e o de máquinas e equipamentos mecânicos e não especificados noutras atividades lograram as maiores taxas de expansão exportadora dessa faixa.
As importações do segmento de média-alta recuaram 14,5%, por conta da redução em 31,3% das aquisições internas de produtos químicos, mas ainda assim respondendo por quase a metade das importações dessa faixa. O maior incremento importador coube ao pouco representativo, mas superavitário ramo de equipamentos bélicos pesados, armas e munições. Os produtos químicos e as máquinas e equipamentos registraram os maiores déficits no acumulado.
Quanto aos produtos tipicamente oriundos de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, seu intercâmbio registrou superávit de US$ 7,2 bilhões nos três primeiros trimestres do ano, abaixo do resultado positivo do mesmo acumulado de 2022. Suas exportações recuaram 11,8%, ficando em US$ 23,5 bilhões.
As importações, por sua vez, aumentaram 3,1%. Ironicamente, o superávit menor decorreu menos de seus ramos deficitários e mais principalmente da retração no superávit dos produtos metalúrgicos, caindo para US$ 10,2 bilhões, devido à queda de 14,5% em suas exportações, para US$ 18,8 bilhões.
Os produtos de minerais não-metálicos também registraram menor superávit com queda nas exportações, enquanto o ramo naval e náutico logrou superávit em contraste com o sinal negativo no mesmo período de 2022. Dos ramos que experimentaram saldo negativo, destaque-se o aumento no déficit dos produtos de borracha e de material plásticos, saldo negativo de US$ 2,8 bilhões.
Quanto ao segmento dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica, seu superávit alcançou US$ 82,9 bilhões em janeiro-setembro de 2023, o segundo maior resultado para janeiro-setembro da série em dólares correntes, perdendo apenas para o mesmo acumulado de 2021. Suas exportações, porém, declinaram 2,4%, ficando em US$ 127,0 bilhões. As exportações de minérios retrocederam 2,0% ficando em US$ 55,8 bilhões, apresentando superávit de US$ 43,5 bilhões.
As exportações dos bens da indústria de transformação dessa faixa registraram variação negativa, -2,7%, ficando em US$ 71,1 bilhões e com superávit de US$ 39,5 bilhões, maior do que o registrado nos três primeiros trimestres de 2022. Tal aumento no saldo decorreu principalmente da redução do déficit de coque, produtos do refino do petróleo e biocombustíveis e do recorde no superávit e nas exportações de produtos alimentares industriais, bebidas e fumo para janeiro-setembro em dólares correntes. Essas melhoras foram mitigadas pela redução no superávit de produtos industriais madeireiros, papel, celulose e de impressão e pela ampliação no déficit em produtos têxteis, de vestuário, de couro e calçados. Esses dois ramos tiveram queda de dois dígitos nas exportações.
Já a faixa de baixa intensidade, na qual se destacam os produtos agropecuários e pescados, observou superávit recorde de US$ 60,3 bilhões, com aumento de 8,2% das exportações, chegando a US$ 64,6 bilhões. Esse incremento é um pouco maior o que o das vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, 7,7%, principal componente desse segmento em face da pouca expressão dos bens oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e daqueles originados por serviços. Cumpre lembrar que esse segmento não inclui bens da indústria de transformação.
Passando para a comparação entre terceiros trimestres de 2023 e de 2022, o déficit do segmento de alta intensidade caiu de US$ 10,9 bilhões para US$ 10,0 bilhões. As exportações retrocederam 0,6%, ficando em US$ 1,6 bilhão. Tal queda se deveu à menor exportação de produtos farmacêuticos, recuo de quase 40%, enquanto os demais lograram incremento, com destaque para a indústria aeronáutica. Os produtos eletrônicos lograram também aumento dois dígitos. As importações declinaram 7,1%, em decorrência da redução nas aquisições externas de produtos eletrônicos, com os outros dois ramos registrando aumento nas importações.
Quanto à faixa de média-alta, experimentou déficit de US$ 17,0 bilhões, uma magnitude bem abaixo da registrada no mesmo trimestre do ano passado, mas um pouco acima do que foi observado nos dois primeiros trimestres do ano. As exportações retrocederam 5,0%, para US$ 11,1 bilhões, com queda exportadora nos ramos químico, de automóveis, reboques e carrocerias e de outros materiais de transporte, sobressaindo a retração das vendas externas de produtos químicos tanto pela grandeza, quanto pela variação, com a segunda maior queda.
