Carta IEDI
Um trimestre de desempenho modesto
Setembro último foi um mês de baixo dinamismo em todos os grandes setores da economia, segundo pesquisas conjunturais do IBGE. A produção industrial variou tão somente +0,1% frente a ago/23, já descontados os efeitos sazonais, enquanto as vendas reais do comércio varejista e o faturamento dos serviços registraram +0,2% e -0,3%, respectivamente.
Assim, conhecido o resultado de set/23, já podemos ter uma ideia do desempenho da nossa economia no 3º trim/23. Em resumo, não foi bom, ainda que já se esperasse alguma acomodação vis-à-vis a evolução da primeira metade do ano. Em relação ao 2º trim/23, corrigidos os efeitos sazonais, a indústria e o varejo ficaram estagnados, isto é, registraram 0% de resultado. Já os serviços variaram apenas +0,1%.
Enquanto os dados oficiais do PIB divulgados pelo IBGE não saem, indicamos aqui o desempenho da proxy calculada pelo Banco Central, por meio do IBC-Br: -0,6% frente ao trimestre anterior. O Ministério da Fazenda, em seu último Boletim Macro Fiscal, espera um resultado com ajuste sazonal de 0% no 3º trim/23.
Ou seja, passado o impulso derivado da supersafra agrícola do início do ano, que tendia mesmo a se dispersar rapidamente devido ao baixo multiplicador macroeconômico do setor, e normalizadas as atividades dos serviços com a superação da pandemia de Covid-19, a economia brasileira vem carecendo de fontes de dinamismo.
Também se fazem presentes os efeitos negativos de uma conjuntura de elevadas taxas de juros, prejudicando notadamente atividades associadas a bens duráveis, como a indústria e alguns ramos do comércio varejista.
Na comparação com o ano passado, a produção física da indústria evitou o terreno negativo, mas nem por isso cresceu. Registrou 0% de resultado no 3º trim/23, tendo em bens de capital (-14,1%) e bens de consumo duráveis (-1,1%), seus piores casos. Regionalmente, metade dos parques industriais registrou perda de produção e entre os quais estão parques de destaque das regiões Sudeste e Sul e o Nordeste.
Por sua vez, o setor de serviços, que vinha liderando a expansão na primeira metade do ano, pisou no freio. A alta de +5,5% de jan-mar/23 deu lugar a uma variação de +1,0% em jul-set/23, decorrente de desacelerações em todos os ramos acompanhados pelo IBGE. Muito disso deveu-se a transportes, correios e armazenagem (+6,4% em jan-mar/23 e -0,4% em jul-set/23) e também a outros serviços (-2,4% no 3º trim/23), ramo que reúne um conjunto diversificado de atividades, como serviços financeiros, urbanos, imobiliários etc.
Já o comércio varejista não se saiu mal em comparação com o ano passado, graças à desaceleração da inflação e melhoria do emprego e ao programa de redução de impostos de veículos. Ambos os fatores têm dinamizado ramos de grande peso para o setor.
Em seu conceito ampliado o resultado do varejo foi de +3,0% no 3º trim/23, melhor, portanto, do que no 1º trim/23 (+2,5%) e no 2º trim/23 (+1,8%). Suas alavancas foram as vendas de veículos e autopeças, que cresceram +9,9% ante o 3º trim/22, e de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, com alta de +5,4% na mesma comparação.
Mesmo com o dinamismo melhor do varejo, a desaceleração da indústria e dos serviços levaram o indicador do Banco Central a registrar variação de apenas +0,8% no 3º trim/23 ante o 3º trim/22 para o agregado da atividade econômica do país, depois de altas de +4,5% e de 3,2% nos dois primeiros trimestres do ano, respectivamente.
Tal desempenho mais modesto na entrada da segunda metade do ano motivou a redução da projeção para o PIB brasileiro no agregado de 2023. O Ministério da Fazenda, reviu o resultado do PIB de 2023 de +3,2% para +3,0% em seu último boletim. Já a mediana das projeções coletadas pelo Boletim Focus do Banco Central ficou em +2,85% em sua edição mais recente ante +2,92% de um mês atrás.
Indústria
Em set/23, a produção da indústria praticamente não saiu do lugar ao variar tão somente +0,1% frente a ago/23, já descontados os efeitos sazonais. Este resultado foi acompanhado de declínio em três dos quatro macrossetores industriais e por 80% dos ramos industriais. Se a isso somarmos o fato de que apenas dois ramos, o extrativo (+5,6% ante ago/23, com ajuste) e o químico (+1,5%), realmente cresceram, o mês de set/23 foi ainda pior do que sugere a variação de +0,1% no agregado industrial.
O IBGE mostra ainda que a maioria dos parques regionais teve um desempenho inferior ao agregado do setor e perderam produção. Dos 15 parques industriais acompanhados pelo IBGE, 10 recuaram na passagem de ago/23 para set/23 com ajuste sazonal, inclusive São Paulo (-1,1%), Nordeste (-5,2%) – devido principalmente a Pernambuco (-12,8%) –, Rio Grande do Sul (-5,4%) e Amazonas (-6,1%).
