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                          Carta IEDI

                          Edição 369
                          Publicado em: 26/06/2009

                          Impactos da Crise Global sobre os Fluxos de Investimento Direto Estrangeiro

                          Sumário

                          A Carta IEDI de hoje apresenta um resumo de um estudo recente – Assessing the impact of the current financial and economic crisis on global FDI flows – realizado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) sobre os impactos da crise global nos fluxos de investimento direto estrangeiro (IED). Segundo esse estudo, o ano de 2008 marca o fim do ciclo de expansão do investimento internacional, iniciado em 2004, responsável pelo recorde de US$ 1, 7 trilhões alcançado pelos fluxos de IDE em 2007. Com a crise financeira e econômica em curso, esses fluxos devem cair 15% em 2008, mantendo-se em trajetória de declínio ao longo de 2009, em razão da retração dos investimentos das empresas transnacionais.

                          Na avaliação dos pesquisadores da Unctad, a retração dos fluxos de IDE no biênio 2008-9 é resultado da combinação de dois fatores que afetaram os investimentos tanto no âmbito doméstico como no âmbito internacional. Em primeiro lugar, a capacidade de investimentos das empresas foi restringida pela retração dos recursos financeiros em resultado da queda dos lucros e da contração do crédito, e consequente elevação do custo de financiamento. Em segundo lugar, a propensão a investir foi negativamente afetada pela deterioração das expectativas, sobretudo nas economias avançadas mais fortemente atingidas pela pior recessão da era do pós-guerra. No início de 2009, a percepção de risco extremamente elevado levou inúmeras empresas a cortar custos e a retrair seus investimentos para se proteger de eventual piora na atividade econômica mundial.

                          O estudo ressalta que há marcada diferença entre regiões e setores. Segundo as estimativas preliminares da Unctad, os fluxos de IDE destinados às economias avançadas contraíram 9,4% em 2008 frente a 2007. Epicentro da crise, os Estados Unidos registram expressiva elevação nos fluxos de IDE em 2008 em comparação com 2007: 37,8%. Dois fatores explicam esse resultado aparentemente paradoxal. De um lado, as matrizes estrangeiras transferiram recursos para suas filiais americanas em dificuldade financeira. De outro lado, a crise criou novas oportunidades de investimento na economia americana. Em contraste, caíram acentuadamente os fluxos de IDE destinados a Itália (66,8%), Alemanha (55,8%), Reino Unido (-50,7%). Com raras exceções, dentre as quais o Japão, houve declínio generalizado nos investimentos no exterior de empresas das economias avançadas, em razão tanto do colapso do valor de mercado das matrizes como da elevação do custo de financiamento e da deterioração das expectativas.

                          Em razão da rápida desaceleração econômica, os países desenvolvidos foram mais intensamente afetados do que os países em desenvolvimento, que continuaram registrando crescimento em 2008, não obstante o arrefecimento do ritmo de expansão. Em conjunto, os fluxos de IDE para essas economias registraram crescimento de 7,2% frente a 2007, enquanto os investimentos no exterior subiram 2,0%. Com exceção da Ásia Ocidental, todas as regiões em desenvolvimento registraram fluxos maiores de IDE em 2008. Em 2009, no entanto, estima-se que essas regiões sofrerão uma dramática retração nos fluxos de IDE.

                          Em termos dos setores de atividade, utilizando as informações sobre fusões e aquisição transfronteiras como proxy, o estudo destaca que a crise global afetou mais seriamente, em 2008, os fluxos de IDE para serviços financeiros, indústria automobilística, materiais de construção, indústrias produtoras de bens intermediários e de alguns bens de consumo. Todavia, em consequencia da crise, os fluxos de IDE para outras atividades, dos setores primários a serviços não-financeiros, foram rapidamente atingidos. Praticamente em todos os setores, houve declínio nas fusões e aquisições transfronteiras, cujos valores caíram fortemente em 2008 e início de 2009 em comparação com o recorde histórico de 2007. Já os investimentos em novas plantas (greenfield investiments) foram menos afetados em 2008. Porém, deverão registrar expressivo declínio em 2009, uma vez que inúmeros projetos estão sendo cancelados e/ou adiados por grandes empresas transnacionais, sobretudo, nos países desenvolvidos.

