Carta IEDI
PIB global: sem aceleração no horizonte
As últimas projeções divulgadas pelas instituições multilaterais para o PIB mundial em 2024-2025 apontam para um cenário de relativa estabilidade do dinamismo econômico. Para o FMI, depois da alta de +3,3% em 2023, a economia global deverá crescer +3,2% em 2024 e também em 2025. A única mudança em relação ao cenário anterior, de jun/24, é uma redução de -0,1 ponto percentual na projeção de 2025.
Este mesmo resultado e +3,2% em 2024-2025 é apontado pela OCDE, enquanto a UNCTAD prevê variação de +2,7%. Para as três instituições citadas, o desempenho esperado é o mesmo tanto para 2024 como para 2025, o que pode estar denotando o peso de incertezas decorrentes de efeitos climáticos extremos e, sobretudo, da condução da governança global diante da possibilidade de vitória à presidência americana de Donald Trump, já que estes cenários foram realizados entre setembro e outubro de 2024, antes portanto de sua eleição.
De acordo com o FMI, o crescimento em 2024-2025 continuará abaixo da média de +3,8% do período 2000-2019, o que se prolongará para além do período de desinflação global, chegando a +3,1% em 2029. A possível escalada de tensões comerciais no mundo no governo Trump pode piorar este cenário.
Por ora, a expectativa é que o volume de comércio mundial continue ganhando robustez, depois da virtual estabilidade de 2023 (+0,8%). Deve se manter em linha com a expansão do PIB global em 2024, registrando +3,1%, e devendo superá-lo marginalmente em 2025, ao registrar +3,4%. De todo modo, ficará bem abaixo da média anual de 2000-2019 (+4,9%).
Em relação aos preços de commodities, o petróleo deve apresentar pequena alta em 2024, de +0,9%, embora os preços do gás natural e do carvão serão cadentes. A seu turno, os preços de alimentos recuarão -5,2% e então -4,5% em 2025, em função de estimativas de produção recorde no biênio 2024-2025.
Em relação ao período pré-pandemia, o Fundo também destaca mudanças de composição do dinamismo econômico global em favor do consumo de serviços em economias avançadas (EA) e de mercado emergente e em desenvolvimento (EMDEs), devido a uma trajetória de preços inferior à dos bens. Espera-se, assim, uma moderação no crescimento do setor manufatureiro mundial.
Entre os grupos de países, após a forte desaceleração em 2023 (+1,7%), o crescimento nas EAs deve manter o mesmo ritmo em 2024, registrando +1,8% em 2024 e 2005, patamar que deve persistir até 2029.
Contudo, essa estabilidade encobre diferença significativas entre os países avançados. Os EUA devem crescer +2,8% em 2024 ante +2,9% em 2023, desacelerando para +2,2% em 2025. O Japão deve seguir o mesmo caminho, só que mais intensamente: de +1,7% em 2023 para +0,3% em 2024, e com uma reversão e tendência em 2025, para +1,1%.
Em direção oposta, para a área do euro, o FMI prevê uma aceleração de +0,4% em 2023 para +0,8% em 2024 e, então, para +1,2% em 2025. A expectativa também é de ganho de vigor no Reino Unido, cujo PIB deve avançar de +0,3% em 2023 para +1,1% em 2024 e então para +1,5% em 2025.
As economias emergentes e em desenvolvimento, por sua vez, devem seguir o caminho da perda de dinamismo sobretudo a partir de 2025, segundo o FMI. O crescimento do PIB agregado destes países deve passar de +4,4% em 2023 para +4,2% em 2024 e 2025, chegando a +3,9% em 2029.
A Ásia Emergente e em Desenvolvimento continuará sendo a região líder em termos de dinamismo, a despeito da moderação de +5,7% em 2023 para +5,3% em 2024 e +5% em 2025, sob influência da China e da Índia. A perda de ritmo da economia chinesa se agravou entre os cenários de jun/24 e out/24 do Fundo, passando de +5,0% para +4,8% para 2024 ante um crescimento de +5,2% em 2023. Para 2025, espera-se que o PIB chinês varie +4,5%.
