Carta IEDI
Indústria por Intensidade Tecnológica: piora generalizada do saldo comercial
Na primeira metade de 2024, o déficit da balança comercial da indústria de transformação aumentou +25,7% frente ao mesmo período do ano anterior, atingindo valor de US$ 28,4 bilhões. Este foi o maior patamar para o primeiro semestre da última década, em valores correntes, perdendo apenas para o 1º sem/14 (déficit de US$ 34,8 bilhões).
O acompanhamento realizado pelo IEDI dos fluxos de comércio exterior da indústria brasileira segundo a intensidade tecnológica de seus setores, de acordo com metodologia difundida pela OCDE, mostra que três dos quatro grupos identificados pioraram seu saldo comercial. A exceção foi o grupo de menor intensidade tecnológica da indústria de transformação, cuja atividade se aproxima das atividades extrativas e agropecuárias.
Cabe pontuar que nos ramos de maior intensidade tecnológica (alta e média-alta) a piora do saldo se deu pelo encolhimento das exportações e ampliação das suas importações. Apenas o grupo de média-baixa tecnologia apresentou uma dinâmica favorável de seus fluxos comerciais: aumento de exportação e redução de importação.
Para a indústria de transformação em seu agregado e sobretudo para os dois grupos de maior intensidade tecnológica a deterioração registrada na primeira metade de 2024 se deve muito ao desempenho do 2º trim/24. No agregado do setor, o déficit comercial havia encolhido -1% no 1º trim/24, mas avançou expressivos +61,5% no 2º trim/24 frente ao mesmo período do ano anterior.
O déficit da indústria de alta tecnologia aumentou +12,2% no 2º trim/24 ante um aumento de +3,2% no 1º trim/24, enquanto para a média-alta os avanços foram de +23,1% e +4,5%, respectivamente. No primeiro grupo, os setores farmacêuticos e de aeronaves foram determinantes para esta evolução; no segundo grupo, a indústria automobilística explica 90% da deterioração do saldo.
A indústria de média intensidade tecnológica, que, assim como o grupo de média-baixa, é tradicionalmente superavitária, viu seu saldo encolher -73,4% no 2º trim/24 ante o 2º trim/23, depois de já ter visto redução de -55,2% no 1º trim/24. Desde meados de 2022 que este grupo tem registrado queda de superávit a taxas de dois dígitos, com intensificação agora em 2024.
Dois ramos deste grupo de média tecnologia estão influenciando tal evolução: borracha e plástico, cujo déficit tem se ampliado (+27,1%), e sobretudo a forte queda do superávit da metalurgia (-38,3% no 2º trim/24), que inclui a indústria siderurgia, que desde a pandemia tem sido muito pressionada pela concorrência chinesa. Em jan-jun/24, a queda do superávit da metalurgia representou algo como 71% da piora do saldo da média tecnologia.
Para os três grupos mais intensivos em tecnologia, as importações estão em alta em 2024. O maior avanço das compras externas ocorreu justamente na indústria de média tecnologia: +8,1% em jan-jun/24 ante jan-jun/23, sob influência da metalurgia (+6,9%) e borracha e plástico (+10,1%).
Em seguida, temos as importações de produtos da indústria de alta tecnologia: +6,7% em jan-jun/24, devido a todos os seus ramos, mas sobretudo a aeronaves (+27,4%). Em terceiro lugar, está o aumento dos desembarques de bens da indústria de média-alta: +4,1%, devido a veículos (+33,2%) e máquinas, equipamentos e equipamentos tanto elétricos como mecânicos.
Quanto às exportações, no acumulado jan-jun/24, apenas os grupos intermediários tiveram queda. Na indústria de média-alta, os embarques recuaram -11,3% ante jan-jun/23, devido a químicos, veículos e bens de capital. Na indústria de média intensidade tecnológica, as exportações caíram -17,6%, sob a influência negativa da metalurgia.
Por fim, cabe uma análise da evolução recente do único grupo com desempenho favorável, a indústria de média-baixa intensidade tecnológica. Seu superávit comercial aumentou +16,5% no primeiro semestre do ano. Embora tenha desacelerado um pouco no 2º trim/24, seu ritmo seguiu forte: +10,4% ante o 2º trim/23.
As exportações da média-baixa cresceram +8,7% em jan-jun/24, devido sobretudo a alimentos, bebidas e fumo (+8,4%), que responderam por 64% do adicional exportado. A sinalização do 2º trim/24 é de desaceleração dos embarques da indústria alimentícia (+2,5% ante o 2º trim/23), mas que em parte foi atenuada por derivados de petróleo e biocombustíveis e por madeira, papel e celulose.