                          O estudo ressalta que, no curto prazo, o impacto negativo sobre os fluxos de IDE é dominante. Resultados preliminares da pesquisa realizada pela Unctad com as empresas transnacionais revelam que quatro quintos dos entrevistados avaliam como negativo os efeitos da crise financeira e da recessão econômica sobre seus planos de investimento. No médio prazo, as perspectivas para o IDE são, contudo, de mais difícil avaliação em virtude da gravidade da presente crise.

                          A própria crise produz, entretanto, efeitos favoráveis ao IDE, uma vez que acarreta a reestruturação de indústria e o barateamento de ativos, criando oportunidades de investimento. O estudo fornece vários exemplos de projetos recentes de investimentos de transnacionais nos mais variados setores em países como Brasil, China, Índia e Malásia. Igualmente, a existência de largos montantes de recursos financeiros dos fundos de riqueza soberana de países emergentes e a rápida expansão de novas atividades tais como indústrias relacionadas às novas energias e/ou meio-ambiente devem contribuir para desencadear um novo ciclo de expansão dos fluxos de IDE.

                          Embora considere que o cenário mais provável para a recuperação dos fluxos de IDE tenha a forma de U, com ampliação gradual dos fluxos a partir de em 2011, a Unctad sustenta que as políticas públicas têm um importante papel a desempenhar no sentido da restauração das condições favoráveis para uma rápida reativação dos fluxos de IDE.

                          Os Fluxos de Investimento Direto em 2008. De acordo com a Unctad, o ano de 2008 marca o fim do ciclo de expansão do investimento internacional, iniciado em 2004, responsável pelo recorde de US$ 1,7 trilhões alcançado pelos fluxos de IDE em 2007. Com a crise financeira e econômica em curso, esses fluxos devem cair 15% em 2008, mantendo-se em trajetória de declínio ao longo de 2009, em razão da retração dos investimentos das empresas transnacionais.

                          Na avaliação dos pesquisadores da Unctad, a retração dos fluxos de IDE no biênio 2008-9 é resultado da combinação de dois fatores que afetaram os investimentos tanto no âmbito doméstico como no âmbito internacional. Em primeiro lugar, a capacidade de investimentos das empresas foi restringida pela retração dos recursos financeiros em resultado da queda dos lucros e da contração do crédito, e consequente elevação do custo de financiamento. Em segundo lugar, a propensão a investir foi negativamente afetada pela deterioração das expectativas, sobretudo nas economias avançadas mais fortemente atingidas pela pior recessão da era do pós-guerra. No início de 2009, a percepção de risco extremamente elevado levou inúmeras empresas a cortar custos e a retrair seus investimentos para se proteger de eventual piora na atividade econômica mundial.

                          O estudo ressalta que há marcada diferença entre regiões e setores. Epicentro da crise, os Estados Unidos registram expressiva elevação nos fluxos de IDE em 2008 em comparação com 2007: 37,8%, segundo as estimativas preliminares da Unctad. Dois fatores explicam esse resultado aparentemente paradoxal. De um lado, as matrizes estrangeiras transferiram recursos para suas filiais americanas em dificuldade financeira. De outro lado, a crise criou novas oportunidades de investimento na economia americana. Em contraste, de acordo com as estimativas, caíram acentuadamente os fluxos de IDE destinados a Itália (66,8%), Alemanha (55,8%), Reino Unido (-50,7%).

                          Em razão da rápida desaceleração econômica, os países desenvolvidos foram mais intensamente afetados do que os países em desenvolvimento, que continuaram registrando crescimento em 2008, não obstante o arrefecimento do ritmo de expansão. Em conjunto, os fluxos de IDE para essas economias registraram crescimento de 7,2% frente a 2007. Com exceção da Ásia Ocidental (-14,2%), em razão da retração dos fluxos de IDE destinado à Turquia, todas as regiões em desenvolvimento registraram fluxos maiores de IDE em 2008. Em 2009, no entanto, estima-se que essas regiões sofrem uma dramática retração nos fluxos de IDE.

                          A região que mais atraiu investimento estrangeiro foi a Ásia do Sul, Leste e Sudeste, que recebeu em 2008, segundo as estimativas preliminares, praticamente metade dos fluxos destinados ao mundo em desenvolvimento (US$ 275,2 bilhões), puxado pela China e Índia. Com a liderança do Brasil e do Chile, a América Latina registrou aumento de 9,4% dos fluxos de IDE em 2008 (US$ 139,3 bilhões ante US$ 127 bilhões em 2007).

