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                          Carta IEDI

                          Edição 230
                          Publicado em: 20/10/2006

                          América Latina: Melhor do que Antes, Aquém dos Outros

                          Sumário

                          Como aponta a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) em seu relatório anual Estudio Económico de América Latina y el Caribe 2005- 2006 (disponível em http://www.eclac.org), nos últimos quatro anos a região da América Latina e do Caribe apresenta crescimento expressivo, acompanhado de superávit das transações correntes e redução do déficit fiscal. É a segunda vez que isso ocorre em vinte e cinco anos. Na avaliação da Cepal, tais características garantem maior sustentabilidade ao processo de crescimento iniciado em 2003, mesmo frente à gradual desaceleração da economia mundial e à maior volatilidade dos mercados financeiros internacionais.

                          No médio prazo, adverte a Cepal, um cenário internacional de ajuste gradual e ordenado dos desequilíbrios globais que se traduziria por menor crescimento dos Estados Unidos teria impacto diferenciado entre os países da região, em virtude dos tipos de vínculos comerciais existentes. O México e os países da América Central que possuem uma estrutura de exportação mais concentrada no mercado norte-americano seriam mais afetados do que os países da América do Sul, cujas estruturas de exportação são mais diversificadas, com participação crescente da China e outras economias asiáticas.

                          A Cepal estima para as economias da região uma expansão de 5,0% em 2006 e de 4,3% em 2007, após crescimento de 4,5% em 2005. Esse seria o quarto ano de aumento consecutivo, resultando em um incremento acumulado do PIB regional de 17,6% no período 2003-2006 (média anual de 4,3%). Ressalte-se, contudo, que, embora essas taxas sejam elevadas em termos históricos, estão aquém daqueles verificadas em outras regiões do mundo em desenvolvimento, em particular da Ásia.

                          De acordo com as projeções da instituição, Brasil e México continuarão a apresentar desempenho econômico inferior ao da América Latina e do Caribe como um todo. As estimativas indicam para o Brasil um crescimento do PIB da ordem de 4,0% em 2006 e 2007. Já para o México, as projeções apontam para um incremento do PIB de 4,0% em 2006 e de 3,5% em 2007.

                          Em 2005, pelo terceiro ano consecutivo, a América Latina logrou superávit em transações correntes: US$ 35 bilhões, o que corresponde a 1,5% do PIB regional. Além da melhora nos termos de troca da Região, reflexo da maior demanda mundial de petróleo, metais e outros produtos básicos, contribuiu para esse resultado o expressivo aumento nas remessas dos trabalhadores emigrados. Para 2006, a Cepal prevê que a América Latina deverá apresentar novamente superávit em transações correntes, o qual não deverá ser inferior ao registrado em 2005.

                          O relatório ressalta também a melhora nos indicadores fiscais e da dívida pública, como conseqüência de um conjunto de fatores, dentre os quais se destacam as características do atual contexto macroeconômico e as políticas ativas de gestão dos passivos e de controle do gasto público.

                          Outros destaques apontados pelo relatório são:

                          • A inflação mantém tendência à queda (inflação média de 7,3% em 2005 contra 8,4% em 2004). 

                          • Às exceções do Brasil e México, na maioria dos países da América Latina e Caribe, as taxas básicas de juros reais permaneceram estabilizadas em um nível relativamente baixo em termos históricos.

                          • No âmbito interno, o consumo se ampliou de forma acelerada em 2004 e, em 2005, foi puxado pela disponibilidade de crédito, menor taxa de juros e pelo aumento da massa salarial.

                          • Continuidade em 2005 do processo de fortalecimento dos termos de troca da Região, com aumento de 5,7% (5,2% em 2004).

                          • Conta financeira também foi superavitária em 2005 (US$ 21,6 bilhões, o que corresponde a 0,9% do PIB regional), transformando a região em receptora líquida de recursos.

                          • Ampliação das reservas da região que alcançaram o nível recorde de US$ 255 bilhões em 2005, um montante equivalente a 10% do PIB regional.

                          Maiores detalhes são apresentados no texto a seguir.