Por outro lado, as exportações dos dois ramos que incluem bens de capital – máquinas e equipamentos mecânicos e não classificadas noutras atividades e as de máquinas, aparelhos e materiais elétricos cresceram – cresceram bem. As vendas externas de instrumentos e materiais médicos, odontológicos e óticos e de equipamentos bélicos, armas e munições foram as que mais cresceram nessa base comparativa. As importações de mercadorias dessa faixa recuaram 22,6%, devendo-se tanto aos próprios produtos químicos devido a seu peso.
Julho-setembro de 2023 para a faixa de média intensidade foi superavitário, US$ 1,4 bilhão, expressivo, porém quase US$ 2 bilhões aquém do logrado no mesmo trimestre de 2022. Suas exportações sofreram retração de 19,5%, ficando em US$ 7,2 bilhões, o que foi disseminado no setor destacando o menor montante exportado de produtos da metalurgia.
As importações de bens da indústria de transformação dessa faixa, a seu turno, cresceram 3,1%, devido aos aumentos de dois dígitos nas aquisições externas de produtos da metalurgia. Ainda assim, os produtos metalúrgicos responderam em larga medida pelo superávit desse segmento, com saldo positivo de US$ 2,6 bilhões. Os produtos plásticos e de borracha registraram o maior déficit dessa faixa.
Quanto aos fluxos comerciais da faixa de média-baixa intensidade tecnológica no terceiro trimestre de 2023, suas exportações, US$ 46,6 bilhões, diminuíram 2,2% frente a julho-setembro de 2022. As exportações de minérios cresceram 2,5%, para US$ 20,8 bilhões, enquanto as de produtos da indústria de transformação dessa faixa retrocederam 5,6%, ficando em US$ 25,7 bilhões.
Mesmo assim o superávit de todos os produtos do segmento de média-baixa intensidade foi de US$ 32,4 bilhões, o maior de toda a série em dólares correntes, com a extração mineral obtendo saldo positivo de US$17,2 bilhões e os ramos da indústria de transformação apresentando superávit de US$ 15,2 bilhões.
As importações dessa faixa diminuíram 28,0%, com as importações de minérios e de bens dos ramos da indústria de transformação dessa faixa caindo a taxas bem próximas a esta. Cabe notar que os alimentos industriais, bebidas e fumo, que costuma ditar o comportamento dessa faixa, apresentou patamar recorde de superávit e de exportações.
A faixa de baixa intensidade apresentou aumento no superávit no terceiro trimestre, chegando a US$ 19,7 bilhões, devido ao de incremento de 9,7% nas exportações, atingindo US$ 21,1 bilhões e à retração de 24,5% em suas importações. Tal comportamento é ditado pelos gêneros agropecuários.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
Como visto, no terceiro trimestre de 2023, o déficit dos produtos da indústria de transformação de alta intensidade diminuiu frente ao mesmo acumulado de 2022, saldo negativo de US$ 30,7 bilhões, ainda assim o segundo maior da série para janeiro-setembro. A redução no déficit decorreu do aumento de 13,8% nas exportações em dólares correntes, chegando a US$ 4,8 bilhões, mas permanece bem aquém daquele de igual período de 2019. As importações diminuíram 2,2%.
Os produtos da indústria aeronáutica tiveram déficit de US$ 4,1 bilhões, pouco menor que o do mesmo acumulado de 2022, o maior déficit de toda a série para janeiro-setembro. Suas vendas externas avançaram 29,5%, chegando a US$ 2,6 bilhões, enquanto as importações cresceram 9,3%.
As exportações de bens eletrônicos também cresceram dois dígitos, 11,3%, mas sobre montante pouco expressivo, enquanto suas importações caíram 10,7%, mas representando ainda mais da metade das importações dos produtos da presente faixa e propiciando déficit de US$ 28,1 bilhões, quase 60% do déficit do segmento de alta intensidade.
No caso dos produtos farmacêuticos, suas vendas externas retrocederam 11,6%, para US$ 1,0 bilhão, enquanto as importações cresceram 11,0%, ampliando o déficit para US$ 8,5 bilhões.
No terceiro trimestre, o saldo dos bens das indústrias de alta intensidade apresentou saldo deficitário de US$ 10,0 bilhões, uma diferença de US$ 870 milhões frente ao déficit do mesmo trimestre de 2022. Suas exportações tiveram variação de -0,6%, ficando em US$ 1,6 bilhão. As importações caíram 7,1%, parando em US$ 11,6 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais experimentaram déficit de US$ 1,5 bilhão em julho-setembro. Suas exportações cresceram 23,8%, atingindo US$ 835 milhões, constituindo quatro trimestres consecutivos de aumento na comparação entre trimestre e igual período do ano anterior. As importações cresceram 1,9%, levando-as ao patamar de US$ 2,4 bilhões.