                          Em termos dos setores, a crise global afetou mais seriamente em 2008 os fluxos de IDE para serviços financeiros, indústria automobilística, materiais de construção, indústrias produtoras de bens intermediários e de alguns bens de consumo. Todavia, em consequencia da crise, os fluxos de IDE para outras atividades, dos setores primários a serviços não-financeiros, foram rapidamente atingidos. Praticamente em todos os setores, houve declínio nas fusões e aquisições transfronteiras, cujos valores caíram fortemente em 2008 e início de 2009 em comparação com o recorde histórico de 2007. Já os investimentos em novas plantas (greenfield investiments) foram menos afetados em 2008. Porém, deverão registrar expressivo declínio em 2009, uma vez que inúmeros projetos estão sendo cancelados e/ou adiados por grandes empresas transnacionais, sobretudo, nos países desenvolvidos.

                          No que se refere aos fluxos de investimento direto no exterior, o grupo das economias avançadas registrou declínio de 11,9% em 2008 na comparação com 2007. Com raras exceções – dentre as quais o Japão, cujas empresas estavam líquidas e com baixa relação dívida/lucro –, houve recuo generalizado nos investimentos no exterior de empresas das economias avançadas, em razão tanto do colapso do valor de mercado das matrizes como da elevação do custo de financiamento e da deterioração das expectativas. Nos Reino Unido, as empresas transnacionais realizaram um corte de 50% em seus investimentos no exterior. Nos Estados Unidos, o considerável repatriamento de lucros e o endividamento junto às filiais no exterior se traduziram igualmente na queda dos investimentos no exterior.

                          Já os investimentos no exterior das empresas de economias emergentes e em desenvolvimento cresceram, de acordo com as estimativas, 2% em 2008 frente ao ano anterior. Em conjunto essas economias respondem por 15% dos fluxos mundiais de investimentos diretos no exterior. Contudo, no primeiro trimestre de 2009, esses fluxos começaram a recuar. As economias asiáticas, e em particular a China, se mantêm como a fonte predominante dos investimentos no exterior do mundo em desenvolvimento. Igualmente, transnacionais de países da Ásia Ocidental, com amplos fundos de riqueza soberana, também continuam realizando investimento no exterior.

                          Embora respondam por apenas 3% dos fluxos mundiais de investimentos diretos no exterior, as transacionais das economias em transição também elevaram seus investimentos em 2008. Em comparação com 2007, os fluxos cresceram 13,9%, atingindo US$ 58,3 bilhões.

                          A crise global afetou as atividades de algumas das grandes empresas transnacionais de países em desenvolvimento, como a brasileira Gerdau, que com a retração da demanda por aço registrou declínio de venda, produção e lucro em 2008, e a cingapurense Capitaland, que cancelou planos de construção de doze shoppings na China. Outras transnacionais, em contraste, se beneficiaram do crescimento sustentado de seus mercados internos e do suporte governamental às suas estratégias de internacionalização. Estes foram, entre os outros, os casos das transacionais chinesas da área de energia, que reforçaram sua atuação no exterior, aproveitando os baixos preços dos ativos, da Quanta Computer de Taiwan que anunciou importante investimento na tecnologia touch screen, e da Lenovo e outras empresas chinesas que resolveram focar a China e seu vasto mercado doméstico. Também no setor de telecomunicações, a Qatar Telecom, a América Movil (México) e Zain (Kuwait) se beneficiaram de mercados bastante robustos e devem ampliar ainda mais sua presença internacional.

                          De acordo com o relatório, ainda não existe informação precisa sobre os fluxos de IDE por setor de atividade em 2008. Todavia, há informação disponível com corte setorial para as fusões e aquisições transfronteiras, operações que respondem pelo grosso dos fluxos de investimentos direto. As estimativas realizadas, a partir dos dados coletados em janeiro de 2009, indicam que em 2008 houve um declínio generalizado no valor das F&A transfronteiras em praticamente todos os setores. As principais exceções foram as indústrias do setor primário e de agronegócio. Os elevados preços das commodities no primeiro semestre de 2008 impulsionaram as fusões e aquisições nas indústrias petrolíferas, de mineração e extração.