                          Cenário Internacional. A economia mundial desacelerou seu ritmo de expansão em 2005. O produto global cresceu 3,5%, após ter avançado 4,0% em 2004. Isto se deveu em parte ao fato de muitas economias desenvolvidas terem concluído sua fase de recuperação após a recessão de princípios da década. A tanto somou-se a menor expansão econômica dos EUA no final do ano, em virtude dos efeitos do furacão Katrina que devastou o sul do país.

                          Tanto a economia norte-americana como as da Zona do Euro registraram menores taxas com relação a 2004: a primeira se expandiu um 3,5% em 2005 (contra 4,2% em 2004), enquanto a Zona do Euro cresceu apenas 1,3% em 2005 (2,1% em 2004).

                          Nos Estados Unidos, o produto havia crescido mais de 2% na primeira metade de 2006, como conseqüência da notável recuperação da atividade no primeiro trimestre do ano. Mas, alguns indicadores despertam certa inquietude. Esse é o caso, por exemplo, da desaceleração do gasto de consumo privado em maio de 2006, resultado do encarecimento da gasolina e do aparente fim da bonança do mercado imobiliário, podendo erodir a curto prazo a confiança dos consumidores.

                          A Zona do Euro, que inclui 12 dos 25 países da União Européia, não conseguiu sustentar em 2005 o ritmo de crescimento econômico alcançado no ano anterior. Após um incremento do PIB agregado de 2,1% em 2004, a situação se deteriorou no último trimestre de 2005, encerrando o ano com crescimento de 1,3%. Esta desaceleração se deveu a uma menor expansão observada na Alemanha (1,0%), França (1,2%) e Itália (0,0%), economias que em conjunto representam mais de 70% do produto sub-regional. Todavia, o aumento no consumo privado, verificado no primeiro trimestre de 2006 na Alemanha e França, e a recente melhora dos indicadores de emprego da União Européia sinalizam um fortalecimento da confiança general dos consumidores. De acordo com a Cepal, é provável que o gasto privado de consumo nos principais países da Europa recupere o seu dinamismo em 2006 e que o ano se encerre com um crescimento do PIB agregado em torno de 2,0%.

                          Já o Japão manteve em 2005 sua trajetória de recuperação iniciada em 2003, apoiada basicamente na melhora da demanda interna. Em 2004, o produto crescer 2,3% e, em 2005, 2,7%, taxas que superam as registradas no triênio 2001-2003. Deste modo, consolidou-se a reativação de uma economia que representa em torno de 14% do produto global. Em 2006, o consumo privado e o investimento continuaram suas marchas ascendentes, com queda do desemprego e elevação dos salários, enquanto a melhora dos balanços das empresas permitiu a absorção do encarecimento do combustível. O maior dinamismo da demanda interna ampliou as importações de bens e serviços em 15,7% no ano de 2005. Tal aumento superou o das exportações (7,3%), resultando na redução dos superávits comercial e em conta corrente, que alcançou 3,6% do PIB. Em 2006, as estimativas indicam a continuidade da fase de expansão econômica, com crescimento do PIB da ordem de 2,8%.

                          Embora o ritmo de expansão dos países em desenvolvimento também tenha se desacelerado em 2005, com a taxa de variação do PIB caindo de 6,8% em 2004 para 6,2%, ressalte-se que nos últimos três anos esses países vêm apresentando crescimento superior a 5%, o que não se registrava desde fins dos anos sessenta e princípios dos setenta. Segundo a Cepal, para isso contribuiu o expressivo dinamismo das economias da China e da Índia, que cresceram em 2005 a taxas superiores a 9% e 8%, respectivamente. O vigor dessas economias estimulou a melhora nos termos de troca dos países exportadores de produtos básicos, permitindo às economias emergentes sustentarem a trajetória de expansão.

                          A China acumula duas décadas de crescimento alto e sustentado, com taxa anual média de 10% no período 1987-1996, e de 8,4% entre 1995 e 2005. Este notável desempenho se apóia em três pilares fundamentais: considerável incremento das exportações líquidas e dos investimentos (notadamente em infra-estrutura) e grande impulso do consumo interno. Para 2006, espera-se que o país cresça no mínimo a uma taxa similar a de 2005 (9,6%).