Os bens típicos do complexo eletrônico, como tem sido recorrente, concorreram sobremaneira para essa balança negativa dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, déficit de US$ 6,0 bilhões. As exportações cresceram 6,0%, mas sobre uma base baixa, chegando assim a US$ 410 milhões, enquanto as importações foram de US$ 6,4 bilhões, mesmo registrando queda de 14,1%.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 2,5 bilhões. Suas exportações diminuíram 38,1%, vendendo ao exterior US$ 312 milhões. Assim, foi interrompida uma sequência de seis trimestres de crescimento na comparação entre trimestre e igual trimestre do ano anterior. As importações desses bens, por sua vez, cresceram 4,6%, atingindo US$ 2,8 bilhões.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
A faixa de média-alta intensidade experimentou saldo negativo de US$ 9,0 bilhões nos três primeiros trimestres de 2023, o maior déficit em dólares correntes dentre todas as faixas de intensidade e segundo o maior de toda a sua série para tal acumulado, superado somente por seu correspondente de 2022. Suas exportações cresceram 1,1%, alcançando US$ 32,2 bilhões em janeiro-setembro. As importações declinaram 14,5%, caindo para US$ 81,1 bilhões.
Os produtos da indústria automobilística apresentaram resultado negativo de US$ 3,6 bilhões, déficit maior do que o registrado no mesmo período de 2022. Suas exportações aumentaram 6,4%, chegando a US$ 11,0 bilhões, enquanto as importações avançaram 7,5%. Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 796 milhões, maior do que no mesmo acumulado de 2022, com queda de 2,0% nas exportações, ficando em US$ 159 milhões, e elevação de 10,4% nas importações.
Os dois ramos ligados a bens de capital experimentaram déficits maiores do que os observados em janeiro-setembro de 2022, apesar das exportações em expansão. O de equipamentos não especificados noutras atividades, M&E, teve déficit de US$ 9,4 bilhões, exportando US$ 8,7 bilhões, 16,1% a mais do que no mesmo acumulado de 2022. Suas importações aumentaram 7,7% na mesma base comparativa. Sobre os materiais e equipamentos elétricos, tiveram intercâmbio deficitário de US$ 6,0 bilhões, com exportações de US$ 2,6 bilhões, crescimento de 3,8% frente aos três trimestres iniciais do ano passado. As importações avançaram mais, 8,6%.
Passando para os produtos químicos, experimentaram saldo negativo de US$ 28,1 bilhões, representando 58,4% do déficit de toda a faixa de média-alta intensidade tecnológica. O país vendeu para o exterior US$ 9,0 bilhões desses bens, retração de 16,3%. Suas importações retrocederam 31,3%, parando em US$ 37,0 bilhões.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 1,4 bilhão, com aumento de 11,9% nas exportações, chegando a US$ 330 milhões. Já suas importações diminuíram 0,6%.
Por fim, o saldo dos equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 237 milhões, o único ramo com saldo positivo do segmento de média-alta no acumulado até setembro. Suas exportações, US$ 385 milhões, tiveram expansão de 17,9%. As importações desses itens foram as que mais cresceram dentro dessa faixa, 32,0%.
Em julho-setembro, o déficit dessa faixa de US$ 17,0 bilhões, menor do que no mesmo período de 2022, mesmo as exportações tendo retração de 5,0%, ficando em US$ 11,1 bilhões. Isto é, a redução no déficit foi decorrência da queda de 22,6% nas importações na comparação entre terceiros trimestres de 2023 e de 2022.
As exportações de produtos químicos declinaram 20,9%, caindo para US$ 3,0 bilhões. As importações retrocederam ainda mais, queda de 40,5% pelo contraponto entre terceiros trimestres, ficando em US$ 12,9 bilhões. Assim o saldo ficou com déficit de US$ 9,6 bilhões, bem menor do que no mesmo período 2022, porém responsável por 56,8% do resultado negativo dessa faixa.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 1,9 bilhão no terceiro de 2023. Os automóveis, reboques e carrocerias responderam por US$ 1,6 bilhão deste montante. As exportações destes últimos foram de US$ 3,6 bilhões, queda de 7,7% frente a igual período de 2022. Suas importações cresceram 3,9%.