                          Já as fusões e aquisições na indústria de transformação, que responde por um terço do estoque mundial estimado de IDE, caíram em 29%, embora de forma bastante desigual. Algumas indústrias, como vestuário e texto, produtos de borracha e plástico, registraram recuo médio de mais de 80% no valor das fusões e aquisições transfronteiras, enquanto outras indústrias, como de equipamento elétrico eletrônico, registram decréscimos substancialmente menores (-12,2%). Em contraste, as atividades de fusões e aquisições transfronteiras em alimentos, bebida e fumo subiram 76% em 2008, atingindo o montante de US$ 122 bilhões (US$ 69,2 bilhões em 2007).

                          No setor de serviço, responsável por três quinto do estoque global de IDE, os fluxos de fusões e aquisições transfronteiras caíram 29% em 2008 na comparação com 2007. À exceção do segmento de serviços empresariais, as grandes empresas transnacionais de serviço foram fortemente atingidas pela desaceleração econômica, com destaque para construção (- 79%), hotéis (-68%), comércio (36%), transporte, armazenagem e comunicação (-32%) e eletricidade, gás e água (-28%). No setor financeiro, houve queda de 36% no valor das fusões e aquisições transfronteiras, não obstante as grandes operações envolvendo instituições bancárias nos Estados Unidos e na Europa. Relativamente mais líquidos que os seus congêneres, os bancos japoneses estão retornando com força no cenário internacional como investidores, aproveitando os baixos preços das ações, repetindo um movimento observado na década de 1980.

                          Fonte: Unctad. FDI/TNC database. Extraído de Unctad, 2009, p. 6.

                          Fonte: Unctad. Cross-border M&A database. Extraído de Unctad, 2009, p. 7.

                          Os Canais de Transmissão da Crise para os Fluxos de Investimentos Diretos. Os primeiros impactos da maior instabilidade financeira sobre fluxos mundiais de investimento direto se fizeram sentir no início do segundo semestre de 2007 quando da eclosão da crise das hipotecas subprime no mercado americano. No início de 2008, vários indicadores apontavam para o menor crescimento da economia mundial e a deterioração das condições de investimento e da confiança dos empresários. Porém, com o colapso do Lehman Brothers e da AIG nos Estados Unidos, e de instituições financeiras na Europa como o Fortis e o Dexia, a crise ganhou magnitude, tornando-se um fenômeno global, atingindo inúmeras economias avançadas e emergentes. Rapidamente a crise no sistema financeiro transbordou para os demais setores da atividade econômica, em razão da brutal contração de crédito e da consequente retração do consumo e das vendas.

                          Ondas sucessivas de choque atingiram desde as indústrias extrativas e de transformação às infra-estruturas de serviços. As indústrias mais sensíveis ao ciclo de negócios – como automobilística, aeronáutica, eletrônica, construção e siderurgia – e alguns serviços, como transporte aéreo, foram especialmente afetados pela deterioração das expectativas e retração das vendas. Já em atividades com mercados mais resistentes, tais como alimentos e bebidas e telecomunicação, o impacto da crise foi bem menor.

                          A crise financeira e econômica global em curso afetou severamente os investimentos tanto pela via da capacidade financeira das empresas como da propensão a investir em cenário sombrio. Vários fatores financeiros restringiram a capacidade de investimentos das empresas. Com a retração dos recursos financeiros em resultado da queda dos lucros, que reduziu a capacidade de autofinanciamento, e da contração do crédito, e consequente elevação do custo de financiamento, várias empresas transnacionais cortaram seus planos de investimento no exterior, bem como em seus países de origem.

                          Nos Estados Unidos, no último trimestre de 2008, as quinhentas maiores empresas de capital aberto incorreram em prejuízo da ordem de US$ 198 bilhões, o primeiro resultado negativo desde 1935. Mais de um quarto dessas empresas registrou perdas no ano de 2008. Também as 300 maiores empresas europeias, que integram o DJ Stock 600, registraram perdas da ordem de 2,2 bilhões no último trimestre de 2008, contra lucro de 75,1 bilhões no mesmo período de 2007. Um terço deve contabilizar prejuízo no ano de 2008.

