Carta IEDI
Estabilidade industrial em ago/24
Em ago/24, a indústria brasileira teve um desempenho restringido. Diferentemente do mês anterior, o agregado do setor evitou o terreno negativo, mas nem por isso chegou a crescer. Avanço de fato, já descontada a sazonalidade, só teve uma pequena fração de seus ramos, enquanto 2/3 de seus parques regionais cortaram produção.
Na passagem de jul/24 para ago/24, a produção física da indústria geral mal variou, registrando mero +0,1%, corrigidos os efeitos sazonais. Melhorou frente a queda de -1,4% do mês anterior, mas foi o resultado positivo mais fraco do ano. E só não foi pior, porque o ramo extrativo se expandiu +1,1%. A indústria de transformação, por sua vez, caiu (-0,3%) pela segunda vez consecutiva.
O panorama dos resultados dos diferentes ramos industriais também contrasta jul/24 e ago/24. Em jul/24, a despeito da queda do total da indústria, a maioria dos seus ramos ampliou produção, enquanto em ago/24 isso foi exceção. A balança de inverteu na passagem do mês e a parcela de 72% deu lugar a uma fração de 28% dos ramos no azul.
Regionalmente, identifica-se a mesma situação. Em jul/24, 73% dos parques industriais expandiram produção, enquanto em ago/24 apenas 33% conseguiu evitar o terreno negativo. Entre aqueles em queda, encontra-se a indústria paulista e de modo reincidente: -1,0% em ago/24 e -1,5% em jul/24, na série com ajuste sazonal.
Entre os macrossetores da indústria, metade recuou, após dois meses de expansão, e a outra metade teve variação positiva, mas muito próxima da estabilidade. No primeiro grupo estão bens de capital (-4,0%, com ajuste) e bens de consumo duráveis (-1,3%) e no segundo grupo, bens intermediários (+0,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,4%).
Os macrossetores que se saíram pior, por produzirem bens duráveis, seja para investimento, seja para consumo, compreendem a parcela da indústria mais sensível às condições de crédito e de taxa de juros. A alta recente dos juros pelo Banco Central, ainda que possa demorar alguns meses para se fazer sentir integralmente pelo nível de atividade econômica, dá um alerta de dias mais modestos para a produção industrial.
Apesar destas sinalizações de curto prazo pouco favoráveis, continua valendo o que o IEDI tem pontuado em suas últimas análises: 2024 segue sendo um ano com evolução superior à de 2023. E isso parece incluir também o 3º trimestre.
Mesmo que a indústria tenha ficado estagnada em set/24, o resultado do 3º trim/24 ante o 3º trim/23 (+5,1%) daria continuidade à rota de aceleração da indústria. Isso porque o bimestre jul-ago/24, cujos resultados são conhecidos, já garante um reforço da alta.
O reforço da confiança dos empresários industriais também aponta nesta direção. Cabe notar que os indicadores tanto na FGV como da CNI estão na região de otimismo e, neste último caso, houve importante progressão entre ago/24 e set/24, atingindo a melhor marca desde out/22. O indicador PMI Manufacturing para o Brasil, também avançou de ago/24 para set/24, sugerindo melhora do quadro de negócios do setor.
No bimestre jul-ago/24, dois macrossetores apresentam mais claramente uma aceleração. É o caso de bens intermediários, com variação de +3,2% em jul-ago/24 ante jul-ago/23, quase três vezes mais do que no trimestre anterior. Na origem disso estão os intermediários da indústria automobilística (+15,8%) e da construção civil (+7,4%), além de siderurgia (+6,7%) e defensivos agrícolas (+20,1%).
O segundo caso é o de bens de consumo duráveis, cujo ritmo de crescimento saltou de +7,8% no 2º trim/24 para +20,2% em jul-ago/24, sempre na comparação com igual período do ano anterior. A produção de automóveis é a grande responsável pela aceleração, ao passar de -1,4% para +18,1%, respectivamente, mas o segmento de eletrodomésticos também cresceu fortemente: +30,5% no último bimestre em tela.
