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                          Carta IEDI

                          Edição 78
                          Publicado em: 03/11/2003

                          Pobre Mercado Rico

                          Sumário

                          Como explicar declínios da produção industrial tão altos como os que ocorreram entre 1994 e 2003 nas indústrias têxtil e de vestuário, calçados, produtos de couro, eletrônicos de consumo, produtos de plásticos, produtos para construção? Nesses casos, as quedas foram de 10% a 30%, chegando a percentuais ainda maiores em alguns casos. Vários outros setores cresceram muito pouco no período, como beneficiamento de arroz, laticínios, indústria farmacêutica, madeira e móveis e bebidas.

                          Esta edição da Carta IEDI trás estimativas da evolução do mercado interno consumidor brasileiro, este que já foi a “jóia do coroa” da economia brasileira. Formado ao longo dos intensos processos de industrialização e urbanização que o Brasil experimentou no século XX, o dinamismo do mercado interno foi a base da atração de investimentos externos para o país e o alicerce de uma economia que alcançou uma das maiores taxas de crescimento do mundo e passou a figurar entre as dez maiores do planeta.

                          Nos últimos oito anos, após um grande impulso provocado pela estabilização do Real, o mercado interno para produtos industriais se retraiu e é isto o que está na base de resultados tão negativamente expressivos para importantes setores industriais brasileiros.

                          Entre 1993 e 1995 (não há dados para 1994), a massa real de rendimentos cresceu 36%, o que alimentou as expectativas de uma forte evolução do mercado interno e orientou a formação de capacidade produtiva em segmentos industriais de bens duráveis (casos de automóvel, geladeira, bens eletrônicos de consumo) e do setor de não duráveis.

                          As apostas com relação ao dinamismo do mercado consumidor também condicionaram a demanda por ativos da privatização de empresas estatais e a formação de capacidade de fornecimento de serviços de utilização generalizada pela população (energia elétrica, telefonia etc). Muitos dos investimentos foram frustrados devido à trajetória do mercado interno consumidor nos anos seguintes.

                          Segundo os dados da PNAD do IBGE e tendo como base o ano de 1995, a massa real de rendimentos aumentou pouco até o último ano disponível (2002): apenas 12,1% para o agregado de Brasil ou o correspondente a 1/3 do crescimento da massa de rendimentos apurada entre 1993 e 1995. Em termos anuais a média do crescimento entre 1995 e 2002 foi 1,6%, muito próxima ao crescimento populacional, de forma que o mercado consumidor potencial brasileiro cresceu vegetativamente no período.

                          A estimativa para 2003 é de queda da massa de rendimentos real de 4%, resultando em uma taxa média de crescimento da massa real de rendimentos de 1% para o período 1995/2003.

                          As causas deste desempenho foram o baixo crescimento do número de pessoas ocupadas (1,7% ao ano no período) e a redução do rendimento real da população (-0,7% ao ano entre as pessoas ocupadas). Note-se que a execução de programas sociais e de cunho previdenciário, amenizaram os efeitos do baixo dinamismo do mercado de trabalho e da queda dos rendimentos sobre a massa de rendimentos da população.

                          Se é levada em conta a transferência da renda destinada ao consumo de bens industriais, agrícolas e serviços para os serviços públicos cujos preços e tarifas indexados aumentaram bem mais do que os preços “livres”, o resultado é que de 1995 a 2003, o mercado para bens primários, industriais e serviços (que não os serviços indexados) retraiu-se 10,5% ou 1,4% em termos médios anuais.

                          Em suma, o mercado interno cresceu pouco nos últimos 8 anos devido ao baixo crescimento do emprego e ao declínio do rendimento real da população. Políticas de rendas atenuaram os efeitos desse fraco dinamismo, que, no entanto, se impôs devido ao baixo crescimento da economia que gerou insuficiente número de empregos e concorreu para o crescimento proporcionalmente maior de ocupações de menor rendimento e proteção social. Adicionalmente, houve uma transferência relevante da renda destinada ao consumo de bens industriais, agrícolas e serviços para os serviços públicos indexados, o que reduziu o mercado consumidor para bens industriais. O resultado final foi um declínio severo da produção de vários setores da indústria voltados ao mercado interno.

                          Mercado interno e desempenho de setores industriais produtores de bens de consumo. O tema tem preocupado intensamente o setor empresarial e coloca-se como um dos grandes desafios econômicos brasileiros na presente década.

                          Trata-se do mercado interno consumidor, este que já foi a “jóia do coroa” da economia brasileira. Formado ao longo dos intensos processos de industrialização e urbanização que o Brasil experimentou no século XX, o dinamismo do mercado interno foi a base da atração de investimentos externos para o país e o alicerce de uma economia que alcançou uma das maiores taxas de crescimento do mundo no século passado e passou a figurar entre as dez maiores do planeta.

