Carta IEDI
Os Indicadores de Inovação no Brasil
O IEDI tem enfatizado a necessidade do setor produtivo brasileiro adquirir capacidade inovativa própria e, nesse sentido, vem formulando diversas sugestões de aperfeiçoamento e complementação para as políticas de inovação tecnológica.
É também entendimento do Instituto que as políticas e programas públicos avancem para uma concepção mais ampla de inovação. Inovar pode ter por base e origem a atividade de P&D, mas, a rigor, inovação envolve muitas outras áreas: um novo canal de distribuição, uma nova sistemática de vendas, novas modalidades de financiamento ou de relacionamento das empresas com seus fornecedores, fixação de marcas ou de padrões de relacionamento da empresa com a sociedade e com o meio ambiente.
Nem mesmo a política de inovação tecnológica deixa de envolver outros aspectos além dos estritamente tecnológicos. As políticas de inovação tecnológica tendem a ser direcionadas também para o ambiente e o arcabouço financeiro, jurídico e de regulação, os quais restringem ou ampliam a capacidade de inovação tecnológica por parte das empresas. Por isso, as mais bem sucedidas políticas científicas, tecnológicas e industriais são integradas e tratadas como parte de um mesmo conjunto sistêmico, e priorizam o desenvolvimento, disseminação e uso de novos produtos, serviços e processos de forma interativa entre as variadas fontes de inovação. Estas incluem as empresas e demais organismos, particularmente aqueles de P&D e prestação de serviços tecnológicos, mas também os agentes de financiamento e organismos de apoio a questões legais, comerciais, de marketing etc.
Nesta edição da Carta IEDI são apresentados indicadores de inovação tecnológica por parte das empresas brasileiras. São breves resultados de uma ampla pesquisa em vias de publicação sobre a política de inovação no Brasil e em outros países.
O Brasil em geral e as empresas industriais em particular, caracterizam-se por níveis extremamente baixos de gastos em P&D. Não é surpresa, portanto, que os resultados dos esforços inovativos no Brasil sejam precários.
Um indicador do esforço inovativo - a evolução do número de patentes depositadas nos EUA por empresas, instituições de P&D e indivíduos de alguns países em desenvolvimento - mostra os exemplos de Coréia do Sul e Formosa que, partindo de uma situação de inovatividade nula no final dos anos 60 depositaram, no início dos anos 1990 mais de 500 patentes por ano nos EUA, chegando a 3.000 em 1998. Em 2001, o número referente à Formosa era de 5.371 e o da Coréia, 3.538. Países como a Austrália e Espanha, ainda que em menor grau, também aumentaram de maneira expressiva o patenteamento nos EUA. A Austrália passou de 340 em 1984 para 720 em 1998 e 875 em 2001 e a Espanha de 78 em 1984 para 248 em 1998 e 269 em 2001. Já o Brasil apresentou apenas um tímido aumento: de 20 em 1984 para 74 em 1998 e 110 em 2001.
A baixa intensidade de gastos em P&D por parte do setor privado brasileiro é ilustrada pelos dados da pesquisa realizada pelo IBGE (PINTEC) em 2000. Em 1999, os dispêndios do setor privado em P&D brasileiro representavam 0,4% do PIB, enquanto na maioria dos países desenvolvidos esse percentual alcançava 2%. A partir PINTEC, é possível obter um quadro mais detalhado dos gastos do setor industrial com o desenvolvimento de novos produtos e processos.
Apenas uma parcela pequena das empresas brasileiras pode ser considerada inovadora. De fato, apenas 31% das empresas industriais brasileiras com mais de 10 empregados foram inovadoras no período 1998-2000 (introduziram no mercado produtos e/ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados nos três anos anteriores à pesquisa). Taxas de inovação superiores a 60% são encontradas em países como Suécia, Áustria, Canadá, Dinamarca, Suíça, Irlanda, Holanda e Alemanha. Dentre os países da OCDE, o Brasil encontra-se à frente apenas de Portugal (26%) e próximo de Turquia (32%) e Espanha (35%).
