Análise IEDI
2017: a recuperação industrial
Depois de passar por uma das mais graves crises de sua história, a indústria brasileira iniciou sua trajetória de recuperação em 2017, a princípio alavancada por fatores particulares, tais como os efeitos da supersafra agrícola e da liberação dos recursos do FGTS, mas que foram progressivamente sendo substituídos por outros mais amplos, como o aumento da renda real devido ao forte recuo da inflação, a queda dos juros e o retorno do crédito às famílias. As exportações em ascensão também concorreram para a recuperação cíclica.
A alta da produção industrial em dezembro frente a novembro chegou a 2,8%, já descontados os efeitos sazonais, um resultado que diverge do padrão visto ao longo do ano passado em função de sua magnitude. Espera-se que este seja o primeiro de uma sequência de resultados mais robustos. Se isso se concretizar em 2018, será muito bem-vindo para a dinâmica de recuperação industrial, já que um dos aspectos ausentes na maior parte do ano passado foi justamente um ritmo de crescimento mais vigoroso.
De fato, o avanço de 2,5% da indústria no acumulado de 2017 ficou muito aquém de compensar as perdas de 2016 (-6,4%), isto é, de apenas um dos três anos de queda pelos quais o setor passou. Em dezembro último, o nível de produção ainda estava quase 14% abaixo do pico de junho de 2013. Há muito chão pela frente para que a indústria brasileira volte a ser o que era em termos de produção e geração de empregos.
Além disso, a despeito da disseminação das variações positivas entre os diferentes ramos industriais, que atingiu 19 dos 26 pesquisados pelo IBGE, a força do crescimento do setor em 2017 ainda esteve concentrada em poucos deles, notadamente na produção de veículos, reboques e carrocerias, que contribuiu com 1,22 ponto percentual na alta geral de 2,5% - ou seja, quase 50% do resultado.
O quarto trimestre, contudo, traz um bom indicativo na direção de que veio para ficar um ritmo mais forte de crescimento não só para a indústria como um todo, mas para cada um dos macrossetores que o compõem, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Indústria geral: +1,3% no 1º trim/17; +0,4% no 2º trim/17; +3,2% no 4º trim/17 e +4,9% no 4º trim/17;
• Bens de Capital: +5,0%; +0,9%; +7,6% e +10,7%, respectivamente;
• Bens Intermediários: +0,1%; +0,6%; +1,7% e +3,9%;
• Bens de Consumo Duráveis: +11,2%; +9,0%; +14,6% e +17,8%;
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: +0,7%; -2,8%; +2,9% e +2,8%, respectivamente.
No final de 2017, a indústria girava em uma velocidade duas vezes maior do que o agregado no ano sugere: 4,9% no quarto trimestre contra 2,5% nos doze meses do ano. Além disso, passada a desaceleração do segundo trimestre em função do tropeço em alguns segmentos de semi e não duráveis e de bens de capital, a tendência se mostra favorável tendo em vista a sequência de crescimento gradativamente mais intenso que se observa no setor.
O melhor desempenho em 2017 coube a bens de consumo duráveis, com alta de 13,3% no acumulado de janeiro-dezembro, chegando muito próximo de fazer frente à queda de 2016 (-14,4%). No último trimestre de 2017, crescia a um ritmo ainda maior: 17,8%, sob influência principal da indústria automobilística, tanto na produção de veículos como de outros equipamentos de transporte, mas também dos demais bens, como eletrodomésticos e móveis.
Em seguida, bens de capital apresentaram expansão de 6,0% em 2017, com direito a aceleração substancial no último trimestre (+10,7%). Pouco a pouco, todos seus segmentos voltaram ao azul, com exceção de bens de capital à agricultura, que havia crescido muito na passagem no final de 2016 até meados de 2017 em função da supersafra. No quarto trimestre, até a produção de bens de capital para a indústria (+4,5%) e para o setor de energia (+4,5%) voltaram ao positivo.
Refletindo em boa medida o movimento de reativação da produção industrial, o macrossetor de bens intermediários manteve uma trajetória de resultados trimestrais positivos e cada vez maiores. O crescimento de +3,9% no quarto trimestre, puxado por defensivos agrícolas e pelos intermediários da metalurgia e veículos, foi importante para garantir o resultado de +1,6% em 2017 como um todo.