Já as importações da média-baixa ficaram virtualmente estagnadas no 1º sem/24 (-0,3%), mas com indicativo de alta no 2º trim/24 (+4,6 ante o 2º trim/23). O declínio das compras externas de derivados de petróleo e biocombustíveis tem sido importante freio para a expansão das importações deste grupo como um todo.
Bens típicos da indústria de transformação e a balança comercial
A primeira metade de 2024 registrou superávit comercial de US$ 42,3 bilhões, o segundo maior da série em dólares correntes para o acumulado até junho, só abaixo do resultado logrado no mesmo acumulado do ano passado. As exportações cresceram 1,4%, de US$ 165,2 bilhões para US$ 167,6 bilhões, o maior montante exportado para primeiro semestre em toda a série. As importações avançaram 3,9%, para US$ 125,3 bilhões, em relação a janeiro-junho do ano passado.
Embora tenha ficado aquém do saldo de janeiro-junho de 2023, o expressivo superávit foi alcançado devido ao recordista resultado positivo de US$ 70,7 bilhões dos demais produtos, mormente agropecuários, da pesca e minerais. Suas exportações atingiram US$ 82,7 bilhões, patamar também recorde em dólares correntes para acumulado até o sexto mês.
Os produtos tipicamente oriundos da indústria de transformação experimentaram aumento no déficit frente a igual período de 2023, ao ampliar sua magnitude de US$ 22,6 bilhões para US$ 28,4 bilhões. As exportações retrocederam 1,4%, parando em US$ 84,9 bilhões. As importações cresceram 4,2%, para US$ 113,2 bilhões, próximo do patamar recorde em dólares correntes observado no mesmo acumulado de 2022.
Em suma, o saldo dos bens típicos da indústria de transformação se deteriorou frente ao primeiro semestre do ano anterior e com recuo nas exportações em dólares correntes, refletindo também a redução de preços dos bens industriais como os da metalurgia, ou seja, do primeiro processamento após a extração do recurso.
Tal condição está associada à continuidade de taxas de juros elevadas para o passado recente em economias avançadas e o ritmo menor da economia chinesa, aliados aos conflitos na Ucrânia e às tensões na Faixa de Gaza. A desaceleração chinesa tem redirecionado sua produção de aço para o comércio internacional a preços muito baixos, despertando suspeitas de dumping comercial em muitos países.
Considerando o segundo trimestre do ano, o saldo positivo de US$ 23,7 bilhões superou o do primeiro trimestre, mas ficou bem abaixo do saldo obtido em abril-junho do ano passado, que foi recorde para tal período do ano da série em dólares correntes. As exportações até cresceram de modo discreto, 0,4% frente ao segundo trimestre de 2023, chegando a US$ 89,8 bilhões. As importações, porém, cresceram mais, 9,3%, atingindo US$ 66,1 bilhões.
No segundo trimestre de 2024, o superávit também se deveu aos demais produtos (bens agropecuários e minerais em destaque): saldo de US$ 39,2 bilhões. As exportações desses produtos em relação a abril-junho de 2023 cresceram 2,8%, chegando a US$ 45,75 bilhões, o maior montante exportado em dólares correntes num único trimestre. As importações também avançaram e bem, incremento de 10,8%, mas sobre uma base comparativo relativamente baixa.
Quanto aos bens típicos da indústria de transformação, suas exportações caíram 1,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, ficando em US$ 44,1 bilhões. Suas importações aumentaram 9,3%, para US$ 59,6 bilhões. Dessa forma, o déficit aumentou de US$ 9,6 bilhões em abril-junho de 2023 para US$ 15,6 bilhões no segundo trimestre de 2024.
A balança por intensidade tecnológica
Conforme exposto em carta anterior, a nova classificação por intensidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou tecnológica constante de publicação da OCDE passou a abranger todas as atividades econômicas, não só as da indústria de transformação do esforço anterior. Ademais, no lugar de quatro faixas de intensidade (alta, média-alta, média-baixa e baixa), passaram a ser cinco segmentos: de alta intensidade, de média-alta, média, média-baixa e de baixa intensidade de P&D. No caso dos produtos da indústria de transformação, estes se fazem presentes nas quatro primeiras faixas, não havendo bens dessa atividade na de baixa intensidade.
Na faixa de alta intensidade, as atividades da indústria de transformação são as mesmas da classificação anterior. Acompanhando-as estão duas de serviços, P&D científico e publicação de software. A partir da divulgação na plataforma Comexstats dos dados de exportação e importação segundo a Classificação Industrial Internacional Uniforme, pode-se averiguar que não houve transações de produtos oriundos de tais serviços na balança comercial.