Os dados também mostram uma elevada participação dos gastos com aquisição de ativos tangíveis (principalmente máquinas e equipamentos) nos gastos totais com inovação no Brasil (cerca de 50%). Por outro lado, os gastos em atividades internas de P&D são baixos: 17% do total. Ou seja, os investimentos em P&D das empresas brasileiras são majoritariamente direcionados à aquisição de máquinas e equipamentos.
Já nos países mais avançados a categoria com maior participação no total dos gastos em inovação são as atividades internas de P&D, que se aproximam ou superam 50% do total, como nos casos de Austrália, Bélgica, EUA, Holanda, França, Alemanha, Finlândia e Suécia.
Leia mais sobre o tema no texto a seguir.
Insuficiente capacitação das empresas nacionais. Uma importante diferença do setor industrial brasileiro em comparação aos países mais avançados e em relação a outros que perseguiram, com sucesso, a industrialização nos últimos 20 anos, é que as empresas industriais brasileiras, com poucas exceções, não desenvolveram capacitação inovativa própria. Em geral, o esforço tecnológico acumulado ao longo do processo de substituição de importações limitou-se àquele necessário à produção propriamente dita. A insuficiente capacitação das empresas nacionais para desenvolver novos processos e produtos, aliada à ausência de padrão nítido de especialização da estrutura industrial brasileira e à sua deficiente integração com o mercado internacional, constituem-se em elementos potencialmente inibidores do processo de industrialização brasileiro.
Do ponto de vista tecnológico, algumas das principais características da indústria brasileira são:
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A utilização de tecnologia estrangeira durante o processo de substituição de importações não foi, excetuando-se alguns casos, acompanhada por esforço tecnológico interno além da adaptação de tais tecnologias às condições locais e de pequenas melhorias tecnológicas.
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Existe um número insuficiente de firmas com atividades formais de P&D.
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Mesmo entre essas empresas, os gastos em P&D tendem a se concentrar em pagamento de pessoal; como conseqüência, os esforços em P&D, com algumas exceções, limitam-se a melhorias incrementais de processo e produto, não alcançando inovações mais radicais.
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O reduzido esforço de P&D leva a que as empresas tenham um conhecimento limitado e parcial de seus próprios processos produtivos.
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As ligações técnicas externas à firma são muito tênues; isto é verdadeiro tanto para relações entre empresas quanto no que se refere a relações entre empresas e universidades e instituições de pesquisa.
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A possibilidade do estabelecimento de relações técnicas entre empresas é dificultada pela excessiva heterogeneidade tecnológica da indústria.
Tais deficiências tecnológicas não representaram empecilho significativo ao crescimento econômico durante o processo de substituição de importações. Na fase mais recente, todavia, elas constituem-se em importante gargalo. Assim, o Brasil em geral, e as empresas industriais em particular, caracterizam-se por níveis extremamente baixos de gastos em P&D. Não é surpresa, portanto, que os resultados dos esforços inovativos no Brasil sejam precários.
Patentes. Como um indicador do esforço inovativo, a tabela a seguir mostra a evolução do número de patentes depositadas nos EUA por empresas, instituições de P&D e indivíduos de alguns países em desenvolvimento. Deve-se ressaltar, inicialmente, a Coréia do Sul e Formosa que, partindo de uma situação de inovatividade nula no final dos anos 60 depositaram, no início dos anos 1990 mais de 500 patentes por ano nos EUA, chegando a 3.000 em 1998. Países como a Austrália e Espanha, ainda que em menor grau, também aumentaram de maneira expressiva o patenteamento nos EUA. A Austrália passou de 340 em 1984 para 720 em 1998 e 875 em 2001 e a Espanha de 78 em 1984 para 248 em 1998 e 269 em 2001. No outro extremo, países como Brasil e México, não mostraram nenhum aumento significativo ao longo do período, obtendo em 1998, 74 e 57 e em 2001, 81 e 110 patentes nos EUA, respectivamente.