                          A persistência e ampliação do desequilíbrio externo dos Estados Unidos se mantêm como o problema mais preocupante no âmbito global. Em termos do PIB, o déficit passou de 5,7% em 2004 para 6,4% no ano passado. Esse persistente desequilíbrio resulta do crescente déficit da balança de bens e serviços, já que a rentabilidade dos ativos norte-americanos no exterior mais do que compensou o aumento do pagamento de juros a não-residentes decorrente da maior emissão de dívida.

                          Para a Cepal, a incerteza sobre o impacto que o alto preço do petróleo terá na inflação é uma das principais preocupações nas economias desenvolvidas e emergentes importadoras de óleo bruto. Dado este panorama, a taxa de expansão mundial em 2006 poderia se situar em torno da observada em 2005, com um intervalo de variação de 0,2%, dependendo da reação das políticas monetárias estritas orientadas ao controle da inflação nas economias desenvolvidas. Embora se preveja uma desaceleração marginal no ritmo de expansão dos EUA, o maior dinamismo nesse ano da Área do Euro e do Japão e o forte crescimento da China poderão compensar e permitir a manutenção do contexto internacional favorável.

                          Desempenho Macroeconômico. Em 2005, as economias de América Latina e Caribe cresceram 4,5%, impulsionadas pelo desempenho da demanda interna e externa. A menor taxa no ano 2005 vis-à-vis 2004 (5,9%) se explica em larga medida porque Brasil e México, as duas maiores economias da região, apresentaram uma expansão inferior à média regional. Não obstante, a taxa regional segue superior à média registrada nos anos 1990 e nos primeiros anos da década de 2000. Com a expansão de 2005, a região logrou três anos seguidos de crescimento do PIB, e acumulou no período 2003-2005, um aumento de 12,9%, em relação a 2002. Já o PIB per capita acumulou um incremento de 8,0% no mesmo período.

                          O relatório destaca que a expansão da atividade econômica nos países da América Latina e do Caribe se insere na evolução favorável que a economia internacional vem mostrando desde 2003, a qual estimulou o desempenho dos ramos de atividade vinculados ao setor externo. O duradouro estímulo externo, presente durante todo o ano de 2004, permitiu que o bom desempenho do setor exportador se estendesse às outras atividades. Isto impulsionou a demanda interna, traduzindo-se na recuperação do investimento e do consumo e se refletindo no aumento do volume importado.

                          Ao contrário do que se verificou em momentos anteriores de expansão econômica na região, os governos evitaram adotar política fiscal expansiva, optando por cancelamento de dívidas e acumulação de reservas internacionais. Verifica-se melhora nos indicadores fiscais e da dívida pública, como conseqüência de um conjunto de fatores, dentre os quais se destacam as características do atual contexto macroeconômico e as decisões tomadas pelas autoridades respectivas dos países.

                          No âmbito dos governos centrais, o desempenho fiscal permitiu atingir no fim de 2005 um superávit primário médio de 1,4% do PIB, em comparação com o superávit de 0,6% em 2004. Considerando o déficit global, ou seja, aquele que inclui o pagamento dos juros da dívida pública, o déficit variou de -1,9% para -1,1 % do PIB. O melhor resultado em 2005 se deve ao aumento generalizado das receitas fiscais em todos os países da região, à exceção de Guatemala e Paraguai. Os gastos públicos também cresceram, porém menos do que as receitas.

                          Os países especializados na extração de produtos não-renováveis, como petróleo e metais, têm registrado um expressivo incremento de suas receitas fiscais derivados dos aumentos dos preços desses produtos nos mercados internacionais. Na avaliação da Cepal, esses países deveriam aproveitar a conjuntura favorável para avançar na definição de mecanismos de estabilização e na diversificação de suas estruturas de receitas tributárias no sentido de reduzir a dependência dos bens não-renováveis.

                          O fortalecimento da estrutura de receitas tributárias é essencial na região, dado que mais da metade dos países registram uma carga tributária de menos de 15% do PIB no nível do governo central.

                          Além da expressiva geração de superávits primários, os fatores que mais têm contribuído para a melhora da situação fiscal na região são os processos de reestruturação das dívidas e a apreciação das moedas nacionais em relação ao dólar. Mencione-se ainda a participação da Bolívia, Guiana, Honduras e Nicarágua na iniciativa para os países pobres mais endividados que os permitiu obter uma importante redução nos montantes totais de suas dívidas públicas.