No segmento de média-alta, dois agrupamentos de bens foram acrescidos àqueles tipicamente fabricados por atividades dessa faixa: equipamento bélico pesado, armas e munições; e instrumentos e materiais de uso médico e odontológico e artigos óticos. Ademais os serviços de tecnologia de informação (TI) e prestação de serviços de informação passaram a compor o segmento de média-alta, embora não tenham itens transacionados na balança comercial.
Quanto ao segmento de média intensidade, guarda semelhança com a versão anterior da faixa de média-baixa intensidade, sendo que, o grupo dos produtos metálicos e da metalurgia foi dividido, ficando na faixa de média, apenas os da metalurgia. Também abarca os produtos diversos e a atividade de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos. Esta é a única faixa na qual todas as atividades são da indústria de transformação.
Já a faixa de média-baixa intensidade conta com boa parte dos ramos da indústria de transformação que, antes, eram considerados de baixa intensidade (a exceção ficou por conta dos bens diversos, que foi para a de média intensidade), com a adição dos produtos de metal e da fabricação de coque, derivados de petróleo refinado e demais combustíveis. O segmento de média-baixa conta ainda com os serviços profissionais, científicos e técnicos; telecomunicações; e edição (com ou sem impressão), e com a indústria extrativa (extração mineral).
A faixa de baixa intensidade tecnológica não abarca nenhuma atividade da indústria de transformação, embora encampe duas atividades industriais: construção; e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. A agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura também compõe essa faixa, afora os serviços que não foram mencionados acima.
Com base em tanto, a balança comercial brasileira pode ser esmiuçada a partir da versão atualizada da taxonomia por intensidade tecnológica, tendo por base os esforços de P&D.
Tomando o primeiro semestre, o intercâmbio de bens produzidos por atividades classificadas como de alta intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, registrou déficit de US$ 22,2 bilhões, o maior da série em dólares correntes para o acumulado m questão.
As exportações desses bens cresceram 1,8%, chegando a US$ 3,4 bilhões. Esse aumento se deveu exclusivamente aos produtos da indústria aeronáutica e suas partes e peças. As importações avançaram 6,7%, o que foi disseminado dentro dessa faixa. O complexo eletrônico respondeu por 55,5% do citado saldo deficitário, com a fabricação de aeronaves e os produtos químicos também apresentando aumento no déficit.
A faixa de média-alta intensidade encerrou o semestre com resultado negativo de US$ 36,4 bilhões, déficit maior do que no mesmo período de 2023 e o segundo maior para primeiro semestre da série em dólares correntes, ficando abaixo apenas de seu correspondente de 2022. Dentre as cinco faixas de intensidade tecnológica é o maior déficit. Suas exportações recuaram 11,3% frente ao mesmo acumulado do ano passado, ficando em US$ 18,7 bilhões, aquém do que já fora exportado mais de dez anos atrás.
Tal queda foi puxada por veículos automotores, reboques e carrocerias; por máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutras atividades, devido ao peso desses itens e recuo de dois dígitos nas vendas externas. Produtos químicos e equipamentos bélicos, armas e munições também sofreram retração nas exportações.
As importações do segmento de média-alta, por sua vez, avançaram 4,1%, o que foi disseminado entre seus setores, com exceção dos produtos químicos, cujas aquisições internacionais retrocederam. Ainda assim, o ramo químico continua como o de maior déficit dessa faixa, respondendo por quase 45% do mesmo. Só os equipamentos bélicos pesados, armas e munições lograram superávit.
Quanto aos produtos tipicamente oriundos de atividades de média intensidade tecnológica, todas da indústria de transformação, sua balança registrou saldo positivo de US$ 2,0 bilhões no primeiro semestre, o menor superávit desde 2014 para tal acumulado medido em dólares correntes. Suas exportações recuaram 17,6%, ficando em US$ 13,4 bilhões.
As importações, a seu turno, aumentaram 8,1%. Ironicamente, o superávit menor decorreu menos de seus ramos deficitários e mais principalmente da retração no superávit dos produtos metalúrgicos, caindo para US$ 4,9 bilhões, com exportações caindo 17,4%, para US$ 10,8 bilhões. Os produtos de minerais não-metálicos também registraram menor superávit com queda nas exportações. Os demais ramos, todos experimentando negativo, presenciaram ampliação no déficit, destacando-se os produtos de borracha e de material plásticos, déficit de US$ 2,2 bilhões.