Tais resultados inexpressivos, do ponto de vista do patenteamento, têm sido acompanhados por alterações significativas nos fluxos monetários com o exterior referentes a pagamentos e recebimentos por tecnologia. De fato, ao longo dos anos 90 ocorreram importantes mudanças institucionais no que se refere ao tratamento dos contratos de transferência de tecnologia com conseqüências significativas nas remessas dirigidas para o exterior. No seqüência, serão apresentadas as principais características da atividade inovativa da indústria brasileira com base nas informações da Pesquisa Industrial - Inovação Tecnológica – 2000 (PINTEC) realizada pelo IBGE em 2002.
A atividade inovativa da indústria brasileira: os dados da PINTEC. A baixa intensidade de gastos em P&D por parte do setor privado brasileiro é ilustrada na tabela 2. Em 1999, os dispêndios do setor privado em P&D representavam 0,4% do PIB, enquanto na maioria dos países desenvolvidos esse percentual alcançava 2%. Recentemente, a partir de pesquisa realizada pelo IBGE (PINTEC), é possível obter um quadro mais detalhado dos gastos do setor industrial com o desenvolvimento de novos produtos e processos.

A PINTEC optou, do ponto de vista metodológico, por utilizar em grande medida o modelo harmonizado proposto pelo organismo estatístico europeu (EOROSTAT), mais especificamente a terceira versão do Community Innovation Survey, do qual participam 15 membros da União Européia. Tal procedimento, apesar de suscitar algumas críticas (já que o padrão de inovação de países como o Brasil difere significativamente daquele dos países mais avançados), permite, com algum cautela, uma comparação. As informações referem-se a inovações tecnológicas de produto e processo (excluindo-se, portanto as inovações organizacionais) e é adotada a abordagem de sujeito, isto é, as informações obtidas são relativas ao comportamento, às atividades empreendidas, aos impactos e aos fatores que influenciam a empresa no que se refere à sua estratégia relativa à inovação.
O gráfico 1 mostra a taxa de inovação (a porcentagem das empresas que introduziram no mercado produtos e/ou processos novos ou tecnologicamente aprimorados nos três anos anteriores à pesquisa) no Brasil e em países da OCDE. Uma parcela pequena das empresas brasileiras pode ser considerada inovadora. De fato, apenas 31% das empresas industriais brasileiras com mais de 10 empregados foram inovadoras, no período 1998-2000, no sentido proposto pela pesquisa. Taxas de inovação superiores a 60% são encontradas em países como Suécia, Áustria, Canadá, Dinamarca, Suíça, Irlanda, Holanda e Alemanha. Dos países pesquisados o Brasil encontra-se à frente apenas de Portugal (26%) e próximo de Turquia e Espanha.

Quando o universo se restringe a PME (empresas industriais com número de empregados entre 10 e 50) a situação se repete, com algumas diferenças interessantes. A literatura normalmente sugere que deve se esperar uma menor taxa de inovação para as PME, tendo em vista uma relação positiva entre tamanho da empresa e taxa de inovação. O gráfico 1 confirma esta hipótese com a importante exceção da Itália onde as PMEs são mais inovadoras do que as empresas de maior porte, fato que pode ser explicado pelo dinamismo dos distritos industriais de PME daquele país. A taxa de inovação das PME brasileiras é também muito baixa (26%), bem distante de países como Holanda, Alemanha e Dinamarca (com índices superiores a 60%), porém, acima de seis países entre os quais Portugal, Espanha e México. O resultado sugere que as PME brasileiras são relativamente mais inovadoras quando comparadas com a totalidade da indústria.
O padrão geral de baixa taxa de inovação da indústria brasileira está associado a gastos relativamente elevados realizados pelas empresas em atividades consideradas inovativas, um resultado que é surpreendente. A relação gastos em inovação por parte do setor privado / faturamento é de 3,7% para as empresas industriais brasileiras, equivalente à média da União Européia e superior à de 11 países inclusive Reino Unido (3,2%), Itália (2,6 %) e Austrália (1,9%), como mostra o gráfico 2.

