Carta IEDI
Outubro: um mês sem avanços
No mês de out/23, não houve crescimento nos grandes setores econômicos. Quem melhor se saiu foi a indústria, que se manteve virtualmente estagnada, enquanto os serviços e o comércio perderam faturamento real. O baixo dinamismo que marcou o 3º trim/23 teve, assim, continuidade no início do último quarto do ano.
O resultado da indústria na passagem de set/23 para out/23 foi de apenas +0,1%, já descontados os efeitos sazonais, com uma distribuição tanto setorial como regional tendendo mais ao sinal positivo do que ao negativo.
Se considerarmos vitualmente estáveis as atividades com variações entre -0,5% e +0,5%, excluindo os valores extremos, o panorama setorial da indústria divide-se em: 52% dos ramos em crescimento, 20% estáveis e 28% em queda.
Tomados seus macrossetores, apenas um deles conseguiu crescer: bens intermediários, com variação de +0,9% ante set/23. Lideraram as quedas aqueles cujos mercados são mais impactados pelos elevados níveis de taxas de juros: -2,4% em bens de consumo duráveis e -1,1% em bens de capital. Bens de consumo semi e não duráveis registraram -0,3%.
Já do ponto de vista dos parques regionais da indústria, as altas tiveram uma participação maior: 60% das localidades acompanhadas pelo IBGE. Ficaram estáveis 20% dos parques e registraram queda 28% deles.
O destaque positivo em out/23 coube ao Nordeste (+4,2% ante set/23, com ajuste), devido aos avanços na Bahia e Pernambuco, mas vale notar que parques industriais maiores e mais completos também se saíram melhor que o total nacional, como São Paulo (+0,6%), Minas Gerais (+0,7%) e Rio Grande do Sul (+1,2%).
O comércio varejista, por sua vez, teve suas vendas reais reduzidas em -0,4% entre set/23 e out/23, se considerado em seu conceito ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças, material de construção e atacarejo. No mês anterior também já não havia crescido (0% em set/23 ante ago/23, com ajuste).
Utilizando o mesmo critério empregado para a indústria, a parcela de ramos do varejo em expansão foi de apenas 30% em out/23, com destaque para material de construção (+2,8%, com ajuste) e artigos farmacêuticos, ortopédicos e de perfumaria (+1,4%).
Em virtual estabilidade ficaram outros 30% e em queda, 40% dos ramos do varejo. Os recuos mais intensos foram: equipamentos de escritório, informática e comunicação (-5,7%, com ajuste), tecidos, vestuário e calçados (-1,9%) e supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-0,8%).
Por fim, o setor de serviços, que foi quem pior performou em out/23, ao registrar queda de faturamento real de -0,6% ante set/23, com ajuste sazonal, também foi aquele com a menor parcela de segmentos em expansão: apenas 20% deles.
Isso significa que apenas um segmento de serviços acusou aumento de faturamento em out/23, já que o IBGE contabiliza cinco grandes ramos. Foi o caso dos serviços profissionais, administrativos e complementares, que tiveram alta de +1,0%.
Entre os demais segmentos, 40% ficaram estáveis e 40% registraram queda, com destaque para transportes, correios e seus auxiliares (-2,0%), cuja evolução está mais relacionada com o nível geral de atividade econômica, e os serviços prestados às famílias (-2,1%), cuja trajetória recente vem apresentando oscilação entre altas e baixas na série com ajuste sazonal.
Indústria
Não foi bom o desempenho da indústria em out/23, pois mais uma vez o setor ficou estagnado ao registrar variação de tão comente +0,1%, já descontados os efeitos sazonais. Os dados regionais divulgados pelo IBGE mostram, contudo, um quadro um pouco mais favorável do que o recorte setorial.
A trajetória mais de curto prazo, indicada nas séries com ajuste sazonal, mostra que a indústria brasileira está praticamente parada desde jun/23, ou seja, nos últimos cinco meses já cobertos pelas estatísticas oficiais. Neste período, porém, out/23 se destaca positivamente do ponto de vista regional por ter apresentado o maior número de parques com expansão.
Das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE, 10 registraram algum crescimento da produção, mesmo que em alguns casos tenha sido bem modesto, a exemplo do Pará (+0,1%, com ajuste). Outro aspecto favorável é que parques industriais importantes se saíram melhor que o total nacional, como São Paulo (+0,6%), Minas Gerais (+0,7%) e Rio Grande do Sul (+1,2%).
Já em relação aos macrossetores industriais, apenas um deles conseguiu crescer em out/23: bens intermediários, com variação de +0,9% ante set/23, descontados os efeitos sazonais. Lideraram as quedas aqueles cujos mercados são mais impactados pelos níveis de taxas de juros: -2,4% em bens de consumo duráveis e -1,1% em bens de capital. Bens de consumo semi e não duráveis registraram -0,3%.
Regionalmente, o melhor resultado em out/23 foi o do Nordeste. A região como um todo registrou alta de +4,2% frente a set/23, já corrigidos os efeitos sazonais. Isso, contudo, após quatro meses seguidos de retração, o que reduziu muito sua base de comparação.
Este resultado agregado da região foi proporcionado pelo forte crescimento das indústrias da Bahia, de +8,1%, e de Pernambuco, de +12,4%; ambos os casos após uma sequência de variações negativas.
Com isso, a indústria do Nordeste também conseguiu se expandir em relação ao mesmo período do ano anterior: +1,0%. Este foi o primeiro resultado positivo após doze meses seguidos de queda. Pode-se dizer que é um parque com bases de comparação muito deprimidas, indiferente do ângulo pelo qual se analisa.