Quanto ao segmento dos bens típicos das atividades de média-baixa intensidade tecnológica, seu superávit alcançou US$ 62,5 bilhões na primeira metade de 2024, recorde para janeiro-junho da série em dólares correntes. Suas exportações avançaram 14,2%, atingindo US$ 92,0 bilhões, também patamar recorde. As exportações de minérios cresceram 21,5%, alcançando US$ 42,6 bilhões e superávit de US$ 34,3 bilhões, patamares sem equivalentes em suas respectivas séries.
As exportações dos bens da indústria de transformação dessa faixa cresceram 8,7%, para US$ 49,4 bilhões, com superávit de US$ 28,3 bilhões, grandezas também recordistas. O superávit recorde da indústria de transformação média-baixa intensidade tecnológica decorreu principalmente dos avanços nas exportações e melhorias nos saldos dos bens alimentícios industriais, bebidas e tabaco (exportações e superávit recordes) produtos industriais madeireiros, papel, celulose e de impressão (também superavitário) e de coque, produtos de petróleo refinado e biocombustíveis (redução no déficit).
Já a faixa de baixa intensidade, na qual se destacam os produtos agropecuários e pescados observou superávit de US$ 36,2 bilhões, expressivo, porém abaixo dos saldos do mesmo período de 2022 e de 2023. Suas exportações diminuíram 8,9%, ficando em US$ 39,6 bilhões. Essas variações foram influenciadas pela queda de 8,4% nas vendas externas de gêneros agropecuários e da pesca e aquicultura, principal componente desse segmento em face da pouca expressão dos bens oriundos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água e daqueles originados por serviços. Cumpre lembrar que esse segmento não inclui bens da indústria de transformação.
Passando para a comparação entre abril-junho de 2024 e o mesmo período de 2023, o déficit da faixa de alta intensidade aumentou de US$ 9,9 bilhões para US$ 11,1 bilhões. As exportações cresceram 3,2%, chegando a US$ 2,0 bilhões. Tal incremento exportador se deu exclusivamente pelo avanço de 10,7% nas vendas externas de equipamentos aeronáuticos.
As importações cresceram 10,7%, com seus três ramos apresentando ampliação nas aquisições externas, destacando-se o avanço de mais de 30% dos bens da indústria aeronáutica. Aliás, em dólares correntes, o déficit cresceu para todos os ramos dessa faixa, com o complexo eletrônico respondendo por mais da metade daquele.
Quanto ao segmento de média-alta, este experimentou déficit de US$ 20,4 bilhões, US$ 4,0 bilhões a mais que no mesmo trimestre de 2023, mas abaixo da magnitude do déficit de abril-junho de 2022.
Sua exportações retrocederam 11,6%, ficando em US$ 9,6 bilhões, com queda exportadora nos ramos de equipamentos bélicos, armas e munições; de automóveis, reboques e carrocerias; de máquinas e equipamentos não especificados noutras atividades; além dos produtos químicos. Por outro lado, as exportações de instrumentos médicos, odontológicos e artigos óticos e de aparelhos, de outros equipamentos de transporte, além de máquinas e materiais elétricos avançaram, sobressaindo os dois primeiros, com avanço de dois dígitos.
As importações de mercadorias dessa faixa cresceram 9,4%, com quase todos os ramos concorrendo para tanto, com exceção dos produtos químicos, cujas importações caíram.
Abril-junho de 2024 para a faixa de média intensidade foi superavitário, US$ 839 milhões, bem abaixo do obtido no mesmo trimestre de 2022 e de 2023. Suas exportações sofreram retração de 18,2%, ficando em US$ 6,9 bilhões, o que foi disseminado no segmento, com destaque para o menor montante exportado de produtos da metalurgia.
As importações de bens da indústria de transformação dessa faixa, a seu turno, cresceram 15,0%, devido ao avanço de três dígitos nas importações de embarcações e outros produtos navais e náuticos, aos aumentos de dois dígitos nas aquisições externas de produtos metalúrgicos; de bens diversos; e de produtos de borracha e de material plásticos. Os produtos da metalurgia tanto responderam pelo segmento apresentar superávit, quanto pela redução de sua magnitude, com saldo positivo de US$ 2,3 bilhões. Os produtos plásticos e de borracha registraram o maior déficit dessa faixa.