                          As perspectivas negativas para o desempenho da economia, em particular, nos países avançados, que estão enfrentando a pior recessão da era do pós-guerra, tiveram um impacto considerável sobre a propensão das empresas em ampliar a produção tanto em âmbito doméstico como em âmbito internacional. Com as principais economias avançadas em recessão, projeções realizadas por diversos organismos internacionais indicam retração do PIB mundial em 2009. A queda do produto mundial só não será maior em razão do dinamismo das economias em desenvolvimento, que, embora em ritmo menos intenso, continuarão registrando taxas positivas.

                          Os planos de investimento das empresas também são afetados pela percepção de risco e incertezas. No início de 2009, a percepção de risco extremamente elevado levou inúmeras empresas a cortar custos e a retrair seus investimentos para se proteger de eventual piora na atividade econômica mundial. Vários indicadores de confiança – por exemplo, índice Ifo World Economic Climate, o índice de confiança do consumidor do Conference Board nos Estados Unidos e o Economic Confidence Index da Zona do Euro – registraram declínio, atingindo os seus níveis baixos em termos históricos. Nesse contexto, inúmeras empresas declaram a intenção de adotar programas de redução de custos, os quais incluem desinvestimentos, demissões, adiamento ou cancelamento dos programas de investimento.

                          Resultados preliminares da pesquisa de intenção de investimento realizada pela Unctad indicam que os planos de investimento das grandes empresas transnacionais já foram significativamente afetados pela crise em curso. Os projetos de investimento que visam à conquista de mercados foram os mais diretamente afetados pela crise, em particular, aqueles voltados para as economias avançadas. Porém, com o desenrolar da crise e a queda nos preços das commodities e de energia, também começaram a ser revisto os planos de investimento focados nas economias emergentes e em desenvolvimento.

                          O declínio na propensão a investir no exterior assume diferentes formas, incluindo desinvestimento e reestruturação. Além disso, difere também em função do modo de entrada: novas plantas ou ampliação (greenfield) ou aquisição de plantas existentes. O estudo revela que tem ocorrido uma ampliação nas operações de desinvestimento e reestruturação. As empresas que fecham fábricas ou linhas de produção e/ou vendem ativos para outras empresas melhoram sua posição financeira, especialmente ao reduzir o grau de endividamento. A crise atingiu diretamente as atividades de fusão e aquisição transfronteiras em 2008, levando a interrupção de programas de privatização que estavam em curso em alguns países, como Suécia, França e México.

                          Para os investimentos em novas plantas, os impactos da crise só se fizeram sentir no último trimestre de 2008. Esse tipo de investimento chegou inclusive a crescer nos três primeiros trimestres de 2008, com o número de novos investimentos superando 15 mil, muito acima do nível registrado no mesmo período do ano anterior. Mas com o aprofundamento da crise em setembro, houve marcada queda no número de projetos de instalação e/ou ampliação de plantas no exterior, com retração de 30% entre em setembro e dezembro. Nos três primeiros meses de 2009, houve inúmeros anúncios de cancelamento ou adiamento de projetos, o que sugere que essa tendência ganhou ímpeto.

                          Implicações Políticas e Perspectivas. A atual crise financeira e econômica se difere em natureza e em magnitude das crises do passado por três razões principais. A primeira é que a crise se originou nos países desenvolvidos e rapidamente se espalhou para a economia mundial como um todo devido a existência de vários canais de difusão e contágio associado à globalização. A segunda razão é que essa crise não é incidente usual do ciclo econômico. Sua natureza é muito mais profunda, pois decorre de debilidades estruturais e deficiências na regulamentação do sistema financeiro, como a falta de transparência e de controle de mecanismo e a incapacidade de prevenir comportamentos de busca de rentabilidade em curto prazo. E finalmente, porque pode refletir mudanças nas relações de poder entre as economias avançadas e os países emergentes e em desenvolvimento que possuem reservas internacionais consideráveis e cuja importância na economia mundial tem aumentado.

                          De acordo com Unctad, essa situação tem potencialmente duas consequencias para os fluxos de IDE em 2009 e anos subsequentes. Em primeiro lugar, seus efeitos sobre a dinâmica dos fluxos de IDI devem ser duradouros, em razão do forte impacto sobre o crescimento dos mercados e recursos financeiros. Por isso, em 2009, deve ocorrer uma queda substancial do IDE. Em segundo lugar, criou grande incerteza em relação à evolução futura dos fluxos de IDE e, sobretudo, as condições e o momento de retomada da expansão.