                          Igualmente, os países da região aproveitaram as condições macroeconômicas favoráveis para adotar políticas ativas de gestão dos passivos, o que contribuiu para reduzir sua vulnerabilidade financeira. Diversas iniciativas fortaleceram essa política: o resgate de bônus externos (Argentina, Brasil, México, Panamá e Peru); a troca de dívida interna por dívida externa (Argentina, Colômbia e Peru); a recompra dos bônus Brady (Brasil e Venezuela) e emissão de dívidas externa em moeda doméstica (Brasil e Colômbia).

                          A evolução positiva nas contas públicas dos países da região permitiu atenuar a vulnerabilidade externa das economias e, ao mesmo tempo, ampliar a margem de manobra da política fiscal. Todavia, de acordo com a Cepal, a despeito dos bons resultados alcançados, apenas um quinto dos países da região registram um superávit fiscal global e metade ainda apresentam uma dívida pública equivalente a mais de 50% do PIB.

                          Quanto à política monetária, o relatório destaca que a região continua privilegiando o controle da inflação em maior ou menor medida, segundo o estado da atividade econômica. Na grande maioria dos países, em 2005, a política monetária se caracterizou, em termos gerais, por um aumento leve das taxas básicas de juros, de modo que as taxas de juros reais se mantiveram em níveis relativamente baixos para os padrões históricos. Infelizmente as exceções a tanto incluem as duas maiores economias da região: Brasil e México.

                          Embora o aumento dos preços do petróleo tenha acentuado as preocupações dos bancos centrais latino-americanos para evitar maiores efeitos sobre os índices de preços, a tendência, praticamente generalizada na região, de apreciação das moedas domésticas contribuiu para atenuar o ritmo de elevação dos preços. Porém, como a apreciação cambial tem efeitos indesejados, os bancos centrais decidiram intervir no mercado de câmbio e minorar a apreciação. Entre dezembro 2004 e dezembro de 2005, o câmbio real efetivo de América Latina e Caribe em relação ao resto do mundo se apreciou em 8,3%. A apreciação média anual de 2005 foi de 5,1%.

                          O crédito tem mostrado uma recuperação a partir dos baixos patamares anteriores a 2003. De fato, as taxas de crescimento nominal do crédito total e do crédito privado em 2006 superaram 15% nos doze meses anteriores ao primeiro trimestre de 2006, o que sinaliza uma tendência de crescimento em relação aos anos anteriores. Apenas a Bolívia e o Paraguai mostram incrementos no crédito total inferiores a 6% em 12 meses.

                          O crescimento econômico relativamente elevado dos últimos anos influiu notadamente nos mercados de trabalho da região. Pelo terceiro ano seguido houve um expressivo aumento na taxa de ocupação que atingiu 53,6% da população em idade ativa em 2005. No contexto da evolução favorável das economias, a taxa de desemprego diminuiu mais de um ponto percentual, caindo para 9,1%, o menor nível observado desde meados dos anos 1990.

                          A despeito desses avanços, a taxa de desemprego continua alta e estima-se que 18 milhões de pessoas permanecem desempregadas nos países da região. Além disso, uma alta proporção dos novos postos de trabalho é de baixos salários e tem-se observado um incremento dos contratos temporários de curto prazo no setor formal. Por essa razão, a reativação do mercado de trabalho não se traduziu em 2005 em elevação significativa dos salários reais, que cresceram modestos 0,5%.

                          A persistência do entorno externo favorável, a alta utilização da capacidade disponível em muitos setores, a apreciação do câmbio ante aos valores de 2002-2003 e a maior disponibilidade de crédito se conjugaram para permitir a continuidade da expansão do investimento iniciada em 2004. Por sua vez, as taxas de juros mais baixas e o maior volume de crédito disponível, junto com o aumento da massa salarial, estimularam a ampliação do consumo privado. Embora os demais componentes da demanda agregada regional também tenham se expandido, o consumo total foi o único que acelerou sua taxa de crescimento em 2005 com relação a 2004.

                          Extraído de Cepal (2006), p. 48.