Sem forças, em muito exauridas pelas elevadas taxas de juros praticadas no país, e sem bases de comparação favoráveis, já que a morosidade não é de agora, os resultados trimestrais não deixam dúvida sobre o quadro de estagnação em 2023. Com o fraco desempenho de set/23, a indústria ficou estagnada (0%) no 3º trim/23 frente ao mesmo período do ano passado.
Setorialmente, o pior caso é o de bens de capital, que acumularam um recuo de -14,1% em jul-set/23. Bens de consumo duráveis foram o outro macrossetor a ficar no vermelho neste período: -1,1% ante jul-set/22. Em ambos os casos, seus mercados dependem muito do acesso a financiamento e dos níveis de taxas de juros para se dinamizarem.
Bens intermediários, por sua vez, escaparam do negativo, mas seguiram muito perto da mera estabilidade ao registrarem +0,4%. Por fim, bens de consumo semi e não duráveis foram os únicos não só a ampliarem produção no 3º trim/23, com +2,1%, mas também a apresentar alguma melhora em relação ao resultado do 2º trim/23 (+0,1%).
Regionalmente, metade dos parques industriais registrou perda de produção e metade lograram crescer. O primeiro grupo é formado notadamente por indústrias de destaque das regiões Sudeste e Sul e pelo Nordeste.
São Paulo, assim como o total nacional, deu sinal de moderada melhora ao longo do ano, mas no seu caso ainda acumula sucessivas retrações desde o primeiro trimestre de 2023. Agora em jul-set/23 registrou -0,5% ante jul-set/22, devido a quedas intensas em ramos de maior intensidade tecnológica: -23% em eletrônicos e informática, -13,8% em veículos, -12,2% em máquinas e equipamentos e -12,1% em farmacêuticos e farmoquímicos.
No Sul do país, Santa Catarina (-0,8% ante 3º trim/22) e Rio Grande do Sul (-3,2%) tiveram quedas, condicionadas por 50% e 86% de seus ramos, respectivamente. Já o Nordeste (-5,9%), não só perdeu produção industrial novamente, como isto vem ocorrendo com intensidade cada vez maior. Ceará (-10,3%) e Bahia (-6,2%) é quem exerceu as pressões negativas.
Outro destaque pela involução recente é a indústria do Amazonas, cuja alta de +14,8% no 1º trim/23 deu lugar a um declínio de -3,4% no 3º trim/23. Na origem disso estão principalmente os ramos de bebidas (+14,8% em jan-mar/23 e -19,4% em jul-set/23), eletrônicos e informática (+25,5% e -13,7%, respectivamente) e produtos diversos (+5,6% e -24,3%).
Na metade positiva dos resultados regionais, os destaques cabem a estados com presença importante do ramo extrativo e aqueles que são grandes processadores de commodities agropecuárias. Contudo, alguns destes casos, embora em crescimento, não escaparam de uma redução de seu dinamismo com o passar do ano.
No primeiro grupo, estão as indústrias do Pará (+0,5% ante o 3º trim/22), de Minas Gerais (+0,9%), Rio de Janeiro (+5,3%) e Espírito Santo (+23,7%). Enquanto os dois primeiros cresceram menos do que vinham crescendo, os dois últimos ganharam vigor.
Vale lembrar que no total Brasil é o ramo extrativo que vem impedindo um desempenho industrial ainda mais fraco do que temos visto. No 3º trim/23, a estabilidade da indústria geral (0%) veio acompanhada de alta de +6,3% das indústrias extrativas.
Ainda considerando o total nacional, o ramo de alimentos apresentou um resultado semelhante ao extrativo, de +6,0% no 3º trim/23 frente ao mesmo período do ano anterior. Por isso, não surpreende o maior dinamismo dos parques onde este setor é sobrerepresentado.
São os casos dos estados de Goiás (+6,2% ante o 3º trim/22) e Mato Grosso (+8,2%), onde o ramo alimentício representa mais de 40% de suas indústrias, as maiores participações entre os parques regionais da pesquisa do IBGE.
Comércio
Em set/23, o comércio varejista cresceu pouco e uma parcela minoritária de seus ramos conseguiu evitar o terreno negativo. Ainda assim, não se sai mal em comparação com o ano passado, graças à redução da inflação e melhoria do emprego, bem como ao programa de redução de impostos de veículos, que têm dinamizado atividades de peso para o varejo.
Os dados do IBGE apontam para variação ante ago/23 de apenas +0,2% do comércio varejista em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças, material de construção e o atacarejo, na série livre de efeitos sazonais. Em seu conceito restrito, o resultado foi de +0,6%.
O sinal positivo de set/23 deveu-se a um de seus ramos: +1,6% em supermercados, alimentos, bebidas e fumo, de grande peso no setor como um todo. Outros avanços vieram de móveis e eletrodomésticos (+2,1% ante ago/23, com ajuste) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,4%). Apenas estes cresceram, ou seja, uma parcela de 30% dos ramos do comércio.