Quanto aos fluxos comerciais da faixa de média-baixa intensidade tecnológica no segundo trimestre de 2024, suas exportações, US$ 47,7 bilhões, avançaram 14,9% frente a abril-junho do ano passado. As exportações de minérios puxaram tal acréscimo, ao crescerem 24,4%, chegando a US$ 22,1 bilhões. Já as vendas externas de produtos da indústria de transformação dessa faixa aumentaram 7,9%, para US$ 25,6 bilhões. O desempenho exportador contribuiu para o superávit de todos os produtos do segmento de média-baixa intensidade, de US$ 32,7 bilhões, US$ 5,5 bilhões acima do saldo do segundo trimestre de 2023.
As importações dessa faixa aumentaram 4,4%, com as importações de minérios e de bens dos ramos da indústria de transformação dessa faixa crescendo na mesma direção. A indústria de alimentos, bebidas e fumo, que costuma dita o comportamento dessa faixa, manteve seu expressivo superávit, mas o incremento do superávit dos bens da indústria de transformação dessa faixa como um todo se deveu à redução do déficit em coque, produtos derivados de petróleo refinado e biocombustíveis.
A faixa de baixa intensidade experimentou redução no superávit no segundo trimestre frente ao mesmo período de 2023, ficando em US$ 21,5 bilhões, devido ao recuo de 11,6% em suas exportações, ficando em US$ 23,3 bilhões, enquanto suas importações cresceram 36,4%. Tal comportamento é ditado pelos gêneros agropecuários.
Bens da indústria de transformação de alta intensidade tecnológica
Na primeira metade de 2024, como antes visto, o déficit dos produtos da indústria de transformação de alta intensidade aumentou em relação a janeiro-junho de 2023, para US$ 22,2 bilhões, o maior déficit da série em dólares correntes para tal acumulado. A elevação do déficit decorreu principalmente do aumento das importações, de 6,7%, atingindo US$ 25,6 bilhões, também patamar sem igual.
Seus três ramos registraram incremento nas aquisições externas: as de produtos eletrônicos, incluindo componentes, cresceram 2,0%, respondendo por mais da metade delas; as de produtos farmacêuticos, aumentaram 2,5%; enquanto as importações de aeronaves e afins, inclusive partes e peças, avançaram 27,4%.
Quanto às exportações a faixa de alta intensidade vendeu para o exterior 1,8% do que no mesmo semestre de 2023, chegando a US$ 3,4 bilhões. Mas tal ampliação se concentrou nas exportações de aeronaves e equipamentos de transporte aéreo, incremento de 9,1%, para US$ 2,0 bilhões.
As exportações de produtos farmacêuticos recuaram 13,6%, enquanto a de bens do complexo eletrônico diminuíram 1,3%. Juntos esses dois ramos nem chegaram a US$ 1,5 bilhão exportados. Aliás, o déficit em eletrônicos respondeu por 55,5% do déficit de toda a faixa de alta intensidade (déficit de US$ 12,3 bilhões). Os demais ramos também registraram resultado negativo.
Em abril-junho, a balança dos produtos das indústrias de alta intensidade ficou deficitário em US$ 11,1 bilhões, mais de US$ 1,0 bilhão acima do déficit do mesmo trimestre de 2024. Suas exportações cresceram 2,3%, alcançando US$ 2,0 bilhões. As importações, por sua vez, avançaram bem mais, 10,7%, atingindo US$ 13,1 bilhões.
Os equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais experimentaram déficit de US$ 1,8 bilhão em abril-junho. Suas exportações aumentaram 10,7%, atingindo US$ 1,2 bilhão, constituindo sete trimestres seguidos de aumento na comparação entre trimestre e igual período do ano anterior. As importações cresceram bastante: 34,6%, levando-as ao patamar de US$ 3,1 bilhões.
Como tem sido recorrente, os bens típicos do complexo eletrônico concorreram sobremaneira para essa balança negativa dos produtos da indústria de alta intensidade tecnológica, déficit de US$ 6,0 bilhões. As exportações declinaram 0,9%, ficando em meros US$ 425 milhões. Já as importações cresceram 2,7%, chegando a US$ 6,6 bilhões.
Os produtos farmacêuticos experimentaram saldo negativo de US$ 3,2 bilhões. Suas exportações retrocederam 14,2%, vendendo ao exterior apenas US$ 327 milhões. As importações desses bens, a seu turno, cresceram 9,6%, atingindo US$ 3,5 bilhões.
Bens da indústria de transformação de média-alta intensidade tecnológica
A faixa de média-alta intensidade registrou déficit de US$ 36,4 bilhões no primeiro semestre de 2024, o maior déficit dentre todas as faixas de intensidade e segundo o maior de toda a sua série para primeiro semestre, atrás apenas do mesmo acumulado de 2022. Ou seja, o déficit aumentou frente ao mesmo período de 2023.