Por fim, bens de consumo semi e não duráveis pouco avançaram na compensação de perdas passadas. A alta em 2017 foi de apenas 0,9%, mas como mostram as variações trimestrais, a modéstia de seu desempenho deveu muito ao declínio de abril-junho, condicionado pelas produções de alimentos, bebidas, farmacêuticos e combustíveis. Na segunda metade do ano, a rota ascendente foi retomada, com variações de +2,9% e +2,8% no terceiro e quarto trimestre.
Segundo dados do IBGE, a indústria geral assinalou avanço de 2,8% em dezembro frente a novembro de 2017 na série com dados dessazonalizados, a maior alta desde junho de 2013 (3,5%). Frente ao mesmo mês do ano anterior, a produção industrial cresceu 4,3%, 8ª taxa positiva consecutiva nesta comparação.
No ano, a indústria geral acumulou um acréscimo de 2,5%, comparativamente às variações de -3,0% em 2014, -8,3% em 2015 e -6,4% em 2016.
Categorias de Uso. Entre as categorias de uso, na comparação com o mês imediatamente anterior, os destaques ficaram para o setor produtor de bens de consumo duráveis (5,9%), bens de consumo semi e não duráveis (3,0%) e de bens intermediários (1,7%). Bens de capital (0,0%) mostrou estabilidade, interrompendo o crescimento iniciado em abril de 2017, período em que acumulou avanço de 12,4%.
Na comparação com igual mês do ano anterior, os resultados foram positivos em todas as categorias: bens de consumo duráveis (20,8%) e bens de capital (8,8%) tiveram as maiores altas em dezembro de 2017. Os segmentos de bens intermediários (4,2%) e de bens de consumo semi e não duráveis (0,2%) também cresceram, mas ficaram abaixo da média nacional (4,3%).
O aumento no ritmo de produção na passagem do terceiro (3,2%) para o quarto trimestre de 2017 (4,9%) foi observado em três das quatro grandes categorias econômicas: bens de consumo duráveis (de 14,6% para 17,8%), bens de capital (de 7,6% para 10,7%) e bens intermediários (de 1,7% para 3,9%). Por outro lado, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis (de 2,9% para 2,8%) mostrou ligeira redução na intensidade do crescimento.
No índice acumulado do ano, os setores produtores de bens de consumo duráveis (13,3%) e bens de capital (6,0%) destacaram-se, especialmente por causa da baixa base de comparação. Os setores produtores de bens intermediários (1,6%) e de bens de consumo semi e não duráveis (0,9%) também cresceram no acumulado no ano, mas com avanços abaixo da média nacional (2,5%).
Setores. Na passagem de novembro para dezembro, 20 dos 24 ramos pesquisados registraram avanço da produção. As principais influências positivas foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (7,4%), e produtos alimentícios (3,3%). Outras contribuições positivas relevantes vieram de produtos de borracha e material plástico (6,9%), metalurgia (4,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (10,3%), outros equipamentos de transporte (15,2%), produtos diversos (21,2%), produtos de metal (6,0%), celulose, papel e produtos de papel (3,3%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (1,8%). Entre os quatro ramos que reduziram a produção em dezembro, destaque para produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-12,1%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,1%) e indústrias extrativas (-1,5%).
Na comparação com dezembro de 2016 a produção industrial registrou acréscimo em 20 dos 26 ramos, com destaque para: veículos automotores, reboques e carrocerias (25,1%), metalurgia (18,1%), produtos alimentícios (2,9%), celulose, papel e produtos de papel (10,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (19,9%), produtos de borracha e de material plástico (8,0%), outros produtos químicos (2,6%), produtos de metal (5,8%), produtos têxteis (11,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (6,6%), outros equipamentos de transporte (10,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (5,8%) e produtos de madeira (8,3%). Das cinco atividades em queda, as principais influências negativas ocorreram nas indústrias extrativas (-3,0%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-15,5%).
No acumulado de 2017, a indústria cresceu 2,5%, com resultados positivos em 19 dos 26 ramos. Os destaques positivos do ano foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (17,2%), indústrias extrativas (4,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (19,6%), metalurgia (4,7%), produtos alimentícios (1,1%), produtos de borracha e de material plástico (4,5%), celulose, papel e produtos de papel (3,3%), máquinas e equipamentos (2,6%) e produtos do fumo (20,4%). Das atividades com queda na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,1%) teve a maior contribuição negativa, seguida por outros equipamentos de transporte (-10,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-5,3%), produtos de minerais não metálicos (-3,1%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,5%).