Quanto ao grupo dos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações diminuíram 23,1%, enquanto as importações cresceram 9,5%, levando ao resultado negativo de US$ 282 milhões.
A balança comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e a de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 3,0 bilhões e de US$ 2,1 bilhão. As exportações de M&E subiram 14,5%, chegando a US$ 3,2 bilhões, enquanto as importações cresceram 0,8%, levando a um déficit menor em relação a igual trimestre de 2022. As exportações de aparelhos e materiais elétricos cresceram 7,5%, chegando a US$ 951 milhões, enquanto as aquisições externas aumentaram 4,5%.
Quanto aos I&M de uso médico e odontológico e artigos óticos, o país exportou US$ 119 milhões no terceiro trimestre do ano, 18,1% acima do que em julho-setembro de 2022. Suas importações avançaram 8,1%, atingindo US$ 597 milhões. O saldo negativo desses bens foi de US$ 478milhões, déficit maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Já o intercâmbio de equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 86 milhões no terceiro trimestre de 2023, com avanço de 39,0% em suas exportações, alcançando US$ 141 milhões, enquanto suas importações recuaram 10,3%.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As exportações em dólares correntes de produtos típicos de indústrias de média intensidade tecnológica retrocederam 11,8% nos três trimestres iniciais do ano, ficando em US$ 23,5 bilhões. As importações, por sua vez, avançaram 3,1%. Ainda assim, o intercâmbio desses bens experimentou superávit de US$ 7,2 bilhões, porém US$ 3,6 bilhões menor do que no acumulado equivalente do ano passado.
As embarcações e demais produtos do setor naval-náutico lograram a maior taxa de expansão nas exportações, 914,4%, atingindo US$ 470 milhões. Suas importações cresceram 40,1% no confronto entre os nove primeiros meses de 2023 e de 2022, chegando a US$ 262 milhões. Desse modo, esse ramo obteve superávit de US$ 209 milhões. Desde 2012, não lograva saldo positivo em janeiro-setembro.
Os produtos da metalurgia apresentaram superávit de US$ 10,2 bilhões nos nove meses iniciais de 2023, o segundo maior da série em dólares correntes, mas ficando bem atrás do acumulado correspondente do ano anterior. O Brasil exportou US$ 18,8 bilhões, retração de 14,5% frente a janeiro-setembro de 2022, ocasionando a diminuição no resultado comercial. Suas importações ficaram praticamente estáveis, 0,5%.
O outro ramo superavitário, o de produtos minerais não-metálicos logrou superávit de US$ 73 milhões, assaz abaixo do saldo obtido no mesmo período do ano passado. Suas vendas externas diminuíram 13,7%, para US$ 1,6 bilhão, com as importações crescendo 2,1%.
Os grupos de bens experimentaram intercâmbio resultado negativo em janeiro-setembro. O déficit dos produtos de borracha e material plástico atingiu US$ 2,8 bilhões, acima do registrado no acumulado correspondente do ano passado. Suas exportações declinaram 5,9%, para US$ 2,2 bilhões, enquanto as importações aumentaram 5,6%. Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) experimentaram déficit de US$ 520 milhões, taxa de 0,7% nas exportações e de 8,2% nas importações.
Atendo-se ao terceiro trimestre de 2023, as exportações de gêneros típicos da atividade de média intensidade tecnológica declinaram 19,5% em relação a julho-setembro do ano passado 2022, ficando em US$ 7,2 bilhões. Suas aquisições externas aumentaram 3,1%. Dessa forma, o saldo positivo dessa faixa teve redução de US$ 1,9 bilhão em relação a julho-setembro de 2022, registrando superávit de US$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre último.
As embarcações e demais produtos da construção naval registraram queda de 22,9% nas exportações, caindo para US$ 14 milhões no trimestre em questão. Suas importações retrocederam 22,9%, ficando em US$ 21 milhões. Em que pese o déficit de US$ 7 milhões no trimestre em questão, o ramo ainda logrou saldo positivo até setembro de 2023, como visto.
Os produtos da metalurgia apresentaram saldo de US$ 2,6 bilhões, um superávit US$ 1,7 bilhão abaixo do logrado em julho-setembro do ano anterior. Suas exportações sofreram retração de 20,7%, para US$ 5,7 bilhões, ainda assim uma grandeza de monta. As importações cresceram 8,7%. Os produtos de minerais não-metálicos registraram superávit de US$ 38 milhões, exportando US$ 550 milhões, queda de 16,7% em relação ao terceiro trimestre de 2022. Suas importações ficaram estáveis, -0,1%.