Com algumas diferenças, esta mesma situação se repete se o indicador utilizado é o de gastos com inovação por parte do setor industrial como porcentagem do PIB. No Brasil o índice está muito abaixo da média de países menos desenvolvidos de uma amostra da União Européia. Em 1999, as empresas brasileiras investiram em atividades inovativas, 1,91% do PIB, um índice superior ao de Portugal (1,82%), Austrália (1,65%) e Espanha (1,16%) e próximo à Itália (1,97%).
A explicação para o aparente paradoxo se encontra quando são detalhados os gastos em inovação segundo as diferentes categorias. Basicamente as atividades que as empresas empreendem visando a introdução no mercado de novos produtos e processos são de dois tipos. Aquelas associadas à P&D (Pesquisa básica, aplicada ou desenvolvimento experimental) e outras não relacionadas com P&D, envolvendo principalmente a aquisição de bens, serviços e conhecimento externos. As pesquisas de inovação tentam captar os recursos alocados em tais atividades expressos em valores monetários o que permite a comparação entre países e setores e a confrontação com outras variáveis econômicas (faturamento, valor agregado, etc.) As categorias de atividades levantadas na PINTEC são relativamente similares àquelas das pesquisas da União Européia: atividades internas de P&D, atividades externas de P&D (realizadas por outras organizações e adquirias pela empresa), aquisição de outros conhecimentos externos (licenciamento, patentes, etc), aquisição de máquinas e equipamentos utilizados na introdução de novos produtos e processos, treinamento (aquele orientado ao desenvolvimento de novos produtos e processos), introdução de inovações no mercado (pesquisa de mercado, publicidade etc) e projeto industrial (desenho, especificações técnicas etc).

Predominância dos gastos com ativos tangíveis. Na tentativa de se entender o paradoxo acima apontado, o gráfico 4 discrimina as diferentes categorias de gasto em inovação para o Brasil e para os países da OCDE. Visando simplificar a análise, as categorias de gasto em inovação foram agrupadas em quatro: P&D interno, P&D externo, aquisição de máquinas e equipamentos e outros.
O comentário inicial pertinente diz respeito à diferença marcante na estrutura de gastos dos diferentes países. Os dados mostram uma elevada participação dos gastos com aquisição de ativos tangíveis (principalmente máquinas e equipamentos) no Brasil. Por outro lado, os gastos em atividades de P&D são baixos comparativamente aos outros países, com exceção de Portugal. Este fato está relacionado ao fato de que os investimentos em P&D das empresas brasileiras são majoritariamente direcionados à aquisição de máquinas e equipamentos.
Observa-se que na maior parte dos países mais avançados a categoria com maior participação no total dos gastos em inovação são as atividades internas de P&D. Este é o caso de países como Espanha, Austrália, Bélgica, EUA, Holanda, França, Alemanha, Finlândia e Suécia. Os outros países intermediários como Portugal, Itália, Reino Unido, Irlanda e Dinamarca têm a categoria de “outros gastos” com maior participação no total de gastos em inovação. Nesta, incluem-se principalmente gastos em treinamento e qualificação de mão-de-obra e engenharia.
Como convém sublinhar, a única exceção desta seleção de países é o Brasil, cujos gastos em máquinas e equipamentos representam a principal categoria em termos de participação no total de gastos em inovação.

Gastos em inovação em setores selecionados. Os dados a seguir (Gráficos 5 a 9, cuja fonte é o IBGE/Pintec, 2002) referem-se aos gastos com inovação segundo as diferentes categorias (atividades internas de P&D; aquisição externa de P&D; aquisição de outros conhecimentos externos; aquisição de máquinas e equipamentos; treinamento; introdução das inovações tecnológicas no mercado; e projeto industrial e outras preparações técnicas, sendo que as três últimas categorias estão agrupadas em “outros”).