                          <<20061020-04.gif|Fonte: Cepal (2006). Anexo Estatístico. Quadro A-21, p. 191. Elaboração Própria.
                          Notas:
                          (1) Médias Anuais. O índice de câmbio real efetivo é calculado pela ponderação dos índices do tipo de cãmbio bilateral real de cada sócio comercial. Uma moeda se deprecia quando esse índice aumenta e se aprecia quando diminui.
                          (2) Dados preliminares.
                          (3) Média do período de janeiro a junho. |>>

                          Extraído de Cepal (2006), p. 69.

                          Evolução do Setor Externo em 2005. Pelo terceiro ano consecutivo, o crescimento econômico global se traduziu em maior dinamismo do comércio internacional, o que impulsionou a demanda por matérias-primas e o aumento de seus preços, sobretudo, dos combustíveis e de alguns metais de uso industrial, e de alguns produtos agrícolas como açúcar, banana e café. Isto favoreceu os países da América Latina e Caribe.

                          Assim, em 2005, teve continuidade o processo de fortalecimento dos termos de troca de América Latina, com aumento de 5,7% (5,2% em 2004). Comparado com a década de 1990, os termos de troca cresceram 23,2% em média em 2005. Este expressivo aumento é um reflexo da demanda mundial por matérias-primas, impulsionada, sobretudo, pelo pujante crescimento da China e da Índia e pela incerteza política que introduziu uma volatilidade adicional no preço do petróleo.

                          Os países de maior crescimento nos termos de troca em 2005 foram Venezuela, com incremento de 30,8%, Equador e Chile, ambos com aumento de 11,9%. Embora seja um país importador de petróleo, o Chile registrou variação positiva nos termos de troca, devido à forte elevação do preço do cobre que mais do que compensou o aumento do preço óleo bruto nos mercados internacionais. No outro extremo, estão Costa Rica, Paraguai e Uruguai, cujos termos de troca caíram 8,2%, 7,8% e 5,7%, respectivamente.

                          Nesse contexto externo favorável, América Latina registrou novamente superávit na conta corrente do balanço de pagamentos em 2005. O superávit da ordem de US$ 35,325 bilhões equivale a 1,5% do PIB regional. De acordo com o observado no primeiro semestre de 2006, sobretudo, o aumento dos preços dos metais e do petróleo nos mercados internacionais, a Cepal prevê que a América Latina deverá apresentar novo superávit em transações correntes, o qual não será inferior ao registrado no ano passado.

                          O contexto internacional de elevada liquidez, baixas taxas de juros no mercado internacional e busca de retorno por parte dos investidores foi preponderante na entrada de fluxos de capitais na região e na colocação de títulos no exterior em moeda local e com menor custo. O investimento estrangeiro direito alcançou U$ 47,8 bilhões em 2005 (2,0% do PIB regional), com aumento de 9,7% vis-à-vis o ano anterior. Todavia, como ressalta a Cepal, esse montante embora expressivo está bem abaixo do nível de 1999, quando os fluxos líquidos de IED atingiram o recorde da série (US$ 79,3 bilhões, equivalente a 4,4% do PIB regional). O Brasil e o México foram os principais receptores dos fluxos líquidos de IED em 2005: US$ 12,5 bilhões e US$ 11,9 bilhões, respectivamente.

                          A região logrou um superávit na conta financeira de US$ 21,6 bilhões de dólares (0,9% do PIB). Com superávits em transações correntes e na conta financeira, a região obteve um superávit global do balanço de pagamento equivalente a 2,4%. Fato que, exceto em 2003 e em magnitudes bem menores, não havia se verificado desde começo da década de 1980.

                          Com a ampliação das reservas internacionais, que atingiu no final de 2005 o nível recorde de US$ 55 bilhões de dólares, o equivalente a 10% do PIB regional, alguns países da região adotaram a estratégia de pagamento antecipado da dívida externa. Em fins de 2005, Brasil e Argentina anunciaram o pagamento total de suas respectivas dívidas com o Fundo Monetário Internacional: US$ 15,5 bilhões e US$ 9,5 bilhões. Exemplo seguido pelo Uruguai em maio de 2006 (US$ 650 milhões) e também pelo México que em junho de 2006 anunciou o pagamento antecipado de US$ 7,0 bilhões ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.