Na América Latina e o Caribe, por sua vez, o resultado esperado do PIB de 2024 é semelhante ao do ano passado: +2,1% contra +2,2% em 2023, e muito disso devido ao Brasil, que compensará a desaceleração da economia mexicana (+1,5% contra +3,2%, respectivamente).
A revisão para cima do PIB brasileiro para 2024 foi expressiva, passando de +2,1% no cenário de jun/24 para +3,0% no cenário de out/24. Com isso, o Fundo avalia que manteremos o mesmo ritmo de 2023 (+2,9%). Uma desaceleração nada desprezível, entretanto, é esperada para 2025, quando o Brasil deve registrar +2,2%.
Entre as hipóteses assumidas no último cenário do FMI estão a continuidade da redução da inflação. No mundo, a inflação ao consumidor deve sair de 6,7% em 2023 para 5,8% em 2024 e chegar a 4,3% em 2025. Este movimento deve ser mais intenso nas EAs (-2 p.p. entre 2023 e 2024) estabilizando-se em torno de 2% em 2025. Nos emergentes, espera-se que inflação recue de 8,1% em 2023 para 5,9% em 2025.
Ha ainda as seguintes hipóteses sobre a condução de políticas macroeconômicas:
• Política monetária: Na área do Euro, o FMI projeta uma taxa de juros básica de 2,5% ao ano. Nos Estados Unidos, esta taxa deve atingir seu patamar de equilíbrio de longo prazo de 2,9% no terceiro trimestre de 2026.
• O FMI avalia que as EAs devem adotar uma política fiscal mais restritivas em 2024 e 2025, reduzindo pela metade os déficits fiscais até 2029. Nas EMDEs, a política fiscal deve permanecer relativamente frouxa, mas se espera consolidação fiscal nas economias de baixa renda que perderam acesso ao mercado financeiro internacional ou que foram forçadas a reduzir drasticamente seus déficits devido à alta do custo da dívida.
O Fundo chama atenção para o fato de que os riscos para o desempenho da economia global aumentaram desde abril de 2023 num contexto de tensões geopolíticas, conflitos militares, reforço do protecionismo, resultando em um viés negativo para o balanço de riscos.
Do lado negativo, o FMI aponta 6 fatores que podem contribuir para que o crescimento seja menor do que o esperado em seu cenário básico:
• efeitos maiores do que antecipado do aperto monetário podem resultar numa desaceleração mais intensa e maior desemprego do que o previsto;
• reprecificação nos mercados financeiros e deterioração das condições financeiras global devido a um ritmo mais lento de afrouxamento monetário;
• contração mais forte do que a esperada do setor imobiliário na China;
• novos choques nos preços das commodities energéticas e não-energéticas;
• intensificação do protecionismo comercial, exacerbando as tensões comerciais e provocando perturbações nas cadeias globais de valor;
• reaparecimento distúrbios sociais.
Do lado positivo, somente 2 fatores de risco são apontados:
• recuperação mais forte do investimento público nas EAs para atingir objetivos de política prementes, como a transição verde e aceleração do progresso tecnológico;
• aceleração das reformas estruturais nas EAs e EMEDs para aumentar a participação força de trabalho, reduzir a má alocação de recursos nos mercados de trabalho e de capitais e estimular as inovações.
Entre as suas recomendações, o FMI volta a enfatizar que a cooperação multilateral é necessária para limitar os riscos e os custos da fragmentação geopolítica e da mudança climática, acelerar a transição para a energia verde e encorajar a reestruturação das dívidas.
Introdução
Esta Carta IEDI apresenta o cenário atual do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o desempenho da economia global em 2024 e 2025, divulgado no World Economic Outlook (WEO) de outubro de 2024, e o comparara com projeções também recentemente divulgadas por outras instituições multilaterais (OCDE e UNCTAD) na primeira seção. Na seção seguinte, o cenário do FMI é detalhado por grupos de países. A terceira seção sumariza o balanço de riscos e a quarta seção resume as recomendações de política do FMI.