De forma geral, os gastos com aquisição de máquinas e equipamentos são bastantes elevados (acima de 40% do total) em praticamente 80% dos setores. Isso corrobora as conclusões quando da análise do Gráfico 4. Na indústria brasileira mostra a inovação é muitas vezes vista como resultante da aquisição de máquinas e equipamentos, ao contrário do que observa-se nos países mais avançados, onde as atividades internas de P&D são muito mais importantes para a inovação do que a aquisição de ativos tangíveis na maior parte dos setores.
Os dados do gráfico 5 referem-se a um conjunto de setores da agroindústria e segmentos normalmente classificados como tradicionais: alimentos, bebidas, fumo, têxteis, confecções, couros e calçados e madeira. À exceção da indústria do fumo (aproximadamente 55% do total dos gastos), todos os demais setores têm baixa intensidade de gastos com atividades internas de P&D. Aquisição externa de P&D e de outros conhecimentos é irrelevante para a totalidade de setores. A participação dos gastos com aquisição de máquinas e equipamentos mostra-se expressiva em todos os casos. Na indústria de couros e calçados os dados sugerem que uma parcela expressiva de seus gastos (aproximadamente 40%) dirigem-se a atividades de treinamento, introdução das inovações tecnológicas no mercado e projeto industrial.
Nos setores de papel e celulose, petróleo e o complexo químico-petroquímico, inclusive plásticos, é baixa participação dos gastos com atividades internas de P&D, aquisição externa de P&D e de outros conhecimentos, como mostra o gráfico 6. A exceção é o setor de refino de petróleo, onde a participação das atividades de P&D internas no total dos gastos com inovação é de aproximadamente 68%, devido aos altos investimentos da Petrobrás. Em praticamente todos os outros segmentos predomina a aquisição de equipamento (alcançando 80% no setor de fabricação de celulose e outras pastas). Em produtos farmacêuticos, é elevada participação da categoria “outros”, devido aos gastos com marketing e outras atividades relacionadas à introdução de novos produtos no mercado.
O gráfico 7 ilustra a situação de um grupo de setores de insumos básicos - siderurgia, minerais não metálicos, metais não ferrosos e produtos de metais -, onde predominam os gastos com engenharia, treinamento e projeto industrial, o que é compatível com a maior especialização destes setores no que é conhecido como produção de “commodities”. Uma evolução em direção à produção de bens de maior valor agregado, provavelmente levaria a uma situação diferente e não seriam observados percentuais tão baixos para os gastos com P&D. Estes não chegam a 5% do total para os dois primeiros setores e não ultrapassam 10% no caso dos dois últimos.





No grupo de setores normalmente considerados como “difusores do progresso técnico” ou intensivos em P&D (gráfico 8), como esperado, a participação dos gastos com atividades internas de P&D sobre o total de gastos com inovação é maior do que nos demais grupos. Porém, mesmo neste caso, somente em dois setores os gastos com atividades de P&D interna superam a aquisição de máquinas e equipamentos: fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática e fabricação de aparelhos e equipamentos de comunicações. Nos outros quatro setores (fabricação de máquinas e equipamentos; fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos; fabricação de material eletrônico básico; e fabricação de equipamentos de instrumentação médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos, equipamento para automação industrial, cronômetros e relógios), a participação dos dispêndios com aquisição de máquinas e equipamentos é superior a dos gastos com atividades internas de P&D. Assim, não é surpresa que o padrão de intensidade de gastos em P&D seja significativamente inferior ao acorrido nos países da OCDE.
Finalmente, o gráfico 9 reúne a indústria automobilística (inclusive auto-peças), outros equipamentos de transporte e os setores restantes da estrutura industrial brasileira (mobiliário, reciclagem e outros). Nestes casos, destaca-se o setor de fabricação de outros equipamentos de transporte, onde a presença da Embraer é significativa e que apresenta a maior participação relativa de gastos em P&D interna (mais de 40% do total de gastos em inovação) de toda indústria nacional. Nos outros segmentos a participação dos gastos com aquisição de máquinas e equipamentos no total de dispêndios é bastante superior à participação das demais categorias, com destaque para o setor de reciclagem, com percentual de 91%. A indústria automobilística apresenta uma característica diferenciada, pois apesar da baixa intensidade dos gastos em P&D, tem uma participação expressiva dos gastos em engenharia (incluídos na categoria “outros”).