                          Seguramente, essa foi uma trajetória que vigorou desde o início da industrialização, nos anos 1930, até a década de 1970. Nas décadas seguintes, o recuo relativo da indústria e um processo inflacionário prolongado – este interrompido somente a partir de 1994 com o Plano Real – bloquearam o dinamismo do mercado interno. Nos últimos oito anos, após um grande impulso provocado pela estabilização do Real, o mercado interno estagnou e é isto o que está na base de resultados tão negativamente expressivos para importantes setores industriais brasileiros.

                          O gráfico abaixo mostra a evolução dos segmentos de bens de consumo, incluindo os segmentos de bens de consumo duráveis e os de bens semiduráveis e não duráveis entre 1994 e 2003. Os dados evidenciam o baixo crescimento geral (0,7% em média anualmente), e, em especial, o baixo crescimento de semi-duráveis e não duráveis (0,5%). Destaque também para o desempenho modesto de alimentação e bebidas básicos para consumo doméstico (1%), e para os declínios acentuados da categoria semiduráveis, um segmento que reúne bens como móveis e artigos de cama, mesa e banho (-3,8% ao ano), e de bens duráveis que não automóveis (-0,6%).

                          O gráfico seguinte seleciona alguns setores entre os de maior relação com o mercado interno. Entre os anos de 1994 e 2003, as indústrias têxtil e de vestuário, calçados, produtos de couro, eletrônicos de consumo, produtos de plásticos, produtos para construção, declinaram a sua produção para períodos janeiro-agosto entre 10% a 30%, chegando a percentuais ainda maiores em alguns casos. Vários outros setores cresceram muito pouco no período, como beneficiamento de arroz, laticínios, indústria farmacêutica, madeira e móveis e bebidas.

                          Se considerarmos o ano de 2003 com relação a 2002 (períodos de janeiro-agosto), vários segmentos apresentaram recuo considerável de produção, casos das indústrias têxtil e vestuário, farmacêutica, material de construção, aparelhos de TV, rádio e equipamentos de som, mobiliário, artigos de material plástico, calçados e bebidas, o que indica uma contração acentuada do mercado interno no corrente ano.

                          A massa de rendimentos e o mercado interno. Os dados da PNAD, recentemente divulgados pelo IBGE para o ano de 2002, permitem uma avaliação da trajetória recente do mercado interno de bens de consumo. A base desse mercado é a massa de rendimentos das pessoas. Sabemos que o mercado interno também responde ao volume de crédito ao consumidor na economia, mas sabemos também que este é pequeno na economia e beneficia apenas alguns segmentos industriais, como os bens de maior valor unitário, notadamente os bens duráveis de consumo (automóveis, eletrodomésticos, etc). O volume de crédito às pessoas físicas no Brasil corresponde a apenas 5% do PIB. A massa de rendimentos das pessoas de 10 anos e mais calculada com base na PNAD representava 50% do PIB em 2002, de modo que a base do mercado de consumo no Brasil é, de fato, constituída pela a massa de rendimentos.

                          O Plano Real proporcionou um forte aumento da massa de rendimentos da população. Entre 1993 e 1995 (não há dados para 1994), a massa real de rendimentos cresceu 36%. Foi isso o que alimentou as expectativas de uma forte evolução do mercado interno e orientou a formação de capacidade produtiva em segmentos de bens duráveis (casos de automóvel, geladeira, bens eletrônicos de consumo) e mesmo do setor de não duráveis. As apostas com relação ao dinamismo do mercado consumidor também condicionaram a demanda por ativos da privatização e a formação de capacidade de fornecimento de serviços de utilização generalizada pela população (energia elétrica, telefonia etc). Muitos dos investimentos foram frustrados devido à trajetória do mercado interno consumidor nos anos seguintes.

                          Como mostram os dados a seguir, tendo como base o ano de 1995, a massa real de rendimentos aumentou pouco até o último ano disponível (2002): apenas 12,1% para o agregado de Brasil (exclui a zona rural da região Norte), ou o correspondente a 1/3 do crescimento da massa de rendimentos apurada entre 1993 e 1995. Na região Sudeste que concentra grande parcela do mercado interno e da atividade econômica, o crescimento foi ainda mais baixo: 8,8%. Em termos anuais a média do crescimento entre 1995 e 2002 foi 1,6%, muito próxima ao crescimento populacional, de forma que o mercado consumidor potencial brasileiro cresceu vegetativamente no período. 