Cenário para a economia global
De acordo com o cenário atual do FMI, a economia global crescerá 3,2% em 2024 e 2025, praticamente o mesmo patamar que em 2023 (3,3%) e abaixo da média de 3,8% do período 2000-2019. Frente ao cenário de jul/24, houve uma revisão muito suave para 2025, de -0,1 ponto percentual (p.p.).
Tomando as expectativas mais recentes, isto é, veiculadas a partir de set/24, cabe uma comparação com outros organismos multilaterais de destaque. A OCDE espera o mesmo ritmo de expansão que o FMI nos dois anos, enquanto a UNCTAD tem um cenário mais pessimista, projetando um crescimento de 2,7% no biênio 2024-2025.
O Fundo alerta que o crescimento mais fraco se estenderá além do período de desinflação, o que sugere que o crescimento potencial foi afetado de forma duradoura. A projeção é de um crescimento de 3,1% em 2029. Adicionalmente, a composição do crescimento se modificou em comparação com o período pré-pandemia.
Os preços dos bens seguem mais elevados que dos serviços. Consequentemente, uma mudança global na composição do consumo a favor dos serviços está em curso, o que tem estimulado o setor de serviços nas economias avançadas (EAs) e nas Economias de Mercado Emergente e em Desenvolvimento (EMDEs) e, simultaneamente, moderado o crescimento do setor manufatureiro.
O cenário básico do FMI baseia-se nas seguintes hipóteses:
Preços das commodities: O Fundo projeta uma alta de 0,9% do preço do Petróleo associada a cortes de produção pelos países da OPEC+, crescimento da demanda global e tensões geopolíticas no Oriente Médio, que mais do que compensarão o forte crescimento da oferta nos países não pertencentes à OPEC+.
Contudo, o preço das commodities energéticas devem cair em média 3,8% devido às quedas dos preços do gás natural (-16,4%) e carvão (-18%). Para os preços dos alimentos, a projeção é de recuos de 5,2% em 2024 e 4,5% em 2025, já que o cenário supõe recorde da produção no biênio 2024-2025.
Comércio global: o volume do comércio global deve crescer em linha com o PIB global, acelerando seu ritmo de expansão de 0,8% em 2023 para 3,1% em 2024 e 3,4% em 2025 – mas ainda bem abaixo da média anual de 4,9% registrada nas duas décadas anteriores à pandemia (2000-2019). Projeta-se estabilidade da razão comércio global-PIB, pois o comércio intrablocos e com terceiros países tem compensado o aumento das barreiras comerciais entre blocos geopolíticos até o momento.
Política monetária: Na área do Euro, o FMI projeta uma taxa de juros básica de 2,5%. Nos Estados Unidos, esta taxa deve atingir seu patamar de equilíbrio de longo prazo de 2,9% no terceiro trimestre de 2026 (quase um ano antes do que o esperado no cenário de abr/24). Para o Japão, por sua vez, a projeção foi revisada para cima como reflexo do aumento da taxa básica em jul/24. O Fundo espera que a trajetória de alta tenha continuidade até atingir o patamar de 1,5%, que é compatível com a manutenção da inflação e expectativas de inflação ancoradas em termos da meta de 2%.
Política fiscal: o FMI projeta que as EAs devem adotar uma política fiscal mais restritivas em 2024 e 2025, reduzindo pela metade os déficits fiscais até 2029. Porém, a diferença entre os Estados Unidos e a área do euro é significativa. No primeiro caso, a redução do déficit será pequena. Este deve atingir 6,1% em 2029, sendo metade do ajuste decorrente da queda dos juros. A dívida pública não estabilizará, devendo atingir 134% do PIB em 2009. Na área do Euro, a dívida publica em % do PIB deve se estabilizar já em 2024 no patamar de 88%.
Nas EMDEs, enquanto a política fiscal deve permanecer relativamente frouxa, espera-se consolidação fiscal nas economias em desenvolvimento. Nos últimos anos, várias economias em desenvolvimento de baixa renda perderam acesso ao mercado financeiro internacional ou foram forçadas a reduzir drasticamente seus déficits devido à alta das taxas de juros e, consequentemente, do custo da dívida. O ajuste fiscal “forçado” deve reduzir a dívida publica em % do PIB de 54,8% em 2024 para 47,4% em 2029, o que significa uma redução de 1,5% do PIB por ano.