Passando para os dois outros conjuntos de bens, os produtos de borracha e de material plástico apresentaram resultado negativo de US$ 984 milhões, com retração tanto nas vendas externas, queda de 15,1%, exportando US$ 734 milhões, quanto nas importações, recuo de 1,9%. Quanto aos bens diversos, seu déficit de US$ 217 milhões foi acompanhado de variação positiva, 0,8%, nas exportações, de US$ 165 milhões, e de estabilidade nas importações, taxa de -0,1%.
Bens da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica
As vendas externas de bens produzidos pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica declinaram 2,7% em janeiro-setembro de 2023, ficando em US$ 71,1 bilhões. O intercâmbio desses produtos registrou superávit de US$ 39,5 bilhões, recorde em dólares correntes para acumulado até o nono mês. Logo o saldo maior decorreu da retração de 12,0% nas importações, caindo para US$ 31,6 bilhões.
As exportações do ramo de maior peso dessa faixa, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, cresceram 3,6%, atingindo US$ 47,5 bilhões, recorde para janeiro-setembro. Já suas importações avançaram 7,0%, mas sobre uma base menor, o que propiciou o superávit recorde de US$ 40,7 bilhões para o acumulado em questão.
Quanto à balança de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos obteve superávit de US$ 9,6 bilhões, exportando US$ 11,0 bilhões, 13,0% a menos do que nos nove meses iniciais de 2022.
O comércio de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, a seu turno, registrou resultado negativo de US$ 6,6 bilhões, bem abaixo do déficit observado no mesmo acumulado do ano anterior, embora mantendo a condição de ramo mais deficitário desse segmento de intensidade tecnológica. Suas exportações retrocederam 14,1%, ficando em US$ 8,8 bilhões, enquanto as importações caíram 24,2%, para US$ 15,4 bilhões.
Os artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados experimentaram déficit de US$ 2,0 bilhões, o maior em dólares correntes para acumulado até setembro de toda a série. Suas exportações retrocederam 13,5% pela mesma base de comparação, caindo para US$ 2,5 bilhões. As importações desses itens aumentaram 7,0%. O déficit dos produtos metálicos teve ligeira redução, déficit de US$ 2,2 bilhões em janeiro-setembro de 2023. Suas exportações declinaram 7,4%, parando em US$ 1,4 bilhão, enquanto as importações recuaram 5,0%.
Focando no terceiro trimestre de 2023 frente ao mesmo período de 2022, o Brasil vendeu para o exterior 5,6% a menos dos produtos tipicamente oriundos dos ramos da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica, exportando US$ 25,7 bilhões. O País importou US$ 10,5 bilhões desses bens, queda de 28,3% comparativamente a julho-setembro de 2022. Apesar dessa diferença nas taxas, como a base das importações era bem menor que a das exportações, o superávit atingiu US$ 15,2 bilhões no terceiro trimestre, o maior da série.
O intercâmbio de alimentos da indústria, bebidas e tabaco teve saldo positivo de US$ 15,5 bilhões, outro patamar recorde para julho-setembro. Esse resultado sem igual maior decorreu do declínio de 7,6% nas importações, US$ 2,3 bilhões, enquanto as exportações ficaram praticamente estáveis, 0,2%, mas atingindo US$ 17,8 bilhões, patamar recorde para trimestre.
Os produtos madeireiros, de papel e celulose também obtiveram superávit de US$ 3,0 bilhões, expressivo, porém abaixo do logrado em julho-setembro do ano passado. Suas exportações, de 3,5 bilhões, representaram queda de 19,8%, enquanto suas importações caíram 1,8%.
As vendas para o exterior de coque, derivados de produtos de petróleo e afins declinaram 14,8%, ficando em US$ 3,2 bilhões no terceiro trimestre de 2023. Suas importações recuaram ainda mais, taxa de -43,9%. Com isso, o déficit, de US$ 1,8 bilhão, caiu para quase um terço do déficit do mesmo período de 2022.
Passando para os dois outros agrupamentos de bens típicos da indústria de média-baixa intensidade, ambos registraram déficit. As vendas externas de produtos de metal, de US$ 483 milhões, declinaram 3,4%. Suas importações caíram 2,5%, culminando no déficit de US$ 746 milhões, de magnitude ligeiramente menor do que no mesmo trimestre de 2022.
Quanto aos artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, seu déficit também aumentou frente a julho-setembro de 2022, déficit de US$ 728 milhões. Suas exportações retrocederam 14,5%, para US$ 803 milhões, enquanto as importações declinaram 0,7%.