Suas exportações sofreram retração de 11,3% em relação ao primeiro semestre de 2023, ficando em US$ 18,7 bilhões. As importações cresceram 4,1%, para US$ 55,2 bilhões. Os produtos da indústria automobilística experimentaram saldo negativo de US$ 6,6 bilhões, déficit US$ 4,5 bilhões maior do que o observado em janeiro-junho de 2023 e o maior da série em dólares correntes. Suas exportações caíram 20,4%, para US$ 5,9 bilhões, enquanto as importações avançaram 33,2%.
Os equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas etc.) observaram déficit de US$ 551 milhões, maior do que no primeiro semestre de 2023, mesmo aumento de 24,8% nas exportações, chegando a US$ 129 milhões, mas com importações também crescendo, 10,2%.
Os dois grupamentos ligados a bens de capital experimentaram déficits maiores do que os registrados no primeiro semestre de 2023, mesmo com crescimento nas exportações. O de equipamentos não especificados noutras atividades, M&E, teve déficit de US$ 8,1 bilhões, com queda de 11,0% nas exportações, parando em US$ 4,9 bilhões. Suas importações cresceram 9,1% na mesma base comparativa.
Quanto aos materiais e equipamentos elétricos, tiveram resultado negativo de US$ 4,1 bilhões, com exportações de US$ 1,8 bilhão, 4,5% maior do que o montante exportado em igual acumulado de 2023. As importações avançaram mais, 5,5%.
Quanto aos produtos químicos, experimentaram déficit de US$ 16,2 bilhões, representando 44,5% do déficit de toda a faixa de média-alta intensidade tecnológica. O Brasil exportou US$ 5,6 bilhões desses bens, queda de 6,0%. Quanto às suas importações, retrocederam ainda mais (-10,5%), ficando em US$ 21,8 bilhões.
Os instrumentos e materiais médico-hospitalares e artigos óticos registraram déficit de US$ 1,0 bilhão, com ampliação de 20,1% nas exportações, mas chegando a apenas US$ 262 milhões. Suas importações cresceram 9,6%.
Por fim, o saldo dos equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 88 milhões, com retração de 17,8% nas exportações, ficando em US$ 201 milhões. Suas importações cresceram 19,7%, só superadas em termos de taxa de expansão do ramo automobilístico.
No segundo trimestre, o déficit desse segmento foi de US$ 20,4 bilhões, quase US$ 4,0 bilhões acima do déficit do mesmo acumulado de 2023. Suas exportações recuaram 11,6%, caindo para 9,6 bilhões. Ademais, as importações dos bens típicos desse segmento de intensidade cresceram 9,4% no contraponto entre segundos trimestres de 2024 e de 2023.
O ramo mais deficitário dessa faixa, o de produtos químicos (exclusive farmacêuticos), registrou saldo negativo de US$ 9,1 bilhões, quase metade do déficit dos bens média-alta intensidade tecnológica. Suas vendas externas diminuíram 3,7%, ficando em US$ 2,8 bilhões. As importações declinaram ainda mais, queda de 5,6% pela comparação entre segundos trimestres, ficando em US$ 11,9 bilhões.
Os equipamentos de transporte fabricados por indústrias de média-alta intensidade tecnológica totalizaram déficit de US$ 4,7 bilhões em abril-junho de 2023. Os automóveis, reboques e carrocerias responderam por US$ 4,4 bilhões deste montante, déficit recorde. As exportações destes últimos foram de US$ 3,1 bilhões, recuo de 22,2% frente ao mesmo período de 2023. Suas importações avançaram sobremaneira: 51,6%. Quanto aos equipamentos ferroviários e outros de transporte (motocicletas, entre outros), suas exportações cresceram bem 43,9%, mas sobre base assaz diminuta, chegando a US$ 65 milhões. Já as importações cresceram 10,0%, levando ao déficit de US$ 256 milhões.
A balança comercial de máquinas e equipamentos mecânicos ou não especificados noutros segmentos e a de máquinas elétricas registraram déficits de US$ 4,1 bilhões e de US$ 2,0 bilhão, respectivamente. As exportações de M&E caíram 10,7% frente a abril-junho de 2023, parando em US$ 2,5 bilhões, enquanto as importações cresceram 9,3%, o que ampliou seu déficit em relação ao mesmo período do ano passado.
Já as exportações de aparelhos e materiais elétricos cresceram 3,5%, para US$ 921 milhões, enquanto as aquisições externas aumentaram 1,4%, com o déficit ficando ligeiramente maior do que em abril-junho de 2023.