Inflação global: a projeção atual do FMI é de uma desaceleração da inflação ao consumidor de 6,7% em 2023 para 5,8% em 2024 e 4,3% em 2025 como reflexo da queda do núcleo de inflação. Esta trajetória benigna reflete uma queda no núcleo da inflação, em contraste com o observado em 2023, quando a queda da inflação ao consumidor decorreu, sobretudo, da deflação do preço do petróleo.
Espera-se que a desinflação seja mais rápida nas EAs - com uma queda de 2 pontos percentuais (p.p.) entre 2023 e 2024, se estabilizando num patamar de 2% em 2025 – do que nas EMDEs, onde a inflação deve recuar de 8,1% em 2023 para 7,9% em 2024 e 5,9% em 2025. Contudo, há significativas diferenças entre as regiões emergentes e em desenvolvimento.
A inflação na Ásia emergente deve se aproximar do patamar projetado para as EAs – 2,1% em 2024 e 2,7% em 2025 – devido a controles de preços em vários países da região e à adoção de políticas monetárias restritivas antes das demais regiões. Já a inflação na Europa emergente, Oriente médio e Norte da África e sub-sahara África deve permanecer no patamar de 2 dígitos devido a valores atípicos em alguns países devido ao pass-through de depreciações cambiais, ajuste em preços administrativos (Egito) e fraco desempenho da agricultura (Etiópia).
Para a maioria dos países da América Latina, a inflação registrou forte redução e seguem em trajetória descendente. Contudo, houve revisão para cima em relação ao cenário anterior para os maiores países da região devido à crescimento robusto que têm impedido uma desinflação mais rápida no setor de serviços (Brasil e México), eventos climáticos (Colômbia) ou alta nos preços das tarifas de energia (Chile).
Desempenho por grupo de países
No cenário básico do FMI, após a forte desaceleração em 2023, o crescimento nas EAs deve se manter praticamente estável em 2024, avançando de 1,7% em 2023 para 1,8% em 2024 e 2005, patamar que deve persistir até 2029. Contudo, essa estabilidade encobre diferença significativas entre os países como reflexo da atenuação de fatores cíclicos e a convergência para o PIB potencial
O crescimento da economia americana deve desacelerar ligeiramente, de 2,9% para 2,8% em 2024, 0,2 p.p para acima frente ao projetado em julho devido ao desempenho mais forte do consumo, reflexo do crescimento nos salários reais e de efeito-riqueza - e investimento não-residencial. Para 2025, espera-se desaceleração para 2,2% como reflexo do aperto gradual da política fiscal e do desaquecimento do mercado de trabalho.
Para a área do euro, o crescimento parece ter atingido seu vale em 2023 (0,4%). O FMI prevê uma recuperação para 0,8% em 2024 (0,1 p.p. inferior ao projetado em julho) em consequência de um melhor desempenho das exportações, particularmente de bens. O crescimento deve acelerar ainda mais em 2025, para 1,2%, devido à demanda doméstica mais robusta.
A hipótese subjacente a este quadro na Europa é o aquecimento do consumo devido à alta no salário real, bem como do investimento como reflexo do afrouxamento da política monetária. Na Alemanha, maior economia da região, o crescimento deve ser nulo em 2024 devido ao fraco desempenho da indústria manufatureira, política fiscal restritiva e queda do preço dos imóveis.
Na França, espera-se estabilidade no ritmo de crescimento em 2024 e 2025 frente a 2023 (1,1%), na Itália estabilidade em 2024 e ligeira alta em 2025 (1,7% e 1,8%, respectivamente) e na Espanha, aceleração em 2024 (para 2,9% conta 2,7% em 2023) e desaceleração em 2025 (para 2,1%)
A projeção também indica aumento do ritmo de crescimento no Reino Unido, de 0,3% em 2023 para 1,1% em 2024 e 1,5% em 2025 em consequência dos efeitos positivos da queda da inflação e das taxas de juros sobre o consumo
Para o Japão, projeta-se uma forte desaceleração, de 1,7% em 2023 para 0,3% em 2024, como reflexo de perturbações temporárias na oferta na indústria automobilística e dissipação de fatores que sustentaram o crescimento em 2023, como o turismo. Para 2025, o FMI espera uma aceleração para 1,1% puxada pelo consumo num contexto de alta dos salários reais.
