Carta IEDI
Para Onde Vai A Indústria Brasileira?
A recente divulgação pelo MDIC de informações sobre as intenções de execução de projetos de investimento no Brasil é extremamente oportuna. Esta base de dados permite detectar tendências regionais e setoriais da indústria brasileira. Foi o que procuramos fazer no que toca ao setor industrial, mediante a análise de 198 projetos de novas unidades industriais anunciados ao longo de 2004 com implantação prevista até 2010. Os projetos analisados somam US$ 25,0 bilhões.
Dentre as principais conclusões do estudo, cabe destacar que do ponto de vista setorial é possível identificar investimentos importantes no setor siderúrgico e em refinarias de petróleo. O ciclo de investimentos destes dois setores está apenas em sua fase inicial e seus desdobramentos ocorrerão proximamente.
Com relação à localização, os novos investimentos se distribuirão pelos pólos industriais de Camaçari e de Manaus fortalecendo-os na medida em que ocorre uma diversificação setorial. Contudo, e provavelmente o mais importante, muitos investimentos se localizarão em cidades do interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mostrando que o Brasil também aproveitou as oportunidades criadas quanto à possibilidade de buscar aumento de competitividade em localidades fora dos grandes centros urbanos.
Também a região Centro-Oeste promete continuar seu processo de industrialização, a partir da agroindústria e de implementos e fertilizantes agrícolas outros ramos do setor mecânico também já anunciaram investimentos suficientemente importantes para deslocar o eixo de produção no Brasil.
Segundo as regiões do país, as principais conclusões do estudo podem ser assim resumidas:
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Norte. O total de investimentos anunciados na região Norte é de US$ 1,3 bilhão. O principal destaque da região é que os dados indicam que está ocorrendo um amadurecimento do parque industrial da Zona Franca de Manaus, o qual vem avançando para vários setores. Dada esta tendência, cada vez mais o pólo vem tornando-se uma das mais importantes áreas industriais do país. Apesar da relevância da diversificação da produção industrial em Manaus e dos empreendimentos na minero-metalurgia no Pará, os outros investimentos são pequenos, revelando estar boa parte da região alijada das grandes inversões e, portanto, sujeita a um aumento da disparidade em relação ao país como um todo e à dependência da exploração de recursos naturais com baixa agregação de valor no local.
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Nordeste. Nesta região onde os investimentos sobem a US$ 6,2 bilhões, o estado da Bahia se destaca porque apresenta projetos em vários municípios e em vários setores, demonstrando um aprofundamento de sua opção de incentivar os setores químico e de produtos de borracha e plástico, alimentos, têxteis e calçados. É verdade, porém, que os maiores investimentos se concentram na região metropolitana de Salvador. Destaque para os esforços para viabilizar usinas siderúrgicas no Estado do Ceará e no Maranhão. Paraíba, Pernambuco e Sergipe apresentam poucos, porém também importantes projetos, com capacidade de alterar os municípios onde se situam.
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Centro-Oeste. Na região Centro-Oeste (investimentos totais de US$ 1,7 bilhão), a despeito da predominância de investimentos em setores já tradicionais vinculados ao agronegócio, casos dos setores de alimentos (associados à industrialização da soja, do beneficiamento do couro), fertilizantes, agroquímicos e de implementos agrícolas, existem também investimentos planejados importantes no setor mecânico e uma siderúrgica em Campo Grande (MS), e no segmento de celulose e papel em Três Lagoas (MS).
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Sul. Os novos investimentos na Região Sul (US$ 1,1 bilhão) são diversificados. Apesar da maioria dos projetos previstos não serem de alto valor, eles sinalizam um amadurecimento industrial importante nos estados do Sul além de se localizarem em vários municípios, são 22 projetos em 19 municípios. A configuração de desconcentração produtiva em relação à capital, característica do estado de Santa Catarina há vários anos, tem se reproduzido também no Rio Grande do Sul: nos novos investimentos em ambos estados não há inversões previstas para suas capitais.
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Sudeste. Como era de se esperar, a região Sudeste concentra a maioria dos projetos de investimentos. Aí são localizados 66 projetos no valor de US$ 10,1 bilhões, distribuídos em 48 municípios, em todos os setores industriais. Vale a pena observar que tanto o estado de São Paulo quanto Minas Gerais confirmam a tendência à implantação de empresas industriais em localidades que lhes criem condições favoráveis de competitividade. Na hipótese de se verificar uma melhoria nos investimentos em infra-estrutura, em especial nos setores de transporte e logística, pode-se esperar grandes modificações na distribuição produtiva brasileira em prol do interior dos estados desta região.
Leia mais sobre o tema no texto abaixo.
O levantamento. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgou recentemente um levantamento feito através da mídia, dos governos estaduais e de sua própria base de informação de projetos de investimentos, anunciados em 2004, muito útil para se detectar as tendências de localização industrial dos projetos em implantação no Brasil.
Nosso interesse recaiu exclusivamente nos projetos industriais – vale dizer, não levantamos os projetos referentes aos setores de serviços, agropecuária e infra-estrutura – e, dentre estes, apenas coletamos informações sobre projetos de implantação de novas plantas industriais, dado o objetivo central do estudo de identificar movimentos no que diz respeito aos padrões de localização industrial.
Foram analisados 198 projetos de implantação com localização municipal definida, totalizando cerca de US$ 25,0 bilhões a serem implementados até 2010. Os projetos foram classificados segundo regiões, estados e municípios, além da classificação setorial. A relação de projetos de investimentos industriais acima de US$ 50 milhões encontra-se no anexo.