Quanto aos I&M de uso médico e odontológico e artigos óticos, o país exportou US$ 140 milhões no segundo trimestre de 2024, 18,9% a mais do que em igual período do ano anterior. Suas importações avançaram 14,7%, atingindo US$ 661 milhões. Assim seu déficit foi de US$ 521 milhões, acima do observado em abril-junho de 2023.
Já o intercâmbio de equipamentos bélicos, armas e munições registrou superávit de US$ 56 milhões no segundo trimestre de 2024, mesmo com suas exportações caindo 27,%, parando em US$ 98 milhões, enquanto suas importações ficaram praticamente estáveis, aumento de 0,2%.
Bens da indústria de transformação de média intensidade tecnológica
As exportações em dólares correntes de bens oriundos de indústrias de média intensidade tecnológica declinaram 17,6% no primeiro semestre de 2024 frente a igual acumulado de 2023, ficando em US$ 13,4 bilhões. As importações, a seu turno, avançaram 8,1%. Dessa maneira, o intercâmbio desses produtos apresentou superávit de US$ 2 bilhões, bem aquém do saldo positivo de US$ 6,7 bilhões logrado no primeiro semestre do ano passado.
As embarcações e demais produtos do setor naval-náutico registraram queda de 91,7% nas exportações, ficando em US$ 38 milhões, o maior declínio dentre os ramos dessa faixa de intensidade tecnológica. Suas importações cresceram quase 19,7% no contraponto entre seis primeiros meses de 2024 e de 2023, atingindo US$ 288 milhões e obtendo déficit de US$ 250 milhões.
Mas a redução no superávit do segmento de média intensidade se deveu justamente ao seu ramo mais superavitário, os produtos da metalurgia, cujo superávit de US$ 4,9 bilhões no primeiro semestre representou uma redução de US$ 2,6 bilhões no saldo frente a janeiro-junho de 2023. As exportações brasileiras desses itens caíram 17,4%, ficando em US$ 10,8 bilhões. Já suas importações aumentaram 6,9%.
O outro ramo superavitário, o de produtos minerais não-metálicos obteve saldo de US$ 23 milhões, o menor superávit desde o primeiro semestre de 2014, quando registrou déficit. Suas exportações declinaram 2,3%, para US$ 1,0 bilhão, enquanto as importações diminuíram 1,1%.
Os dois grupos de bens restantes registraram resultado negativo no acumulado até junho. O déficit dos produtos de borracha e material plástico atingiu US$ 2,2 bilhões, déficit maior do que o observado no mesmo período de 2023. Para tanto concorreu a retração de 8,2% nas exportações, ficando em US$ 1,4 bilhão, enquanto as importações cresceram 10,1%.
Já os bens diversos (exclusive I&M médicos e odontológicos e artigos óticos) tiveram déficit de US$ 453 milhões, com recuo de 10,1% nas exportações e incremento de 19,5% nas importações.
Focando no segundo trimestre de 2024, as exportações de gêneros típicos da indústria de média intensidade tecnológica retrocederam 18,2% frente a abril-junho de 2023, caindo para US$ 6,9 bilhões. As importações, por sua vez, avançaram 15,0%. Dessa forma, o superávit do segmento diminuiu para US$ 839 milhões, saldo US$ 2,3 bilhões menor do que no mesmo trimestre do ano anterior.
As embarcações e demais produtos da construção naval apresentaram novamente a maior retração nas exportações dentre os ramos da presente faixa, queda de 93,7%, significando um montante exportado de US$ 25 milhões no trimestre em questão. Já suas importações avançaram 268,7%, para US$ 227 milhões, configurando déficit de US$ 201 milhões.
Os superavitários produtos metalúrgicos lograram saldo de US$ 2,3 bilhões. Se, por um lado, é o ramo que propicia a condição superavitária do segmento de média intensidade, por outro, seu saldo recuou bastante, diferença de US$ 1,4 bilhão em relação ao mesmo trimestre de 2023. Suas exportações sofreram retração de 15,7%, para US$ 5,5 bilhões, ainda assim um montante expressivo. As importações cresceram 15,7%.
Os produtos de minerais não-metálicos registraram superávit de US$ 38 milhões, com exportações caindo 7,5%, para US$ 545 milhões, enquanto as importações caíram 2,5%.
Passando para os dois outros conjuntos de bens, os produtos de borracha e de material plástico apresentaram resultado negativo de US$ 1,1 bilhão, com queda de 9,6% nas vendas para o exterior, exportando, assim, US$ 688 milhões, e incremento de 10,1% nas importações.