                          A redução do endividamento externo na região foi acompanhada pela reestruturação geral dos perfis de dívida, com vistas a diminuir a exposição à conjuntura externa, em particular aos movimentos de juros e câmbio. Países como Argentina, Brasil, Panamá, Peru e México resgataram bônus externos, seguindo a estratégia de eliminar as obrigações com títulos com taxas de juros mais altas e condições mais restritivas. Ao mesmo tempo, realizaram novas emissões externas com custos mais favoráveis e, em alguns casos, com títulos denominados em moeda doméstica. Este foi o caso, por exemplo, do Brasil que realizou a maior colocação de bônus em moeda local já efetuada por uma economia emergente. A primeira emissão brasileira de bônus soberanos em reais, com prazo de 10 anos e taxa nominal de juros de 12,5%, totalizou US$ 1,5 bilhões. Também o governo da Colômbia e empresas e bancos brasileiros efetuaram captação de recursos externos mediante a emissão de títulos em moeda doméstica.

                          No total, em 2005, os países da América Latina e Caribe captaram US$ 46 bilhões mediante a emissão de bônus (US$ 3,9 bilhões denominados em moeda local). Desse total, 53% corresponderam a emissões soberanas e 47% a emissões de bancos e empresas. As emissões de bônus internacionais da região representaram 29% das emissões totais dos países emergentes em 2005.

                          <<20061020-06.gif|Fonte: Cepal (2006), Quadro A.11 , p. 181.
                          Notas:
                          (1) FOB - Free on Board.
                          (2) Dados preliminares.|>>

                          Extraído de Cepal (2006), p. 130.

                          Extraído de Cepal (2006), p. 28.

                          Extraído de Cepal (2006), p. 28.

                          <<20061020-12.gif|Fonte: Cepal (2006), Quadro A.17, p. 187. Elaboração Própria.
                          Nota:
                          (1) Inclui as emissões soberanas, bancárias e empresariais.
                          (2) Dados preliminares.|>>

                          Perspectivas. De acordo com a Cepal, embora o crescimento da economia mundial tenha mantido o vigor nos primeiros meses de 2006, a maior parte dos prognósticos aponta para uma desaceleração no segundo semestre, a qual se prolongaria em 2007. As previsões de uma menor taxa de crescimento se relacionam com a acentuação de alguns riscos presentes na economia mundial há algum tempo, mas que em meados de 2006 começam a ampliar a volatilidade dos mercados financeiros e dos mercados de produtos básicos.

                          Os riscos globais estão vinculados, sobretudo, ao crescente déficit em conta corrente dos Estados Unidos. Esse déficit de grande magnitude mantém latente a possibilidade de um ajuste brusco que poderia afetar o nível da demanda nesse país. Dada sua condição de motor da economia mundial, isto poderia amplificar os efeitos adversos dessa retração no resto do mundo.

                          Porém, o mais inquietante no imediato é o possível efeito do aumento do preço do petróleo na taxa de inflação e nas expectativas dos consumidores dos EUA. Os temores ante a possibilidade de uma aceleração de inflação têm induzido a elevação nas taxas de juros de curto prazo. Embora, a elevação da taxa de curto prazo não tenha repercutido de forma proporcional nas taxas de juros de longo prazo, é provável que esteja chegando ao fim o período de baixas taxas de juros reais que caracterizaram grande parte da presente década.

                          Outro risco para os países da região reside no aprofundamento da incerteza e volatilidade nos mercados financeiros internacionais. A partir do mês de maio, com a crescente inquietação nesses mercados, caiu a demanda por bônus emitidos pelas economias emergentes, o que deu origem a aumentos do risco-país e a pressões, de alcance variado, sobre as moedas desses países.

                          Para a Cepal, a região da América Latina e Caribe está muito melhor preparada do que em outras oportunidades para enfrentar um eventual aumento da incerteza e volatilidade dos mercados financeiros internacionais. É claro que há diferenças de monta entre os países, dado que o grau de vulnerabilidade depende dos seguintes fatores: i) saldo de transações correntes e, conseqüentemente, dependência de recursos externos; ii) as contas externas e os termos de troca; iii) nível e, sobretudo, estrutura dos ativos e passivos externos, e iv) a situação fiscal.