Região Norte. Os novos investimentos levantados até o momento na região Norte ocorrerão somente em: Manaus, no Estado do Amazonas; Barcarena, Benevides, Marabá e Ulianópolis, no Pará; e em Pimenta Bueno, em Rondônia.
Apesar de todos os investimentos no estado do Amazonas se situarem em Manaus, eles ocorrerão em vários setores, entre eles, destacando-se máquinas e equipamentos, material eletrônico, alimentos, têxteis, produtos de metal, produtos de madeira e veículos.
Assim, a indicação é que está ocorrendo um amadurecimento do parque industrial da Zona Franca de Manaus, o qual vem avançando para vários setores. Dada esta tendência, cada vez mais o pólo vem se tornando uma das mais importantes áreas industriais do país.
No Pará, os maiores investimentos provêm da exploração de bauxita pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) com a construção de um mineroduto em Barcarena, e com a implantação de unidade de ferro-gusa, em Marabá.
Conforme pode ser observado na próxima tabela, o total de investimentos anunciados, com definição de municípios, não passa de US$ 1,3 bilhão na região Norte.
Apesar da importância da diversificação da produção industrial em Manaus e do investimento da CVRD no Pará, as outras inversões são modestas, revelando a pequena possibilidade de mudança no cenário econômico regional. O fato é que industrialização da região está assaz restrita ao Pólo Industrial de Manaus e aos empreendimentos minero-metalúrgicos do Pará, ficando grande parte da região alijada dos grandes investimentos e, portanto, sujeita ao aumento da disparidade em relação ao país como um todo e à dependência da exploração de recursos naturais com baixa agregação de valor no local.

Região Nordeste. A região Nordeste apresenta um quadro bem mais diversificado do que a região Norte (ver a tabela seguinte). O estado da Bahia se destaca porque apresenta projetos em vários municípios e em vários setores, demonstrando um aprofundamento de sua opção de incentivar os setores químico e de produtos de borracha e plástico, alimentos, têxteis e calçados. Ressalve-se que pode haver um ligeiro viés na amostra da Bahia devido ao maior número de informações fornecidas pelo governo deste estado ao MDIC, porém isto não compromete o cenário de localização industrial. É verdade, porém, que os maiores investimentos se concentram na região metropolitana de Salvador. Exemplos são: as novas unidades de pneus, da Bridgestone-Firestone e a da Continental; e as unidades têxteis da Viniartefatos e da Indorama.