Os dados da tabela ao fim do texto confirmam que, com exceção dos setores de refino de petróleo e outros equipamentos de transporte, é baixa a relação gastos em P&D / faturamento nos diferentes setores da indústria brasileira.
P&D interno e cooperação com institutos de pesquisa e universidades. Comparado com outros países, o índice brasileiro (em média de 0,64%) é bem inferior ao da maioria dos países da OCDE, onde a participação dos gastos em atividades de P&D internas sobre vendas é sempre superior a 1,0%, com exceção da Itália (0,8%), Espanha (0,6%) e Portugal (0,2%). Nos EUA o índice é de 2,3%, na França, 2,6%, na Alemanha, 3% e Suécia, 4,1%.

A esse padrão de baixa intensidade de gastos internos em P&D se associa uma reduzida cooperação com universidades e institutos de pesquisa, como mostra o gráfico 11 onde estão registradas as participações das firmas que cooperaram com institutos de pesquisa e universidade no total de firmas inovadoras no Brasil e na OCDE. O Brasil é o país com menor cooperação: apenas 1,2% das empresas inovadoras tem algum vínculo com instituições de ensino e pesquisa.
Na maior parte dos países, a percentagem de firmas que cooperam com institutos de pesquisa e universidades encontra-se entre 9% e 13%. Os países escandinavos (Noruega, Finlândia e Suécia) são aqueles que apresentam um maior índice de cooperação entre firmas e universidades e institutos de pesquisa (19%, 38,2% e 44,5%, respectivamente). A forte tradição de cooperação entre empresas e universidades e instituto de pesquisa voltada para a inovação, nos países nórdicos, associa-se a um clara padrão de especialização e a um forte envolvimento dos governos de tais países no processo de capacitação inovativa das empresas locais.

Brasil e Espanha. Além de possuírem uma estrutura industrial relativamente semelhante, Brasil e Espanha têm uma taxa de inovação praticamente igual. Enquanto o indicador no Brasil é de 0,64%, na Espanha é de 0,59%. Este item é dedicado a uma comparação entre os dois países.
Os gráficos 12 e 13 mostram a estrutura dos gastos em inovação para os dois países no ano de 2000. Pode-se constatar, em primeiro lugar, que o setor produtivo espanhol tem uma maior participação de gastos com atividades de P&D interno e externo no total dos gastos em inovação (30,8% e 9,5%, respectivamente) quando comparado ao setor produtivo brasileiro (16,7% e 2,8%). Por outro lado, mais da metade dos gastos com inovação (52,2%) são dedicados à aquisição de máquinas e equipamentos no Brasil; na Espanha esta participação é de 41,3%. As participações da aquisição de outros conhecimentos externos, treinamento e introdução das inovações tecnológicas no mercado são relativamente semelhantes nos dois países, enquanto os gastos com projeto industrial e outras preparações técnicas são relativamente maiores no Brasil do que na Espanha (14,8% e 5.3% respectivamente).
Dados para o ano 2000 mostram que a participação dos gastos em P&D sobre vendas nos setores mais dinâmicos é maior na Espanha do que no Brasil, como ocorre principalmente no setor de equipamentos de telecomunicações. Este setor é estratégico e as atividades de inovação de forma geral e de P&D são fundamentais para o aumento da competitividade. Os outros principais setores onde os gastos de P&D sobre vendas na Espanha são significativamente maiores em relação ao Brasil são: têxteis e vestuário, borracha e plástico, farmacêutica, metalurgia e material eletrônico básico. Já os gastos em atividades de P&D sobre vendas no Brasil se destacam principalmente nos setores de produtos siderúrgicos e máquinas, aparelhos e material elétrico.