                          Para o total de Brasil, foi feita uma estimativa de evolução da massa real de rendimentos para o corrente ano, prevendo-se uma queda de 4%. Com isso, desde 1995 até este ano, o aumento acumulado da massa de rendimentos seria reduzido para 8% e o crescimento médio anual para apenas 1%.

                          Fatores responsáveis do baixo crescimento da massa real de rendimentos. Os dados da PNAD também permitem averiguar os fatores gerais responsáveis pelo fraco crescimento da massa de rendimentos entre os anos de 1995 e 2002. Primeiramente, devido ao crescimento baixo da economia, as oportunidades de emprego criadas somente permitiram um crescimento no número de pessoas ocupadas de 12,3% no período como um todo e 1,7% como média anual. A região Nordeste foi a de menor aumento da ocupação: apenas 1% ao ano.

                          Note-se, no entanto, que o número de pessoas com 10 anos e mais com rendimento aumentou mais: 23,9% (ou 3,1% em média anualmente) no período, certamente correspondendo à execução de programas sociais e de cunho previdenciário, o que amenizou o efeito do baixo dinamismo do mercado de trabalho sobre a massa de rendimentos da população.

                          O outro fator destacado foi o declínio do rendimento médio real do trabalho. Considerando o rendimento médio de todos os trabalhos das pessoas de 10 anos e mais ocupadas, este caiu 5,1% no período como um todo e 0,7% como média anual. A queda do rendimento médio refletiu uma evolução do emprego que, além de baixa, foi acompanhada do maior proporção de pessoas ocupadas em condições de trabalho (sem carteira e por conta própria) e setores (setores não industriais) onde a remuneração é menor. Note-se que as maiores quedas do rendimento real ocorreram nas regiões Norte e Sudeste.

                          Aqui também cabe observar o efeito de políticas de renda: considerando todos os rendimentos das pessoas de 10 anos e mais com renda, o rendimento médio caiu menos, -3,4% no período como um todo e 0,5 em média anualmente.

                          O efeito da indexação de tarifas e serviços públicos. Devemos levar em consideração o efeito da indexação de tarifas e serviços públicos sobre o mercado consumidor de “bens livres”, ou seja, dos bens não submetidos à indexação, englobando os bens industriais e agrícolas, além de outros serviços. Sendo indexados, os preços dos serviços públicos evoluíram muito mais do que os demais bens e serviços e, por serem de utilização essencial por parte da população, isto se traduziu em maiores gastos com estes serviços, o que subtraiu mercado para os demais bens e serviços.

                          A tabela a seguir mostra a evolução dos preços livres e monitorados.

                          A estimativa apresentada no gráfico a seguir deduz da massa de rendimentos real os gastos com bens e serviços com preços administrados, tomando por base a participação desses gastos nos orçamentos familiares, que era de 15% no início de 1995 e que hoje (agosto/2003) já sobe a 28%. (Dados do Boletim Diário, Bradesco, 10 de Setembro de 2003.)

                          O resultado é que de 1995 a 2003, o mercado para bens primários, industriais e serviços (que não os serviços indexados) retraiu-se 10,5%. Entre 1995 e 2002, a queda foi de 5,7%.

                          A composição da massa de rendimentos. É possível avaliar a composição da massa de rendimentos em termos regionais e origem do rendimento. Os dados são para 2002 (a última PNAD) e mostram a grande concentração do mercado consumidor na Região Sudeste com 55% do total da massa de rendimentos e 43% da população.

                          Mostram também que os rendimentos do trabalho (de todas as fontes) constituem quase 80% da massa de rendimentos. Os rendimentos do trabalho principal de empregados com carteira representam 28% do total da massa de rendimentos (esse percentual é de 31% na região Sudeste e 18% na região Nordeste); os rendimentos dos empregados sem carteira, 9%; trabalho por conta própria, 16%; empregados domésticos, 2%; militares e estatutários, 9%; rendimentos de outros trabalhos que não o principal, 15%; rendimentos de outras fontes, 21% (21% na região Sudeste e 26% no Nordeste).

                          Observações finais. Em suma, o mercado interno cresceu pouco nos últimos 8 anos devido ao baixo crescimento do emprego e ao declínio do rendimento real da população. Políticas de rendas atenuaram os efeitos desse fraco dinamismo, que, no entanto, se impôs devido ao baixo crescimento da economia que gerou insuficiente número de empregos e concorreu para o crescimento proporcionalmente maior de ocupações de menor rendimento e proteção social.

                          Adicionalmente, houve uma transferência relevante da renda destinada ao consumo de bens industriais, agrícolas e serviços para os serviços públicos indexados, o que reduziu o mercado consumidor para bens industriais.

                          O resultado final foi um declínio severo da produção de vários setores da indústria voltados ao mercado interno.

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