                          O estudo identifica cinco fatores positivos que explicam porque várias empresas transnacionais permanecem, mesmo no meio de uma crise tão severa, comprometidas com seus planos de investimento no exterior:

                          1. Algumas grandes economias emergentes, como Brasil, China e Índia se mantêm como local extremamente favorável para o IDE, em particular, aqueles com ênfase na conquista de mercados. Essas economias mantiveram em 2008 taxas de crescimento expressivas quando comparadas com as economias avançadas. Com o cenário prospectivo para as economias avançadas continua se deteriorando, os investidores deverão favorecer opções relativamente mais rentáveis no mundo em desenvolvimento. Por essa razão, há vários projetos recentes de investimentos de transnacionais nos mais variados setores em países como Brasil, China, Índia e Malásia.

                          2. A própria crise produz efeitos favoráveis ao IDE, uma vez que acarreta a reestruturação de indústria e o barateamento de ativos, criando oportunidades de investimento. Dependendo da oportunidade e circunstância, a aquisição de ativos desvalorizados pode impulsionar os investimentos das transnacionais mais agressivas e líquidas tanto em economias avançadas como naquelas em desenvolvimento. Flutuações expressivas nas taxas de câmbio e queda nos preços das ações podem desencadear rodadas de aquisições em vários países e uma possível onda de consolidação em certas indústrias. Algumas empresas já tiraram vantagem das oportunidades surgidas nos setores de serviço financeiros, petróleo e gás, automotivo e mineração de metais.

                          3. As empresas estão ainda empenhadas em ampliar seus níveis de internacionalização no médio prazo, o que constitui um indicador significativo de ampliação futura dos fluxos de IDE.

                          4. Os países emergentes, e em particular, aqueles com grande dotação de recursos naturais, tornaram-se uma importante fonte de IDE, seja mediante a estratégia de internacionalização de suas transnacionais, seja, mediante as atividades de investimentos dos seus fundos de riqueza soberana. As transnacionais dos países emergentes continuarão a investir ativamente no exterior, fortalecendo os fluxos de IDE destinados aos países em desenvolvimento, como Vietnã. A existência de largos montantes de recursos financeiros dos fundos de riqueza soberana de países emergentes tem possibilitado o envolvimento crescente desses fundos com o IDE. Há exemplos abundantes de compra de participação acionária por esses fundos em empresas e instituições financeiras em economias avançadas. Embora tenham recuado quando do aprofundamento da crise, os investimentos dos fundos soberanos devem voltar a crescer no médio prazo.

                          5. A existência de muitos nichos de alto crescimento em várias indústrias também deve contribuir para desencadear um novo ciclo de expansão dos fluxos de IDE. Entre essas atividades em rápida expansão, destacam-se as relacionadas às novas energias e/ou meio-ambiente, à biotecnologia, à nanotecnologia e suas aplicações, ao envelhecimento populacional.

                          Saber se esses fatores positivos irão contrabalançar as restrições financeiras ao financiamento dos investimentos permanece, contudo, uma questão aberta.

                          É muito provável que os fluxos de IDE para os países em desenvolvimento se reduzam em 2009 de forma mais acentuada do que a observada até o primeiro trimestre deste ano. Alguns países com economia aberta, instabilidade macroeconômica e sistemas financeiros mais frágeis estão em situação particularmente vulnerável, casos, por exemplo, de várias economias asiáticas, sobretudo, da Coreia, Turquia e Paquistão. Em outros, a forte queda das exportações de manufaturados e de minerais em reflexo da contração da demanda das economias avançadas provavelmente irá afetar os planos de investimento das transnacionais que operam no mercado local com foco nas exportações. Já os países menos desenvolvidos, que estão defrontando com desafios sem pretendentes com a retração dos fluxos de recursos oficiais e privados, correm o risco de ficar ainda mais marginalizados em um cenário de competição acirrada por fluxos de IDE.

                          Embora considere que o cenário mais provável para a recuperação dos fluxos de IDE tenha a forma de U, com ampliação gradual dos fluxos a partir de em 2011, a Unctad sustenta que as políticas públicas têm um importante papel a desempenhar no sentido da restauração das condições favoráveis para uma rápida reativação dos fluxos de IDE. Dentre as ações e posturas recomendadas destacam-se reformas estruturais que assegurem a maior estabilidade do sistema financeiro global e adoção de políticas de estímulo às inovações e aos investimentos.