Para as EMEDs, o FMI prevê uma desaceleração do crescimento de 4,4% para 4,2% em 2024 e 2025, mas perda de ritmo para 3,9% em 2029. Contudo, assim como nas EAs, dinâmicas contrárias entre as regiões estão em curso.
A Ásia Emergente e em Desenvolvimento continuará sendo a região líder em termos de crescimento nesse grupo, mas registrará uma desaceleração de 5,7% em 2023 para 5,3% em 2024 e 5% em 2025. O desempenho das duas principais economias da região, China e Índia, está subjacente a esse cenário.
O crescimento chinês deve desacelerar de 5,2% em 2023 para 4,8% em 2024 e 4,5% em 2025 devido ao enfraquecimento da confiança dos consumidores e à persistência dos problemas no setor imobiliário. A projeção para o corrente ano é superior ao cenário de abr/24 devido ao desempenho melhor do que então esperado das exportações.
O crescimento da economia indiana deve diminuir mais significativamente do que da economia chinesa, de 8,2% em 2023 para 7% em 2024 e 6,5% em 2025 devido à normalização da demanda doméstica após o boom pós-pandemia.
O crescimento na Europa Emergente e em Desenvolvimento em 2024 seguirá praticamente no mesmo ritmo que em 2023 (3,2% contra 3,3%), mas se reduzirá para 2,2% em 2025. O principal determinante é a expressiva desaceleração da economia russa num contexto de perda de ritmo do consumo e investimento devido ao desaquecimento do mercado de trabalho e do crescimento dos salários.
A América Latina e o Caribe também deve continuar, em 2024, praticamente no mesmo ritmo de expansão do que no ano passado (2,1% contra 2,2%), mas este deve ganhar impulso em 2025, atingindo 2,5%. Em 2024, o FMI projeta um forte contraste entre o dinamismo das duas principais economias da região, Brasil e México.
No caso do Brasil, o crescimento permanecerá virtualmente o mesmo em 2024 na comparação com 2023 (3% contra 2,9%) sustentado pelo consumo e investimento num contexto de mercado de trabalho aquecido e transferências governamentais. Já a economia mexicana deve desacelerar de 3,2% em 2023 para 1,5% em 2024 com reflexo da fraca demanda doméstica devido à política monetária restritiva.
A aceleração latino-americana prevista em 2025 não será puxada pelas duas principais economias da região. Para o Brasil, o Fundo projeta um crescimento de 2,2% devido à manutenção de uma política monetária restritiva e consequente desaquecimento do mercado de trabalho. Para o México, a desaceleração será menor, mas registrar o patamar de crescimento será baixo, de 1,3%, num contexto de uma política fiscal mais apertada.
O crescimento na África Subsaariana seguirá em 2024 no mesmo ritmo que em 2023 (3,6%) e acelerará para 4,2% em 2025 na medida em que os impactos dos choques climáticos no ano passado e de restrições de oferta se dissipam. O colapso do crescimento do Sudão do Sul (-26%) devido ao conflito atual e o menor dinamismo da economia nigeriana tem influenciado negativamente o desempenho da região.
No Oriente Médio e Ásia Central, o crescimento registrará a maior aceleração entre as regiões emergentes e desenvolvimento, de 2,1% em 2023 para 2,4% em 2024 e 3,9% em 2025. Esta evolução positiva decorre, sobretudo, da dissipação dos efeitos adversos das perturbações na produção de petróleo e no comércio marítimo.
Balanço de riscos
Os riscos para o desempenho da economia global aumentaram desde abril de 2023 num contexto de tensões geopolíticas, conflitos militares, reforço do protecionismo, resultando em um viés negativo para o balanço de riscos.