Bens de capital, por sua vez, parece estar mantendo bem seu ritmo de expansão. Ainda que jul-ago/24 (+10,9%) tenha tido uma variação levemente inferior à do 2º trim/24 (+12,0%), a ordem de grandeza dos resultados segue a mesma. Houve reforço nos segmentos para transporte (+22,6%) e para uso misto (+21,6%) e resiliência na produção de bens de capital para a própria indústria (+8,4%).
Já bens de consumo semi e não duráveis em jul-ago/24 sinalizam uma desaceleração: +2,9% ante +5,7% no 2º trim/24. A produção de laticínios (-1,1% em jul-ago/24) e a de produtos farmacêuticos (-1,0%) registram queda e a de combustíveis se aproxima da estabilidade (+0,9% ante +6,6% no 2º trim/24). Calçados, têxteis, vestuário e bebidas estão entre aqueles com ganho de robustez.
Resultados da Indústria
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, na passagem de jul/24 para ago/24, na série com ajuste sazonal, a produção da indústria nacional ficou praticamente estável, variando apenas +0,1%, após recuar -1,4% em jul/24 na mesma base de comparação.
Na comparação com ago/23, por sua vez, a produção da indústria total expandiu +2,2% em ago/24, marcando a terceira taxa positiva consecutiva, mas menos intensa do que as anteriores. Com isso, o setor industrial apontou crescimento de +3,0% no acumulado de jan-ago/24.
A taxa anualizada, indicador acumulado nos últimos doze meses, ao avançar +2,4% em ago/24 frente ao mesmo período do ano anterior, permaneceu no positivo e intensificou seu ritmo de crescimento frente ao resultado do final do semestre: +1,5% no acumulado doze meses findo em jun/24 (+1,5%).
Com esses resultados, a produção industrial se encontra +1,5% acima do patamar pré-pandemia (fev/20); mas ainda está 15,4% abaixo do nível recorde de mai/11, indicando uma retomada parcial.
O resultado positivo de +0,1% da atividade industrial na passagem de jul/24 para ago/24 na série com ajuste sazonal foi puxada pelo desempenho de dois macrossetores. Bens de consumo semi e não duráveis (+0,4%) e bens intermediários (+0,3%) assinalaram as taxas positivas, com ambas revertendo os recuos registrados no mês anterior: -3,1% e -0,4%, respectivamente.
Por outro lado, bens de capital (-4,0%) e bens de consumo duráveis (-1,3%) assinalaram os resultados negativos. Ambos interrompendo dois meses consecutivos de crescimento na produção, período em que acumularam expansão de +2,8% e +14,1%, respectivamente.
Já na comparação mês/mesmo mês do ano anterior, o acréscimo de +2,2% da indústria total em ago/24 foi puxado por todos os quatro macrossetores. Bens de consumo duráveis (+12,1%) assinalou a expansão mais acentuada entre as grandes categorias econômicas, seguidos por bens de capital (+4,9%), bens intermediários (+2,4%) e bens de consumo semi e não duráveis (+0,4%).
O macrossetor de bens de consumo duráveis cresceu +12,1% em ago/24 frente a igual mês de 2023, e marcou a terceira taxa positiva consecutiva. O setor foi impulsionado pela expansão na fabricação de automóveis (+8,5%), eletrodomésticos da “linha marrom” (+18,6%), da “linha branca” (+15,5%), outros eletrodomésticos (+24,4%) e móveis (+6,1%). Por outro lado, o principal impacto negativo foi assinalado pela produção de motocicletas (-2,7%).
O setor produtor de bens de capital, a seu turno, teve expansão de +4,9% na comparação interanual, apontando a quinta taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação. O segmento foi influenciado pelo avanço observado no grupamento de bens de capital para equipamentos de transporte (+22,2%), bens de capital para fins industriais (+5,1%) e de uso misto (+8,0%). Por outro lado, os subsetores de bens de capital agrícolas (-16,6%), para construção (-15,8%) e para energia elétrica (-1,3%) tiveram queda.
Ainda no confronto com igual mês do ano anterior, a produção de bens intermediários avançou +2,4% em ago/24, a terceira taxa positiva consecutiva nesse tipo de comparação. Esse resultado foi explicado pelos avanços nos produtos associados às atividades de veículos automotores, reboques e carrocerias (+13,3%), produtos químicos (+6,7%), produtos de metal (+8,4%), produtos de borracha e de material plástico (+5,7%) e metalurgia (+2,6%), enquanto as pressões negativas foram registradas por produtos alimentícios (-4,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,2%), celulose, papel e produtos de papel (-2,9%) e máquinas e equipamentos (-1,0%).