Já São Paulo, que tem a indústria mais diversificada do país, embora dê sinais positivos no curto prazo, ainda segue abaixo do nível de produção do ano passado. Frente a out/22 registrou -0,1% e no acumulado de jan-out/23 há queda de -1,5%, em ambos os casos devido a perdas expressivas em veículos, máquinas e equipamentos, equipamentos de informática e eletrônicos, e minerais não metálicos.
Ou seja, para São Paulo o quadro de taxas de juros ainda muito elevadas, desaceleração creditícia e retração dos investimentos, como vimos nos dados do PIB na semana passada, tem restringido seu desempenho industrial em 2023.
Entre os destaques negativos em out/23 está o Amazonas, com queda de -2,6% na série com ajuste sazonal, e de -5,7% em relação a out/22. Em ambas as comparações já havia ficado no vermelho em meses anteriores. Seu principal freio em out/23 foi a produção de equipamentos de informática e eletrônicos, que representa quase 1/3 da indústria estadual, e registrou -22,4% ante out/22.
Outro destaque negativo foi o Rio de Janeiro, cuja produção industrial encolheu -2,0% frente a set/23, com ajuste, e -1,7% frente a out/22. Neste caso, porém, pode ser apenas uma acomodação da fase positiva que vinha apresentando. A maior influência negativa em out/23 coube ao ramo extrativo, que recuou -5,3% ante out/22.
Comércio
Diferentemente da indústria, o comércio varejista perdeu faturamento na passagem de set/23 para out/23, já descontados os efeitos sazonais: -0,3% em seu conceito restrito e -0,4% em seu conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos, autopeças, material de construção e do atacarejo.
Desde jun/23, a trajetória com ajuste sazonal do varejo oscila em torno da estabilidade (0%), tanto é que o nível de faturamento em out/23 encontra-se no mesmo patamar de mai/23. E isso mesmo com a ajuda de ramos importantes como veículos e autopeças (+5% ante mai/23), que foi estimulado pelo programa anticíclico de redução de impostos.
A performance dos diferentes segmentos de varejo aponta para poucos casos de expansão das vendas em out/23: somente três dos dez ramos acompanhados pelo IBGE cresceram de fato.
Os três melhores resultados couberam a artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, com alta de +1,4%, e material de construção e livros, jornais e papelaria, ambos com +2,8%, sempre em relação a set/23, com ajuste sazonal. Estes dois últimos ramos cresceram após resultados desfavoráveis em meses anteriores.
Já entre os que não se saíram bem, encontramos três ramos em virtual estabilidade, isto é, com resultados muito próximos de zero: -0,1% em móveis e eletrodomésticos, +0,2% em outros artigos de uso pessoal e doméstico e +0,3% em veículos e autopeças.
E outros quatro ramos perderam faturamento entre set/23 e out/23. O pior caso foi o de equipamentos de escritório, informática e comunicação, com queda de -5,7%, seguido por tecidos, vestuário e calçados (-1,9%), supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-0,8%) e combustíveis e lubrificantes (-0,7%).
Serviços
Em out/23, pela terceira vez consecutiva, o setor de serviços viu seu faturamento real encolher. Agora, a variação foi de -0,6% já descontados os eventuais efeitos sazonais, o que se somou aos recuos de -1,4% e -0,3% em ago/23 e set/23, acumulando queda de -2,3% no período.
A diferença em relação a estes meses anteriores é que em out/23 uma parcela minoritária dos segmentos de serviços ficou no vermelho: dois dos cinco identificados pelo IBGE, embora valha notar que o ramo de outros serviços ficou estagnado.
Os casos negativos foram apenas os serviços prestados às famílias, que têm apresentado um comportamento volátil recentemente, intercalando altas e baixas, e transportes, correios e seus auxiliares, que por estarem mais vinculados ao desempenho geral da atividade econômica, refletem a desaceleração do PIB na virada do semestre.
Os resultados com ajuste sazonal mostram, contudo, que quem conseguiu crescer entre set/23 e out/23 mal compensou o declínio precedente. Suas altas se apoiaram em bases deprimidas de comparação. Foram os casos de informação e comunicação (-0,9% em ago/23; -0,6% em set/23 e +0,3% em out/23) e dos serviços profissionais e administrativos (+0,8%; -1,1% e +1,0%, respectivamente)
Em relação à situação de um ano atrás, os serviços também registraram perda de faturamento e não foi a primeira vez. Em set/23, o resultado havia sido de -1,1% e agora em out/23 foi de -0,4%.
Com isso, a média móvel trimestral finda em out/23 (-0,3% ante ago-out/22) apresentou sinal negativo, depois de trinta meses seguidos de crescimento.
Isto é, a indicação tanto na margem como na comparação interanual é de uma perda de dinamismo neste setor que vinha sendo um pilar importante para a expansão do PIB nacional em 2023.
Frente a out/22, a queda foi concentrada nos ramos de outros serviços (-4,2%), devido a serviços financeiros (-3,7%) e outros não especificados (-2,7%); e de transportes e correios (-1,2%), sob influência de armazenagem, auxiliares de transportes e correios (-12,4%) e transporte rodoviário de passageiros (-7,2%).
Outros ramos que também não se saíram bem em out/23 ante out/22 foram os serviços de informação e comunicação (-0,5%), especialmente no componente tecnologia da informação (-5,9%), e os serviços prestados às famílias, que ficaram em virtual estabilidade (+0,1%), em função de recuos no segmento de alimentação (-1,6%) e outros serviços pessoais (-4,3%).
No resultado do trimestre móvel ago-out/23, que dá uma indicação do movimento mais recente do setor, estes mesmos ramos citados anteriormente aparecem como freios importantes. Transportes (-1,5% ante ago-out/22) e outros serviços (-5,0%) assinalam recuos, enquanto serviços às famílias (+0,6%) e informação e comunicação (+0,4%) aparecem muito próximos da estabilidade.