Do lado negativo, o FMI aponta 6 fatores podem contribuir para que o crescimento seja menor do que o esperado no cenário básico:
1) Efeitos maiores do que antecipado do aperto monetário podem resultar numa desaceleração mais intensa e maior desemprego do que o previsto, com efeitos adversos sobre o consumo e investimento. Contudo, menores preços do petróleo devido à demanda mais fraca pode atenuar a queda do crescimento
2) Reprecificação nos mercados financeiros e deterioração das condições financeiras global devido a um ritmo mais lento de afrouxamento monetário diante de uma maior resistência da inflação à queda e reavaliação das expectativas dos consumidores.
Neste contexto, os riscos para a estabilidade financeira podem aumentar, incluindo crises de dívida soberana nas EMDEs. Embora os spreads dos títulos soberanos dessas economias tenham cedido desde seu pico em julho de 2022, algumas EMEDs continuam vulneráveis a uma precificação dos riscos pelos investidores globais, que podem desencadear uma alta dos spreads e falências soberanas.
Países com maiores necessidade de financiamento externo e menores reservas internacionais serão mais afetados, pois muitos já se encontraram com spreads em patamares elevados. Diante do pouco raio de manobra fiscal, estes serão forçados a adotar políticas fiscais restritivas com efeitos negativos sobre o crescimento econômico. As economias em desenvolvimento de baixa renda serão especialmente mais atingidas devido ao seu espaço fiscal ainda menor e a necessidade de manter gastos em programas sociais para a população mais vulnerável.
3) Contração mais forte do que a esperada do setor imobiliário na China. As experiências do Japão nos anos 1990 e dos Estados Unidos em 2008 sugerem que uma correção adicional dos preços dos imóveis é um risco plausível se a resposta política para a crise não for adequada.
Neste cenário, a demanda doméstica chinesa seria mais fraca, com repercussões negativas nas EAs e EMEDs. Estímulos fiscais podem pressionar ainda mais as finanças públicas e subsídios para aumentar as exportações podem exacerbar as tensões da China com os parceiros comerciais.
4) Novos choques nos preços das commodities energéticas e não-energéticas devido a choques climáticos, intensificação dos conflitos regionais no Oriente médio e Ucrânia e aumento das tensões geopolíticas.
5) Intensificação do protecionismo comercial, exacerbando as tensões comerciais e provocando perturbações nas cadeias globais de valor, o que podem ter repercussões negativas sobre o crescimento no médio prazo ao limitar a transferência de tecnologia das EAs para as EMEDs.
6) Reaparecimento distúrbios sociais devido a vários fatores, dentre os quais, inflação mais elevada, aumento dos impostos, repercussões dos conflitos e aumento da desigualdade, especialmente em países com menor capacidade de atenuar os respectivos impactos. Esses distúrbios também podem obstaculizar a adoção de reformas estruturais.
Do lado positivo, somente dois fatores de risco são apontados:
1) Recuperação mais forte do investimento público nas EAs para atingir objetivos de política prementes, como a transição verde e aceleração do progresso tecnológico, com efeitos positivos sobre o investimento privado e, consequente, maior crescimento econômico e do comércio em âmbito global.
2) Aceleração das reformas estruturais nas EAs e EMEDs para aumentar a participação força de trabalho, reduzir a má alocação de recursos nos mercados de trabalho e de capitais e estimular as inovações.
Recomendações de política
As recomendações de política do FMI praticamente não sofreram mudanças frente ao cenário de abr/24, como discutido na Carta IEDI 1266. O Fundo enfatiza que as políticas no curto prazo devem ser cuidadosamente calibradas e sequenciadas para garantir um “pouso suave” da economia global.
Com a orientação da política monetária se tornando menos restritiva, um renovado foco na consolidação fiscal é necessário para restaurar o raio de manobra do orçamento, priorizar investimentos e garantir a sustentabilidade da dívida.
Além disso, intensificar reformas que melhorem o lado da oferta da economia facilitaria a redução da inflação e do endividamento, permitiria às economias retornarem às taxas de crescimento pré-pandemia e aceleraria a convergência para níveis de renda mais elevados.
A cooperação multilateral é necessária para limitar os riscos e os custos da fragmentação geopolítica e da mudança climática, acelerar a transição para a energia verde e encorajar a reestruturação das dívidas.
O quadro abaixo detalha as recomendações de política do FMI.