A produção de bens de consumo semi e não duráveis, por sua vez, expandiu +0,4% na comparação interanual. O resultado desse mês foi explicado principalmente pelo crescimento dos setores produtores de no grupamento de semiduráveis (+4,9%), seguido pelos grupamentos de carburantes (+1,3%) e alimentos e bebidas básicos para consumo doméstico (+14,9%). Por outro lado, os grupamentos de não duráveis (-3,0%) e de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (-0,2%) assinalaram os impactos negativos.
No índice acumulado de jan-ago/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,0%, com resultados positivos em todos os quatro macrossetores. O perfil dos resultados para os oito primeiros meses de 2024 mostrou maior dinamismo para bens de consumo duráveis (+8,6%) e bens de capital (+6,6%), impulsionadas, pela maior produção de eletrodomésticos (+24,4%) e automóveis (+2,2%), na primeira; e de bens de capital para equipamentos de transporte (+13,9%), de uso misto (+16,9%) e para fins industriais (+5,2%), na segunda. Os setores produtores de bens de consumo semi e não duráveis (+3,4%) e de bens intermediários (+2,3%) também apontaram resultados positivos no índice acumulado do ano.
Por dentro da Indústria de Transformação
A produção da indústria geral assinalou variação positiva (+0,1%) em ago/24 frente a jul/24, na série livre dos efeitos sazonais, como vimos anteriormente. Nesta comparação de curto prazo, a indústria extrativa foi a responsável pela alta, crescendo +1,1%, enquanto a indústria de transformação teve queda de -0,3%.
Na comparação com ago/23, a expansão de +2,2% da indústria geral também foi puxada pela indústria extrativa, que cresceu +5,6% no mesmo período, enquanto a indústria de transformação, embora também no azul, teve alta mais modesta, de +1,7%.
Na variação positiva de +0,1% do setor industrial na comparação entre ago/24 e jul/24, somente 7 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram avanço na produção. Ou seja, só não foi um mÊs mais fraco devido a um pequeno número de atividades.
Entre os setores da indústria de transformação, que em seu agregado registrou declínio, houve resultados positivos importantes em produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+3,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+4,0%) e produtos químicos (+0,7%).
Por outro lado, entre as atividades que apontaram queda na produção, veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,3%), produtos diversos (-16,7%) e impressão e reprodução de gravações (-25,1%) exerceram os principais impactos na média da indústria de transformação.
Na comparação com ago/23, em que o setor industrial assinalou acréscimo de +2,2% em jul/24, resultados positivos foram verificados em 18 dos 25 ramos, 50 dos 80 grupos e 56,0% dos 789 produtos pesquisados. Vale observar que ago/24 (22 dias) teve 1 dia útil a menos do que igual mês do ano anterior (23).
Entre as atividades da indústria de transformção, as principais influências positivas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+12,6%), produtos químicos (+5,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+14,0%), produtos de metal (+7,6%) e produtos de borracha e de material plástico (+5,9%).
Por outro lado, ainda na comparação com ago/23, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de produtos alimentícios (-2,7%) exerceu a maior influência negativa, seguida por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%), impressão e reprodução de gravações (-25,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,7%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-7,5%) e celulose, papel e produtos de papel (-3,0%).
No índice acumulado para jan-ago/24, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial assinalou avanço de +3,0%, com resultados positivos em 19 dos 25 ramos, 56 dos 80 grupos e 58,8% dos 789 produtos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências positivas no total da indústria foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (+8,8%), produtos alimentícios (+3,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+1,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (+10,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+10,8%) e produtos de borracha e de material plástico (+5,2%).
Por outro lado, ainda na comparação com janeiro-agosto de 2023, entre as atividades que apontaram redução na produção, a de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,4%) exerceu a maior influência na formação da média da indústria, pressionada, em grande medida, pela menor produção de medicamentos.