Quanto aos bens diversos, seu déficit de US$ 214 milhões foi acompanhado de retração de 8,9%, nas exportações, ficando em US$ 126 milhões, e expansão de 13,0% nas importações.
Bens da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica
As exportações de mercadorias produzidas pela indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica cresceram 8,7% na comparação entre primeiros semestres de 2024 e 2023, chegando a US$ 49,4 bilhões, recorde em dólares correntes para tal acumulado. O saldo de tais produtos registrou superávit de US$ 28,3 bilhões, outro recorde da série. Esse resultado também se deveu às importações, que ficaram praticamente estáveis, taxa de -0,3%, em relação a janeiro-junho do ano passado, ficando em US$ 21,1 bilhões.
Seu ramo mais pujante, o de produtos industriais alimentícios, bebidas e tabaco, logrou expansão de 8,4% nas exportações, que atingiu o montante sem igual para primeiro semestre de US$ 32,2 bilhões, enquanto suas importações aumentaram 9,7%, mas sobre uma base menor, levando ao saldo recorde de US$ 27,3 bilhões para primeiro semestre.
Já o intercâmbio de bens industriais madeireiros e seus derivados, incluindo produtos de papel, celulose e impressos obteve superávit de US$ 7,4 bilhões, exportando US$ 8,4 bilhões, 11,9% a mais do que na primeira metade de 2023.
A balança de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, por sua vez, registrou resultado negativo de US$ 2,7 bilhões, redução de US$ 2 bilhões na magnitude do déficit em relação ao mesmo semestre do ano passado, mas permanecendo como o mais deficitário ramo dessa faixa de intensidade tecnológica. Suas exportações aumentaram 12,8%, chegando a US$ 6,4 bilhões, enquanto as importações caíram 12,8%, para US$ 9,1 bilhões.
O conjunto dos artigos têxteis, de vestuário, de couro e calçados registrou déficit de US$ 1,6 bilhão, o maior déficit em dólares correntes para primeiro semestre de toda a série. As exportações desses itens diminuíram 6,9% pela mesma base comparativa, ficando em US$ 1,6 bilhão. Suas importações cresceram 5,8%.
O déficit dos produtos metálicos no primeiro semestre de 2024 aumentou em relação ao mesmo acumulado de 2023, para US$ 2,1 bilhões. Suas exportações diminuíram 6,4%, parando em US$ 840 milhões, enquanto as importações avançaram 25,5%.
Especificamente no segundo trimestre de 2024, o País exportou US$ 25,6 bilhões de bens tipicamente oriundos dos ramos da indústria de transformação de média-baixa intensidade tecnológica, aumento de 7,9% em relação a abril-junho de 2023. As importações desses produtos chegaram a US$ 10,5 bilhões, acréscimo de 4,6% na mesma base comparativa. Assim, o superávit atingiu US$ 15,1 bilhões no segundo trimestre, o maior da série.
O intercâmbio de alimentos da indústria, bebidas e tabaco apresentou superávit de US$ 13,8 bilhões, ligeiramente acima do observado no mesmo trimestre de 2023. Esse resultado decorreu do aumento de 2,5% nas exportações, atingindo US$ 16,4 bilhões, enquanto suas importações cresceram 17,1%, mas sobre uma base bem menor.
Os produtos madeireiros, de papel e celulose também obtiveram superávit, de US$ 4,0 bilhões, acima do obtido em abril-junho do ano passado. Suas exportações avançaram 23,9%, atingindo 4,5 bilhões, enquanto suas importações também cresceram 12,6%.
As vendas para o exterior de derivados de produtos de petróleo e afins também avançaram na casa dos dois dígitos, 25,0%, alcançando US$ 3,5 bilhões no segundo trimestre do ano. Já suas importações recuaram 6,9%. Com isso, o déficit, de US$ 1,0 bilhão em abril-junho último, representou uma redução de US$ 1,0 frente a igual trimestre de 2023.
Passando para os dois outros agrupamentos de bens típicos da indústria de média-baixa intensidade, ambos registraram déficit. As vendas externas de produtos de metal, de US$ 436 milhões, declinaram 7,8%. Suas importações cresceram 33,1%, culminando no déficit de US$ 1,1 bilhão, recorde para a série em dólares correntes.
Quanto aos artigos das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, seu déficit também aumentou frente a abril-junho de 2023, para US$ 659 milhões. Suas exportações retrocederam 5,7%, ficando em US$ 814 milhões, enquanto as importações ficaram praticamente estáveis, taxa de -0,3%.