                          O estudo ressalta igualmente a importância da renovação do compromisso com um ambiente aberto aos fluxos de investimento direto estrangeiro e no exterior. Isto porque, embora permaneçam ainda em um nível relativamente baixo, o percentual de mudanças restritivas no total das alterações realizadas na regulamentação dos fluxos de IDE aumentou de 10% para 27% entre 2003 e 2007. Novas restrições foram introduzidas na área de extração mineral e em relação às aquisições dos fundos de riqueza soberana das economias emergentes. Todavia, com a crise, os fundos de riqueza soberana passaram a ser cortejados. Se a crise piorar não é improvável que a política das economias avançadas em relação aos investimentos dos fundos soberanos seja completamente reavaliada.

                          Para os países em desenvolvimento, a crise financeira global coloca o desafio adicional de como manter e atrair fluxos de investimento direto em contexto de severa recessão econômica mundial. Programas de estímulo econômico podem ser um incentivo ao IDE, mas como muitos países em desenvolvimento não têm condições financeiras de competir com sucesso com os programas adotados pelos países desenvolvidos, a Unctad alerta que a disputa por IDE pode resultar em redução de exigências sociais e ambientais, com consequencias adversas para o desenvolvimento sustentável.

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                          Carta IEDI
                          Carta IEDI n. 1313 - Perda de tração industrial
                          Publicado em: 13/05/2025

                          No 1º trim/25, a indústria cresceu menos do que vinha crescendo na segunda metade de 2024, sendo que bens de capital e intermediários ficaram entre os que mais perderam dinamismo.

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                          Carta IEDI n. 1312 - Indústria em 2024: mais produção, mais emprego
                          Publicado em: 09/05/2025

                          Em 2024, devido ao crescimento robusto e difundido entre os diferentes ramos da indústria, o emprego industrial se expandiu, superando o aumento do emprego do agregado do setor privado.

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                          Carta IEDI n. 1311 - Um começo de ano fraco e incerto
                          Publicado em: 30/04/2025

                          Em fev/25, a indústria brasileira somou cinco meses consecutivos sem crescimento, um quadro que se agrava com o aumento das incertezas mundiais.

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                          Carta IEDI n. 1310 - Destaques do comércio exterior do Brasil
                          Publicado em: 28/04/2025

                          Em 2024, o Brasil comprou mais e de mais parceiros internacionais do que conseguiu ampliar e diversificar nossas exportações de manufaturados, o oposto do que precisaria fazer para enfrentar as mudanças atuais no comércio mundial.

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                          Carta IEDI n. 1309 - Brasil e Mundo: divergência do desempenho industrial no final de 2024
                          Publicado em: 17/04/2025

                          No 4º trim/24, enquanto a indústria brasileira se desacelerava, o dinamismo da indústria global ganhou força, apesar do aumento de tensões e incertezas.

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                          Carta IEDI n. 1308 - Brasil no Panorama Global da Indústria
                          Publicado em: 07/04/2025

                          O Brasil melhora sua posição no ranking global da manufatura, mas sem ampliar sua participação no valor adicionado total do setor.

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                          Carta IEDI n. 1307 - Indústria estável, mas com poucos freios na entrada de 2025
                          Publicado em: 28/03/2025

                          Embora a produção industrial tenha ficado estagnada em janeiro de 2025, foram poucos os ramos e os parques regionais a registrarem declínio.

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                          Carta IEDI n. 1306 - A Indústria por Intensidade Tecnológica: especificidades de 2024
                          Publicado em: 14/03/2025

                          A indústria de transformação ampliou sua produção em 2024, apresentando especificidades em relação à última década, o que também inclui a distribuição deste dinamismo entre suas diferentes faixas de intensidade tecnológica.

                           

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                          Carta IEDI n. 1305 - O Brasil e a guerra comercial entre EUA e China
                          Publicado em: 10/03/2025

                          Há muitos produtos coincidentes que Brasil e China exportam para os EUA e nossos embarques poderiam ser favorecidos com a imposição de alíquotas sobre as exportações chinesas.

                           

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                          Carta IEDI n. 1304 - Ano de crescimento, mas com inflexão à vista
                          Publicado em: 28/02/2025

                          Em 2024, todos os grandes setores econômicos se expandiram e a um ritmo superior ao de 2023, mas uma desaceleração já se avizinha, como resultado do aumento da Selic.

                           

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