Considerado o 3º trim/23 em seu agregado, em comparação com o mesmo período do ano passado, o placar é um pouco melhor: 55% dos ramos aumentaram vendas e o resultado do varejo ampliado foi de +3,0% (+2,7% no conceito restrito). Em seu conjunto, em ambos os conceitos, as vendas tiveram um resultado melhor do que no 2º trim/23 (+1,8% no conceito ampliado e +0,2% no conceito restrito).
Muito deste crescimento e da aceleração em relação ao resultado do trimestre anterior vem da existência de uma base de comparação favorável, já que no 3º trim/22 o setor registrou retração tanto no conceito restrito (-0,4%) como no ampliado (-2,3%).
Altas expressivas marcaram o segmento de veículos e autopeças (+9,9%), apoiado pela redução de impostos adotada pelo governo federal, e por supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+5,4%), favorecido pela redução da inflação da alimentação em domicílio e pela queda da taxa de desemprego no país. O atacarejo alimentício também ganhou vigor no período e registrou +2,9% ante o 3º trim/22.
No acumulado de jan-set/23, fica nítido o papel dos ramos acima mencionados para o desempenho agregado do varejo. O varejo ampliado registra expansão de +2,4% e o aumento de vendas é liderado por veículos e autopeças, com alta de +6,9%. O ramo de supermercados, alimentos, bebidas e fumo também ficou acima do total do setor, com +3,6%, assim como combustíveis e lubrificantes (+6,8%).
Os ramos em dificuldade, que representam metade das atividades identificadas pelo IBGE, estão associados a bens duráveis e semiduráveis, cujos mercados, como se sabe, tendem a sofrer mais com o alto endividamento das famílias e as elevadas taxas de juros dos empréstimos.
Entre estes casos estão materiais de construção (-3,0%), tecidos, vestuário e calçados (-7,0%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,6%). Móveis e eletrodomésticos não chegaram a cair, mas após dois anos seguidos no vermelho (-7,0% em 2021 e -6,7% em 2022), acusam crescimento de apenas +1,1% em jan-set/23 frente ao mesmo período do ano anterior.
Serviços
Tal como indústria e comércio, o setor de serviços ficou virtualmente estagnado no mês de set/23, mas neste caso manteve o sinal negativo. Depois de recuar -1,3% em ago/23, registrou -0,3% no final do terceiro trimestre do ano, já descontados os efeitos sazonais. Três dos seus quatro ramos perderam faturamento real no período.
Frente ao mesmo período do ano anterior, pela primeira vez desde fev/21, os serviços também apresentaram declínio em set/23 (-1,2%), dando sequência a um movimento de nítido enfraquecimento iniciado em jun/23. Com bases de comparação mais altas, é possível que o setor esteja começando a refletir o quadro de relativa morosidade do mercado interno.
Assim, o ritmo de crescimento do 3º trim/23 encontra-se em um patamar bem mais modesto do que aquele da entrada do ano. A alta de +5,5% de jan-mar/23 deu lugar a uma variação de +1,0% em jul-set/23, decorrente de desacelerações em todos os ramos acompanhados pelo IBGE.
O melhor resultado no 3º trim/23 coube aos serviços profissionais, administrativos e complementares, em geral demandados pelas empresas, que registraram expansão de +2,0% ante o 3º trim/22. Este ramo também perdeu menos ritmo do que os demais que seguiram no azul. No 1º trim/23 havia crescido +5,1%.
Em seguida, o ramo de serviços prestados às famílias teve sua taxa de crescimento reduzida para ¼ do que era no 1º trim/23 (+2,3% ante +5,8%) e o ramo de serviços de informação e comunicação para 1/3 desta (+2,0% no 3º trim/23 ante +5,8% no 1º trim/23).
Já os serviços de transportes e correios, cujo faturamento real se expandiu +6,4% no 1º trim/23, ficaram próximos da estabilidade no 3º trim/23: -0,4% ante o mesmo período do ano anterior. Este ramo, que responde por pouco mais de 1/3 dos serviços, foi um dos principais responsáveis pela desaceleração do total do faturamento do setor.
Na origem da queda estão os seguintes fatores: a reversão do resultado do transporte rodoviário de passageiros, de +18,3% em jan-mar/23 para -10,5% em jul-set/23, a forte perda de dinamismo do transporte aquaviário, de +12,8% para +1,4%, respectivamente, e sobretudo o aprofundamento da queda dos serviços de armazenagem e auxiliares de transportes e correios, de -2,0% para -12,0%, respectivamente.
Quem pior se saiu, por sua vez, foi o ramo de outros serviços, que reúne um conjunto diversificado de atividades, como serviços financeiros, urbanos, imobiliários etc. No 3º trim/23, seu faturamento encolheu -2,4%, intensificando a queda do trimestre anterior. Dos componentes identificados pelo IBGE, quase todos perderam dinamismo, sendo que gestão de resíduos sólidos se aproximou da estabilidade (+0,9% ante 3º trim/22) e auxiliares de serviços financeiros ficou novamente no vermelho (-2,7%).