O Ceará apresenta um grande esforço para viabilizar a Usina Siderúrgica do Ceará, com produção prevista de 1,5 milhão de toneladas de placas de aço em sua primeira etapa, com investimento estimado em US$ 700 milhões. O amadurecimento deste projeto pode modificar a economia da região, mas levará algum tempo até sua realização e os outros projetos de investimentos são pequenos e com menor capacidade de transformação.
O Maranhão também busca viabilizar uma usina siderúrgica com capacidade de produção de 7,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, em São Luís. É o único projeto constante da lista no Estado.
Paraíba, Pernambuco e Sergipe apresentam também projetos importantes. Mesmo sendo poucos, estes têm a capacidade de alterar os municípios onde se situam. Ilustram esses casos a construção de uma refinaria de petróleo do Grupo Vibrapar, em Recife, e a instalação de um estaleiro pela Camargo Corrêa e o complexo alimentício da Arcor, ambos no município de Ipojuca (PE).
Região Centro-Oeste. Na região Centro-Oeste, a despeito da predominância de investimentos em setores já tradicionais vinculados ao agronegócio, casos das indústrias de alimentos (associadas à industrialização da soja, do beneficiamento do couro), fertilizantes, agroquímicos e de implementos agrícolas, existem também inversões planejadas importantes no setor mecânico, como a implantação de uma fábrica de veículos da Hyundai, em Anápolis (GO); e a siderúrgica da Kepler Weber, em Campo Grande (MS), e de uma fábrica de celulose e papel da International Paper do Brasil, em Três Lagoas (MS).
Também o Distrito Federal fortalece seu parque produtivo ao incentivar a implantação de indústrias intensivas em tecnologia em seu Pólo Juscelino Kubistchek, tal como a implantação de uma unidade de medicamentos da União Química.

Região Sul. Os novos investimentos na Região Sul são diversificados. Apesar da maioria dos projetos previstos não serem de alto valor, eles sinalizam um amadurecimento industrial importante nos estados do Sul além de se localizarem em vários municípios, são 22 projetos em 19 municípios, totalizando cerca de US$ 1,1 bilhão.
A configuração de desconcentração produtiva em relação à capital, característica do estado de Santa Catarina há vários anos, tem se reproduzido também no Rio Grande do Sul: nos novos investimentos em ambos estados não há inversões previstas para suas capitais.

Região Sudeste. Como era esperado, a região Sudeste concentra a maioria dos projetos de investimentos. Aí são localizados 66 projetos no valor de US$ 10,1 bilhões, distribuídos em 48 municípios, em todos os setores industriais.
Vale a pena observar que tanto o estado de São Paulo quanto Minas Gerais confirmam a tendência à implantação de empresas industriais em localidades que lhes criem condições favoráveis de competitividade.
Na hipótese de se verificar uma melhoria nos investimentos em infra-estrutura, em especial nos setores de transporte e logística, pode-se esperar grandes modificações na distribuição produtiva brasileira em prol do interior dos estados desta região. Os dados são apresentados na tabela abaixo.

Dispersão espacial dos investimentos. Os dois próximos gráficos permitem visualizar a distribuição dos setores econômicos por todas as unidades da Federação. Os setores que se distribuem de forma mais generalizada no território brasileiro são alimentos, produtos químicos, borracha e plástico e veículos automotores. Mas também os novos investimentos nos setores de celulose e papel, máquinas e equipamentos, outros equipamentos de transporte, metalurgia e couro são bem distribuídos (por mais de 5 estados). A localização destes novos investimentos é interessante porque estes setores apresentam grandes efeitos de encadeamento nas suas redes de fornecedores e de clientes, favorecendo um fortalecimento do “tecido” industrial local em momentos subseqüentes à instalação do empreendimento.