Utilização de Capacidade
A utilização da capacidade instalada da indústria de transformação, de acordo com a série da FGV com ajustes sazonais, ficou praticamente estável, recuando -0,1 ponto percentual na passagem de jul/24 (83,4%) para ago/24, quando registrou valor de 83,3%.
Dessa forma, em ago/24, a capacidade utilizada na indústria ficou 7,1 pontos percentuais acima do indicador pré-pandemia (fev/20: 76,2%) e 3,7 pontos acima da média histórica (79,6%). Em set/24, a utilização da capacidade instalada voltou ao mesmo patamar de jul/24 (83,4%).
De acordo com a CNI, a utilização da capacidade instalada da indústria de transformação em ago/24 também assinalou pequena queda de -0,1 p.p. frente ao mês imediatamente anterior, assinalando 79,3% na série com ajuste sazonal. Na comparação com ago/23, por sua vez, esse indicador registrou alta de +0,7 p.p. na série sem ajuste sazonal.
Estoques
De acordo com os dados da Sondagem Industrial da CNI, o indicador da evolução dos estoques de produtos finais da indústria total ficou em 46,9 pontos em ago/24, avançando 0,9 ponto frente a jul/24 e ficando mais próximo da marca de equilíbrio. Vale lembrar que a marca de equilíbrio é dada pelo valor de 50 pontos, acima do qual há aumento de estoques e abaixo dele, declínio de estoques.
No caso do segmento da indústria de transformação, o indicador da CNI avançou de 48,6 pontos em jul/24 para 49,6 pontos em ago/24, mantendo-se na região de declínio. A indústria extrativa, por sua vez, também assinalou alta nos níveis dos estoques, visto que foi de 49,6 pontos em jul/24 para 50,6 pontos em ago/24.
Para a indústria geral, o indicador de satisfação dos estoques ficou em 48,5 pontos em ago/24, sinalizando que os estoques estão abaixo do esperado. No caso do setor extrativo e no caso da indústria de transformação, o indicador de satisfação registrou 55,7 pontos e 48,3 pontos, respectivamente. Valores acima de 50 pontos indicam excesso de estoques e abaixo desta marca, estoques insuficientes.
Em ago/24, 12% dos ramos industriais apresentarem estoques maiores do que o planejado (acima de 50 pontos), em comparação aos 20% do mês anterior. Entre os ramos iguais ou acima de 50 pontos em ago/24 temos: biocombustíveis (51,4 pontos), calçados (51,2 pontos) e móveis (50,8 pontos), entre outros. Ficaram abaixo e mais distantes do equilíbrio os seguintes ramos: impressão e reprodução (42,6 pontos), madeira (43,1 pontos), borracha (43,4 pontos) e químicos (46,0 pontos).
Confiança e Expectativas
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI registrou 53,7 pontos em set/24, avançando +1,3 ponto frente a ago/24. Na passagem de ago/24 para set/24, o componente referente às expectativas em relação ao futuro foi de 54,9 para 55,8 pontos, mantendo-se na zona de otimismo. Já o componente que capta a percepção dos empresários quanto a evolução presente dos negócios cresceu +2,1 p.p., porém ainda ficou na região pessimista (49,5 pontos).
O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICI) da FGV, por outro lado, recuou na passagem de ago/24 para set/24, registrando 100,5 pontos. Apesar da queda, o índice ainda se manteve na região de otimismo, ou seja, acima de 100 pontos.
O resultado de set/24 foi influenciado tanto pela retração do seu componente referente às avaliações da situação atual (que passou de 103,6 pontos em ago/24 para 103,0 pontos em set/24), quanto do índice de expectativas (que foi de 99,8 pontos em ago/24 para 98,1 pontos).
Outro indicador utilizado para avaliar a perspectiva do dinamismo da indústria é o Purchasing Managers’ Index – PMI Manufacturing, calculado pela consultoria Markit Financial Information Services. Em ago/24 ficou em 50,4 pontos, subindo para 53,2 pontos em set/24. Dessa forma, esse indicador permanece acima da marca de 50 pontos, indicando melhora do quadro de negócios do setor.
Anexo Estatístico
Mais Informações
Tabela: Produção Física - Subsetores Industriais
Variação % em Relação ao Mesmo Mês do Ano Anterior (clique aqui)