                          O relatório considera que a questão-chave do momento atual é em que medida o menor crescimento da economia norte-americana pode ser compensado pelo maior nível de atividade econômica na Europa e no Japão. Na avaliação da Cepal, em um contexto de acelerado crescimento das economias asiáticas, em especial da China e de continuidade da expansão econômica na Europa e no Japão, estaria configurado um processo de ajuste ordenado da economia mundial. Nesse cenário seria possível reduzir os desequilíbrios globais com manutenção ou leve desaceleração do ritmo de expansão mundial.

                          O impacto dessa situação nos países da América Latina e Caribe dependerá fundamentalmente do ritmo de desaceleração da atividade mundial, que sem dúvida influirá negativamente sobre os preços dos produtos básicos e das exportações. As perspectivas de médio prazo para os países da região dependeriam, sobretudo, do tipo de vínculos comercial existentes entre os países.

                          Em um cenário de ajuste suave e ordenado da economia mundial, as economias com maiores margens de manobra seriam aquelas dotadas de uma estrutura de exportação mais diversificada por país de destino e uma menor proporção comparativamente de exportações ao mercado norte-americano. Em outras palavras, o menor ritmo de crescimento dos Estados Unidos afetaria muito mais o México e a América Central do que América do Sul, cuja estrutura de exportação é muito mais diversificada, com participação crescente da China e outras economias asiáticas.

                          No cenário atual de moderada desaceleração da economia global, a Cepal estima que o PIB dos países da América Latina e Caribe crescerá 5,0% em 2006. Para 2007, as projeções indicam uma leve redução do ritmo de crescimento do PIB para uma taxa próxima a 4,5%. Este prognóstico de menor crescimento em 2007 se deve principalmente ao menor dinamismo da demanda interna na maioria dos países da região e a expectativa de suave desaceleração da economia mundial.

                          Para o ano de 2006, projeta-se uma taxa de crescimento de cerca de 7% no Cone Sul, devido à expansão de 7,6% que registrará a Argentina, impulsionada pelo dinamismo da demanda interna, sobretudo do investimento. Para 2007, as estimativas indicam um arrefecimento do ritmo de crescimento da economia argentina, com variação prevista para o PIB de 5,5%, o que se traduzirá igualmente no menor crescimento do Cone Sul, com variação esperada do PIB entre 5% e 5,5%.

                          Para os países andinos, a previsão é de expansão de 6,2% em 2006, puxada pelas elevadas taxas de crescimento da Venezuela. Para 2007, a Cepal estima um menor dinamismo para essa sub-região: o incremento do PIB deve se situar no intervalo de 5% a 5,5%.

                          As projeções da Cepal indicam que, a exemplo do que vem ocorrendo nos últimos anos, o crescimento do Brasil e do México será inferior ao da média da América Latina. Para o Brasil, as perspectivas de expansão para 2006 são que a demanda interna seguirá respondendo à política expansiva das autoridades monetária e fiscal, com o PIB crescendo 4%. Para 2007, as estimativas da instituição apontam para uma variação de igual magnitude.

                          Para o México, a Cepal prevê um crescimento do PIB de 4,0% em 2006, devido, principalmente, à influência positiva da expansão da economia dos Estados Unidos. Para 2007, as previsões apontam para o incremento do produto em 3,5%.

                          Na avaliação da Cepal, uma conjuntura caracterizada por preços de produtos básicos levemente menores e tipos de câmbio reais um pouco mais altos coloca um novo desafio para as finanças públicas dos países da região. Todavia, favorece a busca de um padrão de especialização mais diversificado e que suponha maior conteúdo de conhecimento. Nesse sentido, a definição do estilo de crescimento da região nos próximos anos abriria um espaço às políticas produtivas. Igualmente, é fundamental aumentar a taxa de investimento que, embora tenha mostrado una significativa recuperação, segue sendo insuficiente para assegurar um crescimento sustentado a um ritmo necessário para permitir as melhorias que a situação social de América Latina e Caribe requer.

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                          Publicado em: 17/04/2025

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